Este trabalho tenta acompanhar a presença do entremez no Brasil, a partir da reconstituição histórica de sua popularização como gênero teatral nos teatros portugueses, durante os séculos XVI e XVIII, e de sua disseminação enquanto gênero editorial como resultado do crescimento da atividade tipográfica e da leitura de folhetos impressos. O estudo assinala a presença do entremez no âmbito dos textos publicados em folhetos de cordel e analisa de que modo a prática da leitura de peças de teatro foi decisiva para a afirmação do gosto pela comédia popular, da qual se originou o modelo da comédia brasileira. O caso das traduções de Molière para o português exemplifica a força exercida pelo entremez sobre os autores portugueses e brasileiros que consagraram o sucesso da fórmula popular junto aos leitores
Este artigo de referência coloca em destaque o teatro ligeiro musicado observado nos palcos do Rio Grande do Sul durante a segunda metade do século XIX. Ele revela algumas companhias artísticas internacionais (notadamente européias) e nacionais que freqüentaram os teatros sulinos, assim como os principais autores e obras levadas à cena. Dediquei-me igualmente à análise de certas peças que marcaram presença constante nos palcos estudados. Ao realizar um mergulho na gênese dos espetáculos teatrais brasileiros, este texto retrata a forte presença da cultura européia nos palcos do país, a influência européia nas artes cênicas brasileiras nascentes, o processo de absorção criativa de modelos estrangeiros e a busca da singularidade nacional, a crescente afirmação da brasilidade — fenômenos implicados na formação artística e cultural do Brasil.
Fenômeno por longo tempo menosprezado pela crítica e pela historiografia teatral brasileira, o teatro musical ligeiro que se desenvolveu no Rio de Janeiro na passagem do século XIX para o XX constitui um fértil campo para se estudar processos culturais que se desenvolviam na cidade, com reflexos no país, que ajudam a entender as complicadas relações raciais que ainda hoje assombram o imaginário e o cotidiano dessa sociedade. Através da análise de algumas peças de sucesso nas décadas de 1910 e 1920, procuro demonstrar como intelectuais simpáticos à cultura popular carioca estavam se apropriando de imagens e valores que se vinham forjando na Pequena africa do Rio de Janeiro e as transplantavam para o ambiente seguro do palco, despidas de seus conteúdos étnico-culturais originais.
Neste estudo, exponho o universo das personagens cômicas que ganharam corpo ao serem encenadas pelo grupo teatral da União Operária, na primeira metade do século XX, em Florianópolis, tendo como objeto de estudo doze textos cômicos de autores portugueses e brasileiros, um deles catarinense. Procuro abordar o imaginário presente nesse teatro através das personagens cômicas e de suas sensibilidades manifestas, bem comodelinear os pressupostos ideológicos, estéticos e os fins pedagógicos dessa dramaturgia.
Sempre se menciona o fato de o teatro ser uma arte do efêmero, mas pouco se tem estudado os vestígios deixados por este momento tão fugidio. Nesse sentido, este artigo pretende observar a questão da recepção teatral, focando o surgimento do dramaturgo Jorge Andrade e sua dramaturgia ao longo das décadas de 1950 e 1960, quando da escritura, encenação e recepção literária e espetacular de várias de suas obras. Para isso, são visitadas as clássicas teorias acerca do tema da recepção e também a crítica especializada em teatro, depositária dos marcantes encontros entre autor, obra e leitor/espectador, a partir dos quais será possível a construção da imagem do autor e da definição dos lugares de sua obra.
Em seu livro O método Brecht, o crítico marxista norte-americano Fredric Jameson sustenta a idéia da atividade e da práxis como fonte da atualidade do trabalho de Bertolt Brecht no mundo contemporâneo. Partindo desta idéia, este artigo procura apresentar alguns parâmetros para uma rediscussão da atualidade do trabalho e do pensamento crítico de Oduvaldo Vianna Filho
O trabalho relaciona as transformações ocorridas nos movimentos sociais no Brasil e a produção artística comprometida com a representação das classes populares, priorizando as manifestações cênicas. Contrasta a agitação política e cultural ocorrida entre os anos 1964 e 1968, em que se destacaram manifestações artísticas de resistência ou protesto contra o regime instituído pelo golpe militar, com o movimento artístico e cultural que vem crescendo desde os anos 1990, em que a denúncia da exclusão social não implica contestação da lógica do mercado e se recuperam tradições e perspectivas do naturalismo no teatro, no romance e no cinema. Finalmente, discutem-se as repercussões de políticas de inclusão social baseadas na visibilidade nos movimentos sociais e na produção cultural.
Este texto aborda a experiência político-cultural de dois grupos de teatro Ferramenta (1975-1978) e Forja (1979-1991) constituídos por dirigentes sindicais, trabalhadores da base operária e por um ator e diretor de teatro. Destaco como características fundamentais, para a compreensão da dinâmica desses grupos, o perfil de um teatro militante no pós-1964, o processo de criação coletiva, a aproximação entre operários, intelectuais e artistas de esquerda e a atuação na periferia urbana.