A pesquisa apresenta uma reflexão sobre a historiografia teatral de Décio de Almeida Prado, importante crítico e historiador do teatro brasileiro. Intelectual ligado à terceira fase do movimento modernista, que alguns autores designam como a “Geração de 1945”, seu pensamento estético e historiográfico possui laços estreitos com uma certa concepção de mundo moderna, donde se explica o título conferido ao trabalho. A tese defendida objetiva demonstrar os diferentes imbricamentos existentes entre os ensaios de Prado sobre o passado cênico nacional e semelhante cosmovisão, procurando deslindá-los à luz de certos parâmetros como, por exemplo, a filosofia da história e algumas noções estético-teatrais que conformariam essa vertente de sua obra. Em que pese, contudo, o foco mais concentrado nos ensaios historiográficos, informe-se que suas críticas de espetáculos, produzidas ao longo de anos, não foram ignoradas, na medida em que fazem parte do escopo deste estudo, cujo projeto, dentro de suas possibilidades, é analisar o pensamento de Prado como um todo. Tendo isso em vista, para uma melhor compreensão do assunto, empreendeu-se uma comparação, que atravessa a pesquisa do início ao fim, entre o ensaísmo teatral de Prado e o ensaísmo literário de Antonio Candido, lembrando que ambos começaram suas carreiras juntos ao fundarem, em parceria com outros nomes, como Paulo Emílio Salles Gomes e Ruy Coelho, a revista Clima (1941-1944). Pelo fato de suas respectivas historiografias apresentarem muitos vínculos entre si, a ponto de ser possível afirmar que elas pertenceriam a um mesmo projeto intelectual, tal cotejo acabou se mostrando fundamental para as pretensões embutidas na tese, fazendo com que este trabalho se tornasse, à sua maneira, uma obra de historiografia comparada.
Programa de Pós-graduação em Artes. Campus São Paulo
A presente dissertação tem como objetivo o estudo de uma parcela da historiografia literária e teatral brasileira. Na primeira parte do trabalho, reservada apenas à historiografia literária, foram examinados notadamente os seguintes autores e obras: Sílvio Romero (História da Literatura Brasileira, de 1888), José Veríssimo (História da Literatura Brasileira, de 1916) e Ronald de Carvalho (Pequena História da Literatura Brasileira, de 1919). Tais historiadores, cada um à sua maneira, teceram considerações relevantes a respeito da dramaturgia brasileira, o que explica a inclusão deles em uma pesquisa como esta, que teve a pretensão de abranger todos os elementos componentes do fenômeno teatral. Na segunda parte, dedicada à historiografia do teatro propriamente dito, o foco da análise recaiu sobre quatro autores e suas respectivas obras: Henrique Marinho (O Theatro Brasileiro, de 1904), Múcio da Paixão (O Theatro no Brasil, redigido em 1917 mas editado somente em 1936), Carlos Süssekind de Mendonça (História do Teatro Brasileiro, de 1926) e Lafayette Silva (História do Teatro Brasileiro, de 1938). Trata-se, em suma, de um trabalho de historiografia comparada, com vistas a enfatizar certos aspectos marcantes das obras supracitadas, como as fontes utilizadas, as teorias da história que conduziram o pensamento de seus autores e a forma como eles se posicionaram em relação a determinados temas (genealogia do teatro brasileiro, supostos períodos de ascensão e decadência, divisões em períodos cronológicos etc). O recorte proposto, que vai de 1888 a 1938, procurou destacar a etapa considerada formativa da historiografia teatral brasileira, anterior ao processo de modernização vivenciado por ela em especial a partir dos anos sessenta do século passado.
Disponível em:
http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/86853/leite_rm_me_ia.pdf?sequence=1