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MÚSICA DE PAPEL, QUE NASCE NO PAPEL E MORRE NO PAPEL

Heitor Villa-Lobos

Preocupando-me demais com a vida da atualidade, forçosamente não me interessam os homens que nos queiram forçar a sentir mais perto o passado que o presente. O passado passou. Guarda-se e consulta-se, mas não se revive numa época de evolução alucinante como a nossa.

Se no presente são as manifestações espontâneas do povo que interessam, todo o individuo que se desintegra deste movimento torna-se, por força de fatores históricos, um rotineiro, um retrógrado. Ha muita gente que não compreende ou não quer compreender o nacionalismo em arte, porque julga que a musica ou as artes devem possuir um padrão universal.

Nunca me rebelei contra o classicismo, mas também nunca pude admitir o classicismo dentro das normas do pensamento de hoje. Assim como não gosto de pensar no futuro, não me sinto bem olhando o passado. Eu sou como um viajante que, ao atravessar um rio num cipó, não pode olhar para trás nem para frente a fim de não perder o equilíbrio.

Ao ter que julgar qual a mais perfeita manifestação de arte humana, analiso, primeiro, a arte vivida pela natureza, transformada pelo homem, interpretada pelo povo e deformada pela crítica, e chego a conclusão de que a grande arte e a própria Natureza. É como se o viajante tivesse voltado ao ponto de partida.

Talvez essas minhas idéias tenham sentido a influência da Natureza do meu País. É para mim extremamente simpático e agradável todas as vezes que vejo um estrangeiro visitar o Brasil, trazendo consigo as características de sua terra. Por essa razão pretendo levar na bagagem, em minha viagem aos Estados Unidos, uma alma diferente, cheia de emoções imprevistas, mas que vibrará com o espírito continental dos homens do Norte. Quando procurei formar a minha cultura, guiado pelo meu próprio instinto e tirocínio, verifiquei que só poderia chegar a uma conclusão de saber consciente, pesquisando, estudando obras que, à primeira vista, nada tinham de musicais. Assim, o primeiro livro foi o mapa do Brasil, o Brasil que eu palmilhei, cidade por cidade, Estado por Estado, floresta por floresta, perscrutando a alma de uma terra. Depois o cantar dos homens dessa terra. Depois as maravilhas naturais dessa terra. Prossegui, confrontando esses meus estudos com obras estrangeiras e procurei um ponto de apoio para firmar o personalismo e a inalterabilidade das minhas idéias. Sempre fui apologista da música unicamente pelo som, embora saiba que sem o papel ela não poderia ser gravada... Mas, infelizmente, a compreensão de um grupo de fabricantes de arte, um grupo de imigrantes em todo o mundo, faz justamente o contrario: usa a musica de papel ou papelão, sem preceder o som, o que resulta na «arte do papelório», muito bem imitada nas regras e concepções canônicas, porem sem nenhuma força de sugestão capaz de comover as gerações atuais.

Músicas de papel, que nascem no papel e morrem no papel...

Aqueles que não acreditam nos homens privilegiados pela Natureza não acreditam em nada, nem em si próprios; mas, imaginam que apenas com a cultura erudita podem substituir esses privilegiados. É esse o caso que eu tenho observado desde após a primeira grande guerra. Julgo que a atual geração vive um ritmo desencontrado, porque nunca procurou a unidade de movimento da vida de cada um em relação à vida de todos. E tenho a impressão que um pequenino metrônomo resolveria o problema da paz universal.

(In: PRESENÇA DE VILLA-LOBOS, Museu Villa-Lobos, 1966, pp. 95-6)

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