CAPÍTULO 4 – EMISSORAS COMUNITÁRIAS

O Falador - O ensino do radiojornalismo

A posição de ouvinte e falante é redirecionada, constantemente, diante da emissão de notícias nas emissoras comunitárias, porque, afinal, a rotatividade é o elemento que define os construtores e transmissores da informação. A equipe interna de jornalismo até conduz o processo, mas a intenção do relato depende da necessidade e da oportunidade de quem deseja ser ouvido.
Um radiojornalismo aberto (24 horas), mas sem a necessidade do predomínio, da segmentação e do jornalismo em tempo integral. A emissora tem a sua programação (que também é aberta), com outros tipos de conteúdo, mas a qualquer momento uma pessoa da comunidade entra no ar e enviar uma informação. Em certos instantes, a estrutura é quebrada, porque o cidadão “precisa” falar sobre os interesses da comunidade. Todos são repórteres, locutores, colaboradores e ouvintes. Não importa quem ouve ou quem fala, porque todos ouvem e falam. Numa comunidade, o grupo detém o poder diante da notícia.
A equipe interna da emissora é quem conduz o processo, de modo que os interessados tenham direito ao Falador . A primeira inserção é deles, daqueles jornalistas que estão diretamente ligados à rádio. Eles selecionam os assuntos que desejam falar. Eles escolhem as notícias que os outros vão ouvir. São servidores comunitários, na difícil tarefa de escolher as pautas do dia. Muitas vezes, esses profissionais divulgam as notícias transmitidas pelos grandes meios de comunicação, reproduzindo o que já foi dito, influenciados talvez pelo predomínio, pela facilidade ou mesmo pela invasão. Se a comunidade concedeu a esse grupo o direito de falar (e de ser ouvido), em troca, ela precisa de meios para ser ouvida (e de falar). Enfim, a emissora é a boca do ouvinte.
Estimular a participação da comunidade é o desafio para os jornalistas que convidam o público por meio de chamadas emitidas durante a programação. “O radiojornalismo da nossa emissora está aberto para você, ouvinte. Ligue agora”. Pelo telefone, pela internet, tanto faz. Se desejam falar, então é só colocar no ar. Caso contrário, reproduzir a informação é uma alternativa simples e usual. Um convite para visitar a emissora também é válido. Talvez as pessoas não queiram (possam) gastar dinheiro e tempo; então, é só ir até a sede da rádio. Também é importante conversar diariamente com os vizinhos, informando sobre os processos de interação, além de ouvir as sugestões sobre outros modelos de participação. Com o tempo, a presença da equipe da rádio nas ruas começa a fazer parte da rotina do local. O hábito diminui a inibição e aproxima o público, facilitando o trabalho do repórter.
Movimentos como o cochicho, a palavrinha ao pé do ouvido, não podem ser descartados pelo pessoal da emissora. Desde que confirmadas, antes de divulgadas, muitas dessas informações servem para complementar a grade da programação radiojornalística. O mesmo acontece numa denúncia anônima. Algumas pessoas sabem das coisas, mas não gostam de se comprometer. Quem foi? O que aconteceu? Dúvidas que o jornalista investiga e descobre, sem prejudicar as fontes.
Já participar de eventos públicos ou mesmo particulares (desde que convidado) é imprescindível para a credibilidade da emissora. O fato de estar presente revela o interesse pelos problemas e costumes do local, como também demonstra a consideração pelos envolvidos. Nesse ambiente é que o repórter vai descobrir os assuntos em comum, ou seja, quais os fatos que incomodam a comunidade. Muitos são temas banais, mas se são coletivos, então, incomodam. Nos encontros como reuniões, festas, homenagens, competições, entre outros, o repórter está lá presente, para falar, ouvir e deixar falar.
O descomprometimento é essencial para a sobrevivência do jornalismo nas emissoras comunitárias. Qualquer ligação, principalmente política, desfavorece a rádio em determinadas coberturas. O boato corre. Quando episódios assim acontecem, nada melhor do que o recurso do editorial, emitindo a opinião da emissora sobre o fato, ou do debate, chamando os opostos para o esclarecimento, permitindo aos contrários um espaço de discussão. É que, muitas vezes, um mal-entendido gera uma pauta, o que possibilita a comunidade (incluindo a equipe da rádio) de se expressar ou esclarecer certas situações.

A Programação flexível
O ilustre visitante chega à comunidade para compromissos familiares. É médico, especializado em pneumologia infantil. Veio visitar os avós, para matar as saudades. Pretende ficar alguns dias, uma vez que estão em férias. Dona Maria liga para avisar sobre a chegada do

 

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