Programa de pós graduação
As peças Auto da Compadecida (1955), O Santo e a porca (1957), A Pena e a lei (1959) e
Farsa da boa preguiça (1960), do escritor brasileiro Ariano Suassuna, constituem o corpus
de análise desta tese, pois representam o olhar do dramaturgo sobre o funcionamento
político e social do país, que através da comicidade das obras, denuncia a desigualdade, os
desmandos e a corrupção de alguns segmentos públicos, bem como a postura mesquinha
do homem em suas variadas situações de interação. Dessa forma, esta tese sustenta a
hipótese de que os textos de Suassuna tendem a provocar uma discussão em torno do riso,
que instiga o pensamento crítico do público sobre os problemas sociais e políticos do país,
naquelas décadas de intenso crescimento das cidades, movido pela migração do setor
agrário ao industrial. No intuito de discutir a matéria, realizamos um percurso pelos efeitos
cômicos que o dramaturgo utilizou para instigar esse riso, cujo objetivo seria levar o
espectador à consciência dos dramas social e existencial, nos contextos em que estão
submetidos. Os recursos cômicos da linguagem, identificados nos gestos e na construção
das situações de cada cena, configuram a relação entre a ficção e a realidade, diante da
relevância da cultura popular, que o escritor considerava a autêntica e erudita arte brasileira,
em seu projeto estético armorial. Ambientadas no cenário nordestino, as peças discutem
questões universais, que exercem influência no comportamento do homem e contribuem à
divisão social das classes. Nessa direção, a análise teve um aporte crítico de intelectuais
como Antonio Candido (2010), Darci Ribeiro (2006), Márcia Abreu (2006), Boaventura de
Sousa Santos (2010), Manuel Bonfim (1993), Alfredo Bosi (1992), Sérgio Buarque de
Holanda (1995), Augusto Boal (2005), Sábato Magaldi (2008), Benjamim Abdala Junior
(2003), entre outros nomes que somam uma imprescindível leitura para a construção da
coerência que se estabeleceu entre a teoria, a crítica e os textos de criação. Recorremos
também aos escritores Arnold Hauser, Peter Burke (1995), Mikhail Bakhtin (2010), Roland
Barthes (2007), Gerd A. Bornheim (1992), Peter Szondi (2001), Jean-Pierre Ryngaert
(2013), Henri Bergson (2004), Minois (2003) e demais pensadores da teoria do drama e da
literatura. A aproximação do pensamento dá-se a partir de uma proposta não só cultural,
estética e acadêmica, mas também política, pois as peças atestam a articulação crítica da
produção do dramaturgo, diante da complexidade das situações dramáticas representadas,
capaz de nos conduzir a uma importante reflexão sobre o mundo.