Novembro de 2011
Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ISSN 1806-2776
 
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DOSSIÊ: TELEJORNALISMO

Jornalismo de TV
A experiência do Repórter Universitário na
produção de reportagens para a BandNews TV

Por Eliane Fátima Corti Basso e Nivaldo Ferraz*

RESUMO

Este texto apresenta a experiência desenvolvida na Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi na produção de reportagens para o canal de notícias BandNews TV, do Grupo Bandeirantes de Comunicação.

Trata-se de um projeto acadêmico que faz uma interface com mercado profissional, proporcionando aos estudantes a oportunidade de colocar em prática o Jornalismo de TV.

Reprodução

Nele são desenvolvidas narrativas com duração de 1’30” (um minuto e trinta segundos). A cada semana são exibidas duas matérias em rede nacional, com três apresentações durante o dia, inseridas nos intervalos de programação do canal. As matérias são reprisadas durante todos os dias da semana.

Produzido desde outubro de 2010, o Repórter Universitário interage com o cenário profissional e busca abrir espaço para o desenvolvimento das habilidades criativas dos estudantes com a meta de ser um laboratório para experimentar formas estéticas e de conteúdo da reportagem em TV.

PALAVRAS-CHAVE: Repórter Universitário / Produção Audiovisual / BandNews TV

1. O projeto

Em meados de 2010 o Grupo Bandeirantes de Comunicação e a vice-reitoria da Universidade Anhembi Morumbi iniciaram negociações com objetivo de desenvolver projetos conjuntos. Uma das propostas colocou lado a lado a Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi [2] e a direção do BandNews TV, canal de notícias da televisão brasileira, pelo sistema de TV paga, criado em 2001. A direção da emissora propôs que apresentássemos um projeto de exibição de reportagens produzidas por estudantes. A ideia partiu do diretor da BandNews Humberto Candil [3], jornalista formado pela UNESP- Bauru, que viu na universidade a possibilidade de desenvolver um produto diferenciado:

Fiquei surpreso com a criatividade e o forte vínculo com o inovador, inusitado, a criatividade. Percebi que nessa fase, as regras podem e devem ser relevadas. Quando se é um profissional formado as coisas são mais difíceis. Entendi que o BandNews TV poderia contribuir de alguma forma nesse processo (CANDIL, 2010).

Do ponto de vista do interesse editorial da emissora, deveria ser um projeto que apresentasse a produção acadêmica de forma criativa, agregando o exercício da inovação na abordagem de pauta e na linguagem audiovisual.

O primeiro desafio foi tentar decifrar o código que envolve a experimentação de linguagem do ponto de vista da emissora. No bojo da proposta estava o objetivo de revelar a essência das características acadêmicas no processo de criação das matérias, produzindo com qualidade e ética para ser exibido.

É evidente que o espaço da Universidade é para ir além da técnica e sempre se busca motivar os estudantes a trabalhar de uma maneira que agregue o conhecimento prático, respondendo à demanda da formação profissional para o mercado de trabalho, ao exercício da inovação. No entanto, o desafio proposto pela direção do canal BandNews, depois de analisar algumas reportagens produzidas nas disciplinas ligadas ao telejornalismo, era mais amplo e envolvia uma linguagem ainda mais experimental.

Nas reuniões de definições da parceria entre a Universidade Anhembi Morumbi e o BandNews TV, a direção do canal instigava professores e alunos a experimentarem na linguagem televisiva. Demandavam-nos uma apresentação de narrativas que tivessem a característica experimental que compete a jovens aprendizes, tanto do ponto de vista visual quanto da linguagem jornalística.

Do questionamento do que poderia ser feito de diferenciado é que surgiu o Repórter Universitário. A resposta ao desafio foi tentar abrir caminho a partir de dois posicionamentos; primeiro, fazer uma interface com todos os cursos da Escola de Comunicação, objetivando aprofundar a interdisciplinaridade e um olhar plural sobre a linguagem audiovisual para tentar extrapolar a estética convencional; o segundo, misturar estudantes de diferentes semestres para conseguir um olhar irreverente na construção da narrativa.

Na concepção do projeto-piloto foram selecionados cerca de 30 estudantes dos cursos de Jornalismo, Rádio e TV e Cinema para a produção de reportagens. Inicialmente, foram formadas 07 (sete) equipes, cada uma composta por 04 (quatro) estudantes; dois do curso de Jornalismo, produzindo pauta e reportagem e dois de Cinema e Rádio e TV, trabalhando na produção de TV, na captação de imagem e na edição.

Os cursos de Publicidade e Propaganda e Produção Editorial ficaram encarregados de produzir a linguagem audiovisual das vinhetas e tarjas para GC (Gerador de Caracteres). Professores dos diferentes cursos da Escola de Comunicação foram chamados para orientar os estudantes.

A experiência inusitada, nesta primeira rodada de produção como professores, voltou-se à trajetória que tivemos como profissionais do jornalismo e da produção em TV, comandando equipes na formulação de pautas e saídas externas para gravar, cuidando das relações entre os alunos e as fontes de informação. Mas fazia parte do desafio também conduzir um processo que se diferenciasse de nossa experiência profissional no resultado do produto. As reportagens em suas propostas deveriam ser distintas da rotina de uma equipe de jornalismo, diferentes no modo de enxergar uma notícia vista pela ligeireza do hard news televisivo.

Posto o desafio, em quinze dias de trabalho, das sete reportagens produzidas quatro foram levadas para reunião com a direção do BandNews TV, e o resultado foi surpreendente. Ao aprovar as quatro matérias: Os chapas (GPS humanos que ficam nas margens das rodovias para ajudar os motoristas); TIC Nervoso; TVs internas e Personagens das feiras-livres, a direção da emissora estava apostando na Universidade como um espaço para exercitar a criação de uma forma diferenciada.

Firmada a parceria, o Repórter Universitário entrou no ar no dia 18 de outubro de 2010. Toda semana são enviadas duas reportagens que entram no intervalo dos programas do canal em três exibições diárias [4].

2. O nome e a identidade audiovisual da vinheta

A escolha do nome ratifica a identidade acadêmica. O nome Repórter Universitário como sinônimo de produção experimental, irreverente e aberta. Para a construção da linguagem da vinheta foi pensada uma vertente sem formalidade em relação às vinhetas jornalísticas convencionais. O publicitário Daniel Siqueira, integrante do projeto, em entrevista concedida à pesquisa, explica que o objetivo foi iniciar o programa com um aspecto experimental, característico do jovem universitário que está ingressando na profissão.

Fig. 1. Sucessão de algumas imagens da vinheta do Repórter Universitário.

Dentro dessa perspectiva, a vinheta traz na composição a imagem de um jovem universitário que se prepara para fazer uma reportagem, tirando o microfone da mochila. O cenário de fundo é composto por uma sobreposição de imagens em silhueta de uma cidade para caracterizar o ambiente urbano, onde está presente o jovem universitário e onde ocorrem os principais acontecimentos que viram notícia.

O microfone como instrumento de trabalho aparece em rápido movimento de rotação sobre o fundo. Outros elementos como rostos expressivos, setas e elementos tecnológicos aparecem rapidamente, contribuindo também com o dinamismo e movimentação que todo este ambiente proporciona ao personagem central. Foram utilizadas cores mais vivas e distorcidas para os elementos em transição que se destacam sobre cores mais neutras, aplicadas ao fundo. Assim percebe-se muito o verde e amarelo sobre tons mais acinzentados que é padrão da identidade visual criada. A identidade visual criada para o título carrega tons de verde que buscam proximidade com as cores institucionais da Universidade Anhembi Morumbi (SIQUEIRA, 2011).

O ritmo da trilha sonora é também mais agitado com a utilização de elementos eletrônicos. “É como se a trilha padrão jornalística sofresse uma mudança radical para um mundo sem formalidade, onde a aventura e a experimentação prevalecem”. (SIQUEIRA, 2011).

3. Rotina de produção e estruturas narrativas

Com liberdade total dada pela direção do BandNews TV para a produção das reportagens, abriu-se a possibilidade para trabalhar a diversidade temática e formas de abordagem. No Repórter Universitário há espaço para qualquer assunto, e quanto mais diferenciado melhor. Neste sentido, só para citar alguns exemplos, as equipes já trabalharam com temas como procrastinação (mania de adiar tarefas) e Pin-up (fenômeno da cultura pop dos anos 40). As ideias de pauta podem ser de temas já abordados, porém o que se quer das equipes é o olhar individualizado sobre o conteúdo e a linguagem estética.

Toma-se como uma das referências do Repórter Universitário a matéria sobre a responsabilidade do médico legista de atestar como uma vida terminou. A estudante de Jornalismo, Bethânia Morico [5], visualizou o potencial para falar sobre o assunto fazendo uma comparação do trabalho do escritor que descreve a morte de uma personagem, podendo interferir no final, com o trabalho do médico legista, que precisa ser fiel ao que aconteceu.

Citando um trecho do livro O sofrimento do jovem Werther, de Goethe, na abertura da reportagem: “Werther já estava deitado sobre seu leito, tinham-lhe enfaixado a testa; a palidez da morte impressa sobre a fisionomia do malfadado anunciava o termo da sua existência. Werther morreu ao meio dia”, ela faz o cruzamento do tema com a abordagem do trabalho do médico legista de ter que atestar, através de uma perícia precisa, o que de fato acontece nos instantes finais da vida de uma pessoa.

O Repórter Universitário evita apenas pautas que apresentem atualidade imediata, justamente para diferenciar seu produto da cobertura necessária do hard news, e que a emissora parceira já executa. Em virtude dessas escolhas, e por se tratar de um produto realizado, da concepção à execução, por estudantes, o processo de produção é bem mais demorado do que fazem os tradicionais veículos de comunicação. Num cálculo aproximado levam-se em média 30 horas para executar uma reportagem, tempo bem mais ampliado do que a correria de uma redação diária.

Apesar dessa diferença editorial, o Repórter Universitário não se furta, eventualmente, em abordar os assuntos da atualidade. Exemplo disso foi a reportagem sobre a presença do ex-primeiro ministro britânico Tony Blair no Brasil. O que muda, neste caso, é um olhar atemporal sobre o tema. Neste sentido, a matéria pautou o processo de produção de um grande evento.

No entanto, o foco das matérias é dar visibilidade para histórias de personagens comuns como protagonistas. Toma-se aqui a perspectiva do perfil humanizada, apontado por Cremilda Medina, que tem como finalidade mergulhar no outro para “compreender seus conceitos, valores, comportamentos, histórico de vida” (MEDINA, 2000, p. 18).

Neste sentido, a chance editorial do Repórter Universitário, com suas perspectivas, é dar espaço e presença a personagens comuns, pessoas que se encontram na rotina, mas que tenham algo diferente a mostrar. Um exemplo é o feirante conhecido por “Carioca”, abordado em uma das reportagens, que é ex-hippie, já na casa dos 50 anos, e que tem uma barraca de limões. Ou outra feirante, ex-empregada doméstica que há 30 anos vende acarajé na feira.

Personagens como estes mostrados pelo Repórter Universitário remetem ao conceito da democracia grega e da cidadania em Atenas, onde dois “princípios fundamentais definem a cidadania: a isonomía, isto é, a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, e a isegoría, isto é, o direito do cidadão de exprimir em público (na Boulé ou na Ekklesía) sua opinião, vê-la discutida e considerada no momento da decisão coletiva” (CHAUÍ, 2002, p. 134).

Em nossa sociedade contemporânea, o espaço público (que na Grécia antiga era o local físico de encontro entre os cidadãos para discutir seus problemas comunitários) deslocou-se para os meios de comunicação, evidentemente a televisão incluída. A voz, o relato e a experiência exposta por pessoas com espaço reduzido para se expressar tornam o Repórter Universitário cumpridor do conceito de “isegoría” constante da constituição da democracia grega.

O planejamento inicial do Repórter Universitário envolve reuniões semanais entre professores e alunos para debater os temas, sugerir enfoques e formas de estruturas narrativas. Essas reuniões também se diferem muito da rotina das redações de TV, onde a otimização do tempo tem ocupado os jornalistas mais em seus trabalhos individuais, tomando de assalto o tempo que poderia ser dedicado à discussão de ideias coletivas e troca de experiências.

Esta é uma característica mantida pelo Repórter Universitário, e que não tem nada de inovador. Ao contrário, o momento da reunião semanal de pauta trata-se de um regresso a um passado da prática jornalística, em que a conversa e as novas ideias desenvolvidas em grupo oxigenam a produção.

O debate sobre as propostas de como as matérias serão desenvolvidas continua com a orientação dos professores, durante a semana, por meio do correio eletrônico. A rotina das equipes segue com agendamento de entrevistas e locais de gravação. Mas como nada efetivamente acontece antes de ir para a rua, é quando os estudantes estão sozinhos nas externas que a possibilidade de contar uma história de forma individualizada fica mais fácil de ser materializada.

Como diz Ricardo Kotscho em seu livro A aventura da reportagem, é na rua que “a vida se transforma em notícia” (KOTSCHO, 2002, p.12).  Álvaro Caldas complementa: “Na aventura de um repórter na rua, todos os sentidos devem estar atentos. A observação, o olhar, a audição, o olfato são capazes de captar detalhes que podem ampliar e modificar o rumo de uma reportagem” (CALDAS, 2002, p. 27).

Na rua as equipes devem estar atentas ao olhar sobre a construção da matéria, bem como para saber ouvir histórias, e ouvi-las com humildade é um aprendizado em cada externa. Coletar imagens interessantes também é uma tarefa árdua que precisa ser dividida entre os componentes para estabelecer afinidades estéticas e de texto. Fazer um planejamento é importante, mas é preciso aproveitar situações que surgem nas locações: “É difícil prever o quanto uma tomada de câmera irá funcionar na tela. Tomadas nas quais você trabalhou como um mouro acabam resultando medíocres; tomadas que você fez em cima de uma ideia de ultima hora acabam contendo todos os ingredientes importantes” (WATTS, 1999, p. 30).

O caminho da pauta à edição em TV tem várias etapas que precisam ser percorridas e em cada uma delas o processo pode ser transformado. O resultado de uma matéria será creditado a um bom tema, uma produção adequada, uma estrutura de reportagem que possa despertar a atenção e uma edição que possa valorizar a estética da imagem, do texto e do som.

A reportagem em TV é o resultado de um trabalho em grupo. Ela é formada por uma composição de múltiplas peças que são entrelaçadas para contar uma história de forma objetiva, direta e simples. O formato convencional é composto pelo off (texto escrito e falado pelo repórter, coberto por imagens), passagem (presença do repórter no vídeo) e sonoras (falas dos entrevistados).

No Repórter Universitário não há regras para a realização das reportagens, há apenas indicações. O que se quer é que os alunos possam desenvolver a estrutura e a linguagem da matéria com liberdade criativa, indo além do convencional. Experimentar é ousar. É evidente que isso nem sempre acontece. É mais fácil seguir um estilo tradicional, consagrado pelo mercado, do que pensar em formas alternativas, mas boa parte das equipes já começa aventurar-se seja na forma como a câmera enquadra o mundo, nos textos ou na hora de montar uma matéria. O desafio é constante.

Alguns aspectos começam a caracterizar o estilo de texto do Repórter Universitário, com a utilização de frases curtas de 3 a 5 segundos, entrecortando as entrevistas e passagens do repórter. A proposta é valorizar as falas dos entrevistados, principalmente quando a pauta é voltada para um perfil. Outra recomendação é a interface com recursos literários para proporcionar formas criativas de descrição.

Em outros momentos, literalmente, o texto em off do repórter pode ser abandonado para ceder espaço para uma estética mais documental, enfatizando o uso do depoimento misturado a outros elementos narrativos, como a tela de legenda, artes e a valorização do BG (background), objetivando uma espécie de hibridismo de gêneros.

Quanto à presença do repórter em cena a sugestão é a interatividade, o abandono da imobilidade e do enquadramento tradicional do plano médio, que domina o padrão de apresentação do repórter de TV. A irreverência do repórter pode estar presente na narrativa através da interação dele com o tema ou com dele com os entrevistados.
Em relação à estética na linguagem visual, a recomendação é a utilização de planos em movimentos, ângulos diferenciados, enfim, a exploração na forma de captar o real.

Orienta-se o aproveitamento do olhar cinematográfico e documental, para o enriquecimento expressivo das imagens, principalmente porque os estudantes responsáveis pela captação de imagens são dos cursos de Cinema e Rádio e TV. No plano sonoro, os professores que chefiam as equipes insistem muito com os alunos sobre a necessidade de dar importância à captação do som direto.

Na edição saber dar valor às imagens é fundamental. Valem as recomendações de autores como Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima; Vera Iris Paternostro; Ivor Yorke (só para citar os mais usados) sobre a importância fundamental de compreender o valor da imagem casada com o texto. “A regra é: imagem e palavras andam juntas. O conflito entre elas deve ser evitado, uma vez que distrai o público; mas se ainda assim ocorrer, prevalece o poder da imagem” (BARBEIRO; LIMA, 2002, p. 68). Luciana Bistame e Luciane Bacellar, em Jornalismo de TV, complementam “As imagens também dão força e credibilidade à notícia” (BISTANE; BACELLAR, 2005, p. 41).

Além de imagem e palavra, a edição também precisa valorizar outros elementos narrativos como o som ambiente, o uso adequado de uma trilha sonora ou de um efeito visual. No Repórter Universitário, sempre que possível trabalha-se com sobreposições, artes, tela dividida etc. Sobre trilha sonora a recomendação é para trilhas brancas.

Toda sexta-feira é dia de fechamento das matérias. O desafio é condensar uma história em 1 minuto e 30 segundos, tempo padrão de uma reportagem em TV, mas curto para se aprofundar no conteúdo. Selecionar o essencial é a tarefa mais complicada e que exige uma participação maior dos professores neste processo. Muitas vezes, o material colhido pelas equipes é exagerado, chegando a ter mais de uma hora de gravação.

Por ser todo executado por estudantes, sem a presença de técnicos profissionais, problemas técnicos tornam-se inevitáveis, assim como os de desenvolvimento da reportagem na hora da gravação, mas o Repórter Universitário é para isso também. São estudantes lapidando os talentos num processo contínuo de aprendizado, não são profissionais.

Curioso é perceber como o ponto de vista difere entre os estudantes de Jornalismo e os de Cinema e Rádio e TV. No Jornalismo a preocupação recai sobre o texto e no Cinema e Rádio e TV sobre a estética. Essa feição acaba por dinamizar a linguagem da narrativa ao incluir aspectos não roteirizados e excluir partes textuais, mas não evita conflitos, inerentes ao processo de aprendizado. Por fim, poderia se dizer que isso representa a pluralidade de interpretações de como o conteúdo e a forma podem ser apresentados.

Do ponto de vista da direção do canal, as experimentações realizadas pelo Repórter Universitário, nestes cinco meses de exibição, correspondem à expectativa gerada. “O Repórter Universitário cumpre o propósito de desafiar a produção universitária a desenvolver a criatividade e novas linguagens. A experimentação é uma característica singular do meio universitário e deve ser apropriada a novos produtos sem julgamentos de valor profissional, afinal, ainda são estudantes” (CANDIL, 2011). 

A cada semana são enviadas 02 (duas) reportagens para exibição. Para cumprir com o compromisso firmado com a emissora trabalha-se também com matérias de gaveta, realizadas pela disciplina de Reportagem e Edição na TV, ministrada no terceiro semestre do curso de Jornalismo.

A tarefa mais árdua é a de deixarmos claro aos alunos dos cursos de comunicação que participam do Repórter Universitário que, na sala de aula há um ritmo pedagógico de produção acadêmica, que deve evoluir de acordo com o aprendizado dos alunos; e na produção profissional do Repórter Universitário a velocidade, se necessário, exige que se obtenham atalhos intoleráveis para o processo de aprendizado.

Também é inusitado para os professores e orientadores do Repórter Universitário [6] tratar disso tudo em paralelo com as aulas dos cursos, fundando um modo de produção em ritmo imposto pelo mercado, e na mesma vez não descuidando da formação acadêmica dos alunos.

4. Considerações finais

O Repórter Universitário trabalha na perspectiva de uma produção diferenciada, concebida a partir livre-experimentação. Ao ser desenvolvido por um núcleo multidisciplinar, aliado a liberdade total para temas e abordagens, tem a condição de se portar como um laboratório experimental para formas estéticas e de conteúdo da reportagem em TV. Na avaliação da direção do canal: “A produção do programa soube entender o valor do projeto e apropriar-se dele de forma criativa e eficiente” (CANDIL, 2011).

O tratamento simultâneo de formação profissional nas aulas dos cursos envolvidos no projeto do Repórter Universitário, e ao mesmo tempo de orientação no cuidado da edição e nos detalhes da organização de produção das equipes nos aponta uma ligação mais forte entre a Universidade e o mercado. Essa ligação vai além da tentativa do ensino, em simular condições e circunstâncias impostas pelo mercado de trabalho. O Repórter Universitário passa a ser um rompimento da distância entre a prática e a teoria, entre a discussão e o fazer, entre a reflexão e o produto fechado, com o rigor jornalístico e de produção para TV.

Nesta perspectiva, o projeto representa uma aproximação entre academia e mercado que se comunicam e vencem o ranço histórico que separa ambos. “A academia molda os profissionais que o mercado absorverá no final do processo, ou seja a graduação. Nada mais oportuno do que encurtar o trajeto ao dar oportunidade e exposição da produção universitária nos meios de comunicação. Todos ganham: as empresas, a universidade e os alunos” (CANDIL, 2011).

NOTAS

[1] Trabalho apresentado originalmente no GT de Historia da Mídia Audiovisual e Visual, integrante do VIII Encontro Nacional de História da Mídia, 2011.

[2] A Anhembi Morumbi é uma universidade paulista que faz parte da rede internacional de universidades Laureate.

[3] Humberto Candil - atualmente dirige os canais BandNews TV, BandNews TV Internacional, Terra Viva, Agência BandNews de Notícias e Portal bandnewstv.com.br.

[4] As matérias do Repórter Universitária, depois de exibidas, são disponibilizadas pelo canal da   Universidade Anhembi Morumbi no Youtube. Disponível em: http://www.youtube.com/anhembimorumbi

[5] Trabalharam na produção e execução desta reportagem também os estudantes Sander Alvarenga, Kyrian Mello, Eloah Rodrigues e Wagner Besse.

[6] O Repórter Universitário está sob a coordenação do prof. Nivaldo Ferraz, coordenador do Curso de Jornalismo e do prof. Claudio Yutaka, coordenador de Rádio e TV, bem como dos professores: Eliane Basso e Leandro Maciel. Em fase anterior também fizeram parte do projeto os professores Ricardo Matsuzawa e Thais Saraiva Ramos. A direção da Escola de Comunicação, responsável pela parceria com o BandNews TV, é do Prof. Ms. João Garção.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBEIRO, Heródoto & LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de Telejornalismo. São Paulo: Campus, 2002.

BISTAME, Luciana. & BACELLAR, Luciane. Jornalismo de TV. São Paulo: Contexto, 2005.

CANDIL, Humberto. Escola de Comunicação e BandNnews firmam parceria. 2010.  Disponível em: Acesso em: http://portal.anhembi.br/. 31/01/2011. Entrevista concedida à reportagem do Portal Anhembi Morumbi.

CANDIL, Humberto. Repórter Universitário. 2011. Março de 2011. Entrevista concedida à pesquisa.

CALDAS, Álvaro. O desafio do velho Jornal é preservar seus valores. In: Deu no jornal: O jornalismo impresso na era da internet. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2002.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

KOTSCHO, Ricardo. A prática da reportagem. 4. Ed. São Paulo: Ática, 2002.

MEDINA, Cremilda. Entrevista: o diálogo possível. São Paulo: Ática, 2000.

PATERNOSTRO, Vera Iris. O texto na TV: manual de telejornalismo. São Paulo: Ática, 1990.

SIQUEIRA, Daniel. A linguagem audiovisual da vinheta do Repórter Universitário. Janeiro de 2011. Entrevista concedida à pesquisa.

YORKE, Ivor. Jornalismo diante das câmeras. São Paulo: Summus, 1998.

WATTS, Harris. Direção de câmera: um manual de técnicas de vídeo e cinema. São Paulo: Summus, 1999.

*Eliane Fátima Corti Basso é Professora na Universidade Anhembi Morumbi de São Paulo. Nivaldo Ferraz é professor e coordenador do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi.

 

 







Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro | ISSN 1806-2776 | Edição 14 | Novembro | 2011
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