Outubro de 2010
Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ISSN 1806-2776
 
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MONOGRAFIAS

Sinal Verde
Uma proposta de educação ambiental para o rádio

Por Rodrigo Carvalho da Silva*

RESUMO

O trabalho refere-se a uma proposta de se utilizar os meios de comunicação, neste caso o rádio, como ferramenta para a educação não-formal. Assim, foi idealizada uma produção radiofônica voltada para a educação ambiental. Ao final da produção, obteve-se um programa chamado “Sinal Verde”, de formato híbrido, que mescla finalidades educativas, culturais, informativas e entretenimento.


Esses gêneros foram combinados de diferentes formas; com quadros definidos em um gênero específico ou com a mistura de gêneros em um mesmo quadro. O programa piloto foi gravado com 20 minutos e 31 segundos.

PALAVRAS-CHAVE: Comunicação / Rádio / Educação Ambiental

1. Introdução

Hoje a educação para o meio ambiente é fundamental, uma vez que cada vez mais os problemas ambientais fazem parte de nossa realidade e interferem na vida cotidiana do ser humano. O uso das mídias certamente é uma ótima ferramenta para este trabalho, pois elas possuem um grande poder na transformação da consciência social.

Nesse contexto, um programa de rádio educativo se faz necessário para a discussão da problemática ambiental, visando não somente a conscientização do público ao qual o programa é destinado, mas que essa discussão possa se propagar pela sociedade como um todo.

Escolheu-se trabalhar com jovens, pois se acredita que este público possa, em longo prazo, disseminar dentro da sociedade novos pensamentos e valores que resultem em transformações nas atitudes do homem em relação à natureza.

O rádio foi o veículo escolhido para a divulgação do programa por possuir credibilidade e proximidade com o público-alvo, além disso, um ouvinte pode receber uma mensagem radiofônica ao mesmo tempo em que executa outras atividades.

2. Justificativa

A proposta de um programa radiofônico sobre educação ambiental voltado para um público adolescente justifica-se pelo fato do homem necessitar intimamente da natureza para sobreviver, mas cada vez mais o meio ambiente está sendo destruído. Os meios de comunicação possuem grande influência na formação da opinião pública, assim como têm o poder de transformar comportamentos e atitudes.

3. Objetivos

3.1. Objetivo geral

O objetivo é que este projeto proporcione a inserção da problemática ambiental no dia-a-dia de jovens em um debate permanente de reflexão, prática e com caráter participativo.

3.2. Objetivo(s) específico(s)

O presente trabalho tem como objetivos fomentar a educação ambiental em um processo educativo não-formal, levando ao público valores sócio-ambientais sustentáveis; incentivar comportamentos e hábitos saudáveis e que resultem em um melhor aproveitamento e conservação dos recursos naturais; disseminar conhecimento para que os jovens possam se tornar agentes sociais conscientes em relação à preservação e proteção da natureza.

4. Referencial teórico

4.1. Características do rádio

O rádio é um meio de comunicação que oferece diversos serviços: informação, entretenimento e educação. Ele faz história e ainda estabelece relações com pessoas de diferentes localidades, com diferentes culturas e práticas. (BARBOSA FILHO, 2003).

Para Barbosa Filho (2003), Mcleish (2001) e Ortriwano (1985), o rádio possui características que conferem vantagens para esse meio de comunicação, entre elas a construção de imagens influenciada pela linguagem oral; capacidade de falar para milhões de pessoas ou para cada indivíduo; imediatismo e instantaneidade; simplicidade; baixo custo; mobilidade; função comunitária e função social.

Uma das maiores vantagens do rádio é poder falar com milhões de pessoas e, ao mesmo tempo, poder voltar-se para um indivíduo em particular (BARBOSA FILHO, 2003; MCLEISH, 2001). As palavras, a forma de falar e sobre o quê falar são pensados para o ouvinte de acordo com suas expectativas e particularidades.

O rádio também possui um caráter imediato, possibilitando a transmissão dos fatos no momento em que acontecem. “O rádio acelera a disseminação das informações em curto espaço de tempo, subsidiando a sociedade, os grupos e indivíduos em dada formação cultural” (Cf. BARBOSA FILHO, 2003:47).

O rádio possui uma estrutura tecnológica simples, o que garante que a programação de uma rádio seja também mais flexível, possibilitando alterações nos programas sem muitas complicações. Outras características desse veículo também são vantajosas para o público, como o fato do rádio ser um aparelho móvel e muito mais acessível em termos de preços. Além disso, o receptor pode ouvir o rádio ao mesmo tempo em que faz outras coisas.

O rádio possui também uma importante função social. Possibilita debates sociais, expõe temas e soluções práticas, contribui para o desenvolvimento da cultura e promove mudanças (MCLEISH, 2001).

O rádio funciona bem no mundo das idéias. Como um meio de promover a educação, ele se destaca com conceitos e também com fatos. Seja ilustrando dramaticamente um evento histórico, seja acompanhando o pensamento político atual, serve para veicular qualquer assunto que possa ser discutido, conduzindo o ouvinte, num ritmo predeterminado, por um conjunto de informações. (Cf. MCLEISH, 2001:9).

4.2. A linguagem radiofônica

É preciso considerar as características do meio na produção da linguagem radiofônica. Ela é um resultado da combinação de elementos verbais e não-verbais e deve provocar no receptor a construção de imagens mentais a partir das palavras escolhidas e dos recursos sonoros.

O texto radiofônico deve ser preparado para ser ouvido, pois o rádio é um meio que depende intimamente de elementos de caráter sonoro para que suas mensagens sejam efetivamente ouvidas e compreendidas (DEL BIANCO; MOREIRA, 1999).

Para Mcleish (2001), o texto para o rádio deve ser coloquial e se aproximar do modo falado. “O ouvinte deve ter a impressão de que o radialista está falando com ele e não lendo para ele” (Cf. MCLEISH, 2001:61).

Segundo Silva (1999), como o rádio é um meio de comunicação que concorre com inúmeras informações que chamam a atenção do rádio-ouvinte, este deve fazer uso de artifícios, como frases curtas e redundância para conquistar a atenção do ouvinte.

Cada idéia tem de ser desenvolvida em uma sentença, para que tenha fluidez e ritmo. “(...) o rádio recorre à redundância e ao seu poder de sugestão, a fim de retirar seu potencial ouvinte do estado de ouvir para o de escuta atenta e fazê-lo adentrar um universo permeado de elementos já há muito conhecidos (...)” (Cf. SILVA, 1999:41).
No processo de construção de um texto radiofônico, deve-se evitar o uso excessivo de adjetivos, rimas, cacófatos, repetição de palavras, frases muito longas, gerúndios, iniciar notícias com negativas e usar a palavra ontem no lead.

Como o rádio é um meio de comunicação que pode alcançar milhões de pessoas, o texto radiofônico deve ser escrito como se fosse diretamente para um único ouvinte, para que ele sinta que você está falando apenas com ele. Dessa maneira, a mensagem transmitida terá um impacto muito maior.

O texto ainda deve fazer uso da forma verbal no presente, para dar atualidade à notícia e começar sempre com o lead, ou seja, com uma idéia que desperte a atenção e deixe claro o tema a ser discutido, para não causar dúvidas no ouvinte (MCLEISH, 2001). “(...) redija o que aconteceu, ninguém liga o rádio para saber o que não aconteceu (...) o uso da palavra ontem no lead envelhece a notícia no rádio” (Cf. BARBEIRO; LIMA, 2001:63).

O rádio é um veículo que possui função educativa, por isso é importante que a linguagem radiofônica não seja sempre homogênea. Ela deve variar o estilo de acordo com cada tipo de programa e público para qual é destinado. O ouvinte estabelece uma relação com a linguagem utilizada e dessa forma os programas radiofônicos podem conquistar públicos fiéis (DEL BIANCO; MOREIRA, 1999).

A oralidade da linguagem radiofônica é constituída de elementos específicos, como os efeitos sonoros, a música, o silêncio e o texto. Eles ajudam a criar o sentido das mensagens.

A ausência de som, quando contextualizada dentro da mensagem radiofônica, pode adquirir significados que ressaltam a importância sonora contínua e ainda pode representar uma sensação de mistério, dúvida ou expectativa.

Os ruídos (efeitos sonoros) incluídos propositalmente em um produto radiofônico têm o objetivo de provocar a associação do receptor com o objeto (mensagem) sonoramente representado, fornecendo pistas para que o ouvinte reconheça o que se pretende referir.

As músicas são utilizadas no rádio como trilha sonora para diversas funções de acordo com o tipo de programa no qual é empregada. Podem representar signos de pontuação, para separar parágrafos de um mesmo texto, blocos de programas, situar o ouvinte em relação a um ambiente ou tempo de alguma dramatização radiofônica, ou até mesmo servir para criar um clima emocional em relação à mensagem a ser transmitida.

O BG (background) ou fundo musical corresponde a um som instrumental ou música inserida durante o programa, em volume inferior à locução. Possui uma função expressiva e é utilizado para ilustrar o conteúdo a ser transmitido (SILVA, 1999).

5. O rádio para jovens  

Uma grande parcela da audiência do rádio é formada por um público jovem, porém ainda hoje, são poucos os programas radiofônicos informativos que se destinam especialmente para um público adolescente. Normalmente, os programas são direcionados ao público em geral ou a segmentos situados além do público jovem (PINHEIRO; LIMA, 200-). Além disso, as emissoras comerciais que são direcionadas ao público jovem apostam, primordialmente, no gênero de entretenimento, na difusão de músicas.

A linguagem de qualquer meio de comunicação destinada a um público adolescente deve ter o objetivo de provocar reflexões sobre a mensagem transmitida e despertar a participação crítica, pois a inclusão de meios de comunicação na vida cotidiana dos jovens pode, aos poucos, transformar comportamentos intelectuais e afetivos (AMARANTE, 200-).

Atualmente é comum entre os jovens de diferentes classes sociais terem um aparelho de rádio portátil em mp3 players, celulares e outros equipamentos que podem ser levados para quaisquer lugares. Porém, somente isto não garante o sucesso de um programa radiofônico destinado a um público adolescente, pois é preciso que este conquiste a atenção dos jovens que é disputada por uma série de outras tecnologias atuais.

Programas radiofônicos voltados para um público adolescente, em geral, enfrentam dificuldades quanto à técnica e à linguagem do próprio veículo. A abordagem é, em muitas ocasiões, baseada na escrita formal, com os locutores realizando uma leitura em tom sério, o que distancia o público jovem. A linguagem radiofônica para este público deve ser o mais espontânea possível, sendo capaz de conquistar a identificação do público-alvo (ALMEIDA, 2008).

Assim, um programa radiofônico, para alcançar o objetivo de atrair o público jovem, deve priorizar duas características principais do veículo: a locução e a sonoplastia. A locução deve seguir o estilo coloquial, assim como também o texto. A vocalização e a entonação devem ser próximas do natural. O ritmo deve ser um pouco acelerado para dar movimento e dinamismo. O vocabulário deve ser construído com palavras simples e acessíveis a fim de traduzir a “atitude jovem”.

O emprego de recursos sonoros como a música e os efeitos exploram a sugestão e ajudam o ouvinte a criar imagens mentais do conteúdo transmitido. Além disso, a sonoplastia contribui para criar sentimentos em relação às mensagens divulgadas.

5.1. Educação ambiental

A evolução humana está relacionada intensamente com um processo de intervenção na natureza. Todas as transformações no meio ambiente provocadas pelo homem ocasionaram, ao longo dos anos, consequências graves à sustentabilidade do planeta. Hoje convivemos com uma série de mazelas ambientais como o efeito estufa, desmatamentos, poluição do ar, água e solo, aquecimento global, queimadas, monocultura, desertificação e extinção de espécies.

O homem está no melhor caminho de transtornar completamente a ecologia geral do mundo, isto é, de alterar as interações dinâmicas e equilibradas dos organismos entre si e as interações entre organismos e o mundo ambiente. Nisto parece ter esquecido que ele mesmo depende essencialmente do equilíbrio ecológico do mundo em que vive e opera. (Cf. OVERHAGE, 1971:15).

Devido a essa a nova realidade do nosso planeta, cada vez mais, se faz necessária à criação de alternativas e a tomada de ações para que o homem possa interagir com a natureza de forma menos destrutiva.

No momento em que discussões e reflexões sobre a problemática ambiental começaram a surgir, um dos primeiros aspectos apontados como fundamental foi à mudança de comportamento do ser humano e, para isso, a educação passou a ser considerada um dos instrumentos mais eficazes. Porém, a educação ambiental geralmente é considerada como a abordagem dos aspectos físicos do ambiente, mas o seu conceito verdadeiro deve englobar, além dos problemas ecológicos atuais, a mobilização da sociedade. 

O estudo do meio ambiente deve nascer de reflexões sobre a realidade vivenciada e ter o objetivo de alterar a visão do homem sobre o mundo. Uma educação voltada para a problemática ambiental deve ser capaz de fazer estimular no homem o crescimento da responsabilidade social, solidariedade e consciência de que a preservação da natureza resulta na própria conservação da existência humana.

A educação ambiental sai da teoria para a prática, quando a comunidade começa a participar de ações voltadas para o surgimento de novos valores e a manter uma postura crítica sobre determinadas atitudes (LIMA, 1984).

Se o homem moderno, em seu estilo urbano-industrial, não aprende o que significa ecologia e não consegue conservar-se em equilíbrio com seu mundo ambiente e com as criaturas que com ele vivem as forças ecológicas o poderão destruir. (Cf. OVERHAGE, 1971:17).

Em 1972, na cidade de Estocolmo (Suécia), foi realizada uma Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Meio Ambiente Humano. Nesse evento foi definido que a Educação Ambiental deveria ter uma abordagem multidisciplinar, abrangendo todos os níveis de ensino, incluindo o não-formal, com o objetivo de conscientizar a população mundial sobre preservação ambiental.

A educação pode ser classificada em três diferentes modalidades. Existe a educação informal que ocorre de forma não intencional e refere-se a influências do meio natural sobre o homem, interferindo em sua relação com o meio social. Os costumes culturais, a religião, as leis, os fatos físicos (clima) e os tipos de governo são considerados exemplos desse tipo de educação.

Tais fatores não são planejados, não estão relacionados com nenhuma instituição e não seguem nenhum sistema, porém envolvem a vida social e influenciam na formação das pessoas. Há também a prática educativa intencional que pode ser dividida em educação formal e educação não-formal.

A educação formal é caracterizada por ser institucional e apresentar objetivos, conteúdos e métodos de ensino evidentes. Esse tipo de educação é sistematizado e pode ocorrer dentro da escola, mas também em locais em que a educação for intencional e estruturada. São considerados exemplos de educação formal a própria educação escolar e também a educação sindical, a alfabetização de adultos e a educação profissionalizante.

Já a educação não-formal sempre acontece fora da escola, mas também de forma intencional. Ela é realizada através de atividades em que há relações pedagógicas, porém de forma não sistematizada. Esse tipo de educação pode ocorrer em movimentos sociais, em interações com os meios de comunicação e até mesmo durante o lazer. A educação não-formal é um complemento à educação formal (LIBÂNEO, 1998).

Em 1975, a UNESCO criou o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), que recomendava ações fundamentais a serem desenvolvidas pelos países, com atenção principal para os cuidados com o meio natural e artificial, considerando os fatores ecológicos, políticos, econômicos, sociais, culturais e estéticos.

O Programa define também que a Educação Ambiental deve ser contínua, multidisciplinar, integrada com as diferenças regionais e com o objetivo de formar uma consciência coletiva, capaz de compreender a importância ambiental na preservação da espécie humana e estimular comportamentos cooperativos (LIMA, 1984).

No Brasil, a Lei nº 6.938/81 dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e estabelece que a Educação Ambiental é indispensável à preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental de vida, visando assegurar, no país, condições de desenvolvimento sócio-econômico aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade humana (BRASIL, 1981).

De acordo com o Programa Nacional do Meio Ambiente, a Educação Ambiental deve ser direcionada como sinônimo de Educação Política e deve buscar a conscientização da população brasileira em relação à preservação e conservação dos recursos naturais renováveis e ainda fomentar idéias que possibilitem o planejamento e execução de programas a favor da causa.

O Ministério da Educação (MEC) sugere a inclusão da temática ambiental nos currículos do Ensino Fundamental com uma abordagem transversal, ou seja, sendo discutida não somente por uma disciplina específica, mas por todas, assim como acontece com temas de saúde, ética, orientação sexual e diversidade cultural.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, este tipo de abordagem possibilita ao educador o desenvolvimento de trabalhos dinâmicos, relacionando o tema com discussões e acontecimentos sempre atuais. Não existe uma disciplina obrigatória para a educação ambiental, mas é proposto que em âmbito escolar seja trabalhado o conceito de meio ambiente, assim como valores e atitudes a respeito da relação homem-natureza.

Para Lima (1984), no Brasil ainda existem muito poucos estudos sobre o papel da educação na defesa do meio ambiente e há uma ausência de embasamento teórico capaz de transformar a discussão da problemática ambiental em ações objetivas.

(...) a ação do homem está presente em toda a parte, com seus efeitos benéficos e danosos. E também estão presentes as leis imutáveis, às quais o homem vive submetido, como os outros seres. Ficam assim os alunos preparados para compreender as interdependências que ligam a vida ao seu meio, o perigo das reações em cadeia que um ato impensado é capaz de promover. (Cf. DEBESSE-ARVISSET, 1974:17).

5.2. Educação ambiental no rádio

A educação formal e a educação não-formal se complementam. A não-formal permite que o indivíduo busque informações em outros meios, mas é a educação formal que é responsável por fazer a ligação entre a cultura escolar e a cultura adquirida no cotidiano, a fim de que cada indivíduo adquira instrumentos conceituais que o direcionem na sua forma de interpretar a realidade e intervir sobre ela.

Qualquer modalidade de educação pode ser transmitida por diversos meios e, sem dúvida, a comunicação midiática é um deles. Em relação à educação ambiental, os meios de comunicação, como canais de formação de opinião pública, possuem um grande potencial para estimular a conscientização ambiental através da veiculação de projetos de educação para o meio ambiente. Nesse sentido, possuem uma grande responsabilidade de transmitir uma programação consciente e educativa (VOLPATO, 2008).

Ao divulgar a educação ambiental através da mídia, e não apenas na escola, ela terá um caráter de educação permanente, direcionada a todos os indivíduos da sociedade e não somente àqueles em idade escolar.

O rádio é uma ótima ferramenta para a educação ambiental, pois ensina de uma forma diferente do sistema formal de educação. Ele atua como um mediador de conflitos, podendo se tornar um canal de denúncias sobre diferentes tipos de problemas e crimes ambientais (SOUZA, 200-).

A mensagem radiofônica transmitida através do texto falado se torna algo presente e os efeitos sonoros estimulam a memorização do conteúdo pelo ouvinte. Dessa maneira, o rádio pode ser um grande aliado na conscientização de que ações individuais acabam refletindo na qualidade ambiental do planeta inteiro.

A Educação Ambiental é o caminho para a conscientização da população, e os meios de comunicação é a chave para o êxito desse processo educativo, destacando-se o rádio como instrumento especial de propagação de conhecimentos para se alcançar, de maneira simples, e menos onerosa, a alfabetização e a formação dos cidadãos nos temas ambientais. (Cf. SILVA, 2005:20).

A produção de um programa radiofônico sobre educação ambiental deve iniciar pela escolha do tema de cada programa. A partir dessa temática um roteiro para o programa deve ser produzido. O assunto pode ser expresso através de diferentes recursos sonoros que devem produzir novos significados para ouvinte.

Para Araújo (2008), essa abordagem deve ser feita através de diversas perspectivas:

Meio ambiente como sinônimo de natureza: abordar o conceito de meio ambiente com o mesmo significado de natureza;

Meio ambiente como responsabilidade institucional: discutir o papel das instituições na preservação ambiental. Divulgar projetos, ações e cobrar iniciativas;

Meio ambiente como espaço imediato de interação: utilizar a escola, a cidade, os bairros, a vizinhança como objetos na produção dos programas;

Meio ambiente como extensão do indivíduo: considerar o próprio ser humano como parte integrante da natureza;

Meio ambiente como utopia: idealizar o meio ambiente em sonhos, expectativas, esperanças e projetos individuais e coletivos.

6. Metodologia

Como metodologia do trabalho, foi realizada a pesquisa bibliográfica sobre produção radiofônica; educação ambiental, sobretudo no rádio, e audiência jovem. A partir daí, foi elaborada a proposta de um programa voltado aos adolescentes, produzido um roteiro e realizado um projeto piloto. Nele, buscou-se aliar as características do rádio aos preceitos da educação ambiental.

7. Resultados e discussão

7.1. Abordagem da temática

Produção de um programa de rádio sobre educação ambiental. O programa tem como objetivo veicular idéias sobre conservação ambiental, incentivar a discussão de problemas e estimular a participação do público.

● Veículo
A escolha do rádio para a realização deste trabalho foi feita a partir das características e linguagem do veículo que possibilitam a identificação do público com o conteúdo transmitido. Outros motivos pela escolha do radio são suas características como mobilidade, acessibilidade, abrangência, baixo-custo, simplicidade e imediatismo.

● Público-Alvo
O programa será destinado para um público jovem e adolescente, compreendendo a faixa etária de 12 a 18 anos de idade, com a intenção de educá-lo ambientalmente. Acredita-se que este público possa, em longo prazo, disseminar dentro da sociedade novos pensamentos e valores. A escolha desse público também se dá pelo fato de atualmente os jovens corresponderem à maior parcela de audiência das emissoras de rádio.

● Formato
Para cativar o público jovem optou-se por um formato de programa híbrido, que tenha simultaneamente finalidades educativas, culturais, informativas e de entretenimento. Sendo assim, o programa será um misto dos seguintes gêneros: educativo-cultural, informativo e de entretenimento. A combinação desses gêneros foi definida como ideal para se produzir um programa que seja, ao mesmo tempo, criativo, atraente, educativo e informativo.  Nesse contexto, o programa se consolidou com a criação de diferentes quadros, sendo:

“Boletim Verde”: Pequeno programa informativo constituído por notas sobre temas relacionados ao meio ambiente. O boletim terá uma média de 2 minutos e 30 segundos e será apresentado pelos locutores.

“O Professor Responde”: Quadro com caráter educativo, informativo e participativo. Contará com a participação de um professor de biologia respondendo perguntas, sobre meio ambiente, feitas pelos próprios ouvintes. O público poderá participar através de ligações telefônicas ou e-mails. O quadro terá em média 3 minutos de duração. No projeto piloto as perguntas foram gravadas com adolescentes moradores da cidade de Bauru.

“Família Flores”: Quadro no formato radionovela que abordará temas relacionados à conservação e preservação ambiental através de situações do dia-a-dia vividas por uma família de classe média residente na zona urbana. Esse formato tem a intenção de estimular a identificação e aproximação do público com as questões levantadas. O quadro terá em média 6 minutos por programa.

“Aventura Natural”: Quadro que apresentará em cada programa uma dica diferente de passeio, atividade, ou esporte a ser praticado em contato direto com a natureza. O programa terá o objetivo de incentivar o público a conhecer o meio ambiente ao seu redor. Este quadro terá em média 3 minutos de duração.

“Som da Natureza”: Divulgação de músicas brasileiras que possuam letras direcionadas a preocupação ecológica. Sempre antes da apresentação da música o público será incentivado pelos locutores a refletirem sobre a letra da canção, sobre o que ela fala e que sentimentos transmite. O público será convidado a participar do programa enviando opiniões sobre a música A duração média desse quadro será de 3 minutos.

● Periodicidade
O programa será veiculado semanalmente. Por se tratar de um programa com caráter também educativo, os temas terão de ser mais trabalhados e para tanto será necessário um tempo maior para a produção do programa que inclui atividades de pesquisa, levantamento de dados, entrevistas e agendamento da participação de profissionais convidados.

● Tempo
Cada programa terá em média 20 minutos. Este tempo foi determinado levando-se em consideração as características do veículo e do público-alvo. De acordo com o senso comum, 20 minutos foram considerados suficientes para abordar o assunto principal de cada programa, sem que isso seja feito de maneira somente superficial.

Por se tratar de um público jovem é importante que o tempo de duração não seja muito extenso, uma vez que esse público possui diversas opções de cultura e entretenimento que também buscam sua atenção. Não sendo de longa duração espera-se que o público possa ouvir o programa em sua totalidade. O programa piloto foi gravado com 20 minutos e 31 segundos.

● Linguagem
Respeitando uma característica própria do rádio a locução será feita de forma como se os locutores estivessem conversando com o ouvinte, o que aproxima o público e cria uma relação de intimidade com o programa. 

● Recursos Sonoros
Serão utilizados trechos de depoimentos editados, fundos musicais, vinhetas e trilhas.

● Fontes
As fontes que serão consultadas para a realização do roteiro e até mesmo entrevistadas para os programas poderão ser profissionais ligados ao meio ambiente, educadores, representantes de instituições governamentais e privadas, empresas que desenvolvam projetos ligados à conservação ambiental ou contribuam através de atividades ou campanhas publicitárias e indivíduos sociais que mantêm hábitos de acordo com o que propõe a educação ambiental.

● Título
O título do programa, “Sinal Verde”, tem como intenção transmitir a idéia de alerta para o verde, de atenção para o meio ambiente.

Locução
O estilo de locução será manchetado, com a intervenção de dois locutores, garantindo dinamismo para a linguagem e com isso atrair o interesse do público.

7.2. Proposta

Com base no estudo realizado, acredita-se que a proposta de uma produção radiofônica voltada para a educação de jovens em relação ao meio ambiente, “Sinal Verde”, programa resultado deste projeto, atende aos propósitos da educação ambiental, uma vez que o projeto piloto foi elaborado mediante a preocupação em se atender aos objetivos principais da educação ambiental e ainda atrair o público-alvo.

Em relação aos objetivos da educação ambiental, o programa busca informar os jovens sobre o meio ambiente, mobilizar através de reflexões sobre a realidade do planeta, estimular habilidades que possibilitem a identificação e o encontro de soluções para os problemas ecológicos atuais e ainda incentivar a participação do público em ações comunitárias voltadas para o surgimento de novos valores e postura crítica em relação às intervenções do homem sobre a natureza.

Para despertar o interesse dos jovens em relação ao programa e ao conteúdo transmitido algumas características do veículo foram amplamente utilizadas, como efeitos sonoros, trilhas, vinhetas e músicas. O estilo da locução e a linguagem do texto radiofônico também foram adequados ao público para que esse pudesse se identificar com o programa e principalmente se envolver com as mensagens transmitidas.

A participação do público foi outro recurso utilizado para conquistar os jovens. Durante todo o programa o ouvinte é convidado a participar, sugerindo idéias, expondo opiniões, tirando dúvidas sobre meio ambiente ou até mesmo fazendo denúncias contra crimes ambientais. Acredita-se que essa participação possa, além de atrair o ouvinte, promover um aprendizado ainda mais eficaz.

8. Considerações finais

Os meios de comunicação possuem grande poder na formação da opinião e pensamento social e, portanto, deveriam ser mais bem aproveitados para fins educacionais. Embora seja considerada fundamental a atuação da escola de maneira interdisciplinar na abordagem do meio ambiente, projetos de educação não-formal, que envolvam comunicação e educação, assim como proposto neste trabalho, possuem também grande importância como complementos para a educação formal.

Os meios de comunicação fazem cada vez mais parte do cotidiano dos jovens e, fora isso, possuem um grande potencial para a educação e formação de cidadãos, em especial o rádio, que consegue alcançar grandes audiências de maneira simples e com baixo custo. Porém, na maioria das vezes, os produtos midiáticos direcionados ao público jovem visam apenas entretenimento.

Com a educação ambiental sendo difundida também pelos meios de comunicação espera-se que os jovens possam ser conscientizados ambientalmente e ainda propagar essa conscientização dentro da sociedade. Para tanto, será necessária uma melhor utilização dos meios de comunicação em relação a esse público.

Nesse contexto, propõe-se que o programa radiofônico educativo-ambiental “Sinal Verde” possa ser viabilizado e transmitido não somente em emissoras de rádio educativas, mas também possa fazer parte da grade de programação de emissoras com caráter comercial.

Mesmo sendo um material essencialmente educativo, acredita-se que o programa possa atingir bons níveis de audiência em emissoras comerciais devido ao seu formato híbrido e características atrativas com as quais foi produzido justamente para essa finalidade.


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*Rodrigo Carvalho da Silva é comunicador social com habilitação em jornalismo e pós-graduado em comunicação mercadológica pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).

 

 







Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro | ISSN 1806-2776 | Edição 13 | Outubro | 2010
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