também pela construção de radiojornais ambientados fora do estúdio de rádio. Consideram-se as relações pela proximidade com a fonte, que reforçam a presença e o contato. Diminuem as distâncias e as ilusões proporcionadas pela possível comodidade das redações e dos estúdios. Processos jornalísticos conduzidos pela flexibilidade, pelo posicionamento diante do imprevisto, para descobrir o rádio e o jornalismo pela simples coragem de reportar fatos, as (pelas) pessoas.
O ensino se estende com a prática jornalística. Nada impede que os repórteres auxiliem a população na utilização de aparatos simples como o telefone ou gravador. Muitas vezes, num pequeno contato, o jornalista pode, primeiro, pedir para as pessoas transmitirem (e/ou gravarem) os principais acontecimentos que influenciam diretamente o cotidiano da comunidade. Aqui também se observa a “seleção de notícias” como a fase essencial para a cobertura jornalística, visto que nem tudo que acontece é de interesse coletivo. O repórter revela que entrevistas são importantes, assim como a captação do som ambiente e o próprio relato, que conduz, por sua fala, as situações do ocorrido (mescla da fala do repórter, da fala dos entrevistados e do som ambiente).
A reportagem contínua facilita a compreensão pelo ouvinte que observa o ocorrido pela seqüência sonora dos fatos, assim como facilita o trabalho do falante e também do pessoal da emissora, porque indiretamente diminui os recortes no processo de edição e auxilia na compreensão do conteúdo que está sendo emitido. A assinatura da matéria também é necessária porque, como eventual emissor, o autor torna-se responsável pelas declarações.
O repórter da emissora, assim como faz com as entrevistas, pode transmitir a mensagem na íntegra ou mesmo utilizar trechos das gravações, sempre citando o autor. O relato de quem está presente permite ao repórter variar (ou ampliar) as formas de captação, o que cria outro ambiente, além das já conhecidas entrevistas.
Popularizar a reportagem por meio da aprendizagem da técnica jornalística é um processo difícil, mas possível, desde que ocorra um trabalho que envolva as universidades e as emissoras de rádio. Profissionais e professores de radiojornalismo são peças fundamentais que conduzem o ensino da técnica pela conscientização, pelo esclarecimento de que liberdade e responsabilidade são condições determinantes e inseparáveis para a atividade jornalística.
Professores oferecem cursos de extensão, vão aos locais onde o público está, ensinam o processo jornalístico para a população e conversam com as pessoas sobre os problemas da imprensa; os repórteres, em breves momentos, mostram a sua técnica e revelam os meandros da profissão, no sentido de ensinar pela própria experiência; o público sai da posição de ouvinte e entrevistado, aproxima-se dos profissionais, pergunta sobre as possíveis formas de ação e/ou colaboração; ambos integrados na busca de um jornalismo democrático.
A atuação conjunta ocorre quando cada um se disponibiliza a participar do processo. Situação possível pelo desejo individual de abertura das universidades, das emissoras de rádio e das comunidades, no sentido de que as pessoas conversem, troquem experiências, vivenciem o universo alheio dos...
Incluídos
O rádio é um meio simples e barato, sem os problemas de uma cobertura pela televisão e pelo impresso. Por isso, peço que todos nós, que trabalhamos com radiojornalismo, possamos levar ao público a realidade de nosso país, permitindo que as pessoas participem das coberturas jornalísticas. Mas isso somente será possível por meio da ampliação da agenda dos programas das emissoras de rádio, que mescla as notícias de interesse dos poderosos com as de interesse dos excluídos, permitindo, assim, um aumento na fiscalização diante da omissão dos setores públicos e privados. Ou seja, o jornalista pode, sim, possibilitar o acesso da população aos meios de comunicação de massa. Vincula-se a mensagem ao que é de interesse coletivo ao variar e ampliar as formas de conversação e, principalmente, diferenciar o conteúdo das programações radiojornalísticas conforme a emissora. Chega de ouvir os mesmos sons, as mesmas vozes, as mesmas notícias.
Parece pedir muito para os jornalistas brasileiros, mas é necessário, neste momento, modificar a estrutura das emissoras de rádio, principalmente, porque não há mais justificativa para monopólio das vozes e das notícias diante da imensa abertura proporcionada pelos aparatos tecnológicos. Qualquer pessoa pode emitir uma informação, assim como entrar na programação ou mesmo colaborar com a equipe de reportagem. Uma das alternativas é criar espaços para a participação popular por meio de um projeto de acesso ao radiojornalismo. E tenho certeza que o silêncio se transformará em notícia, pelos berros que ecoam no Brasil.

 

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