CAPÍTULO 1 – O RÁDIO

1.1. No passado, as novidades para o rádio atual

_____“É que, durante a Exposição do Centenário da Independência, em 1922, muito pouca gente se interessou pelas demonstrações experimentais de radiotelefonia então realizadas pelas companhias Westinghouse, na Estação do Corcorvado, e Western Electric, na Praia Vermelha. Muito pouca gente se interessou. Creio que a causa desse desinteresse foram os alto-falantes instalados na exposição. Ouvindo discurso e música reproduzidos no meio de um barulho infernal, tudo distorcido, arranhando os ouvidos, era uma curiosidade sem maiores conseqüências”. (NOSSO SÉCULO, 1980: LP)
_____O relato de Edgard Roquette-Pinto, considerado o pai do rádio no Brasil, demonstra como foi aquele momento, em que discursos do presidente da República, Epitácio Pessoa, e trechos de O guarani, de Carlos Gomes, foram transmitidos por meio de alto-falantes e por uma estação transmissora instalada no alto do Corcovado. Também os ideais de Roquete-Pinto determinam a bandeira dos profissionais que observam no rádio um meio de expandir o conhecimento, observando o conteúdo como processo de cultura e educação.
_____O pensamento dele sobre a transformação educativa permanece até hoje durante os debates sobre a qualidade dos produtos transmitidos pelos meios de comunicação, já que, mesmo com a exploração comercial e política, ainda é possível elaborar programas com qualidade, que possam despertar o interesse do ouvinte. Por isso, celebrar o Dia Nacional da Radiodifusão e, conseqüentemente, para muitos, o Dia do Rádio – 25 de setembro, em homenagem a Roquette-Pinto, que nasceu nesse dia, em 1884, e morreu em 18 de setembro de 1954 - é discutir o significado de ações feitas no passado que ainda podem nos servir como inspiração.
_____Muitas explicações são até compreensivas, sendo a mais importante a de que o meio predominava no Brasil, até o surgimento da Televisão no país, no início dos anos 50. Os bons profissionais estavam lá, assim como o mercado publicitário. A resposta, porém, não é
desculpa para a ausência de uma produção efetiva e criativa, pelo menos, semelhante à época de ouro do rádio, dos 30 e 40, e até de algumas iniciativas mesmo durante a crise nos anos 50 e 60, que permanecem até hoje. Os céticos já desistiram e transformaram o rádio num grande vitrolão, transmitindo músicas seqüencialmente, e num imenso oratório, relendo notícias prontas de outros meios de comunicação. Reproduzir é simples; o difícil é produzir uma variedade de programas que exijam planejamento diante do conteúdo e do formato, interagindo os aspectos de captação, edição e produção das mensagens.

A radiorreportagem
_____A influência na cultura radiojornalística pelo Repórter Esso e do Grande Jornal Falado Tupi, iniciada nos anos 40, é observada no modelo atual das emissoras de rádio. As últimas notícias são transmitidas quase que automaticamente. Prática corrente que mantém o rádio em sintonia com a agenda dos demais meios eletrônicos. Na busca pela informação, outro momento marcou o radiojornalismo brasileiro. A prática se apoiava na maneira clássica de se fazer jornalismo.
_____Essa iniciativa, durante os anos 50, permitiu a ampliação do trabalho jornalístico. Foram as radiorreportagens da emissora Continental do Rio de Janeiro, que possibilitavam uma cobertura constante dos principais assuntos do dia. Algumas reportagens de Saulo Gomes foram recuperadas pela pesquisadora Flávia Lúcia Bazan Bespalhok, professora da Universidade Estadual de Londrina, no Paraná, como a cobertura da Explosão dos Paióis, em 1958, ocorrida nas dependências do exército brasileiro no subúrbio do Rio de Janeiro. Relato de quem estava no local, função do jornalista de rádio:
_____“Estamos caminhando, paralelo ao local, denominado Camboatá, onde ainda prosseguem as explosões dos Paióis de Deodoro, quando estamos completando dois meses das primeiras explosões que abalaram a cidade do Rio de Janeiro. Observem ouvintes que agora vai aumentando de intensidade as explosões. Eu tenho a impressão que ainda a essa distância de 600 a 800 metros estamos conseguindo gravar esses ruídos”. (BESPALHOK, 2006: CD)
_____Momento que demonstra a importância do radiojornalismo, da participação direta do repórter na rua, reconstruindo o que acontece no cotidiano das pessoas. Sugestão para as emissoras na busca de uma prática diferenciada que diminua a distância entre o fato e o ouvinte. E a velha reportagem pode ser a saída mais simples.

 

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