Outubro de 2010
Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ISSN 1806-2776
 
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DOSSIÊ: 60 ANOS DA TV BRASILEIRA

“Profissão: Repórter”
A perspectiva do jornalismo humanizado

Por Valquíria Passos Kneipp*

RESUMO

Este estudo [1] exploratório tem como objetivo fazer uma verificação da proposta apresentada pelo repórter Caco Barcellos, de produzir reportagens investigativas na televisão, através da análise de uma edição do programa “Profissão: Repórter”.

Reprodução

A hipótese é de que a forma e conteúdo do programa “Profissão: Repórter” apresentam uma perspectiva nova para o público, identificando-se com o que alguns pesquisadores chamam de jornalismo humanizado, fato já observado por estes pesquisadores no jornalismo impresso.

Para esta análise, a eleição de alguns elementos foi fundamental, como as características do jornalismo humanizado e as ações que contribuem para a produção do mesmo. O estudo contou, também, com uma entrevista com o jornalista Caco Barcellos e, ainda, com um levantamento bibliográfico sobre o tema.

PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo Humanizado / Telejornalismo / Reportagem

1. Formulações iniciais

A partir de alguns trabalhos desenvolvidos por pesquisadores, a respeito da humanização do texto jornalístico, em narrativas jornalísticas de grandes jornais brasileiros e de uma observação e acompanhamento do trabalho desenvolvido pelo repórter Caco Barcellos, surgiu a possibilidade de averiguar o que, além do jornalismo investigativo, estaria implícito no trabalho apresentado por ele, no programa “Profissão: Repórter”.

A ideia inicial foi realizar, num primeiro momento, um estudo exploratório, para verificar a possibilidade de existir uma aproximação do trabalho de Barcellos com o conceito de jornalismo humanizado.

Os produtos televisivos, em especial os jornalísticos, sempre foram minhas ferramentas preferidas de trabalho e de pesquisa. Da experiência como editora de texto, editora chefe, produtora e coordenadora de produção, ao longo destes mais de 17 anos de profissão, originou-se e aprofundou-se a minha proximidade com este objeto de pesquisa e de trabalho.

Além disso, a preocupação com a necessidade de casar teoria e prática, ao longo da carreira, para poder desempenhar, também, a atividade docente na área de telejornalismo, conduziu-me a uma reflexão crítica a respeito das práticas com as quais trabalhava no dia-a-dia.
           
O diferencial do “Profissão: Repórter” pode justificar o desenvolvimento de um trabalho crítico, pois trata-se de um produto inovador, que é exibido semanalmente na emissora de maior audiência do país, e tem chamado a atenção dos telespectadores, conforme comprova uma nota publicada na coluna “Entrelinhas” do jornal Folha de S.Paulo, do dia 10 de julho de 2008: “O Profissão Repórter bateu recorde de audiência na noite de terça-feira.

Com o tema prostituição, o programa marcou 22 pontos de média no Ibope, com 41% de participação”. De acordo com outra matéria assinada por Beatriz Cutait, publicada em 4 de julho de 2006, no Observatório da Imprensa, a fórmula de Barcellos é a seguinte: “Junto a oito jovens jornalistas, ele criou um programa inovador, feito com a pouca experiência dos repórteres, aliada à vontade de mostrar inusitados pontos de vista, o que gera matérias diferentes no formato e na própria maneira de se colocar frente às câmeras”.

O programa começou em abril de 2006 como um quadro dentro do “Fantástico”, e depois ganhou algumas edições especiais no ano de 2007. Finalmente, em junho de 2008, entrou para a grade de programação fixa, semanal, com 25 minutos de duração, às terças-feiras. De acordo com o site do programa:

Caco Barcellos e uma equipe de jovens repórteres vão às ruas, juntos, para mostrar diferentes ângulos do mesmo fato, da mesma notícia. Cada repórter tem sempre uma missão, um desafio a cumprir. Será que eles vão conseguir? No “Profissão: Repórter”, você acompanha tudo. Os desafios da reportagem. Os bastidores da notícia. (Disponível em: www.globo.com/profissaoreporter. Acesso em: 25 jul. 2008).

O trabalho do jornalista Caco Barcelos é praticamente único, tanto na televisão quanto no impresso, conforme comprovou Moura, ao acompanhar o processo de produção do livro-reportagem "Rota 66: a história da polícia que mata". A pesquisadora desvendou as etapas empreendidas por Barcellos na realização da reportagem investigativa de qualidade.

Observou, ainda, o diálogo existente no trabalho de Barcellos, entre a crônica, a literatura e o jornalismo. A pesquisa de Moura conta também com uma reportagem sobre a vida do repórter.

           
Este estudo exploratório utilizou como ferramentas, a pesquisa bibliográfica a respeito do jornalismo humanizado, contou com o recorte de um exemplar do programa “Profissão: Repórter” do dia 24 de junho de 2008 e, ainda, com uma entrevista com o jornalista Caco Barcellos.

           
Caco Barcellos cursou jornalismo na PUC do Rio Grande do Sul e começou a carreira em 1972, trabalhando em veículos impressos, como a Folha da Manhã, no grupo Caldas Júnior, do Rio Grande do Sul. Passou por veículos como Jornal da Tarde, Veja, Istoé, Senhor e TV Guia, da Editora Abril. Ajudou a fundar a primeira cooperativa de jornalistas de Porto Alegre. Trabalhou como colaborador em jornais como Movimento, Pasquim e Opinião.

Nos anos 80, foi para Rede Globo, saiu e participou do projeto da TV Abril, e, depois, retornou para a Globo, onde está até hoje. Uma característica importante em sua vida é que sempre trabalhou e trabalha como repórter, nunca exercendo outra função. Segundo ele, para a criação do programa “Profissão: Repórter”, o objetivo foi fazer jornalismo investigativo

Eu imaginei um plano, em que eu e um grupo de jornalistas. Três duplas talvez cobrissem os acontecimentos com equidade, com equilíbrio, dando a todos os ângulos o mesmo peso, não só para a acusação, para a defesa também. (...) Só que ao invés de fazer só com denúncias, a gente ta fazendo todo tipo de matéria”. (BARCELLOS, 2008).

Então, desde a proposta inicial do programa o objetivo é produzir jornalismo investigativo, por meio de mais diversificadas pautas. A formação da equipe com jornalistas recém graduados pelas universidades trouxe um desafio para os jovens repórteres.

2. O jornalismo humanizado no impresso

O jornalismo brasileiro foi padronizado, a partir dos anos 50, de acordo com a influência recebida dos americanos. Algumas formatações, como a utilização do lead, [2] a busca da objetividade, da verdade jornalística e o fontismo, conduziram o jornalismo brasileiro, primeiramente o impresso, a uma verdadeira pasteurização. Isso deixou os jornalistas engessados, dentro de uma espécie de “camisa de força”, na hora de escrever o texto jornalístico.

A transformação dos grandes jornais diários em empresas competitivas também contribuiu para a pasteurização do texto jornalístico. Ou como comparou Borges: “Talvez essa condição tenha transformado o jornalismo em uma máquina de fazer dinheiro. A notícia passa pelos mesmos processos de produção em série de uma lata de refrigerante”, observou ela.
           
Um dos precursores, no Brasil, a realizar pesquisas e a utilizar o termo Jornalismo Humanizado foi Ijuin, na busca de uma expressão de respeito às características deste trabalho tão complexo.

A notícia deve transformar, ir mais a fundo, descobrir a relevância humana em cada acontecimento. O processo de produção da notícia deve abranger os sentidos humanos; paladar, tato, olfato, audição. Já avançamos muito na escala evolutiva, é verdade, mas ainda não somos robôs. Queremos um jornalismo feito por pessoas e para pessoas. (Cf. BORGES. Apud: IJUIN, 2008:01).

Quando professor da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), Ijuin orientou um grupo de pesquisa, com professores, estudantes e profissionais de jornalismo, intitulado Jornalismo e construção de narrativas: em busca da subjetividade perdida.

De acordo com ele, o processo de narrativa precisa ser vivo, contextualizado e atraente ao público, e, ainda, deve buscar esclarecer e envolver, e não informar de uma maneira automática. Para com o pesquisador, o público leitor, ouvinte ou telespectador já estão à busca por notícias mais aprofundadas.

E o que pode confirmar esse fato, diz o professor, é que esse jornalismo mais aprofundado pode ser encontrado em alguns lugares como o caderno Aliás, do jornal O Estado de S.Paulo, “que se preocupa em atrair o leitor usando de recursos literários mais ricos, construindo textos mais densos, buscando uma perspectiva mais humana”.
           
Os trabalhos realizados por Ijuin o levaram a formular alguns questionamentos relativos ao jornalismo humanizado.

Como pode o comunicador construir narrativas, sem contar somente com fatores objetivos, uma razão empobrecida pela supremacia da técnica? Como pode o repórter ‘dar o fato’, sem compreender os nexos de uma realidade complexa? Como pode este jornalista narrar as ações humanas, se não estiver sensível e solidário às dores universais? (Cf. IJUIN, 2008:01).

Algumas definições também foram elaboradas por Ijuin e seus pares do grupo de pesquisa, como: “o jornalismo humanizado sintetiza uma abordagem que proporciona ao jornalista uma visão mais ampla e consistente aos seus fazeres”.

Para eles, o jornalismo humanizado também deve partir de algumas ações concretas.

O fazer jornalístico busca versões verdadeiras e não, necessariamente, produz a verdade, pois o jornalista não se relaciona com um objeto de conhecimento, mas com outros seres humanos envolvidos no processo comunicativo. Dessa forma, sua busca envolve a compreensão das ações dos sujeitos da comunicação – é a expressão dos sentidos da consciência. Na procura da essência dos fenômenos, o comunicador atribui-lhe significados, os sentidos para proporcionar ao público, mais que a explicação, a compreensão das ações humanas. Se busca a compreensão, conta com observação objetiva, mas, para isso, recorre a um caráter humano nato, a subjetividade, o fundo intimista capaz de tornar a narração viva – humana. A observação e a expressão dessa compreensão, assim, dispõem dos recursos de todos os órgãos dos sentidos, que envolvem emoções, afetividades – subjetividades. (Cf. IJUIN, 2007:12).

Ainda como parte das pesquisas realizadas a respeito do jornalismo humanizado, por diversos pesquisadores brasileiros, também parece haver concordância em algumas características básicas:

As técnicas jornalísticas como recursos essenciais; Criação de estratégias que permitam a superação, o desenvolvimento dessas técnicas; Exercício da cidadania, compromisso social e humanização; Descrição e valorização de personagens; Descrição de ambientes; Ênfase no aprofundamento, na ampliação da visão da realidade. (Cf. IJUIN, 2007:07).

Outra referência a respeito da humanização do texto é o trabalho de Carlos Vicchiatti, na sua tese de PHD, defendida pela Universidade Metodista de São Bernardo do Campo, intitulada Jornalismo e humanização: uma necessidade. O pesquisador Muler ressalta que “é preciso trabalhar de forma mais contextualizada a informação, ajudar a formar a opinião”, porque, de acordo com ele, “a sociedade já está cansada desse tipo de noticiário” (2007:01).
           
Outras pesquisas relativas ao jornalismo humanizado também podem ser catalogadas, mas, na sua maioria, trabalham através das mesmas perspectivas e referenciais teóricos, e fazem referência ao jornalismo impresso. Um dos objetivos deste estudo é realizar uma incursão no jornalismo humanizado praticado na televisão, que se pretende inicialmente conceituar de telejornalismo humanizado.

3. O jornalismo humanizado na televisão – telejornalismo humanizado

No caso específico do jornalismo televisivo – telejornalismo, a superficialidade peculiar ao meio agrava ainda mais a situação do texto jornalístico. De acordo com Borges, a televisão proporciona uma anestesia eletrônica, porque “o padrão sempre se repete: uma pessoa sentada atrás de um balcão, disparando um monte de palavras, mostrando dados, números, fotos e fatos”.

Esse tipo de postura é padrão no telejornalismo brasileiro e acaba fazendo com que o telespectador tenha um grau baixíssimo de apreensão e entendimento das informações recebidas. Trata-se de uma herança importada dos estados Unidos, que foi o inspirador do telejornalismo brasileiro.
           
Este estudo se refere ao caso específico do trabalho realizado pelo repórter Caco Barcellos, no programa “Profissão: Repórter”, mas o telejornalismo humanizado já foi identificado, por Ijuin, através do trabalho desenvolvido pela repórter Neide Duarte, na TV Cultura, de São Paulo, onde realizou reportagens calcadas no mesmo enfoque proposto por Barcellos, mas de forma e objetivos diferenciados.

           
A partir das características básicas enumeradas por Ijuin, pudemos, na análise do programa “Profissão: Repórter”, do dia 24 de junho de 2008, observar que, as técnicas jornalísticas são utilizadas pelos repórteres e pelo próprio Barcellos para construir a base estrutural do programa – as reportagens. São utilizados offs, [3] passagens [4] sonoras, [5] que são elementos comuns da reportagem em televisão.


Existe, no decorrer de todo o programa, a utilização de uma nova estratégia, baseada na técnica, que é a não utilização da bancada e do apresentador formal no estúdio. As reportagens são apresentadas da rua, dos locais internos e/ou externos de sua produção (hospitais, delegacias, residências), pelo repórter Caco Barcellos, que funciona como uma espécie de fio condutor do programa, ou âncora.

No programa analisado, levantamos os locais de onde foram apresentadas as reportagens, e foi possível observar que os jovens repórteres trabalham em duplas, alternando-se nas funções de repórter e de cinegrafista. Para Caco Barcellos, isso é uma tendência inevitável.

Está tudo tão simples, tão fácil, que acho que não vai gerar falta de possibilidades no mercado. Porque se de um lado, quando você filma está sendo menos repórter, de outro também, você está sendo mais cinegrafista (...). Quer dizer você é menos uma coisa e mais outra. Eu acho que é uma coisa inevitável. Todos precisaremos aprender a nos habilitar para outros equipamentos. (BARCELLOS, 2008).

As duplas, no programa analisado, estavam distribuídas em locais diferentes, dentro do hospital Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, durante 24 horas. A primeira, junto com o próprio Barcellos, cobria o setor de emergência (aonde chegam os casos graves), a segunda dupla foi explorando o interior do hospital, através do centro cirúrgico e radiológico, e uma terceira acompanhou o funcionamento da cozinha e dos outros setores.

Outro ponto inovador é a descrição e a valorização de personagens. No caso da edição analisada, tivemos o personagem do maqueiro, que contou sua rotina de trabalho, vida pessoal e revelou o salário de R$ 300,00 (trezentos reais), que recebe pelo trabalho. Outro personagem foi uma senhora, dona Ruth, que foi baleada num conflito na região do complexo do Morro do Alemão.

Ela foi acompanhada pela equipe no raio X, na tomografia, na consulta com o médico para a alta e, até, alguns dias depois, se encontrou com a equipe para falar como estava a sua recuperação, visto que recebeu uma bala perdida na região da coluna cervical e não foi operada.

Uma técnica cinematográfica é adotada para a edição do programa – é a montagem paralela, [6] que vai intercalando cada uma das três duplas de repórteres, numa espécie de revezamento. Isso provoca uma curiosidade do telespectador no acompanhamento dos fatos que estão se desenvolvendo paralelamente e quebra o padrão convencional de contar uma história de cada vez. As três são desenvolvidas, paulatinamente, no decorrer do programa, de forma simultânea.


A descrição de ambientes não é propriamente necessária no caso da reportagem televisiva, pois ela é mostrada pelas imagens fortes e irregulares apresentadas. O que acontece nesse caso é uma espécie making off, [7] mostrando os bastidores da reportagem, o nervosismo e a excitação dos repórteres, ao acompanharem uma movimentação da polícia, trocando tiros com bandidos na porta do hospital.


O exercício da cidadania, o compromisso social e a humanização são observados quando chega ao hospital uma família inteira vítima de um desabamento. Existem três crianças chorando e um casal aos prantos. A equipe acompanha o atendimento das crianças no setor de pediatria, e dos pais. Aos poucos é possível entender o drama daquela família da periferia da cidade, que teve a laje de sua casa destruída em poucos minutos, mas que, mesmo assim, conseguiu ser atendida e salva num hospital público.


A ênfase no aprofundamento, na aplicação da visão da realidade, foi detectada na própria pauta do programa. Há coisa mais real do que acompanhar a rotina de um hospital público localizado numa região de constantes conflitos entre a polícia e os traficantes do Rio de Janeiro? Pois a maioria das matérias mostradas pelo telejornalismo diário apresenta os fatos depois de ocorridos. A proposta do programa foi acompanhar durante 24 horas um “hospital de guerra”, como mencionado várias vezes durante o programa.


Algumas das ações propostas por Ijuin como ponto de partida para o jornalismo humanizado, puderam ser observadas no “Profissão: Repórter”. A primeira delas foi através da maneira como as duplas de repórteresse relacionaram com os personagens, respeitando os seus pontos de vista, as suas limitações e permitindo que eles se expressassem livremente. Conseguindo depoimentos vivos, reais e espontâneos.

Outra ação que leva o telespectador a uma compreensão maior do tema é a grande utilização do recurso de sob som, nas matérias, trazendo assim recortes pontuais, que não precisam ser narrados em off e nem mencionados nas passagens dos repórteres.

Esse é um recurso de edição, mas que precisa ter sido gravado in loco, na hora da gravação da matéria, que proporciona o efeito explicativo, como ocorreu no momento em que a repórter está diante do caveirão, [8] chegando à porta do hospital, no meio de tiros, um casal passa correndo pela equipe, e a mulher diz, sem estar sendo entrevistada: “vamos embora, não quero saber de tiro, eu quero saber de ir pra casa”, revelando, assim, toda a tensão do momento em que a reportagem foi gravada.

4. Considerações finais

Ao término deste primeiro estudo exploratório sobre a possibilidade de identificação do jornalismo humanizado no programa “Profissão: Repórter”, é importante registrar algumas considerações. A primeira constatação é de que, tanto na forma, quanto no conteúdo, o “Profissão: Repórter” apresenta características que o fazem ser identificado com o conceito de jornalismo humanizado proposto pelos pesquisadores estudados.
           
As características básicas, enumeradas pelos pesquisadores, para configurar o jornalismo humanizado foram encontradas, na sua totalidade, no programa analisado, proporcionando uma aproximação com o conceito.

Desde as técnicas jornalísticas como recursos essenciais, até a criação de estratégias que permitiram a superação e o desenvolvimento dessas técnicas, como uso o making off, a atuação das duplas na produção da reportagem e a operação dos equipamentos. Também contribuíram para isso a forma de tratamento dada aos personagens da reportagem, com total liberdade de expressão e com uma pauta de perguntas mais livres e ocasionais.

As ações necessárias para se produzir o jornalismo humanizado também foram constatadas no programa analisado, confirmando a hipótese inicial deste estudo exploratório. A despreocupação dos repórteres com a busca de uma versão verdadeira dos fatos, e sim de uma compreensão de uma realidade, por parte do telespectador, dentro e fora de um hospital no Rio de Janeiro, corroboraram com a constatação.

Estas considerações levam a elaboração de uma primeira formulação, que pode ser chamada de telejornalismo humanizado – uma representação do jornalismo humanizado no telejornalismo, através da identificação de características e ações observadas na produção, na pauta e na finalização da reportagem televisiva, com o acréscimo de diferenciais ao processo rotineiro normal no telejornalismo diário. É importante registrar que no processo diário do telejornalismo, esses diferenciais identificados não ocorrem regularmente.
           
Cabe ressaltar que, como já verificado por outros pesquisadores, no jornalismo impresso, o jornalismo humanizado pôde ser identificado, desta vez, num produto televisivo. Levando em conta as peculiaridades do meio eletrônico, é possível avançar no assunto, num próximo passo, caracterizando melhor as condições próprias do meio eletrônico, como produtor eventual de jornalismo humanizado.


NOTAS

[1] Trabalho apresentado na I Jornada Acadêmica da PPGCOM/ USP, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), 24 out. 2008.

[2] Lead: abertura de notícia, que resume e responde às clássicas perguntas: Quem? Quê? Quando? Onde? Por quê? Como? (Cf. ERBOLATO; 2001:246).

[3] Narrativa gravada sobre a matéria, em cenas comuns ou frisadas, sem a imagem do repórter. Muito comum também em documentários (Cf. IORKE; 2006:275).

[4] Passagem ou stand-up. Matéria ou trecho de matéria em que o repórter fala em pé, diretamente para a câmera, no local onde acontece a notícia. Pode estar no meio da matéria, como um recurso de narrativa, ou, no caso de o repórter não ter tido acesso ao acontecimento, consistir uma reportagem por si só. Neste caso o termo é stand-up (Cf. YORKE; 2006:275).

[5] Sonora: entrevista ou depoimento extraído escolhidos para ser incluído em notícias editadas (Cf. YORKE; 2006:277).

[6] Montagem Paralela: é quando duas ou mais sequências são abordadas ao mesmo tempo, intercalando as cenas pertencentes a cada uma, alternadamente, a fim de fazer surgir uma significação de seu confronto. Ocorre quando se quer fazer um paralelo, uma aproximação simbólica entre as cenas, como, por exemplo, aproximação temporal. S/r. S/d. Disponível em: (http://www.fafich.ufmg.br/~labor/cursocinema/paginasemordem/17montagemparalela.html. Acesso em: 29 jul. 2008.

[7] Making off: em cinema e televisão (e nos meios de produção audiovisual em geral), é um jargão para um documentário de bastidores que registra em imagem e som o processo de produção, realização e repercussão de um filme, novela, seriado ou produto audiovisual. S/r. S/d. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Making_of. Acesso em: 29 jul. 2008.

[8] Caveirão é nome como é conhecido o carro blindado usado pelo batalhão de operações especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro para combater o crime organizado nas favelas do Rio de Janeiro.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARCELLOS, C. Entrevista concedida à autora. Fortaleza/CE, 20 maio 2008.

BORJES, A. A. “O sabor da notícia”. S/r, S/d. Disponível em: http://www.jornalismo.ufms.br/index.php?alt=noticia&id_not=237. Acesso em: 25 jul. 2008.

CUTAIT, B. “Profissão Repórter – Programa Novo Formato velho?”. S/r, S/d. Disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=388TVQ001.Acesso em: 28 jul. 2008)

ERBOLATO, M. L. Técnicas de codificação em jornalismo. São Paulo: Ática, 2001.

IJUIN, J. K. “O real e o poético na narrativa jornalística”. S/r, S/d. Disponível em: http://posjor.ufsc.br/curso/projeto/516. Acesso em: 25 jul. 2008.

________; SARDINHA, A. C. “Algumas meias verdades sobre a narrativa jornalística... e a busca por um jornalismo humanizado”. S/r, S/d. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1135-2.pdf. Acesso em: 24 jul. 2008.

MOURA, S. Caco Barcellos – o repórter e o método. João Pessoa: Editora Universitária, 2007.

MULER, A. "A sociedade já está cansada desse tipo de noticiário”. S/r, 2007. Disponível em: http://www.unit.br/ler.asp?id=6524&titulo=Noticias. Acesso em: 25 jul. 2008.

VERBETE. “Making Off”. Wikipedia, S/d. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Making_of. Acesso em: 29 jul. 2008.

_______. “Montagem paralela”. Curso de Cinema, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), S/d. Disponível em: http://www.fafich.ufmg.br/~labor/cursocinema/paginasemordem/17montagemparalela.html. Acesso em: 29 jul. 2008.

YORKE, I. Jornalismo diante das câmeras. São Paulo: Summus, 1998.

_______. Telejornalismo. São Paulo: Roca, 2006.


*Valquíria Passos Kneipp é
jornalista formada pela UNESP (Campus Bauru/SP), doutoranda em jornalismo pela ECA/USP e editora-assistente da Revista PJ:Br – Jornalismo Brasileiro.

 

 







Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro | ISSN 1806-2776 | Edição 13 | Outubro | 2010
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