Habitação, saúde, educação, segurança pública, emprego, são temas inesgotáveis que equilibram a agenda diária de uma emissora comunitária. A disposição das matérias está condicionada à pauta pré-estabelecida pela equipe e sancionada pelo Ouvidor.
No conjunto das matérias exibidas durante a programação da rádio, as externas trabalham com fatos do cotidiano, com as pessoas (entre elas, os repórteres) espalhadas pelas ruas da comunidade. O tempo do fato é determinado conforme a ocorrência. Já o tempo do repórter é marcado tanto pelos acontecimentos quanto pela linha editorial. Ele precisa de um direcionamento que o auxilie no fazer jornalístico. O repórter segue o comando dos vários assuntos do dia, como o cotidiano de uma pessoa comum, que não fala somente de um determinado assunto, mas de vários. Independente da função (redator, repórter, radioescuta, editor, entre outros), o jornalista perpassa os diversos temas da atualidade. A abordagem do trabalho jornalístico, interno ou externo, segue um planejamento prévio, independente dos fatos casuais, definido nas reuniões de pauta, conforme as conversas no Ouvidor.
O planejamento da equipe depende da mão-de-obra disponível. Tarefa difícil para as emissoras comunitárias, que possuem poucos jornalistas e colaboradores. Mesmo com poucos profissionais, é possível produzir o radiojornal, desde que o jornalista seja eclético diante da atividade, exercendo diversas funções, conforme a necessidade durante o dia. A organização está sujeita ao tempo e à disponibilidade. Como repórter, o imprevisto é uma constante, mas é possível determinar o horário para o deslocamento diário. Também pelo Ouvidor é possível discutir e determinar o momento em que vai estar na rua, ouvindo e conversando com as pessoas. Já como radioescuta, adquire aqui a responsabilidade de separar apenas as intervenções de caráter jornalístico, enquanto como redator, checa as matérias que recebe e que precisam ir ao ar. E como editor, seleciona e reorganiza o conjunto das matérias que serão exibidas. A responsabilidade e a coordenação do projeto é de toda a equipe, sendo as funções determinadas conforme a potencialidade e a habilidade de cada um. A decisão final é da maioria.
O radiojornal funciona como uma seleção dos diversos assuntos em destaque, como um passar de um dia, no encontro com a família, com os amigos ou conhecidos, seja em casa, no bar, na igreja ou em espaços de congraçamento. Todos falam do que passaram durante o dia, seja em assuntos públicos ou particulares, sobre o trabalho, a escola, a família, o futebol, a doença, a segurança, o saneamento básico, enfim, os problemas e alegrias que traduzem a vida de cada um, mas que precisam ser repartidos com o próximo. O radiojornal é a síntese do Falador.
A seqüência da vida cotidiana determina a montagem do radiojornal. As pessoas passam por várias situações durante o dia, como as matérias exibidas durante a programação. Ao manter essa ordem, inclusive determinando o horário e o local do fato, é possível situar o público daquilo que aconteceu. As matérias são gravadas e, se necessário, já editadas pela equipe. O radiojornal começa a ser elaborado desde a emissão da primeira notícia do dia. Cabe à equipe de jornalismo selecionar as principais matérias que foram divulgadas. O programa é construído durante a programação por todos que se dispuseram a emitir uma informação ou opinião.
Faz parte do cotidiano jornalístico elaborar matérias que revelem ou esclareçam determinado fato. Inclusive, outras produções servem para quebrar o ritmo do radiojornal, como aquele descanso após uma refeição ou depois de certas atribuições. As informações podem ser agrupadas em blocos, inclusive com vinhetas indicando a temática, sempre voltada à comunidade. As matérias sobre segurança pública, por exemplo, são concentradas no mesmo espaço. Algo semelhante acontece com as matérias especiais, que são elaboradas pela equipe ou por colaboradores. A diferença é que, além das vinhetas, os locutores as diferenciam das demais produções, ao destacar o conteúdo a ser exibido.
A Liberdade
A apresentação de um programa jornalístico que reflita o cotidiano é apenas uma proposta para as emissoras comunitárias. Nada que impeça a liberdade de escolha do modelo para a programação jornalística. Nada que iniba a criatividade ou mesmo a proliferação do padrão já estabelecido, mas uma alternativa que reflita sobre a prática da simples reprodução de matérias já transmitidas pelas outras emissoras de rádio que, além de defasadas, são simplesmente lidas pelos locutores e repórteres.
Radiojornalismo é feito externamente. Como dizem: “lugar de repórter é na rua”. A proposta é para a transmissão contínua de mensagens do local, pelo indivíduo que esteja lá, desde que seja responsável pela emissão (não esquecer que numa comunidade as pessoas se conhecem). Notícias atuais, quentes, sem a frieza de quem fica na redação copiando matérias, como se elas já viessem prontas, para servir ao rádio apenas como um retransmissor.

 

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