Outubro de 2010
Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ISSN 1806-2776
 
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MONOGRAFIAS

O tratamento noticioso no período eleitoral
A cobertura jornalística das eleições de 2008 no interior do Paraná

Por Sérgio Luiz Gadini e Ana Paula Hedler*

RESUMO

Este texto [1] objetiva analisar a forma de tratamento e os temas abordados pelos jornais Diário do Norte, Folha de Londrina, Diário dos Campos e Jornal da Manhã, durante o período eleitoral de 2008. O texto é resultado parcial de uma pesquisa mais ampla realizada pelo Grupo de Pesquisa em “Mídia, Política e Atores Sociais”, da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

A metodologia utilizada pelo grupo é de análise de conteúdo, com variações de enfoque quantitativo e qualitativo. A fim de atingir os objetivos, foram considerados os temas que mais apareceram na cobertura jornalística, o enquadramento dado às reportagens, o número de fontes utilizadas para a produção da notícia e outros aspectos editoriais como tamanho e localização na página.

Reprodução

PALAVRAS-CHAVE: Enquadramento Temático / Jornalismo Político / Eleições

1. Introdução

Desde o surgimento dos meios de comunicação, no século XVII, pode-se dizer que há o problema da necessidade de escolha dos assuntos que serão notícias daqueles que não serão. Segundo Kunczik (2002), tal obstáculo aumentou quando se modernizaram as empresas jornalísticas e o número de informações disponíveis. Para sanar a dificuldade, aos poucos, a mídia foi forjando critérios de noticiabilidade, que têm a função de auxiliar os repórteres e editores a escolher e, pois, diferenciar o que é realmente notícia dos temas que ficam apenas na agenda privada das pessoas.

Como é, de fato, através dos meios de comunicação que grande parte da população se mantém informada é necessário observar o que os jornais consideram como notícias relevantes para se divulgar. Isso porque, segundo McCombs e Shaw (1997), a mídia pode pautar os debates gerados na sociedade a partir do momento em que colocam certos temas em suas páginas dos jornais, na programação televisiva, no rádio ou na Internet.

Tais estudiosos acreditam que, a médio e longo prazo, os meios de comunicação ajudam a estruturar a imagem da realidade social, além de organizar os elementos dessa mesma imagem e a formar novas opiniões e crenças. Além dessa observação, Mauro Porto (2000) alerta que é importante atentar para a forma como a mídia traz os assuntos à tona. Para ele, existem quatro tipos diferentes de enquadramentos nos quais se pode encaixar o formato das reportagens. São eles: corrida de cavalos, personalista, temático e episódico.

Cada enquadramento proposto indica como o repórter trata sua matéria. Enquanto a primeira classificação diz respeito às reportagens que mostram os avanços e retrocessos das pesquisas de opinião sobre a campanha eleitoral, a segunda refere-se à reportagem faz um perfil detalhado de uma personagem, geralmente candidato ao cargo político disputado. O temático, por sua vez, é o que mais interessa à pesquisa de cobertura jornalística, porque são as reportagens que se baseiam nas pesquisas, na interpretação de um conjunto de dados e documentos. E, por fim, a episódica indica uma descrição editorial detalhada, mostrando o que acontece, mas não interpreta o assunto.

Como no jornalismo nenhum assunto é colocado de forma aleatória nas páginas dos jornais, além de observar os temas mais recorrentes e como eles são tratados pelos repórteres, faz-se necessário pesquisar o local no qual estão inseridas certas temáticas e o espaço que as mesmas ocupam. Afinal, uma notícia que é considerada manchete do dia tem peso maior do que outra que se torna uma breve nota jornalística. Para Amaral (1978:68), “cada lugar na página tem um valor específico ligado à maior ou menor facilidade com que o leitor chega à matéria”. Sendo que “a primeira metade do jornal é mais importante do que a segunda, o lado direito mais do que o esquerdo, o lado superior esquerdo mais do o centro”.

Assim, para observar todos os componentes editoriais do jornal, esta pesquisa utiliza a metodologia de análise de conteúdo, buscando destacar aspectos quantitativos e qualitativos. Para Galera e Conde (2005:30, tradução dos autores), a “perspectiva quantitativa engloba uma série de técnicas de investigação que pretende obter e medir dados sobre a realidade social” [2] e, dessa forma, seu enfoque é mais explicativo. Já “o método qualitativo integra uma informação mais rica e profunda sobre os fenômenos sociais que aquela que se pode obter com a técnica quantitativa”, [3] assim a análise qualitativa é mais interpretativa e subjetiva (Cf. GALERA; CONDE, 2005:31).

O levantamento de dados englobou o período de primeiro de agosto até 31 de outubro de 2008, por este se tratar do período de campanha eleitoral para prefeitos e vereadores. Foram escolhidos para o estudo os jornais locais Diário do Norte, Folha de Londrina, Diário dos Campos e Jornal da Manhã. A escolha pela análise dos referidos diários justifica-se pelo fato de que tais jornais são editados nas três cidades do interior do Paraná com mais de 200 mil eleitores e, pois, com possibilidade de contar com segundo turno de disputa para escolha do prefeito.

O impresso Diário dos Campos circula em Ponta Grossa e região dos Campos Gerais do Paraná. Foi fundado por Jacob Holzman, sob o título de “O Progresso”, em 1907. Atualmente circula de terça a domingo, com uma média 5 mil em dias de semana e com 10 mil exemplares na edição dominical. Já seu concorrente direto em Ponta Grossa, o Jornal da Manhã, passou (em 2007) por uma ampla reforma gráfico-editorial e foi fundado em 1954.

O JM conta com sete cadernos especiais e integra o “Grupo Tribuna de Comunicação”. A Folha de Londrina é um jornal de circulação local, na maior cidade do interior do Estado (Londrina), conta com nove cadernos e circula todos os dias da semana, mantendo uma sucursal em Curitiba. Já o Diário do Norte faz parte do grupo de comunicação “O Diário” que conta com a rádio Cultura AM, Dflash e Diário Online.

Mesmo com variações, a estimativa de circulação do DC não foge muito à realidade do JM e DN. A Folha de Londrina, por sua vez, registra uma tiragem um pouco superior (estimada em 20 exemplares ao dia).

Oportuno considerar que a escolha pela análise de dois jornais diários de PG (DC e JM), diferente das outras duas cidades, deve-se ao fato de que, em Ponta Grossa, existem dois periódicos com influência de leitura/alcance com proporções muito similares. Situação essa que não acontece em Londrina e Maringá, onde os dois jornais que integram a amostragem deste estudo (FL e DN) possuem uma hegemonia no mercado de mídia impressa diária.

O presente o artigo divide-se em três partes. Na primeira faz-se uma breve introdução dos conceitos e teorias utilizadas para embasar a pesquisa. No segundo item estão os resultados da pesquisa ou observações correspondentes aos mesmos e, para finalizar, o texto apresenta as considerações finais sobre os resultados.

2. Resultados e observações possíveis

O período da coleta de dados foi de três meses e, nesse momento, foram coletadas 1237 entradas jornalísticas. O estudo computou matérias, notas, reportagens, fotografias, charges e outros formatos (jornalísticos) nos quais estavam presentes um ou mais candidatos a prefeitos dos municípios de Londrina. Maringá e Ponta Grossa. Assim, sempre que os mesmos apareciam nos jornais eram classificados segundo os critérios do grupo de pesquisa.

Como critérios de classificação foram selecionados os temas gerais das notícias, os temas específicos, o espaço que as matérias ocuparam na página, o número da página nas quais estavam presentes, se foi utilizado o recurso fotográfico ou não, o enquadramento das reportagens, a utilização de fontes de informação e a origem das mesmas e a presença dos líderes políticos regionais nas matérias.

A Tab. 1 um traz o formato das entradas jornalísticas. Como se pode notar durante o período estudado 44,30% das entradas foram reportagens. O que demonstra preocupação dos repórteres em aprofundar as notícias. Pois, dos quatro veículos selecionados, apenas o Diário dos Campos não utilizou a reportagem como formato predominante. As reportagens são notícias mais trabalhadas pelos jornalistas, nas quais se procuram fazer questionamentos daquilo que se está reportando. Muitas vezes tem a interpretação dos dados reportados e a pesquisa é essencial.

Tab. 1. Formato das entradas.

Indicadores Chamada 1ª página Reportagem Charge Infográfico Ilustração Foto Coluna Ass. Artigo
Ass.
Editorial Total
Diário do Norte
10
74
3
10
42
20
1
160
Folha de Londrina
3
105
0
2
31
0
3
144
Diário dos Campos
39
161
20
30
187
0
8
445
Jornal da Manhã
32
208
75
36
104
9
24
488
Total
84
548
98
78
364
29
36
1237

Fonte: Grupo de pesquisa em Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG).

Os impressos Diário do Norte, Folha de Londrina e Jornal da Manhã escolheram as reportagens como principais formatos, pois as porcentagens foram de 46,25%; 72,91%; 42,62% respectivamente. Já para o Diário dos Campos a percentagem foi de 36,17%. Neste jornal o formato mais utilizado foi a coluna assinada 42,02% (187 vezes). O que indica que o mesmo priorizou a opinião do colunista à produção de reportagens, lembrando que a diferença foi de apenas 26 entradas.

Ao contrário do Diário dos Campos, os demais jornais apresentaram a coluna assinada como segundo modelo de notícias mais divulgada durante os três meses. A coluna assinada é o espaço destinado a algum especialista fixo, sobre algum tema específico como política e economia, por exemplo. O autor é mais importante que o assunto que está sendo tratado, e é quem assina o material e tem suas fontes de informação próprias.

No geral, o formato que menos apareceu contemplando os candidatos foi o artigo assinado, pois, das 1237 entradas, somente 29 foram registradas. O artigo assinado é um espaço de opinião sobre algum tema relevante do momento, assim a pessoa que escreve não necessita ser especialista naquele assunto, como acontece na coluna, mas o tema deve ser relevante.

Além de observar o formato das matérias é importante atentar para o espaço que as notícias relacionadas ao período eleitoral ocuparam. Isso revela quão importante os editores consideram certos temas. Na página dos impressos cada lugar adquire um valor e uma importância diferenciada, o que comprova que nenhuma notícia é diagramada de forma aleatória.

Se a reportagem ocupar a página inteira significa que ela é considerada de grande relevância social para os editores, já se for apenas uma nota no canto inferior esquerdo sua relevância é tida como baixa. Amaral (1978:68) explica que “cada lugar na página tem um valor específico ligado à maior ou menor facilidade com que o leitor chega à matéria” e, por isso, “a primeira metade do jornal é mais importante do que a segunda, o lado direito mais do que o esquerdo, o lado superior esquerdo mais do o centro”.

Tab. 2. Espaço ocupado nas páginas dos jornais.

Indicadores
Diário do Norte
Folha de Londrina
Diário dos Campos
Jornal da Manhã
Total
Página Inteira
4
9
3
7
23
Metade Superior
20
8
34
36
98
Metade Inferior
11
6
26
8
51
Quadrante Superior Direito
42
13
175
154
384
Quadrante Superior Esquerdo
37
52
74
98
261
Quadrante Inferior Direito
19
24
91
93
227
Quadrante Inferior Esquerdo
29
26
36
61
152
Total
162
138
439
457
1196

Fonte: Grupo de pesquisa em Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG).

As matérias coletadas ocuparam principalmente o quadrante superior direito 32,10% e o quadrante superior esquerdo 21,82% que somados contabilizam mais de 50% dos espaços. Isso significa que elas foram consideradas relevantes ao ocuparem a primeira dobra da página do jornal. A dobra que fica exposta nas bancas de jornais é considerada a mais importante por ser uma espécie de 'vitrine' do jornal, como afirma Bezerra (2006) e é o local onde as manchetes são apresentadas ao leitor. Assim, as notícias de primeira página (manchetes ou chamadas) têm grande peso para os editores.

Também é possível afirmar que a tematização dos candidatos estava presente em notícias de grande destaque e visibilidade, pois houve matérias que ocuparam a página inteira do jornal, como foi o caso das 23 coletadas ou aproximadamente 2%, o que é muito difícil no jornalismo impresso.

Com relação ao tema das matérias, o que mais apareceu durante a cobertura dos três meses, nos quatro impressos locais, foi a campanha eleitoral. Isso prova que os jornais veiculam notícias que têm relação com a atualidade e com os períodos nas quais estão inseridas, no caso ao período eleitoral.

Tab. 3. Tema geral.

Tema
Diário do Norte
Folha de Londrina
Diário dos Campos
Jornal da Manhã
Campanha Eleitoral
127
122
406
449
Político-institucional
7
10
17
21
Economia
0
0
5
1
Política Social
5
2
1
4
Infraestrutura e meio ambiente
19
0
3
3
Violência e segurança
1
1
0
0
Ético-moral
2
9
0
3
Política para Esporte
0
0
2
0
Cultura/variedades
0
0
3
4
Política Estadual, Nacional, Internacional
0
0
1
0
Outros
1
0
7
3
Total
162
144
445
488

Fonte: Grupo de pesquisa em Mídia e Política (UEPG).

Todos os jornais deram atenção especial à campanha eleitoral, pois do total de 1239 notícias, 1104 se referiam a ela, ou seja, 89,10%. Também é possível afirmar que os jornais Diário dos Campos e Jornal da Manhã deram uma cobertura maior às campanhas dos candidatos a prefeitos, do que os jornais de Londrina e Maringá. O número de aparições de notícias relacionadas à campanha em Ponta Grossa foi três vezes maior do que as apresentadas no Diário do Norte e na Folha de Londrina.

No Diário do Norte, o segundo tema que mais teve aparições foi infraestrutura e meio ambiente. Já nos outros três foi o político-institucional com respectivamente 0,8%, 1,37% e 1,70%. O que é irrisório se considerar a quantidade de vezes que a campanha eleitoral esteve presente. Dentro do tema campanha eleitoral estão subdivididos outros temas como: corrida eleitoral e a campanha para prefeito e vereador. Assim também foi feito com os demais temas gerais para que se tornasse inteligível e detalhado o assunto das matérias jornalísticas.

Tab. 4. Temas específicos.

Tema Específico
Diário do Norte
Folha de Londrina
Diário dos Campos
Jornal da Manhã
Total
Corrida Eleitoral
4
2
40
13
59
Campanha para prefeito
123
118
361
436
1038
Campanha para vereador
0
2
5
0
7
Governo do Estado
0
0
4
0
4
Governo Municipal
3
0
8
18
29
Governo Federal
0
0
2
0
2
Assembleia Estadual
1
0
2
1
4
Poder Judiciário Geral
2
9
0
0
11
Justiça Eleitoral
1
1
1
1
4
Partido ou instituições políticas
0
0
0
1
1
Finanças (juros, câmbio, bolsas)
0
0
2
0
2
Indústria
0
0
1
0
1
Comércio (local ou importação/exportação)
0
0
1
0
1
Política econômica (crescimento, planejamento, incentivo)
0
0
0
1
1
Educação
0
2
0
0
2
Saúde
3
0
1
1
5
Políticas compensatórias (renda mínima, bolsa-escola etc.)
0
0
1
1
2
Minorias: Juventude
0
0
0
2
2
Assistencialismo
2
0
0
0
2
Obras
0
0
1
1
2
Saneamento básico
0
0
0
1
1
Transporte e infraestrutura urbana
8
0
0
1
9
Questões ambientais/ecológicas
11
0
2
0
13
Violência e crime organizado
1
1
0
0
2
Corrupção e má gestão do dinheiro público
2
9
-
3
11
Espaços culturais
0
0
2
0
2
Política de incentivo ao turismo
0
0
1
4
5
Outros
1
0
7
3
11
Total
162
144
445
488
1239

Fonte: Grupo de pesquisa em Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG).

O tema específico que mais apareceu nos quatro jornais foi a campanha para prefeito, contendo um total de 1038 aparições ou 83,77%. Isso mostra que a abrangência do jornal corresponde ao local de circulação do mesmo, pois todos os quatro impressos são de cunho local e apresentaram notícias para a população local. No Jornal da Manhã o tema governo municipal também apareceu (1,45%), mas em proporções bem menores se comparados com a campanha para prefeito. Já no seu concorrente, o segundo tema específico mais visível foi a corrida eleitoral com 3,22%. O DC preocupou-se em segunda instância em apresentar as mudanças e resultados das pesquisas de opinião sobre a campanha.

Já o Diário do Norte deu atenção secundária para as questões ambientais e a Folha de Londrina não teve um tema que apareceu mais que os outros, pois tanto notícias sobre o poder judiciário geral e a corrupção e a má gestão do dinheiro público obtiveram 0,7% de aparições.

Depois de apresentados os temas geral e específico nos quais foram classificadas as matérias, podemos analisar o enquadramento que as reportagens receberam, para assim observar qual é o tratamento e o direcionamento que os jornais estão dando para as grandes notícias relacionadas à política e campanha eleitoral. Na tabela cinco estão colocados os quatro tipos de enquadramento segundo os estudos de Mauro Porto (2004).

O primeiro enquadramento trata a disputa eleitoral como uma corrida entre os candidatos, assim a ênfase é dada para o candidato que está na frente, avançando ou que está ficando para trás nos resultados das pesquisas. Já no segundo é enfatizada a vida dos candidatos, mas do que os aspectos amplos que dizem respeito à política e institucionais. O foco da cobertura das reportagens nesse framing é o indivíduo e a vida pessoal do mesmo.

Tab. 5. Enquadramentos.

Enquadramento
Corrida de Cavalos
Personalista
Temático
Episódico
Total
Diário do Norte
9
6
20
41
76
Folha de Londrina
9
13
16
75
113
Diário dos Campos
29
8
25
99
161
Jornal da Manhã
32
7
30
139
208
Total
79
34
91
354
558

Fonte: Grupo de pesquisa em Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG).

O enquadramento temático é que mais interessa para esse trabalho. E dá mais atenção aos padrões interpretativos que enfatizam as posições e as propostas dos candidatos. “A ênfase das notícias que adotam este ponto de vista está nas plataformas e programas representados pelos diferentes candidatos” (Cf. PORTO, 2004:13). O último é o episódico que se refere às reportagens descritivas, não interpretativas, que estão centradas em descrever os fatos ou as declarações dos candidatos, sem o enfoque característico dos três enquadramentos anteriores.

Observar o enquadramento é importante, pois como explica Porto “ao produzir o noticiário, jornalistas se baseiam em discursos que estão presentes na esfera pública, mas também contribuem com seus próprios enquadramentos, dando formas aos “pacotes interpretativos” que fazem parte de qualquer cultura” (Cf. PORTO, 2000:12).

Como era de se esperar, o enquadramento episódico foi aquele que teve mais visibilidade nas reportagens publicadas pelos quatro jornais. Esse resultado era esperado, pois como a rotina de produção da notícia é ágil e requer rapidez dos jornalistas faz com que as reportagens transmitidas por eles sejam mais descritivas do que analíticas. Mas, isso não significa também que o repórter está proibido de interpretar os fatos. Do total de 558 reportagens produzidas nesse período, 354 representaram o enquadramento episódico, ou seja, 63,44% delas foram descrições do andamento das campanhas dos candidatos a prefeitos.

Os jornais também trouxeram reportagens interpretativas, mas em menor escala. No geral, as reportagens analíticas aparecem em segundo lugar em número de utilizações, somando-se 16,30% do total. Mas, tanto o Diário dos Campos como o Jornal da Manhã utilizaram mais vezes a corrida de cavalos à interpretação dos dados. Isso porque de 208 reportagens que o Jornal da Manhã apresentou e das 161 que o Diário dos Campos publicou, respectivamente, 32 (15,38%) e 29 (18,01%) delas foram sobre o andamento das pesquisas de opinião.

Dentre os quatro impressos, o que mais apresentou reportagens foi o Jornal da Manhã com 208 no total. Demonstrando, dessa forma, uma preocupação maior em trazer dados e complementos às notícias, para que o leitor melhor compreenda e assimile o conteúdo discutido pelo veículo. Já o Diário do Norte foi o que menos produziu e veiculou reportagens sobre o período eleitoral e os candidatos a prefeitos de Maringá, pois das 558 reportagens classificadas na pesquisa apenas 76 foram publicadas no referido período (de análise).

São através desses dados que se pode indicar o posicionamento e a linha editorial dos jornais observados. Enquanto o Jornal da Manhã, de Ponta Grossa, deu atenção mais destacada à campanha eleitoral para prefeito (37,07% das reportagens coletadas), o Diário do Norte não trouxe mais que 15% do total. O que demonstra que a linha editorial do primeiro enfatiza mais a cobertura política, se comparado ao segundo citado (DN).

A partir do enquadramento é possível perceber a linha editorial que os jornais seguem, pois são os editores que selecionam as temáticas que serão reportagens, mas são os repórteres que interpretam e transcrevem os fatos. Por isso, além de perceber a linha editorial, é possível levantar o tratamento que os jornalistas dão às notícias, ora interpretando-as ora apenas descrevendo os fatos. Por isso, essa pesquisa cruzou dados como o enquadramento dado às reportagens e os atores que nelas estavam envolvidos.

Como nota-se na tabela abaixo, o principal candidato ao cargo de prefeito de Ponta Grossa, Pedro Wosgrau Filho quando apareceu em notícias que falavam sobre a campanha eleitoral cerca de 60% delas foram apenas descritivas, e aproximadamente 13% receberam maior atenção dos jornalistas com o uso da interpretação dos dados contidos na reportagem.

Tab. 6. Enquadramento no Diário dos Campos e atores políticos.

Indicadores
Temas
Diário dos Campos Wosgrau
Enquadramentos
Campanha Eleitoral
Político Institucional
Economia
Cultura e Variedades
Corrida de Cavalos
28 (23,9%)
0
0
0
Personalista
4 (3,4%)
0
0
0
Temático
15 (12,8%)
1 (50%)
1 (100%)
0
Episódico
70 (59,8%)
1 (50%)
0
1 (100%)
Total
117 (100%)
2 (100%)
1 (100%)
1 (100%)
Sandro Alex
Corrida de Cavalos
26 (23,2%)
0
0
0
Personalista
3 (2,7%)
0
0
0
Temático
17 (15,2%)
1 (100%)
1 (100%)
0
Episódico
66 (58,9%)
0
0
0
Total
112 (100%)
1 (100%)
1 (100%)
0

Fonte: Grupo de pesquisa em Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG).

Já seu concorrente Sandro Alex quando estava presente nas reportagens sobre a campanha recebeu atenção especial na apuração em mais de 15% das matérias. Porém assim como Wosgrau, a presença maciça esteve nas reportagens apenas descritivas (quase 60%). Como se percebe, os índices relacionados ao tema ‘campanha eleitoral’ também como os demais índices são quase os mesmos em ambos os candidatos, o que mostra que o Diário dos Campos não reforçou mais a notícia para um candidato do que para outro.

Na tabela a seguir (Tab. 7) mostra a relação das reportagens e seus enquadramentos cruzados com os dois principais candidatos de Ponta Grossa, porém com a diferença que o jornal em questão é o Jornal da Manhã. Neste jornal a relação é parecida com a cobertura que o Diário dos Campos fez durante os três meses. Pois, quando Wosgrau foi citado nas reportagens sobre a ‘campanha eleitoral’ a cobertura dada foi na maioria das vezes apenas descritivas (66%). Assim como quando Sandro Alex esteve presente nas reportagens do mesmo tema, em 65% das vezes era apenas descritiva.

Tab. 7. Enquadramentos no Jornal da Manhã e Atores Políticos.

Indicadores
Temas
Jornal da Manhã Wosgrau
Enquadramentos
Campanha Eleitoral
Político Institucional
Política Social
Infraestrutura e meio ambiente
Corrida de Cavalos
30 (21,1%)
0
0
0
Personalista
4 (2,8%)
0
0
0
Temático
14 (9,9%)
0
0
2 (100%)
Episódico
94 (66,2%)
5 (100%)
1 (100%)
0
Total
142 (100%)
5 (100%)
1 (100%)
2 (100%)
Sandro Alex
Corrida de Cavalos
27 (21,4%)
0
0
0
Personalista
2 (1,6%)
0
0
0
Temático
14 (11,1%)
0
0
1 (100%)
Episódico
83 (65,9%)
2 (100%)
1 (100%)
0
Total
126 (100%)
2 (100%)
1 (100%)
1 (100%)

Fonte: Grupo de pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG).

A maior diferença entre este jornal e o anterior está nos temas das reportagens. Pois, neste foi publicada uma reportagem sobre políticas sociais que relacionou os dois principais candidatos, de característica descritiva e outras duas matérias sobre a infraestrutura e o meio ambiente que trouxeram uma análise mais crítica quando Wosgrau e Sandro Alex tiveram visibilidade.

Contudo, como se observou nas duas tabelas, em Ponta Grossa, não houve muitas diferenças na cobertura das matérias que envolveram os principais candidatos a prefeito do município. Isso mostra que houve uma ‘neutralidade’ por parte dos jornais em não tendenciar mais para um político (dando a ele mais espaço de crítica) do que para o outro.

3. Considerações finais

Ao observar os pontos indicados pelos dados da pesquisa, nota-se que o enquadramento mais utilizado pelos jornalistas foi aquele que trata os acontecimentos de forma descritiva. O enquadramento que mais enriquece a leitura sobre certo assunto é o temático, pois tende a ser mais interpretativo ao questionar os fatos apurados, apresentando aos leitores mais subsídios para gerar debates e questionamentos.

Mesmo não sendo o temático o mais utilizado, percebe-se que os repórteres e editores deram grande visibilidade ao tema campanha eleitoral. Isso porque divulgaram 45,04% das notícias desse período em forma de reportagem, que é o formato mais elaborado e expressivo das notícias. Em outros termos, equivale dizer que quase metade das matérias divulgadas nos jornais analisados trouxe aprofundamentos e dados para auxiliar o leitor (cidadão) a melhor compreender o assunto abordado.

O estudo indica ainda que o tema política ocupa grande espaço nos jornais, pois durante os três meses de coleta de dados foi o assunto que mais esteve presente, sendo que a ‘campanha eleitoral’, mas especificadamente a ‘campanha para prefeitos’, recebeu atenção especial. Isso pode ser explicado pelo de fatos dos quatros jornais serem de circulação local. O que leva a crer que os editores levam em consideração o público-alvo do veículo e o local no qual ele é produzido e onde circula.

Pelos dados coletados, pode-se também inferir que, além dos quatro jornais darem atenção especial ao tema “campanha para prefeitos”, ao trazer constantemente reportagens e notícias sobre o mesmo, a referida temática é considerada importante também pelo local que ocupou nas páginas dos impressos. Isso porque cada espaço e disposição discursiva na página têm graus de visibilidades diferentes, e as notícias de campanha ocuparam, na maioria das vezes, a primeira dobra do jornal que é a parte mais visível dos jornais.

Assim, considera-se que a temática campanha eleitoral para prefeitos, nos jornais Diário do Norte, Folha de Londrina, Diário dos Campos e Jornal da Manhã teve grande visibilidade e divulgação, como indica a quantidade de vezes que esteve presente nas páginas dos impressos, o local que ocupou, os enquadramentos e o tratamento que recebeu por parte dos jornalistas (repórteres e editores).


NOTAS

[1] Uma versão preliminar deste paper foi apresentada no XII Seminário de Inverno de Estudos em Comunicação, realizado entre os dias 29 jun. e 3 jul. 2009, na UEPG/PR.

[2] La perspectiva cuantitativa engloba una serie de técnicas de investigación que pretende obtener y medir datos sobre la realidad social (Cf. GALERA; CONDE, 2005:30).

[3] El método cualitativo aporta una información sobre los fenómenos sociales más rica y profunda que la que se puede obtener mediante técnicas cuantitativas (Cf. GALERA; CONDE, 2005:31).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, L. Jornalismo: matéria de primeira página. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1978.

GALERA, M. C. G.; CONDE, M. R. B. “El método científico aplicado a la investigación en comunicación mediática”. In: CONDE, M. R. B.; ROMÁN, J. R. S. (Coord.). Investigar en comunicación: guía práctica de métodos y técnicas de investigación en comunicación. McGraw-Hill: Madrid, 2005.

KUNCZIK, M. Conceitos de jornalismo: norte e sul: Manual de Comunicação. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 2ª Ed. 1ª Reimpr. Tradução de Rafael Varela Jr.

McCOMBS, M. “Building Consensus: the news media’s agenda-setting roles”. In: Political Communication,University of Texas at Austin, Vol. 1, nº 4, 1997, pp. 433-443.

PORTO, M. “A mídia brasileira e a eleição presidencial de 2000 nos EUA: a cobertura do jornal Folha de S.Paulo. In: “Framing the 2000 U.S. presidential election: the coverage by the Brazilian media”, 51ª Conferência Anual da International Communication Association (ICA), Washington D.C., Estados Unidos, 25-28 maio 2001.


*Sérgio Luiz Gadini é doutor em ciências da comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos e professor adjunto de comunicação social - jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG/PR). Ana Paula Hedler é jornalista e mestranda em ciência política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

 

 







Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro | ISSN 1806-2776 | Edição 13 | Outubro | 2010
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