CAPÍTULO 3 - RÁDIOS COMERCIAIS

Berro!
Manifesto para ampliação das vozes e das notícias no radiojornalismo brasileiro

O encontro com o público é o momento mágico idealizado pelos profissionais que desejam um processo democrático pelo rádio, sem restrições na escolha das vozes e das notícias que alimentam os programas jornalísticos. Nas principais emissoras do país, o predomínio é de quem fala (o jornalista) e do que fala (notícias padronizadas), prática que conduz a um noticiário cerceado pela simples semelhança dos fatos, de quem precisa ser igual, de quem fala a mesma coisa, para não estar “por fora” dos assuntos que interessam aos “proprietários” da notícia.
Fatos ilustrados pelos que possuem direito ao microfone, como políticos, jogadores de futebol, artistas de telenovela ou mesmo aquele especialista que já sabe a reposta, mesmo sem a pergunta. Vozes selecionadas pelo repórter que, pela proximidade, disponibiliza o espaço a quem já conhece, concedendo à fonte o direito adquirido, no sentido privilegiado de “eu posso falar, por que já concedi uma entrevista ou uma informação”. Credibilidade assegurada pelo interesse, pelo encontro periódico, pela camaradagem, enfim, pela cumplicidade. Fale, fale, ocupe o tempo concedido pelo direito assegurado, afinal você está por cima, é poderoso e o público já te conhece! É fácil encontrar essa gente que ocupa os espaços da (e na) imprensa. Então, torna-se desnecessário ao repórter procurar quem realmente precisa falar, aquele que procura soluções, que luta contra os poderosos. Excluído denominado, carinhosamente, de ouvinte ou tratado, assustadoramente, como uma fonte imprevista.
Mas nem sempre é assim. Torna-se pior quando a distância também completa a prática do mais fácil, perpetuada pela abertura ao interesse da imprensa, que implanta as suas notícias pelas vozes dos locutores e dos repórteres brasileiros, como também assegura a suas fontes um espaço garantido, sem contestação do repórter, que as considera seguras, justamente, pela credibilidade conquistada pela fonte produtora. Acordo definido pelo falso crédito e pelo poder adquirido, implantando o medo na abertura da programação para o desconhecido, porque ele não fala direito, não é poderoso e pode, talvez, atingir a emissora, os jornalistas, os poderosos pelos berros, por que ele grita alto, ele precisa gritar mais alto, por que ninguém nunca o ouviu ou deixou falar, mesmo pelo telefone, dos problemas que ele vive diariamente no campo ou na cidade.
São pessoas que precisam do repórter por perto, na mesma proporção das personalidades. Difícil missão para quem está acostumado com os espaços já definidos pela pauta pronta, estabelecida pela atual prática jornalística. Andar pelas ruas ou pelo mato é desconfortável, justamente, pelo encontro com o desconhecido. O imprevisto torna-se a tônica da pauta. Mas o repórter é lutador, está cansado de ouvir as mesmas fontes. Procura agora mesclar as fontes. Fica conhecido das pessoas por estar sempre presente. A necessidade de espalhar notícia passa por ele. A pergunta “Você viu o repórter?” é logo respondida com “Hoje de manhã ainda não, mas espera um pouco, porque ele passa sempre lá pelas duas da tarde. Ele também deixou o telefone. Se for urgente, ligue para ele. O telefone está ali no cartaz da rádio grudado na parede.” Agora a população já sabe que o repórter está disponível.
O confidente está próximo. Neste instante, não são só as celebridades que possuem direito na programação jornalística, a voz do desconhecido também está presente. Qualquer um pode falar com o repórter, contando o que realmente acontece diante das filas dos hospitais, do convívio das escolas públicas, da insegurança diária pela ausência de policiamento, da sujeira espalhada pelas ruas, do trabalhador que luta por um pedaço de chão, exemplos de descaso de uma política que afunda os projetos individuais e coletivos do povo brasileiro. Enfim, são os problemas diários vividos pelo homem comum que precisa espalhar, por meio de um confidente, as (in) justiças que acontecem no país.
Ele precisa do repórter, desse alguém que faça a sua voz ser ouvida, ou que, pelo menos, relate o acontecimento para as outras pessoas. Muitas vezes, esse cidadão tem medo de se comprometer ou ser perseguido. Não pode falar, fica quieto para não ser mal-atendido ou mesmo sofrer punições. Mas os olhos do repórter estão atentos. Ele logo observa os problemas, fala pelo outro. Mantém-se atento ao desenrolar das situações. Observa a estrutura, as condições de trabalho ou a situação do local, ouve as partes, analisa os documentos. Ninguém quer falar, não tem acesso aos documentos, mesmo assim, seus olhos dirigem as palavras reveladas pela....

 

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