O objetivo dessa tese é estudar a produção teatral de Paulo Pontes, dramaturgo que atuou na cena teatral brasileira entre as décadas de 1960 e 1970. Assim sendo, serão analisados os seguintes textos teatrais: Opinião (embora escrito em parceria com Oduvaldo Vianna Filho e Armando Costa), Paraí-bê-a-bá, Brasileiro, profissão esperança, Um Edifício chamado 200; Check-up; Dr. Fausto da Silva, Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; Madalena Berro Solto e Gota dágua. Paulo Pontes inscreve-se na história do teatro brasileiro em um período politicamente tenso e de luta: em plena ditadura militar. Portanto, fez-se necessário recuperar, além desse contexto histórico, a formação do artista e do homem político, a fim de compreender a interlocução de sua obra com a época. Pretende-se defender a ideia de que a práxis teatral de Paulo Pontes estava intimamente relacionada ao contexto sócio-político brasileiro, assim como às suas convicções políticas. O dramaturgo foi além de seu campo de atuação, assumiu também o papel de intelectual de esquerda, engajado em um projeto nacional-popular de cultura. O teatro, em sua concepção, necessitava adotar a perspectiva popular para compreender a complexidade da realidade nacional. Assim, busca-se contribuir para o reposicionamento deste dramaturgo na história do teatro brasileiro.
Este trabalho analisa quatro peças brasileiras dos anos 1970: Um grito parado no ar (Gianfrancesco Guarnieri, 1973), Rasga coração (Oduvaldo Vianna Filho, 1974), Gota dágua (Chico Buarque e Paulo Pontes, 1975) e O último carro (João das Neves, 19641967-1976). Escritas por diferentes dramaturgos, essas peças são representantes de um projeto de teatro que se constituiu na década de 1970, marcado pelas tentativas de retomada dos palcos brasileiros com uma dramaturgia cujas principais características são a valorização da palavra como eixo estruturante das peças, o investimento na busca por uma síntese formal de acordo com a matéria histórica a ser representada e a reafirmação do compromisso com o engajamento. A análise das peças permitiu identificar a forte presença de elementos da cultura política comunista e a proximidade de seu discurso com o projeto político do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o que permitiu caracterizá-las como dramaturgia de matriz comunista. As tentativas de retomada dos palcos se deram através de um processo de avaliação da prática teatral no qual os dramaturgos reafirmaram alguns dos pressupostos que haviam tido no horizonte de sua escrita dramatúrgica até então, ao mesmo tempo em que tentaram abandonar outros. Tentando deixar de lado o idealismo com que haviam lido a realidade brasileira e a teleologia revolucionária com que haviam representado os personagens populares, esses dramaturgos não abandonaram a defesa de uma estratégia de resistência ao regime militar através de uma frente ampla pela redemocratização. O frentismo, porém, surge reconfigurado, tendo seu foco deslocado de uma frente policlassista para uma frente entre membros de uma mesma classe social cujas estratégias de ação política divergiam. A busca por uma síntese formal sugere a constituição de uma "frente estética" em que diferentes matrizes teóricas foram conjugadas, evidenciando a importância da pesquisa formal para o teatro engajado. No entanto, apesar dessas características convergentes, as peças não deixam de expressar tensões entre si e expõem os impasses e contradições que marcaram a modernização do Brasil nos anos 1970. Disponível para download em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-25092018-123701/pt-br.php