Este artigo abordará a presença do negro nas artes cênicas brasileiras do Segundo Império (1840-1889) – quando o teatro se tornava um ambiente restrito às classes dominantes, os negros eram representados em imagens fortemente ligadas a escravidão e as peças eram carregadas de conteúdo racista – ao Pós-Estado Novo, quando Abdias Nascimento fundou o Teatro Experimental do Negro (1944-1968), visando reverter tal quadro. Analisaremos o processo histórico de mudanças nas representações dos afro-brasileiros nas artes cênicas, enfatizando os esforços empreendidos pelos próprios negros no combate aos estereótipos e imagens pejorativas recorrentes nas produções dramatúrgicas. Podemos caracterizar tais esforços como parte de uma estratégia de luta do antirracismo pela via cultural, na qual o Teatro Experimental do Negro foi um importante expoente.
O objetivo desta apresentação é recordar os aspectos históricos da militância de Abdias do Nascimento, abarcando o contexto nacional e internacional. As fontes utilizadas foram dois livros publicados por Abdias: Genocídio do Negro Brasileiro e Quilombismo, documentos de uma militância Pan-africanista. A ideia é identificar por meio dos relatos escritos por ele, as relações e os diálogos raciais da década de 1970 que, por sua vez, revelam o lugar histórico que condicionou suas próprias reivindicações. Afinal, as questões por ele discutidas e levantadas ainda ecoam fortemente nas pautas de reivindicações do Movimento Negro Contemporâneo –sobretudo, as políticas de ações afirmativas.