O desafio é manter um canal aberto entre jornalistas, colaboradores e ouvintes. Um meio em que todos sejam emissores, sendo o jornalista o condutor que possibilita o debate diante dos fatos transmitidos pela emissora. A participação acontece quando determinada informação está incompleta, merecendo esclarecimentos, ou mesmo quando se deseja ampliar a notícia. As pautas são determinadas tanto pelos jornalistas que selecionam os principais assuntos a serem debatidos ou mesmo pelos convidados ou ouvintes que desejam acrescentar algo à matéria ou mesmo quando possuem dúvidas diante das informações já transmitidas.
Este modelo possibilita a democratização da própria notícia, além de uma certa independência jornalística às emissoras educativas. A releitura da agenda diária e a produção de pautas voltadas ao universo educativo-cultural conduzem o trabalho do jornalista, antes limitado à simples reprodução. A notícia torna-se pública, desvinculando-se do controle das agências, das assessorias e das grandes mídias que determinam o que deve ser transmitido. O tempo da matéria passa a ser conduzido tanto pelo grau de importância quanto pelo interesse, tanto de quem produz quanto de quem ouve. As brechas diminuem, sem deixar se enganar pelo simples conceito de informar por informar.

Radiojornalismo independente
A perspectiva para o tema surgiu por meio de diversas discussões tanto na área acadêmica quanto no meio profissional. O problema central se caracteriza pela dependência do rádio diante dos outros meios de comunicação. Muito se fala por que o radiojornalismo tanto reproduz a agenda (e a própria matéria) da internet, da televisão e até do jornal impresso. A prática se conduz com um jornalismo produzido no interior da própria emissora, que é até aceitável, desde que se rediscuta, por meio da introdução de outras fontes, as informações captadas de outros veículos. Cabe ao rádio, por suas características, ampliar a notícia e não apenas retransmiti-la.
A dependência também causou uma crise na própria equipe de reportagem. São descartadas novas possibilidades de pauta, sendo o trabalho externo do repórter utilizado para cobertura de matérias já divulgadas ou para boletins de prestação de serviço, principalmente o trânsito, que, muitas vezes, também é transmitido do estúdio. Deixar o repórter na rua tornou-se um luxo das grandes rádios e uma justificativa para manter o jornalista na redação, já que é mais “fácil” e “produtivo” elaborar matérias do interior da emissora. Há diversas respostas, entre elas, o alto custo com o quadro de pessoal para manter uma equipe de reportagem, a dificuldade de introduzir novas fontes (entrevistados, colaboradores e ouvintes) pelo telefone ou mesmo a facilidade de se “fazer” matérias com as novas tecnologias.
Muitos editores preferem manter o profissional na redação. Pela lógica, compensa manter a equipe de jornalismo na emissora, porque o redator elabora mais matérias (notas) via internet e o repórter também produz mais matérias (reportagens e entrevistas) via telefone. A utilidade da linha desses instrumentos tecnológicos é inquestionável, mas o ouvinte só tem uma idéia clara dos principais acontecimentos, pelo menos de sua região, se o repórter estiver na rua, o que está na contra-mão da política da empresa jornalística, que prioriza eliminar despesas com transporte, alimentação, mídia, entre outros. O discurso é o da cobertura da agenda. Se os fatos são os mesmos, as fontes são as mesmas, então, as notícias são as mesmas. Reportagem externa, para quê? Ampliar a notícia, por quê?
A pressão
Muitas emissoras educativas estão ligadas, de uma forma ou de outra, ao setor público, mas passam por uma crise de identidade, com a pressão do setor privado, o que acaba influenciando no conteúdo da programação, inclusive no jornalismo, que se vê obrigado a cumprir a pauta transmitida pelas emissoras comerciais. A diferença é que as emissoras educativas possuem uma programação com outras finalidades. “Os programas informativos podem ser considerados educativo-culturais, se neles estiverem presentes elementos instrutivos ou enfoques desta categoria identificados na sua programação”.
Desta forma, esta proposta de radiojornalismo tem como objetivo não só informar e entreter, mas também orientar e interpretar. Por meio de debates e coberturas especiais diante dos problemas da atualidade, seja de amplitude geral ou local, o jornalista que trabalha nas emissoras educativas aprofunda as matérias por meio de um diálogo com outras fontes, possibilitando ao ouvinte conhecer com maior profundidade o assunto e analisar o problema, ao contrário do que acontece atualmente, quando o receptor é apenas alimentado, na maioria das vezes, por informações que são apenas reproduzidas, sem serem rediscutidas.
Praticamente, não há distinção entre o radiojornalismo das emissoras. Ambas transmitem matérias que, de alguma forma, já foram divulgadas por outras mídias. Os jornalistas cumprem, parcialmente, as suas funções, ao transmitir, assim como os outros meios

 

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