Este artigo aborda as cartas de Fernão Cardim ao seu empregador português, em que ele fornece
detalhes sobre as missões da Companhia de Jesus no nordeste brasileiro ao fim do século XVI. Este
estudo enfatiza o contexto histórico dessas cartas e concentra-se nos relatos de música cerimonial,
com atenção especial a temas como inculturação jesuítica e adaptabilidade. Ao analisar o engajamento
e interação musical peculiar dos jesuítas com os nativos e suas práticas cerimoniais, este artigo avalia as implicações dessa integração no ritual católico jesuíta. Esta pesquisa também explora o relato de Cardim sobre a interseção entre cerimônias cristãs e rituais locais como sendo um dos primeiros sinais documentados de sincretismo religioso em território brasileiro.
O tema da morte – e o que acontece depois dela – é recorrente na arte medieval europeia. O teatro português do período, tendo encontrado seu apogeu em Gil Vicente, encontra também no mestre uma discussão sobre diferentes tipos de almas, de mortes e de destinos. Poucas décadas depois, do outro lado do Oceano Atlântico, a colônia portuguesa na América viu o padre jesuíta José de Anchieta encenar, com a ajuda de outros padres e também de nativos, peças que também discutiam o tema. Este artigo lança o olhar sobre as consequências eternas do martírio religioso. Morrer pela fé católica parece garantir não só a entrada no Paraíso, como também um certo prestígio diante de representantes divinos. Pretendemos analisar de duas peças: o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, em que quatro Cavaleiros de Cristo são recebidos com honrarias pelo Anjo barqueiro, e o Diálogo de Pero Dias Mártir, de José de Anchieta, em que um jesuíta martirizado em alto-mar conversa com o próprio Cristo. O que propomos é perceber as relações dialógicas entre os textos: a inserção em uma mesma tradição teatral e o estabelecimento de uma mesma moral cristã católica quinhentista.