CAPÍTULO 2 - EMISSORAS EDUCATIVAS

Conversa permitida - É pelo debate que se estabelece a diferença do radiojornalismo transmitido pelas emissoras educativas.

_____Antes desta conversa sobre o radiojornalismo nas emissoras educativas, gostaria de contextualizar o rádio no Brasil. Apesar das dificuldades financeiras, como a fuga do investimento estatal e privado, merece destaque a continuidade das emissoras comerciais, educativas (ou públicas) e comunitárias. São universos diferentes, mas que lutam por uma única causa: a sobrevivência. Amparadas pela tradição, as rádios são mantidas graças a um público cativo diário, o que determina comportamentos no universo da mídia, como o destino de uma parcela (apesar de pequena) da verba publicitária, a manutenção de emissoras por importantes empresas de comunicação, a abertura da radiodifusão comunitária e a permanência do investimento estatal, que ainda mantém projetos voltados para a cultura e educação.
_____Nas universidades, as disciplinas de rádio permanecem intactas nas grades curriculares dos cursos de comunicação, inclusive ampliadas nos cursos superiores de audiovisual. Muitas teses de doutorado, dissertações de mestrado e monografias são desenvolvidas com base no panorama radiofônico. A facilidade de produção e transmissão faz com que o aluno se aproxime e, ao mesmo tempo, se apaixone pelo veículo, desenvolvendo, no decorrer de sua trajetória, diversos trabalhos de pesquisa. Inclusive nos congressos científicos, os grupos de trabalho sobre rádio estão sempre presentes.
_____A ausência de um monopólio no setor permite às emissoras investirem em diversos segmentos. O ouvinte dispõe, agora, de uma programação inteira voltada ao jornalismo ou para determinado gênero musical. A sintonia depende do gosto de cada um. Independente do local onde está, o cidadão consegue mudar de estação e, em conseqüência, de conteúdo.
_____Nas grandes cidades, o rádio é o companheiro que auxilia (ou acalma) quando o trânsito está lento, quando o trabalho a fazer é tedioso e demorado, ou quando se sente aquela “ausência” num instante de solidão ou mesmo num encontro amoroso, familiar ou entre amigos. O rádio te deixa musical, informado e localizado. Já nas pequenas cidades, o rádio vai além. É a referência diária do cidadão que possui naquele meio o aval para um debate caloroso sobre os problemas do município, já que a televisão fala sobre os problemas distantes e o jornal impresso só sai no final de semana.
_____Se ficar entediado com a emissora, é só mudar de estação. Mas, se desejar ouvir um radiojornalismo diferenciado, você talvez tenha que desligar o aparelho, justamente porque a maioria das emissoras transmite as mesmas informações. E é aqui que começa o nosso bate-papo.
Ampliar a notícia
_____Se as emissoras comerciais já possuem um padrão de radiojornalismo, que cumpre a agenda, ao transmitir o máximo de assuntos no menor tempo possível, cabe às emissoras educativas proporcionarem um modelo que restabeleça o diálogo diante da notícia. Poderia incluir as rádios comunitárias neste debate, mas estas ainda estão se estabelecendo, ao contrário das rádios educativas (ou públicas) que já se consolidaram.
_____O conflito se estabelece quando se limita a inclusão de outras vozes, além das já pautadas, nas matérias por meio de critérios de seleção dos assuntos e de quem deve ser ouvido. O tempo pré-estabelecido condiciona a inserção das fontes, porque a matéria deve ser breve, sem debate, como se o rádio, ao contrário de outros meios, como o impresso, não possibilitasse a introdução de outros dados ou mesmo disponibilizasse um espaço pré-determinado. Ao invés de repetir as mesmas notícias, seria importante ampliá-las, criando uma interação entre os possíveis envolvidos (ou interessados). A quantidade de informações seria substituída pela clareza dos assuntos, que seriam analisados pelos convidados selecionados por meio da equipe de jornalismo da emissora, possibilitando ao ouvinte aumentar a rede de interpretações sobre o fato.
_____O trabalho da equipe de jornalismo de uma emissora educativa é evitar a simples reprodução de matérias extraídas de outras fontes. Cabe ao jornalista, quando transmitir determinada informação, conectar, de início, as pessoas diretamente citadas nas matérias, complementando com colaboradores e ouvintes interessados em esclarecer dúvidas ou mesmo em contribuir com alguma informação adicional. Não há necessidade de imediatismo ou precipitação. Nada impede de se emitir determinado fato e depois introduzir as fontes durante a transmissão.

 

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