O Jingle

_____Os jingles revelam a criatividade da mensagem publicitária voltada para o rádio. Publicidade em formato de música para ser ouvida e cantada. A pesquisadora Júlia Lúcia de Oliveira Albano da Silva revela que, no rompimento com o improviso, o humor e os gêneros musicais conhecidos são explorados na elaboração prévia dos textos em prosa e em versos dos anúncios cantados, mais tarde conhecidos como jingle.
_____Composições que ficam na memória do ouvinte, reproduzindo pelas ruas os enredos da mensagem publicitária, como os do primeiro anúncio musicado, em 1932, no Programa Casé para a Padaria Bragança, sob forma de um fado português com base na quadrilha: “Ó padeiro desta rua/Tenha sempre uma lembrança/Não me traga outro pão/Que não seja o Pão Bragança”, que era acrescido de outras partes, pelos cantores do programa: “Pão inimigo da fome,/Fome inimiga do pão,/Enquanto os dois não se matam/A gente fica na mão/Ó padeiro desta rua(...)”. (SILVA, 1999: 28)
_____O jingle não era usado apenas como “arma” publicitária pura e simples. A dupla caipira Alvarenga e Ranchinho, na década de 1940, valia-se de diversas mensagens publicitárias musicais para criar paródias em que podiam aparecer nomes de outros artistas do rádio ou até mesmo de políticos importantes. Assim, para ficarmos apenas num exemplo, “Pílulas de Vida do Doutor Ross / Fazem bem ao fígado de todos nós”, tornava-se, acidamente, “Plínio Salgado quando abre a voz / Faz mal ao fígado de todos nós”. (NOSSO SÉCULO, 1980: LP).
_____“Educar divertindo e divertir educando”
_____A música integra o cotidiano dos brasileiros, cada um com sua preferência, seja pelo MPB, rock, Jazz, pagode, samba e tantos outros gêneros. Ao ligar o rádio, uma série de músicas é exibida no modelo lido pelo locutor: “Vamos ouvir agora (nome da música), de (nome do compositor) por (nome do interprete)”. Ao final: “Ouvimos (nome da música),de (nome do compositor) por (nome do interprete)”. As referências ficam por aí, limitados, quando ocorrem, a nomes. O conhecimento musical dinamiza o interesse do ouvinte em acompanhar e conhecer o que está ouvindo. Programas mais antigos podem servir de exemplo para isso.
_____Almirante, um dos maiores produtores da história do Rádio brasileiro, conseguia atrair a atenção de seus ouvintes explicando, por exemplo, o significado de curiosos e às vezes herméticos títulos de chorinhos no programa “O pessoal da Velha Guarda”, irradiado na década de 1950. O que entender de um título como André de sapato novo? A música, instrumental, não chama a atenção para nada em si a não ser uma longa nota em seu início. É que o compositor, André Victor Correa, quando comprou um sapato, precisava parar de vez em quando para ajustá-lo a um calo de seu pé, vindo daí a inspiração tanto para a longa nota da melodia como para o título do chorinho.
_____O velho novo
_____Os programas humorísticos e as radionovelas também possibilitam uma interpretação do cotidiano da vida por meio do drama e da comédia. Brincadeira dos sons por meio da linguagem radiofônica. Nada que impeça levar para o rádio, além dessas produções, outras como o radioteatro, as peças radiofônicas e experimentos que são elaboradas fora das emissoras, como nas universidades.
_____Do passado pode-se tomar a dinâmica e o ótimo trabalho de “bastidores” como referência para o rádio atual, com a possibilidade de inserir à programação uma variedade maior de produções (também independentes) tanto de caráter jornalístico, publicitário, humorístico e tantas outras. Dinâmica possível, agora, com as inovações em radiodifusão, propiciadas pelas novas tecnologias de produção e veiculação digitais, em que as emissoras necessitam de um conteúdo variado para ser disponibilizado para o ouvinte.
_____As dificuldades financeiras e estruturais prejudicaram (e prejudicam) esse meio considerado agora como alternativo pelo conteúdo limitado que transmite, mas nada que faça desanimar aquele que deseja transmitir algo criativo e atuante, diante das diversas possibilidades que o rádio permite. Além disso, ainda temos uma dívida com Edgard Roquette-Pinto: “O rádio é o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre; é o animador das novas esperanças; o consolador do enfermo; a gula dos sãos, desde que realizem com espírito altruísta e elevado”. (FERRARETO, 2001:97)

 

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