Este artigo pretende discutir as práticas antropológicas e surrealistas nos cenários concebidos nos anos 1960 por Lina Bo Bardi. Aplicadas em maior ou menor grau nas cenografias da Ópera dos três tostões, de Brecht (1960), e de Calígula, de Camus (1961), estas práticas atestam a inspiração provocada pelas raízes culturais baianas, mas não impedem que Lina valorize o "distanciamento brechtiano, deixando à mostra as paredes em ruínas do Teatro Castro Alves. Na montagem de Na selva das cidades, de Brecht, (1969), encenada no Teatro Oficina, Lina utilizou lixo reciclado, destruído a cada espetáculo. Busco demonstrar que a dialética de suas práticas denota uma poética fundamentada na dialética entre o antropológico e o vanguardista.
Este texto resulta, parcial-mente, de conferência proferi-da no Ciclo sul teatro italiano nel secondo Ottocento, na Università degli Studi di Pisa,ocorrido no Setor Teatro da Es-cola de Doutorado, e traduzido por sua própria autora.Ele será publicado, em sua versão italiana, em Il castellodi Elsinore, revista semestral de teatro, editada sob a chancela do Departamento de Disciplinas Artísticas, Musicais e do Espetáculo da Universitàdi Torino (Unito). Este ensaio foi escrito no âmbito do está-gio pós-doutoral realizado na Unito, de agosto de 2007 a julho de 2008, com a colaboração de Roberto Tessari e de bolsa PDE/Capes. A pesquisa de pós-doutoramento de-dicou-se ao teatro oitocentista italiano, por meio do estudo da formação artística da bailarina Maria Baderna (Castel Sangiovanni, 1828 – Rio de Janeiro, 1892), tema geral do projeto de pesquisa docente junto à Unirio.
Desde que o Brasil adotou a pauta neoliberal, toda a produção cultural passou a ser rigorosamente determinada pelos interesses de mercado e o próprio Estado curvou-se às exigências do Capital. O teatro paulista foi o primeiro setor a reagir ao desastre, cri-ando o movimento “Arte contra a barbárie” para tentar contrapor-se ao processo. Este texto procura dar conta de alguns aspectos de sua intervenção.