1.2. Universidade Radiofônica

_____A Universidade é tão grande que, mesmo para nós, que a freqüentamos todos os dias, parece impossível o acesso a tanto conhecimento. Penso sempre na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Como gostaria de ouvir as aulas de professores como Luiz Tatit, Marilena Chauí, José Miguel Wisnik, Nicolau Sevcenko e tantos outros que fazem a Universidade ser um centro encantador e audível. Se o rádio estivesse presente, o sonho seria possível, ou seja, essas vozes estariam sendo ouvidas e, depois, estariam disponíveis em alguma biblioteca sonora. Ouviria aquilo que nunca ouvi. Além das aulas, faríamos os exercícios, estaríamos acompanhando as referências bibliográficas, além da explicação do mestre. Seria a escola amplificada.
_____O rádio contribuiria, assim, para a educação brasileira, ao quebrar as muralhas do ensino público, atingindo o cidadão comum, aquele sem acesso ao saber. A revolução na educação se daria pelo meio mais rápido e simples – o rádio. Muitos dizem que o modelo é difícil, mas o exemplo do professor Oswaldo Diniz Magalhães serve para alertar os que observam a dificuldade no que é simples.
_____Diniz ensinava educação física pelo rádio com o programa “Hora da Ginástica”, que ficou 51 anos e três meses no ar (de maio de 1932 até agosto de 1983), sendo 40 anos de transmissões “ao vivo” e o restante em cópias de fita-cassete ou disco de vinil. As informações eram enviadas por correio, adquiridas em bancas de jornal ou nas emissoras que integravam o sistema de divulgação da Ginástica pelo rádio. Agora, o aluno-ouvinte receberia as informações pela internet.
_____O lema do professor era: “Em cada lar um ginásio e de cada família uma turma de rádio-ginastas”. A força do programa deve-se ao fato de Diniz considerar o rádio como um meio de comunicação poderoso, pelo seu poder de ubiqüidade, por estar em toda parte ao mesmo tempo, vencendo imensas distâncias. (CARVALHO, 1994)
_____Agora, gostaria de propor uma alternativa de ampliação e aproveitamento dos espaços sonoros nas universidades brasileiras. Um projeto que envolveria educadores e profissionais da comunicação, com o objetivo único de democratizar o ensino e também os meios de comunicação do nosso país. O plano de uma Universidade Radiofônica surge, justamente, no momento de discussão sobre o conteúdo a ser emitido por meio dos novos recursos tecnológicos, como o digital. A dúvida surge porque as emissoras de rádio possuem práticas para elas sustentáveis em termos de conteúdo e formato, que podem preencher as lacunas conforme o volume de programação.
_____A possibilidade da emissão de programas direcionados à educação agride o pacto já estabelecido, justificado pela facilidade para a produção interna dos modelos tradicionais de transmissão radiofônica. Fugir desse rótulo é difícil, mas a busca pelos sons educativos poderia ser uma saída para os produtores de rádio.
_____Sempre conversamos sobre o papel dos meios de comunicação para o ensino superior à distância nos encontros na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Nesse contexto, especialistas destacam a simplicidade e o baixo custo do rádio como elementos essenciais para a busca de uma universidade aberta, pública e viável, que vá além das paredes da sala de aula. O sentido é ampliar o conhecimento pela expansão do universo escolar que, na maioria das vezes, fica limitado às pessoas que possuem o privilégio de estarem presentes no local.
_____Talvez desconhecemos ou mesmo estamos presos aos atuais processos radiofônicos voltados à divulgação do conhecimento. Sempre que algum especialista deseja divulgar ou explicar algum assunto de interesse público, vem aquela entrevista, muitas vezes cansativa, cheia de perguntas soltas feitas pelo entrevistador, sem uma linha que possa ser seguida pelo ouvinte. Outro exemplo, um pouco mais claro para a compreensão, é voltado para a opinião, em que o especialista orienta o público pelo tratamento de um assunto pautado pela própria emissora de rádio. A análise limitada pelo tempo de exposição obriga à síntese pelo comunicador, prejudicando uma reflexão contínua e profunda, como àquelas em que o estudante está acostumado nas disciplinas freqüentadas na graduação e na pós-graduação. Enfim, a limitação pelo conteúdo restringe a interpretação.
_____Agora, quantas aulas poderiam ser transmitidas pelas emissoras de rádio, principalmente pelas que possuem um modelo voltado para emissão de programas educativo-culturais? A justificativa se condiciona pela liberdade que esses meios têm para a introdução de novos programas radiofônicos, desvinculada da condição mercadológica das emissoras comerciais. Também é importante observar que, para encontrar a fórmula ideal, é necessário experimentar outros formatos e conteúdos, por meio de uma linguagem que integre a dinâmica do educador e o processo de transmissão, sem prejuízo aos ouvintes internos e externos.

 

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