CAPÍTULO 5 – EMISSORAS UNIVERSITÁRIAS

Repórteres contra a padronização da notícia

Quando a professora Gisela Swetlana Ortriwano apresenta as principais características do rádio no livro A informação no rádio - os grupos de poder e a determinação dos conteúdos (Ortriwano, 1985: 78-81), um processo de reforma no ensino da disciplina de radiojornalismo começa a ser discutido e aplicado pelos docentes desta área. A característica de baixo custo logo se diferencia entre as demais apresentadas , justamente por possibilitar a aplicação de uma tecnologia ágil e barata no ensino das técnicas e conceitos. Assim é até hoje, quando o estudo da professora é rediscutido ou reapresentado, principalmente na questão da produção radiofônica:

(...) a produção radiofônica é mais barata do que a televisiva, justamente por ser menos complexa. Se levarmos em consideração o grande número de pessoas que recebe a mensagem radiofônica, esse custo de produção se dilui, tornando o rádio o meio de mais baixo custo de produção em relação ao público atingido.(ORTRIWANO, 1985: 79-80)

Após a solidificação dos conceitos de Ortriwano, inicia-se o rompimento com o modelo (e as dificuldades) diante da condição do fazer jornalismo, como era pedido para o jornal impresso ou no telejornalismo. O visual rebuscado é substituído pelo oral simples. O falante torna-se o centro do processo, apurando os fatos pelos detalhes. O universo das pessoas e dos lugares completam o dizer, com a condição da difícil busca da verdade (BRECHT, 1966: 259-273).
O texto já não fica isolado, porque não é apenas o repórter que comanda o processo. A composição universal é a do noticiário, que aproxima os lugares pela condução da reportagem. A facilidade em transmitir conteúdos dirige a comunicação, coordenada pelo jornalista, que viabiliza a interação e a mobilidade, ou seja, pelo acesso à tecnologia do rádio.

A mensagem derruba os preconceitos sobre a comunicação. Já não é mais tão difícil viabilizar a democratização pela notícia. Torna-se possível conduzir a matéria, sem eliminar o coletivo, sem ser o dono da história, interagindo com o momento, o lugar e as pessoas. Um outro radiojornalismo em que a emissora é o centro que rompe a distância entre o repórter e público. O universo inovador, tanto nas escolas como nas emissoras, concretiza o sonho da liberdade, da possibilidade de autonomia para o repórter, para os ouvintes, para a emissora. Puro engano.
O padrão existente se confirma por meio da prática jornalística. A agenda ainda domina a programação das emissoras de rádio, inclusive as educativas que, muitas vezes, mascaram, como novidade, velhas fórmulas como a de prestação de serviços, tendo o trânsito como o carro-chefe, e a da notícia instantânea, com a repetição de informações. Nas escolas, o laboratório, por um lado formaliza (fortalece/justifica) o estabelecido pelo ensino estático da ‘receita de bolo’, daquilo que já está pronto, daquilo que está sendo ouvido nos programas jornalísticos das emissoras. Pura repetição.
O outro lado fomenta um processo de revolução interna, silenciosa e dinâmica. Em movimento, surge o radiojornalismo transformado, quase música, feito para poucos, para aqueles que gostam de acompanhar as notícias pelo rádio, que precisam do conteúdo ardente, audível e livre. A transgressão interna do professor que descobre, junto com o aluno, a imensidão do jornalismo de rádio. Coordenadores de curso ou chefes de departamento nada percebem, porque as desculpas estão escondidas no ensino da linguagem radiofônica, fase teórica incluída no conteúdo da disciplina. Pura revolta.
A primeira fase - o estático
Ao mesmo tempo em que as tecnologias facilitam o trabalho dos professores e dos estudantes nas escolas de jornalismo, a prática do ensino para o rádio é confundida com o plágio, escondida nas amarguras da notícia já construída, baseada na repetição e na reprodução. Como locutor-redator, o aluno é convidado para a leitura de textos prontos, copiados dos jornais impressos, da televisão, da Internet e das outras emissoras de rádio, por meio do trabalho de radioescuta. A prática é uma maneira de imitar o profissional de rádio, imaginado como o sujeito do microfone protegido pelo aquário do estúdio.
A estrutura do radiojornal é ensinada pelas divisões dos cadernos ou pelas editorias (política, esportes, economia e assim por diante), como acontece no jornal impresso. Quando

 

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