interessantes, as notícias são ampliadas pelas ligações telefônicas, mascarando o trabalho de reportagem. Mesmo assim, quando necessárias, as pautas para as reportagens não fogem do padrão tradicional, dos apelos e das arestas da agenda dos grandes meios. Futebol, telenovela, políticos, mortes, um conjunto perfeito para criar não-jornalistas, mas releitores, como máquinas copiadoras que apenas têm a função de reproduzir, sem questionar.
O relato radiojornalístico fica aprisionado à ditadura do impresso. Ao realimentar os ouvintes com as mesmas informações, os redatores, e não os repórteres, tornam-se o principal elemento do programa. A prática reconfigura o exercício do jornalismo: a reportagem é substituída pela nota, modificando a estrutura do programa e do fazer jornalístico. Para aquele que está ali, sem conhecer a sua função, qualquer informação é válida, desde que não precise sair da sala de redação ou do estúdio.
A produção interna na emissora predomina, tornando-se a conduta mais fácil de administrar o jornalismo no rádio. Quando precisa ser mascarada, a nota é reestruturada como boletim, passando a transmissão do locutor para um “redator-repórter”, que faz a leitura ali mesmo no estúdio. Inclusive as reportagens e entrevistas, editadas ou não, são conduzidas da mesma forma, tanto pelos locutores quanto pelos repórteres, já que não há mais distinção entre os gêneros. O velho esquema das sonoras editadas, ou seja, intercalando as falas dos entrevistados com as dos mediadores, é utilizado constantemente nos programas.
O jornalismo já não é mais falado, nem dito, nem contato, é apenas lido. Os momentos de reflexão são limitados ao roteiro de perguntas ou à remontagem para a introdução das falas (cabeças de sonoras) para os entrevistados e nada mais. Já não cabe mais ao repórter conduzir a matéria, porque a ele cabe a função de costurar os depoimentos. O exagero ocorre quando uma sonora fica grudada na outra, sem a fala do repórter. Triste fim para a famosa “externa”.
O que faz o professor de radiojornalismo? Utiliza o modelo vigente para o ensino das técnicas usuais. Ensina que as matérias, desde a captação até a transmissão, também podem ser produzidas no interior das emissoras, sendo uma prática comum, muitas vezes, para economizar tempo, trabalho e dinheiro. Como no caso do jornalismo no Brasil, o mercado pauta a academia e, nas faculdades, muitas vezes, a mesma prática é apenas reproduzida ou adaptada pelo docente, que utiliza o momento para discutir o modelo jornalístico utilizado pelas emissoras.
Durante as aulas no estúdio (poderia ser laboratório) de rádio, os alunos, na maior parte do tempo, produzem notas e boletins na própria faculdade e captam entrevistas pelo telefone, que serão utilizadas para a montagem de reportagens estilo tudo editado, montando a base para o programa de rádio. Em menor escala e quando possível, após muitas reclamações, são produzidas matérias externas, muitas jabás, com o aluno indo até o local, fazendo entrevistas, que também são utilizadas para os exercícios de edição de uma possível matéria jornalística.
No final, o programa é produzido tendo como referência o formato e o conteúdo emitido pelas grandes emissoras comerciais. É importante destacar que os alunos selecionam as matérias, os entrevistados, de acordo com o modelo previsto nos manuais de radiojornalismo. O aprendizado é o do esquema já existente. Aqui predomina o formato das emissoras líderes em audiência, ou que, pelos seus agentes ou até mesmo pela tradição, publicou um material de referência.
A segunda fase – o movimento
Agora que o aluno já conhece o padrão, o professor começa a ensinar radiojornalismo. Propõe programas que fogem ao roteiro diante da forma e do conteúdo. “Professor, eu ouvi um programa que é assim...”. O mestre logo reponde: “Você vai fazer outro, talvez melhor ou, pelo menos, diferente”. A pauta é reajustada, pelo aluno, de acordo com o cotidiano das pessoas, fugindo da agenda (e da prisão) das notícias veiculadas pelos grandes meios, principalmente os transmitidos pelos telejornais brasileiros.
O professor utiliza uma metodologia voltada à reconstrução dos fragmentos, daquilo que sobrou da frase anterior para, posteriormente, implantar um processo mais aberto, voltado ao radiojornalismo inovador, com base na cidadania, em que o aluno, pelo grupo, traduz o universo sem as amarras da ‘receita de bolo’ anunciada nos cadernos de estilo ou mesmo nos duvidosos “estágios” nas emissoras. A criatividade como instrumento de defesa contra o estado letárgico em que operava o ensino do radiojornalismo.
A saída dos docentes é a possibilidade de implementação de práticas rotativas de produção jornalística, com base na montagem de programas diferenciados, com pautas fomentadas no conhecimento do aluno, daquilo que eles vivenciam, baseadas na visão de cada um, com base num jornalismo popular e alternativo, que atinja os indivíduos que não agüentam mais o “mesmo mundo” construído pelos jornalistas ditos profissionais.

 

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