Ao se falar do texto shakespeariano, no senso comum, a identidade do autor e da obra que se forma no imaginário coletivo é como algo intocável, apesar do caráter popular inicial de produção no período elisabetano. O alcance aos mais diferentes públicos nos séculos XVI-XVII na Inglaterra é correlato ao que se encontra no Brasil a partir da recepção do trabalho dos grupos amadores e dos grupos de teatro popular formados no século XX nas encenações do texto shakespeariano. Através de uma breve retomada histórica do trabalho dos referidos grupos, bem como do desenvolvimento do teatro brasileiro, com as contribuições de vários estudiosos presentes na obra de Faria (2012; 2013) e Cafezeira e Gadelha (1996), além de outros, o presente trabalho se direciona para a valorização do popular no desenvolvimento do teatro brasileiro em parceria com o texto de William Shakespeare.
O artigo se propõe a analisar a montagem de O rei da vela pelo Teatro Oficina em 1967, considerando este um momento fundamental tanto para o grupo em sua trajetória estética e política quanto para a cultura brasileira em um momento de reflexão sobre as responsabilidades da esquerda na conjuntura histórica de então. Mobilizando diversos textos críticos que analisam a montagem, buscamos compreender como o Oficina se apropriou do texto oswaldiano em contexto histórico diverso, o que essas escolhas mostram sobre as posições políticas do grupo e que impactos a peça trouxe para sua história.