Novembro de 2011
Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ISSN 1806-2776
 
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ENSAIOS

A comunicação interpessoal em detrimento da comunicação intermediada por computadores

Por Camila de Oliveira Burgos*

RESUMO

O presente texto visa mostrar as transformações que a sociedade teve desde a sua formação, até alcançar a forma atual: a sociedade da informação. Ao longo dos anos, as mudanças na forma de interação acompanharam o ritmo das novas tecnologias, e seu uso em nosso cotidiano.

Como resultado das novas rotinas das pessoas, em casa e no trabalho, a internet torna-se o grande recurso social da pós-modernidade, transformando a comunicação interpessoal em detrimento de tal comunicação mediada por computadores, especificamente pelas redes sociais.

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PALAVRAS-CHAVE: Pós-Modernismo / Sociedade da Informação / Interação

1. Considerações Iniciais

Para entender a atual sociedade em que estamos inseridos, é preciso analisar as transformações das sociedades ao longo dos séculos. Os meios de comunicação atravessaram vários estágios de desenvolvimento e a evolução desses meios, depende, em grande parte, da economia e da sociedade à sua volta.

No início, e durante milhares de anos, o principal setor foi à agricultura, cuja comunicação era predominantemente oral. Nas sociedades pré-agrárias, tal realidade era possível, pois a maioria dos conhecimentos e habilidades que precisavam ser transmitidos, era sobre o trabalho da época. Como a maioria das pessoas vivia como caçadores ou coletores, e essa pequena divisão de trabalho não exigia muito da comunicação, a transmissão podia ser feita diretamente de pessoa para pessoa.

Com a consolidação das sociedades agrárias, a principal atividade das pessoas era a extração ou cultivo de recursos de seus ambientes. Porém, com os novos e mais especializados papeis de trabalho que surgiam (artesãos, juízes e líderes políticos), a comunicação recebeu maior atenção, principalmente em forma de contos, mitos e poesias. Exigia-se que cada vez mais pessoas se tornassem capazes de ler e escrever, o que antes era privilégio apenas para a nobreza feudal.

A comunicação predominantemente oral durou até o século XV, tendo como exemplo o trabalho feito pelos mensageiros especiais dos reis, que memorizavam cuidadosamente mensagens e as carregavam entre os líderes.

A grande contribuição para o acesso à leitura de uma parcela de pessoas foi a invenção do tipo móvel e da impressão, por Johannes Gutenberg em 1450. Tal criação resultou em uma demanda de milhares de livros impressos, o que acelerou o processo de alfabetização.

O período de industrialização fez com que grande parte da população migrasse de trabalhos agrários para as indústrias nas cidades, o que trouxe como resultado a escolaridade universal entre a população urbana.

Com a rápida evolução da Revolução Industrial, meios como jornais e livros, com base industrial, tiveram rápido crescimento. Tal fato ocasionou a queda dos valores dos meios, presenciando o crescimento de grandes jornais urbanos e de publicações.

A industrialização aumentou a estratificação social (divisão da sociedade em grupos desiguais) e fez com que a classe social, responsável por incluir vários fatores como renda, educação, profissão ou tipo de emprego, se acentuasse neste período. Essa divisão em grupos está ligada também ao uso da mídia que as pessoas têm, podendo ser separada em riqueza pessoal capaz de determinar as mídias de acesso do indivíduo (Capital Econômico); e em elementos educacionais como a educação e a família, que influenciam diretamente no gosto, no uso e no entendimento que as pessoas têm de determinadas coisas (Capital Cultural).

Muitas pessoas nos Estados Unidos, no começo do século XX, não tinham nenhum dos dois tipos de capitais para ter acesso à mídia impressa, fazendo com que outros meios preenchessem essa lacuna. O filme foi um desses meios, seguido pelo rádio, que alcançava com facilidade a população rural.

As propagandas se ajustaram perfeitamente para ter espaço nos meios de comunicação de massa. Segundo os autores Joseph Straubhaar e Robert LaRose (2004, p. 34), “a propaganda é uma parte intrínseca da economia industrial americana”. Ela demonstrou aos consumidores sobre os novos produtos, o que instigou o pensamento sobre a produção, distribuição e venda de tais produtos.

A industrialização, juntamente com a comunicação e o processo de urbanização criaram um mercado de massa, de potenciais consumidores, fazendo com que as empresas percebessem a necessidade do investimento em marketing, dando início a uma nova ética de consumo. Porém, nos Estados Unidos, boa parte das pessoas tinha como tradição religiosa evitar gastos com coisas desnecessárias, o que as levou a guardarem dinheiro e não cederem aos produtos de consumo.

Os profissionais de marketing trabalharam para mostrar às pessoas que o desejo de possuir mais coisas materiais era aceitável. Esta nova visão de sociedade abundante se espalhou por volta dos anos 50 nos Estados Unidos, considerado como a principal capital do consumo (o que não demorou muito para se alastrar rapidamente pela Europa e pelo Leste Asiático, chegando aos países desenvolvidos nos anos 50 e 60).

A economia e a tecnologia possibilitaram a produção em massa de cultura para uma audiência mais ampla, diferentemente da cultura que era referência apenas da elite de dinheiro e educação. A transição da cultura popular para sociedade de massa foi marcada pela expansão de mercados e a produção de bens, enquanto a mídia evoluiu para popularizar produtos de massa.

A questão sobre a cultura e seu papel em nossas vidas teve sua importância elevada à medida que os meios de massa se industrializaram e difundiram ainda mais na sociedade. Segundo Straubhaar e LaRose (2004, p. 37), “desde o começo da sociedade industrial na Europa, muitos observadores receavam que a sociedade industrial transformasse as pessoas em massas descontentes, alienadas e facilmente manipuladas”.

A preocupação com a sociedade de massa definiu o pensamento sobre o apogeu dos meios de massa no período industrial. Nos Estados Unidos, parecia realmente haver uma massificação da cultura, pois quase todas as pessoas assistiam, liam e ouviam a produção de algumas indústrias culturais-chave. Por esse motivo, supunha-se que estas eram parte integrante da sociedade de massa.

Porém tal pensamento foi contrastado com o conhecimento que os pesquisadores adquiriam sobre o real comportamento das pessoas, principalmente em relação à mídia. A realidade é que a mídia refletiu os diferentes gostos e características, reconhecendo que os subgrupos da audiência de massa preferem conteúdo mais especializado em mídias segmentadas. A preferência diversificava pelos fatores: sexo, idade, renda e educação.

A era industrial pode ser entendida também como era moderna, que se consolidou com a Revolução Industrial. Esse período foi marcado pelo consumo, que passou a ser referência de status social, onde os indivíduos eram tratados apenas como uma peça da engrenagem do processo. Ainda segundo os autores,

Nos anos 30, o filme Tempos Modernos, de Charlie Chaplin, apresenta um operário de fábrica literalmente preso nas engrenagens da moderna fábrica na qual ele trabalhava, um símbolo de como as pessoas foram pegas pela industrialização da sociedade moderna (STRAUBHAAR; LAROSE, 2004, pp. 37-38).

2. A Nova Mídia e a transição das sociedades

A sociedade moderna foi marcada pela racionalização, ou seja, valorizava os pensamentos lógicos, não mais baseados em crenças ou tradições sociais. Também é sua característica, o respeito aos direitos humanos, aos avanços da ciência e a livre expressão de idéias. Filósofos como Freud, Nietzche, Descartes, Marx fizeram parte do período moderno.

Um dos fatores que contribuíram para atingirmos a atual sociedade, denominada como a sociedade da informação, foi o surgimento e o aperfeiçoamento de aparatos tecnológicos.

A definição da era moderna e as principais mudanças trazidas com ela podem ser vistas segundo Defleur:

Os produtos da organização industrial e a concentração de gente em vilas e cidades suscitaram não só a nova tecnologia como aspectos básicos da vida humana. Cada vez mais as pessoas viviam de olho no relógio, abandonando os costumes tradicionais, e usando máquinas eficientes para desde o transporte até o funcionamento da atividade doméstica. As famílias foram transformadas de unidades de produção (fazenda) para unidades de consumo (como moradores urbanos). Valores básicos transformaram-se na medida em que a busca de uma vida feliz era redefinida para abranger a fruição de amenidades urbanas e aquisição e consumo dos produtos do mudo industrial (DEFLEUR, 1993, p. 200).

No período da industrialização, além dos maquinários para a produção, os avanços tecnológicos se desenvolveram com a indústria gráfica, com jornais, revistas e livros, o que permitiu que mensagens fossem enviadas ao mesmo tempo para um grande público. Os meios interativos como o telégrafo e a telefonia também foram marcantes para a época. Depois vieram a fotografia e o cinema, trazendo a oportunidade de armazenamento de imagens documentais. Fazem parte dos avanços o rádio, a indústria fonográfica e a televisão, emergentes nesse período moderno.

Mas a maior invenção tecnológica foi a internet, que revolucionou todos os outros meios anteriormente criados, fazendo com que estes fossem obrigados a se adaptar a essa chamada nova mídia. Foi ela quem modificou a noção de tempo e espaço, quebrando barreiras geográficas e unindo o mundo através de sua rede de conexões.

Da mídia tradicional, o jornal foi o meio de comunicação que mais sofreu com a chegada da internet, pois o acesso rápido às informações balançou a audiência de sua mídia impressa. A televisão também sofreu ameaças de audiência devido à consolidação das tevês a cabo, que detinham grande parte da preferência dos telespectadores por oferecerem maior variedade em sua programação. A indústria fonográfica, o rádio e a produção de filmes também sofreram com a nova mídia.

Para sobreviverem às concorrências, algumas empresas formaram conglomerados de mídia, unindo-se umas com as outras.

Paralelo a essas mudanças nos meios de comunicação, vieram as transformações de sociedade, ou seja, deixa-se para trás a era industrial, assumindo agora a posição de sociedade pós industrial, ou, comumente chamada de sociedade da informação.
O período pós-moderno, iniciado no século XX, representa, segundo a autora E. Ann Kaplan, a continuidade da ruptura iniciada pelo modernismo, preenchida pelo desenvolvimento das tecnologias e mudanças nas relações sociais, da filosofia, da educação e da economia. Tal fato foi possível, devido às alterações na tecnologia em geral e às informações que começam a acontecer em tempo real, gerando um cenário informático-informacional.

O novo formato da sociedade, diferente da agrária e da industrial (cujas economias eram objetos sólidos), tem como principal mercadoria a informação e o conhecimento. As riquezas deixaram de ser medidas de acordo com o número de terras que um indivíduo possui, ou pelo quadro de funcionários de uma fábrica; na sociedade da informação, o valor dela é medido pelo conhecimento que ela detém.

Junto à transição da informação como principal riqueza da sociedade, alteraram-se os empregos. Os trabalhos ligados à informação são todos aqueles que incluem o armazenamento, a produção, o processamento ou distribuição da informação.
Segundo Straubhaar e LaRose,

Quase metade da força de trabalho americana está envolvida na criação, manipulação ou uso da informação. Em 1980 apenas 3% dos trabalhadores estavam na agricultura, pouco mais de 20% na indústria e cerca de 30% em serviços, enquanto o restante de 47% trabalhava diretamente com informação (STRAUBHAAR; LAROSE, 2004, p. 43).

A visão pós-moderna oferece o conceito que não há uma verdade absoluta, como havia no período moderno, com as metanarrativas (responsáveis pelas regras de conduta política e ética da humanidade, como o iluminismo e o marxismo).

De acordo com o autor francês Jean Baudrillard (1988):

(...) nos movemos de uma era de leis e verdades supostamente universais, absolutas, para um era em que são mais importantes ou subjetivamente mais válidos os entendimentos locais, particulares e subjetivos, dependente da experiência do indivíduo, os grupos aos quais pertence, a mídia à qual presta atenção, o que a família lhe ensinou, e assim por diante. Isso condiz com a idéia de que desenvolvimentos na sociedade da informação encorajam a fragmentação cultural, na qual muitos grupos diferentes ou até mesmo indivíduos personalizam sua própria informação e sua experiência cultural (...) (BAUDRILLARD, 1988 apud STRAUBHAAR; LAROSE, 2004, p. 52).

Para o francês Jean Lyotard (1984), “as novas tecnologias de mídia e informação permitem novas formas de expressão, criando novas formas de conhecimento e novas formas sociais”, que serão vistas no desenvolvimento deste trabalho.

Outro aspecto chave do período é o crescimento da cultura de consumo. Adquirem-se, compulsivamente toda espécie de produtos supérfluos, comprados por impulso, a partir da influência da propaganda veiculada nos meios de comunicação.

Talvez essa seja a prova de que um processo iniciado na era industrial tenha surtido efeito. A mudança de valores e pensamentos anteriormente conseguidos teve como resultado a aceleração do instinto consumista que hoje é bem marcante na sociedade pós-moderna.

3. Nova sociedade e as relações sociais: interatividade

Na nova sociedade, as relações de trabalho sofreram alterações, uma delas é o excesso de trabalho, que gera stress e a perspectiva da falta de tempo. Com o crescimento da cultura de consumo, as pessoas trabalham mais para ter capital e conseguir consumir o que a mídia oferece. Até mesmo o conceito de lazer se transformou devido a esse pensamento. O tempo de folga que temos e nossos momentos de lazer exigem dinheiro para que sejam possíveis, como uma viagem, um jantar em um restaurante etc. É a tentativa do indivíduo de aproveitar melhor sua própria vida.

Além do consumismo, instigado desde a era industrial, o pós-modernismo resulta em uma sociedade nostálgica, incapaz de lidar com o tempo e a história. Isso ocorre pela falta de limites demarcados, como territórios e pela globalização da informação. Com a chegada da internet, a universalização do conhecimento, onde todo indivíduo de qualquer país que esteja tem acesso a qualquer tipo de informações que desejar.

A transformação no uso da internet, atualmente principal fonte de informação, ocorreu desde a transição da sociedade industrial para a consolidada sociedade da informação. Com a democratização do uso, os principais meios de informação convergiram para as redes.

Aos poucos os sites da internet se tornaram cada vez mais interativos, com troca freqüente de e-mails entre leitores e jornalistas, criação de enquetes para descobrir os assuntos de interesse dos internautas, entre outros. Com a facilidade para criar blogs e sites próprios, o internauta pode, não apenas interagir com os demais meios já tradicionais, como criar seu próprio conteúdo na internet.

Essa mudança na percepção do uso do meio permitiu que o consumidor de notícias trocasse rapidamente de papel, virando também o produtor delas, tornando-se um “prossumer”. O termo foi criado a partir das palavras em inglês producer e consumer, que significam respectivamente produtor e consumidor.

Os blogs democratizam o acesso à informação, à cultura e à notícia, transformando qualquer pessoa em um canal emissor potencial, e por isso revolucionaram o jornalismo enquanto mídias de uso pessoal. O Twitter não altera esse quadro, mas adiciona uma nova dimensão às práticas comunicacionais da esfera do blogging (SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 77).

As transformações nos meios de comunicação fizeram com que todas as mídias convergissem para a internet e isso ocorreu de modo significativo que até os relacionamentos convergiram para as redes sociais virtuais. Prova disso é o grande número de membros inscritos em um curto período nos sites Facebook, Twitter e Orkut.

A interatividade está presente principalmente nesses sites, que além das relações sociais, proporcionam a construção coletiva do conhecimento. Quem se dá bem com a nova realidade são os jovens da geração Y e da Z, a primeira caracterizada pelas suas habilidades em realizar várias atividades ao mesmo tempo, com o perfil menos conservador em relação ao trabalho e aos horários; e a segunda, os nativos na era da tecnologia e informação, com ainda mais habilidades.

Embora haja pessoas de todas as idades conectadas aos sites de relacionamentos, o público das redes é relativamente jovem.

Sobre as redes sociais, de acordo com as autoras Lucia Santaella e Renata Lemos,

(...) a finalidade das RSIs é prioritariamente a de promover e exacerbar a comunicação, a troca de informação, o compartilhamento de vozes e discursos, o que vem comprovar que, se a meta dos organismos vivos é só preservar e se o desejo humano é ser desejado por outro ser humano, aquilo que o ser humano quer é, sobretudo, se comunicar, não importa como, para quais fins. As RSIs estão demonstrando que o humano quer se comunicar com a finalidade pura e simples de se comunicar, estar junto (SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 50).

Além do uso à internet pelos computadores de mesa ou portáteis, hoje, os celulares proporcionam grande acesso às redes sociais, o que fica provado que foi bem determinante nas vendas de celular nestes últimos anos. As funções tradicionais perderam sua importância para as mensagens de texto e para as redes sociais, ou seja, algo que foi criado para facilitar o contato de voz, através de ligações, hoje nada mais é que uma versão mais aprimorada de um microcomputador portátil que também faz ligações. Tal inversão pode ser percebida em propagandas das empresas, que anunciam os modelos como principal característica o acesso direto às redes sociais.

De acordo com o Portal de Notícias R7, um estudo realizado pela Cisco Systems revela que no ano de 2015, haverá aproximadamente um aparelho móvel por habitante no mundo, e que nestes cinco anos que estão por vir, o tráfico de dados será 26 vezes maior que no ano de 2010. (Portal de Notícias R7, publicado em 02/02/2011 às 09h26)
As novas formas e interação e a produção de conteúdos sofreram alterações consideráveis, a ponto de interferirem nas relações interpessoais. A quantidade de informação a que se expõe hoje é relativamente maior, e isso exige uma atenção dobrada do usuário ao conciliar todas as informações dentro e fora das redes sociais.

As informações perdem seu valor a cada minuto que completam desde sua publicação. Nas redes sociais, por exemplo, o recurso de texto exibido abaixo de uma inserção, gera uma ansiedade para ler sempre a notícia mais atual, nem que a diferença entre elas seja de 15 segundos. Sempre a postada mais recentemente será a mais importante, deixando esquecida a lida há um minuto.

Em “O que é Pós-moderno”, o autor Jair Ferreira dos Santos afirma que “o sujeito se converte assim num terminal de informação. Mas um terminal isolado de outros terminais, pois as mensagens não se destinam a um público reunido, mas a um público disperso”. (1991, p. 95). Além disso, é preciso tomar cuidado com as produções de fontes aleatórias para checar a veracidade da informação, um dos problemas trazidos pela internet.

Para Santaella e Lemos, “o tipo de atenção necessário para gerenciamento bem sucedido dos fluxos informacionais no período atual de evolução da internet requer habilidades cognitivas híbridas, que conectam inteligências humanas e artificiais.” (SANTAELLA, LEMOS, 2010 p. 84) Ou seja, é necessário equilibrar a grande disputa dos recursos e aplicativos pela nossa atenção.

Com tantas formas de interação via redes sociais, os relacionamentos da vida fora das redes podem ser afetados. O indivíduo passa mais tempo pensando no que estará acontecendo nas redes do que vivendo sua vida no local em que está. Essa mobilidade de acesso faz com que a “presença mental” interfira áreas profissionais, prejudicando o desempenho nas áreas profissional e afetiva.

As autoras ainda afirmam que:

Realmente, essa nova dimensão temporal de interatividade em rede pode ser problemática quando começa a afetar aspectos da vida pessoal. Como manter uma “presença mental continuamente alerta” permanentemente conectada às redes sociais digitais sem prejudicar a qualidade da vida do lado de cá das redes, o mundo das interações em carne e osso? Como manter o ritmo de trabalho e concentração mental sem ser tragado pelas correntes desse oceano de fluxos de infodistração? Se não tivermos a consciência de que necessitamos desenvolver habilidades cognitivas específicas para saber lidar com o entrelaçamento de fluxos de informação. Corre-se o risco de desorientação em meio a eles (idem, p. 86).

4. A interação social mediada por computador: Desconectar-se para Conectar

Quando um indivíduo de fora das redes sociais decide fazer parte delas, é preciso que ele se reeduque para conviver com as tecnologias e as mediações. Para construir novos conhecimentos e novas visões da sociedade da informação, é necessário enxergar a pós-modernidade e aproveitar o que ela trouxe de bom.

Hoje o conhecimento é encarado de várias formas, podendo ser encontrado não apenas nos meios tradicionais, mas sim em todos os canais multimídias, principalmente nas redes sociais. O conhecimento é produzido de forma coletiva, construído em linha horizontal, de usuário para usuário. As informações não vêm apenas das pessoas mais instruídas, pois hoje o poder está nas mãos dos que têm acesso às redes e dominam seu uso.

Ao ingressar nas mídias sociais, é possível perceber a diferença que é fazer parte do processo, estar informado e ter assuntos para contar. É a realidade da maioria das pessoas que fazem parte dos fluxos, interagindo com vários tipos de pessoas, com níveis de escolaridade diferenciados e pensamentos a compartilhar, igualmente diferentes. As redes são heterogêneas, e é isso que as torna tão ricas em conteúdo e informação, característica da atual sociedade.

Como vimos de acordo com as autoras Santaella e Lemos, os indivíduos têm a necessidade de se comunicar para qualquer fim. A função das redes sociais é unificar um canal de relacionamentos com a finalidade de promover interações entre aqueles que desejam única e simplesmente estar próximos.

Com as rotinas de trabalho e a falta de tempo devido aos compromissos do mundo contemporâneo, as relações pessoais foram abaladas. A cada dia mais pessoas reclamam que não conseguem encontrar os amigos no final de semana para sair, ou não conseguem dar conta dos compromissos com conhecidos por falta de tempo. Isso faz com que os relacionamentos interpessoais esfriem, e a saída para não fazê-los morrer é sustentá-los de forma virtual. Assim, é possível dar assistência a todos os amigos, saber e participar de suas vidas particulares, conquistas e relacionamentos.

Esse é um dos motivos para que as pessoas que ingressam em redes sociais procurem primeiramente os amigos e conhecidos, para então partirem para a interação com pessoas desconhecidas. Ambas as ferramentas em alta, Facebook e Twitter, são úteis para que o indivíduo esteja ligado aos assuntos, dicas e links fornecidos por pessoas de sua admiração ou de seu meio profissional.

Além disso, as plataformas oferecem a sensação de bem estar e de auto-afirmação aos seus usuários. A rede Facebook deixa isso claro com o recurso “Curtir” (botão que permite que a pessoa que postou e todos os amigos relacionados vejam, após o clique, que você gostou do que leu na informação acima), permite que os usuários “testem” frases e divulguem links para receber aprovações de terceiros sobre o assunto que postou.

No Twitter ocorre um processo semelhante: ao ganhar RT (retweet, que significa que uma informação de uma pessoa que é seguida por você, pareceu interessante e foi encaminhada aos seus seguidores), o usuário da ferramenta recebe um feedback (retorno, resposta) sobre seus comentários e informações. Faz bem para o ego do internauta contribuir para o conhecimento de todos.

As redes, por serem universalmente acessadas, sem limites de territórios para a interação, facilitam o acesso às pessoas que pessoalmente você nunca teria a chance de abordar para uma conversa. O prefeito da cidade, por exemplo, os vereadores, senadores ou até a presidente da República.

Acontece muito com os famosos, jogadores, atores e celebridades da TV. Seria pouco provável o contato com um deles a não ser pela internet, com a permissão exclusiva dos próprios famosos, e isso é facilitado pelas plataformas de interação social.

Porém, isto não significa que você seja amigo dessa pessoa. Uma desvantagem das redes virtuais de relacionamento é que elas nos dão a falsa sensação de aproximação das pessoas que admiramos, por estarmos tão ligados às informações íntimas de sua vida profissional e muitas vezes pessoal.

Essa sensação de pertencer à grupos e à vida social, traz porém uma desvantagem para a interação interpessoal. O fácil acesso à internet pelos notebooks, celulares, I-pads e outros, facilitou o vício à conexão das redes sociais. Isso faz com que alguns jovens se dediquem unicamente ao acesso à internet, se esquecendo da vida real que acontece enquanto estão pendurados ao celular, por exemplo.

Alguns integrantes de gerações mais jovens vivem com o celular em mãos em eventos e lugares públicos, sem nenhum interesse de interagir com as pessoas a sua volta. É um pouco preocupante que isso seja preferência para eles, pois a internet ao mesmo tempo em que ela te oferece o mundo, ela o faz ficar sozinho, diante desse mundo. Mesmo que conectado por skype (voz e vídeo), programas interativos e redes sociais, a pessoa está quieta interagindo através de uma máquina.

Há pessoas que estão em meio à multidão de pessoas, com grandes histórias de vida e oportunidades para compartilhá-las, mas que não conseguem se conectar a mais nada e nem a ninguém, apenas à internet.

O filme, produzido pela empresa DTAC, segunda maior produtora de aparelhos móveis da Tailândia, mostra exatamente a situação que ocorre na sociedade na qual estamos inseridos.

O vídeo mostra como é nossa vida com e sem o uso da internet através do aparelho celular. Nas primeiras cenas vemos um casal na praia andando, onde o homem está conectado e atento em seu celular. Logo após vemos apenas ele, sozinho e em contato com o celular, mas algumas coisas se movendo sozinhas ao seu redor. Em outras cenas, a situação se repete, com outros perfis de pessoas. Até que, em uma mesa, um desenho se faz sozinho, como se houvesse alguém que não se podia enxergar.

O movimento chama a atenção do homem sentado no sofá e é neste momento em que ele, representado como pai, percebe que é a sua filha que estava desenhando seu retrato. Só assim que o pai percebe que, com o celular em mãos, ele não podia ver nada a sua volta.

Sendo assim, este resolve desligar o celular e aproveitar para abraçar sua filha. As cenas anteriores voltam a ser exibidas, fazendo sentido ao telespectador, pois podemos enxergar as pessoas que não eram percebidas, e todos começam a interagir, deixando para lá a tecnologia e vivendo o mundo humano. Como diz o nome do vídeo, é preciso “desconectar-se para se conectar”, no mundo afora.

Esse é o retrato do que a nossa atual sociedade enfrenta, com a possibilidade de reduzir cada vez mais a interação interpessoal, no trabalho e em casa. 

5. Considerações finais

Verificando as possíveis alterações em nosso modo de interagir uns com os outros, ficam claras as diferenças quando comparadas à interação mediada por computador.

Segundo Alex Primo:

O diálogo na interação face a face apresenta uma “multiplicidade de deixas simbólicas”, ou seja, as palavras vêm acompanhadas de informações não-verbais como piscadelas e gestos, franzimento de sobrancelhas, variações na entonação etc. (PRIMO, 2007, p. 20).

Embora o autor use o trecho em seu livro para defender que há ambiguidades nas informações e conversas ocorridas pessoalmente, usarei tal trecho para defender a riqueza do contato face a face.

Pessoalmente, as pessoas envolvidas neste tipo de interação sabem, com maior precisão do que pelo computador, qual é o posicionamento da pessoa receptora da informação. Isso é possível através da linguagem não-verbal, que é um rico tipo de comunicação.

Ao argumentar sobre as opiniões de um determinado assunto, a pessoa exibe no rosto seu contentamento ou descontentamento. É uma tendência das pessoas demonstrarem o que estão pensando, se não transmitem exatamente o que pensam, transmitem uma noção bem próxima disso.

Ao comunicarmo-nos de forma verbal, produzimos e recebemos uma grande quantidade de mensagens que não são expressas em palavras, mas sim em gestos, feições etc.
Segundo os autores Allan e Barbara Pease, “93% da comunicação humana é feita através de expressões faciais e movimentos do corpo” (PEASE; PEASE, 2005, p. 2).

Através das redes, muito se perde e a superficialidade do contato domina. Não é possível entender uma mensagem curta e grossa, e imaginar que ela foi escrita com carinho, mas devido à pressa, não pode ser melhor expressada. Não discordo dos benefícios e da agilidade dos novos recursos interativos, até desfruto deles, mas valorizo imensamente o contato físico entre duas pessoas que querem trocar experiências e informações. Sou contra a troca total entre o tipo pessoal pelo tipo mediado por máquinas e aparelhos.

Analisando as alterações das sociedades, as transformações nos setores principais da economia e os costumes e tradições, podemos perceber que faz parte da evolução do homem progredir e criar recursos para nosso conforto. Porém, é discutível nosso constante desejo de ter tais comodidades, sem medirmos como estas serão usadas pelas gerações que nos sucederão. O advento da internet foi um sucesso e hoje não poderíamos nos imaginar sem seu acesso, mas não medimos que as gerações emergentes estariam tão dependentes dela para se comunicar.

Talvez seja preciso repensar nossas atitudes e criações no hoje, para que no amanhã, tais atitudes correspondam às nossas antigas expectativas de uso, evitando que elas destruam hábitos primordiais, como o contato pessoal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SITES

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*Camila de Oliveira Burgos é graduada no Curso de Comunicação Social (Jornalismo) pelas Faculdades Integradas de Jaú.

 

 







Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro | ISSN 1806-2776 | Edição 14 | Novembro | 2011
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