Novembro de 2011
Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ISSN 1806-2776
 
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ENSAIOS

Redes sociais e o trabalho
na sociedade da informação

Por Vanessa Grazielli Bueno do Amaral*

RESUMO

A pós-modernidade tem traços marcantes quanto à nova organização da sociedade. Os avanços tecnológicos e o novo paradigma capitalista levaram à formação de uma sociedade voltada à mídia e ao consumo.

A informação tornou-se fator determinante, matéria-prima da sociedade e da constituição de riquezas.

Em rede, a sociedade da informação tem toda a sua organização reestruturada, seus processos e indivíduos interligados, modificando a comunicação, o consumo, o lazer e, inclusive, o trabalho.

Reprodução

PALAVRAS-CHAVE: Sociedade da Informação / Redes Sociais / Cadeias Produtivas

1. Introdução

As sociedades, primeiramente pautadas pela produção agrícola e regidas pela comunicação oral, passaram no decorrer dos anos por inúmeras mudanças. A invenção dos tipos móveis e da impressão por Gutenberg aumentou drasticamente a demanda por livros impressos, possibilitou a popularização do conhecimento e acelerou o processo de alfabetização.

A partir da industrialização, dos novos meios de produção e acumulação de riqueza iniciou-se, também, à migração do campo para as cidades. A sociedade industrial e o consequente aumento da produção industrial pelo aperfeiçoamento tecnológico, também foi acompanhada do aperfeiçoamento dos meios físicos de comunicação. A propaganda mercadológica da forma como conhecemos é inserida como “símbolo de abundância de produtos e serviços que o processo tecnológico colocava diariamente à disposição de todas as classes” (SANT’ANNA; ROCHA JÚNIOR; GARCIA, 2009, p. 7).

Diversos avanços tecnológicos foram apresentados à humanidade durante o século XX, principalmente a partir dos anos 60. O desenvolvimento da indústria gráfica, com jornais, revistas e livros, permitiu que mensagens fossem divulgadas à um público cada vez maior. A fotografia e o cinema possibilitaram que imagens, documentais ou de ficção, fixas ou em movimento, fossem vistas. Surgiram o rádio, a indústria fonográfica e a televisão.

Outras inovações tecnológicas foram importantes, especialmente o computador. A criação dos chips de silício seguindo a Lei de More (que dita que a velocidade e a potência dos circuitos integrados de microprocessadores e chips de memória duplicam a cada 18 meses) levou a diminuição do tamanho dos computadores.

Nos anos 80, os computadores foram amplamente usados pelas redações dos jornais, que enviavam materiais diretamente às oficinas de produção. Os aparelhos de fax foram usados como meio de enviar informações de produtos aos clientes. Graças ao barateamento dos aparelhos seu uso aumentou e, inclusive, jornais como o New York Times fizeram tentativas de envio de suas edições por fax, como forma de atingir os leitores que se encontravam em localidades distantes.

Já a Internet teve sua origem durante a Guerra Fria. A ideia de rede foi criada pelos militares norteamericanos com o intuito de interligar os computadores para evitar perda de informação em casos de destruição ou inacessibilidade a pontos estratégicos, que armazenassem parte de seus recursos de informática e bélicos.

Depois de 20 anos a internet começou a ser utilizada pela comunidade científica e corporações multinacionais, passando a ser usada pelo grande público na década de 1990. Na mesma década, se expandiu a utilização de CDs ou CDs-ROM, mídias com maior capacidade de armazenamento que as anteriores, como os disquetes, por exemplo. Mesmo os CDs foram posteriormente substituídos pelos DVDs e atualmente por outras plataformas de armazenamento com capacidade superior.

Uma nova linguagem foi criada para a internet, permitindo o uso de imagens, vídeos, sons, etc. Foram desenvolvidos navegadores que facilitavam o acesso e utilização das informações disponíveis na rede. O comércio eletrônico alavancou a criação de novos serviços, levando em consideração a experiência proporcionada aos usuários e sua importância como consumidores, modificando inclusive os formatos verticalizados de comércio convencional. A internet tornou-se um fenômeno de larga escala, cuja relevância tecnológica podia ser comparada à televisão e à imprensa. Enquanto o rádio levou 38 anos para atingir 50 milhões de usuários e a televisão levou 13 anos, a internet precisou de apenas 4 anos.

O jornalista John Heilemann no episódio “A Guerra dos Navegadores” do documentário da Discovery Channel “A Internet” (título original “Internet True History”), afirma que “a internet mudou o jeito como o ser humano trabalha, compra, vende, se relaciona, se diverte e até se apaixona” (INTERNET TRUE HISTORY, 2008).

A própria indústria fonográfica foi modificada pela internet. Primeiro com o compartilhamento de músicas no formato MP3 e depois com serviços como o Youtube, que representa bem a chamada Web 2.0, cujo conceito é a internet como uma via de mão dupla, que permite aos usuários produzir seu próprio conteúdo em diferentes plataformas (texto, imagem, áudio etc.).

A internet se mostra como um meio interativo e democrático, que não é controlado por ninguém e moldado por todos. Cada indivíduo é um ator neste cenário, produzindo, participando e contribuindo, se conectando entre si e à informação. A rede e as conexões entre usuários aumentam exponencialmente em relação ao número de usuários conectados. Os serviços das redes online não visaram substituir as mídias convencionais, mas sim serem suplementares a elas.

A respeito das novas tecnologias da informação, Castells (2003, p. 459) afirma que “[...] desempenharam um papel decisivo ao facilitar o aparecimento desse capitalismo flexível rejuvenescido, proporcionando ferramentas para a formação de redes, a comunicação à distância, o armazenamento/processamento de informação, a individualização coordenada do trabalho e o concentrar e descentralizar simultâneos dos processos decisórios”.

Tais avanços tecnológicos, juntamente com essa nova fase do capitalismo (também chamado de capitalismo tardio) multinacional e multiconglomerado de consumo, levam ao conceito de pós-modernismo “comercial” ou cooptado. Segundo Kaplan (1993), em algum momento posterior à Segunda Guerra Mundial surge esta nova sociedade, considerada uma sociedade do consumo e da mídia.

São demonstrativos desta sociedade a obsolescência planejada; um ritmo cada vez mais rápido nas mudanças na moda e no estilo; a penetração da propaganda, da televisão e dos meios de comunicação em geral; a substituição da tensão entre o campo e a cidade, centro e província pelos subúrbios e pela padronização universal; o crescimento das redes de auto-estradas e o aparecimento da cultura do automóvel.

O termo “pós-modernismo” surge como uma resposta às consequências dos anos 60. Tanto o conceito voltado ao feminismo quanto o conceito capitalista, surgem na esteira de teorias e debates sobre raça, classe, sexo e gênero no fim do século passado, uma ruptura iniciada pelo modernismo, que tinha como premissas a abertura das artes, arquitetura e medicina, uma nova forma de ver o mundo tendo a razão como fonte de progresso e a ciência como algo que fornece explicações universais para as coisas.

Na pós-modernidade, de acordo com Kaplan (1993), o sujeito sofre grandes modificações, sendo que o interno já não se separa do externo, o espaço privado não pode se opor ao público. A comunicação é intensamente mediada por computadores, e as redes sociais migram para a Internet. O sujeito que antes era passivo diante da comunicação, se torna não só espectador ou consumidor, mas agora é um prosumer. O termo em inglês é um neologismo formado pelas palavras producer (produtor) e consumer (consumidor). O indivíduo produz e difunde conteúdo e sua exigência diante da comunicação e dos produtos oferecidos impulsiona a indústria à tentativa de atender a esta demanda personalizada, o que nos leva ao conceito de customização de produtos, sejam eles materiais ou de informação e entretenimento.

Existe uma multiplicidade de “línguas”, onde cada grupo fala uma língua particular, cada profissão desenvolve seu código ou idioleto próprio, cada indivíduo tornando-se, praticamente, uma espécie de ilha linguística. Nesse contexto, Jameson afirma a morte do sujeito, o fim do individualismo que considera cada um como sendo único.

Dois posicionamentos surgiram a cerca deste tema. O primeiro afirma que, no auge do capitalismo competitivo presente no apogeu da família nuclear (que consiste em homem, mulher e filhos habitando um ambiente familiar comum), havia o individualismo, sujeitos individuais. O outro posicionamento, mais radical, também chamado de pós-estruturalista, afirma que este sujeito jamais existiu e seria uma mistificação filosófica e cultural, que tentou convencer as pessoas de que elas possuíam uma identidade pessoal única.

Não vem ao caso definir qual das posições é a correta, mas importa o dilema estético: se estão mortas e enterradas a experiência e a ideologia do eu singular, é justificável o que os artistas e escritores contemporâneos fazem da arte: não há mais nada de singular a ser criado, nenhuma inovação estilística, apenas a arte de uma nova maneira, o chamado pastiche.

A publicidade tem um papel importante ao realçar a circulação de mercadorias e bens simbólicos em domínios universais. A noção de pertencimento desloca-se de lealdades nacionais e passa a ser influenciada pelos centros gestores de consumo. Os sistemas culturais interpenetram-se em circuitos regidos por corporações estratégicas (bancos e conglomerados financeiros e industriais, companhias transnacionais) e organizações supranacionais (por exemplo, o Fundo Monetário Internacional).

Moraes (1998), porém, afirma que, embora essa globalização promova intercâmbio de conhecimentos e técnicas, a hibridização de meios está longe de nivelar desigualdades na apropriação dos bens simbólicos, nos acessos às inovações culturais e nas trocas comunicacionais entre grupos, países e regiões. Ao contrário, repõe as tensões e os desníveis entre hierarquias planetárias e subsistemas socioculturais.

2. Identificável

2.1. Sociedade da Informação

Segundo Castells (2003), uma nova sociedade surge a partir da transformação estrutural nas relações de produção, poder e de experiência. Segundo o autor, essas transformações conduzem a uma significativa mudança nas formas sociais do espaço e do tempo e à emergência de uma nova cultura.

As noções de tempo e espaço são geradas por pessoas que as compartilham sob condições determinadas pelas relações de produção, poder e experiência. Tais condições são modificadas pelos projetos dos indivíduos, que lutam uns contra os outros para impor seus valores e objetivos à sociedade. As configurações espaço-temporais eram de suma importância no significado de cada cultura e sua evolução. No novo paradigma informacional, há uma cultura originada da superação dos lugares e do tempo pelo espaço de fluxos e pelo tempo atemporal, o que Castells (2003) chama de cultura da virtualidade real.

Uma característica da contemporaneidade é a flexibilidade. Na nova sociedade, há uma ausência de limites sociais e físicos, a economia de mercado é dinâmica e expansiva, centralizada na organização em rede dos processos sociais.

As redes se figuram através da internet, e organizam a nova lógica produtiva. A internet modificou a economia, transformando-a na economia do conhecimento.  O que antes era a Economia Industrial tornou-se então uma Economia Digital, constituída de silício, computadores e redes. A informação não modificou somente aquelas atividades relacionadas a serviços ou diretamente ligadas ao conhecimento, mas também os meios de produção material, que utilizam a informação para aprimorar seus processos. Castells (2003) denomina a nova sociedade como uma sociedade em rede, a “nova estrutura social da Era da Informação” (CASTELLS, 2003, p. 476), constituída por redes de produção, poder e experiência.

Como afirma Dizard (1998), “as telecomunicações transformaram a informação numa mercadoria sem peso”. A informação não se restringe ao conceito de notícia, mas se expande para outras definições como: informação de base (base de dados, acervos digitais, arquivos multimídias), informação cultural (filmes, vídeos, jornais, programas televisivos, livros, etc.) e know-how (invenções, patentes, protótipos etc.). A informação provê vantagem competitiva, através de redes de intercâmbio de dados que maximizam a eficiência ao longo das cadeias produtivas.

Os fluxos da informação são essenciais para o desenvolvimento de processos, produtos e serviços. Moraes (1998, p. 51) cita Bill Clinton em discurso na American University em 23 de fevereiro de 1993, quando este diz que “mais importante do que tudo, a informação se tornou global e se transformou na rainha da economia global. Antigamente, a riqueza era medida em terras, em ouro, em petróleo, em máquinas. Hoje, a principal medida de nossa riqueza é a informação: sua qualidade, sua quantidade, sua velocidade e adaptações às necessidades”.

Nesse contexto as organizações precisam adaptar-se, deixando de ser companhias hierarquizadas para se tornarem interconectadas. Além de fusões, são criadas redes de compartilhamento de conhecimento através das quais as empresas, bem como cientistas e médicos, por exemplo, podem interagir e trocar informações que lhe ofereçam agilidade, vantagem competitiva, acesso a diversos talentos (mesmo que distantes geograficamente), redução de custos, etc. O que rege este novo modelo são as relações.

3. “Penso, logo produzo”

A frase de Castells (2003) caracteriza bem o novo cenário dos processos produtivos na Era da Informação. “A comunicação é imprescindível para qualquer organização, uma vez que é o fator viabilizador do sistema organizacional por meio de redes de comunicação, sejam elas formais ou informais. São essas redes que ligam entre si os colaboradores da organização e esta com o meio ambiente”.

A afirmação de Kunsch (1997 apud PORTO, 2008 p.35) retrata a importância da comunicação nas organizações, ressaltando o conceito de relacionamento e sociabilidade necessários para alinhar os interesses, objetivos e estratégias da organização com seus colaboradores. Cebrian (1999) expõe que mesmo comunidades mais restritas poderão organizar suas próprias redes, adaptadas às corporações ou empresas. “Dessa forma, seus integrantes ficarão unidos em torno de um projeto coletivo, e ajudarão para que nasça, na rede, algo parecido com os sentimentos patrióticos” (CEBRIAN, 1999, p. 93).

A sinergia entre tecnologia, informação, comunicação e conhecimento, derivada da globalização, da transformação da economia industrial em economia da informação e das transformações nas organizações, tem levado as organizações a um maior investimento em tecnologias de gerenciamento da informação, com o intuito de gerar vantagem competitiva. Segundo Queiroz (2006 apud PORTO, 2008), no atual ambiente de negócios, a informação é o maior componente de agregação de valor.

Cebrian (1999) ainda afirma que Igrejas ou Estados que não estão presentes na web começam a sentir certa carência na comunicação com seus fiéis ou cidadãos. O mesmo ocorre com as empresas ou círculos comerciais. Podemos concluir, portanto, que a rede converteu-se num lugar importante para o desenvolvimento das relações convencionais entre administradores e administrados.

A evolução tecnológica demanda ao indivíduo um aprimoramento constante e faz com que caiba a ele a responsabilidade de aprender, e a rede proporciona o desenvolvimento pessoal, oferecendo desde enciclopédias a cuidados com animais doentes, passando por cursos, grupos de debates, programas de formação e bibliotecas. São meios para a criação de uma nova infra-estrutura de aprendizado.

Castells (2003) afirma que o conceito de educação deve distinguir-se de conhecimento especializado, que pode se tornar obsoleto rapidamente frente a mudanças tecnológicas e organizacionais. A educação ou instrução na forma tradicional corresponde ao processo pelo qual as pessoas (ou trabalhadores) adquirem as bases para posterior capacitação e prepara para uma constante redefinição das especialidades necessárias para a execução de uma determinada tarefa, e para o acesso a fontes de aprendizagem de qualificações especializadas.

A flexibilidade levada ao âmbito organizacional das empresas em rede requer trabalhadores ativos na rede e com jornada flexível, além de uma série de sistemas de trabalho, como o trabalho por conta própria e subcontratações.
Cebrian (1999) aponta também a possibilidade do teletrabalho, com as vantagens e desvantagens sintetizadas no quadro a seguir:

QUADRO 1: As características do teletrabalho

CARACTERÍSTICA PRÓS CONTRAS
Não-hierarquização

- coordenação mais direta e rápida entre a cúpula executiva e os empregados (organizações mais fluidas e horizontais)

- acesso direto aos chefes, possibilidade de expor pontos de vista e fazer queixas
- risco de invasão da esfera pessoal
Deslocamento do emprego intelectual

- economia para a empresa, por exemplo, em instalações
- mais tempo de lazer para o funcionário

- economia de tempo com transporte e consequente descongestionamento do tráfego das cidades

- possível perda da liberdade
- ocupação do tempo predominantemente com trabalho

- desvantagem no momento de aspirar a promoções e à ascensão na carreira
Nova divisão formal do trabalho

- integração de diferentes tarefas no painel informático, desenvolvidas por uma só pessoa

- crescimento dos empregados autônomos, proporcionando uma flexibilidade agregada à das empresas

- aumento da escassez de emprego da forma como é concebido

- dificuldade de organização e engajamento sindical

Fonte: Cebrian, 1999.

Lojkine (2002) utiliza-se de uma metáfora para expor o contexto da comunicação no processo produtivo dentro das organizações: o diálogo entre o cego e o mudo. Esse diálogo é conduzido pela separação das tarefas de concepção e execução. Os gestores, responsáveis pelas tarefas de concepção são os cegos, ausentes do espaço da produção e ignorantes dos imprevistos que aí surgem, não os considerando no momento da concepção do processo.

Aqueles que estão no espaço da produção são os mudos, que conhecem as peculiaridades e incertezas do processo, mas não têm a possibilidade de se fazer ouvir, e menos ainda de intervir na concepção dos processos. As mudanças na sociedade e seus consequentes reflexos no ambiente corporativo permitirão que este cenário seja modificado, como afirma Porto (2008, p. 105):

(...) a comunicação – agora em tempo real e independente do espaço físico – viabiliza uma série de mudanças e possibilidades tais como: comunicação rápida e fácil; usuário ativo no processo da comunicação; além de um ambiente de aprendizagem coletiva e cooperativa.

Porto (2008) ressalta que, Castells e Levy criticam a teoria do determinismo tecnológico para a constituição da nova sociedade, afirmando que a tecnologia não é a única responsável pelas mudanças na sociedade e sua constituição em rede, a partir de uma revolução informacional. Castells aponta, por exemplo, o capitalismo como fonte de mudanças e de suas respectivas alterações na organização da sociedade, no formato que chama de sociedade em rede. Levy abrange também os aspectos históricos, sociais e culturais que levam à sociedade em rede, de forma a utilizar o repertório e conhecimento de cada indivíduo para desenvolver uma inteligência coletiva a partir da convergência das competências e habilidades individuais. 

Levy (1996) estabelece a premissa da virtualização da economia, e afirma que a instituição clássica do trabalho como fixada no século XIX, em que o operário vende sua força de trabalho e recebe um salário em troca, está prestes a ser desconstruída. Segundo ele, o trabalhador contemporâneo tende a vender sua competência, ou melhor, sua capacidade continuamente alimentada e melhorada de aprender e inovar. Este potencial, este saber-ser ou saber-devir tem a ver com o virtual, aquilo que pode vir a ser.

Nesse sentido, a comunicação mediada por computadores e as redes digitais se enquadram bem como ferramenta para constituição da inteligência coletiva, valorizada e sinergizada em tempo real.

Com objetivo de compreender a importância das redes sociais na atuação dos profissionais do mercado publicitário no interior paulista, a pesquisa realizada por Amaral (2009) abrangeu 13 cidades da região de Bauru, envolvendo 32 profissionais de agências de publicidade, agências digitais, profissionais autônomos e relacionados aos departamentos de comunicação de empresas privadas.

No momento da pesquisa, as redes sociais mais utilizadas pelos entrevistados foram o Orkut e o Twitter. O acesso a redes sociais é feito, pela maioria, de casa e do trabalho respectivamente. De forma geral, os acessos são feitos mais de uma vez por dia com permanência inferior à uma hora. Neste ponto podemos levantar duas hipóteses: a do bloqueio a redes sociais no ambiente de trabalho e da percepção dos profissionais em relação às redes sociais, enxergando-as mais como formas de criar e manter contatos do que de troca de informações. O que nos leva também à conclusão de outro fator: a relevância das redes sociais ao trabalho. Os profissionais se dividem entre os que as consideram indispensáveis e os que consideram relevantes, porém dispensáveis.

Quanto ao bloqueio de acesso às redes sociais por parte das empresas, boa parte delas ainda faz tal tipo de restrição, porém um número considerável não bloqueia o acesso ou faz apenas restrições de horário, permitindo o acesso no começo e final do expediente e durante o almoço, segundo Amaral (2009). De acordo com a autora, os maiores argumentos das empresas são a queda da produtividade e problemas relacionados à segurança da informação.

Porém faz uma ressalva, enfatizando que, com uma política adequada, engajamento e conscientização das partes envolvidas, as redes sociais (internas ou externas à empresa) podem ter efeito contrário, gerando vantagens competitivas a partir da gestão do conhecimento colaborativo. Os entrevistados na pesquisa revelaram, em sua maioria, possuir páginas pessoais e perfis em redes sociais. Entretanto também foi identificado um comportamento que demonstra que as redes sociais não são claramente vistas como fontes de informação, mas como um conceito mais superficial de redes de contatos, sendo usadas inclusive para troca de mensagens instantâneas.

Amaral (2009) também questiona o “novo profissional” do interior, que é apontado como em constante atualização, dinâmico, criativo e empreendedor, características estas que podemos estender à nova onda de jovens trabalhadores que começa a adentrar o mercado de trabalho. A expectativa destes e também dos entrevistados na pesquisa, é de que o paradigma das empresas em relação à internet e às redes sociais seja quebrado, e que elas estejam mais abertas à utilização de ferramentas colaborativas internas.

As alterações geradas na cadeia produtiva a partir deste novo paradigma permitiriam flexibilidade de horários e localização e descentralização do trabalho. Outras características apontadas são a colaboração, proximidade, compartilhamento, confiança e responsabilidade, demonstrando a existência de um ambiente propício ao compartilhamento de informações, opiniões e ideias com a empresa, melhorando dessa forma o relacionamento com a organização, clientes e também entre colaboradores.

Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Databerje) aponta mudanças na forma como a comunicação interna é conduzida pelas empresas no Brasil. A pesquisa foi realizada para o jornal Valor, em agosto de 2009 e abordou cerca de 300 companhias selecionadas aleatoriamente entre as empresas do Valor 1000, ranking das mil maiores empresas eleitas pelo jornal.

Segundo Lippi (2009) na comparação entre 2007 e 2009, as mídias eletrônicas superaram murais e jornais impressos. Os jornais, que em 2007 eram responsáveis por 26,6% da comunicação interna, passaram a responder por 14,7%. Já a Intranet, que respondia por 18,4% da comunicação interna em 2007, no ano de 2009 passou a responder por 24,7%. O uso de emails, por exemplo, passou de 5,5% a 12% da comunicação interna.

Outra pesquisa, realizada pelo IBOPE Midia em 2010 a respeito do fenômeno das redes sociais no Brasil, traz dados sobre o uso de redes sociais no trabalho e para fins profissionais. De acordo com IBOPE (2010), dos perfis preferidos para serem seguidos no Twitter, por exemplo, 26% são de empresas ou profissionais relacionados ao trabalho. Dos entrevistados, 70% acessam redes sociais de casa, enquanto 13% o fazem do trabalho. Dentre os principais motivos de acesso as redes sociais, 16% são motivos profissionais, número que aumenta para 24% quando os entrevistados têm 30 anos ou mais.

4. Conclusão

Diante de tal perspectiva, segundo Gorgulho (2009), as empresas estão fazendo uso corporativo de redes sociais como blogs, wikis (plataformas colaborativas) e redes de relacionamento. A gestão do conhecimento colaborativo através destas ferramentas oferece à empresa a capacidade de gerar vantagem competitiva. Nepomuceno (2009 apud GORGULHO, 2009, p. 33) afirma que “não estamos numa era de mudanças. Estamos numa mudança de eras”.

Compartilhado em rede ao invés de armazenado no computador de cada usuário, o conhecimento pode ser publicado para diversas pessoas que podem acrescentar, corrigir, compartilhar novas experiências, visões e links correlatos, além de qualificar as informações de forma a evidenciar a produção intelectual que tiver maior aceitação coletiva, podendo ainda ser facilmente encontrada através de uma ferramenta de busca.

A ideia central é de fazer o conhecimento estratégico se disseminar entre os colaboradores e levar ao topo da gestão os conhecimentos e soluções pensadas pela equipe de base. “Esses processos precisam ter governança, serem educativos e estruturados com mecanismos de animação.

Estimular o uso dessas ferramentas colaborativas provoca a criatividade em prol da inovação” (TERRA, 2009 apud GORGULHO, 2009, p. 35). Em relação ao trabalho na Economia da Informação e na Web 2.0, Jimmy Wales, fundador da Wikipedia, atesta que “comunidades que supervisionam a si mesmas podem produzir trabalhos de altíssima qualidade, quer seja um software de fonte aberta ou algo como a Wikipedia”.

A fase de transição em que vivemos não nos permite conclusões taxativas quanto à extinção ou não do regime de trabalho como o conhecemos. Enquanto empresas e indivíduos estão aderindo às novas formas de postos de trabalho descentralizados e empresas organizadas horizontalmente, outros passarão por este período sem se dar conta de tais benefícios.

Atenta a isso, toda a corporação deve estar engajada na implantação dos novos processos, para que se obtenha os resultados e vantagens esperados. Uma organização horizontalizada onde não hajam cegos e mudos, mas um verdadeiro diálogo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, Vanessa Grazielli Bueno do. A importância das redes sociais para os profissionais 2.0 do mercado publicitário do interior paulista. 2009. 53f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Comunicação Social / Habilitação em Publicidade e Propaganda) – Universidade do Sagrado Coração, Bauru, 2009.

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DIZARD, Wilson Jr. A Nova Mídia: a comunicação de massa na era da informação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.

GORGULHO, Vinícius. Homo blogadus. Revista Melhor gestão de pessoas. São Paulo, n. 262, p. 30-35, set. 2009.

IBOPE. Ibope Midia. “Many-to-Many” O fenômeno das redes sociais no Brasil. Disponível em: http://www.ibope.com.br/maximidia2010/download/Redes_Sociais.pdf. Acesso em: 8 mar. 2011.

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LOJKINE, Jean. A revolução informacional. 3 ed. São Paulo; Cortez, 2002.

KAPLAN, E. Ann (Org.). O mal-estar no pós-modernismo: teorias e práticas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993.

LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.

LIPPI, Roberta. Contatos pessoais reforçam mensagem. Valor Setorial. São Paulo, p. 54-58, nov. 2009.

MORAES, Dênis de. O Planeta Mídia: tendências da comunicação na era global. Campo Grande: Letra Livre, 1998.

PORTO, Luisa de Melo. O USO DA INTRANET COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO INTERNA: DAS ORIGENS ÀS IMPLICAÇÕES NA CULTURA DAS ORGANIZAÇÕES. Bauru, 2008. Disponível em: http://www.faac.unesp.br/posgraduacao/Pos_Comunicacao/pdfs/luisa_porto.pdf. Acesso em: 03 jan. 2011.

SANT’ANNA, Armando; ROCHA JÚNIOR, Ismael; GARCIA, Luiz Fernando Dabul. Propaganda: teoria, técnica e prática. 8. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cengage Learning, 2009.

*Vanessa Grazielli Bueno do Amaral é graduada em Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) pela Universidade do Sagrado Coração.

 

 







Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro | ISSN 1806-2776 | Edição 14 | Novembro | 2011
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