lendo o jornal de hoje”. E emendou: “Eu quero ouvir as notícias da minha região. O que aconteceu com o meu vizinho, com a minha terra”.
Fatos assim acontecem em todo o Brasil. É que o repórter está ficando mal-acostumado com a internet, com o jornal, com a televisão, com a facilidade. E é triste pensar que essa prática continua em várias emissoras, como se o rádio no Brasil, nesses 85 anos, não passasse por uma...
Revolução
O repórter, como sujeito que se relaciona as pessoas, interage diante das reclamações, angústias e alegrias. Fora de casa (redação), o jornalista ouve (vê/lê) outras informações, opiniões, enfim, busca interpretações para as notícias. A reportagem está aberta, porque ele precisa sair, gritar, falar sobre o que está ao seu redor, sendo o “boca-maldita”, o “boca-santa”, o “boca-suja”, o boca das bocas que não falam ou o transmissor das bocas que desejam falar. Boca que anda pela rua cheia de lixo, que atravessa a faixa junto com o motorista que desrespeita o pedestre, que espera nas filas diárias dos bancos, da prefeitura e dos lugares que desrespeitam a população, que navega pelos rios poluídos das grandes metrópoles, que come merenda, que acompanha quem está sem nada (terra, rua, escola) ou quem convive com o descaso diante das dificuldades ou das necessidades de cada um.
O jornalista desenvolve diversas funções numa emissora de rádio, sendo a de repórter a mais ampla, essência da profissão de jornalista. Atividade que independe da cobertura de outros jornalistas (meios), sendo o campo de visão ilimitado. É importante para o editor prestar muita atenção nesse trabalho, possibilitando a cobertura para as notícias cotidianas que interferem ou repercutem, diretamente, no cotidiano da população. No radiojornal, ao privilegiar a reportagem, criam-se meios para a integração ou participação dos envolvidos ou interessados no debate perante a notícia. Credibilidade conquistada pela confiança, pela disposição da equipe e pela linha editorial que possui a abertura da pauta. Prevalece a matéria constituída, com participações e relações que vão além da equipe de reportagem. Notícias que incluem o público, integrando-o ao processo. Aqui a boca é única. O locutor (ou o repórter) interpreta a notícia que também foi interpretada pelo público. A distância diminui, assim como o poder das empresas jornalísticas. O que faz o editor? Permite a abertura da pauta, as produções da equipe de jornalismo, a contribuição dos colaboradores e do público, refletindo, pelo som, as ações determinadas conforme o desenrolar dos fatos.
O jornalista de rádio não fica parado reescrevendo, a todo o momento, matérias que recebe, principalmente, da internet. Seu lugar de trabalho é o universo do acontecimento, o ambiente do outro, permeado pelas situações que determinam a própria essência da profissão. Ele precisa ouvir as pessoas, narrar o acontecido, sentir na pele a existência de algo que preenche o mesmo vazio dos brasileiros que estão sem-espaço para moradia, trabalho ou estudo. Assim, um fato só tem origem quando alguém está presente. Neste sentido, o repórter ocupa diversos lugares ao mesmo tempo, justamente porque está sempre presente, por si ou pelo outro, que é a sua própria extensão. O jornalista concede à fonte o direto de possuir o mesmo poder concedido a ele pela sociedade. Naqueles momentos, todos são repórteres por um único meio.
Não há mais passado, porque, mesmo quando não é possível instalar uma emissora ou quando o repórter não está diretamente presente, tem-se a oportunidade de gravar os momentos importantes da coletividade. São arquivos vivos das situações que auxiliam o trabalho de reportagem, justamente, por possuir um registro sonoro dos acontecimentos. Nada mais é perdido, sendo a versão conduzida pelo falante. Fica assim a contribuição para a cobertura, indícios que conduzem o repórter ao local, dividindo as responsabilidades, ao reforçar a credibilidade e a mediação pelo confronto do que se fala com o que se vê.
“Autonomia para os jornalistas”. Frase libertadora que possibilita a ocupação do radiojornalismo pelo personagem comum, que agora vai poder cobrar do repórter atuações diante da construção de um país que seja justo e igualitário, pelo menos diante das atitudes determinadas pela seleção de pauta.
Concessão pelo ato de se comunicar, poder conversar com outro, disponibilizar o universo sonoro para quem precisa dele, com a ampliação os canais que levam a democracia. Radiojornalismo popularizado pelo movimento dos repórteres espalhados pela terra e em busca da notícia. Meieiros, no sentido aberto de dividir os “atributos” com as fontes, não detendo sozinho o poder diante da escolha de quem pode ou deve participar da cobertura. Responsabilidade dividida pelo direito de informar, de...
Ensinar
A revolução das emissoras de rádio, exemplificada pela simples diversidade do cotidiano, também modifica a prática do ensino de radiojornalismo nas universidades. Os alunos são estimulados por exercícios contínuos de integração com o cidadão comum, como

 

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