Manchetes
Jornalismo
de resistência
Páginas
de resistência - a imprensa comunista até o golpe
militar de 1964, de Francisco Ribeiro do Nascimento, 212
pp., Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, São
Paulo, 2004 (www.imprensaoficial.com.br/livraria).
Páginas
de Resistência resgata as lutas do Partido Comunista Brasileiro
do Pará e a oposição de seu jornal, a Tribuna
do Pará, numa pesquisa do jornalista Francisco Ribeiro
do Nascimento. Ela abrange 91 edições da Tribuna
do Pará, com 431 páginas e 175 títulos,
além da relação de jornais e revistas dos
anos de legalidade e ilegalidade do PCB que existiram até
1964 e os nomes dos jornalistas vítimas da ditadura após
esse período.
Francisco
Ribeiro do Nascimento - ou seo Chiquinho, como é mais
conhecido na imprensa -, tem 76 anos, nasceu na Ilha de Marajó,
entrou no Partido Comunista Brasileiro aos 18 anos e começou
no jornalismo em 1954, na Tribuna do Pará. Em 1958 assumiu
a direção do jornal, mas nesse mesmo ano o jornal
deixou de circular por problemas financeiros. Sua história
de vida compreende a prisão em Parintins, em 1954, quando
trabalhava como técnico laboratorista e liderava uma
manifestação pelo aniversário de Luiz Carlos
Prestes. Em 1964, logo após o golpe militar, ficou seis
meses clandestino para fugir de uma nova prisão em Belém
do Pará.
Foi
para Santos como clandestino, deixando mulher e dez filhos que
só se juntaram a ele em fevereiro do ano seguinte. Em
Santos, participa da diretoria do Sindicato dos Jornalistas
do Estado de São Paulo, que ele considera uma "extensão
de sua casa". Pesquisar as páginas do jornal em
que trabalhou e trazer à luz fatos como as lutas formadoras
da consciência da nacionalidade e soberania nacional,
as ameaças ao petróleo brasileiro, a necessidade
de distribuição de terras na II Conferência
dos Trabalhadores Agrícolas, depoimentos de Luiz Carlos
Prestes, a defesa de Fernando de Noronha, as manifestações
contra Carlos Lacerda, movimentos sindicalistas e muitos outros
assuntos da época.
Mártires
da imprensa
Para
o autor, hoje anistiado pelos ministérios do Trabalho
e da Justiça, o livro é, antes de tudo, uma grande
homenagem aos companheiros perseguidos pela ditadura militar:
"É a minha maneira de contribuir para que fatos
como a repressão e o autoritarismo não sejam esquecidos
em nosso país. Meio século depois, temas como
reforma agrária, conflito e assassinatos no campo, defesa
da Amazônia, salários dignos e mais empregos continuam
atuais e ainda hoje perturbam a sociedade brasileira. O livro
é resultado do envolvimento e do incentivo de minha família
e dos amigos e é dedicado a Vladimir Herzog e outros
jornalistas que sofreram as conseqüências dos tempos
da ditadura".
Hubert
Alquéres, presidente da Imprensa Oficial do Estado, acredita
que a publicação deste livro é uma forma
de mostrar às novas gerações o registro
de fatos que passaram a fazer parte da história, além
de relembrar as dificuldades trazidas pela interrupção
do processo democrático.
Fred
Ghedini, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São
Paulo, ressalta na apresentação da obra a postura
combativa de Francisco Nascimento em sua militância de
esquerda:
"Essa
militância veio até os dias de hoje, quando o sentido
da própria militância encontra-se em xeque. Pois
vivemos tempos em que os indivíduos se enclausuram em
seus objetivos e desejos particulares de vida. Seo Chiquinho
se transforma em pesquisador por vontade própria e por
amor à história e graças à obstinação
de sempre e à solidariedade de seus colegas procurou
revelar aos jovens a existência de uma imprensa que tinha
outra razão de ser que não os mecanismos do mercado".
Outros
destaques do livro: "Uma breve história do PCB no
Pará", de Alfredo Oliveira, o texto "Doze Anos
de Luta", transcrito da edição 352 (agosto
de 1958) do Tribuna do Pará, textos/memória sobre
o jornalista João Adolfo da Costa Pinto (ativista que
lutava pela unidade do movimento sindical) e João Amazonas,
presidente de honra do PC do B.
Outro
destaque é a homenagem aos mártires da imprensa,
com dados do livro Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos
a partir de 1964. Além disso, um quadro com a relação
de jornais e revistas dos anos de legalidade e ilegalidade do
PCB, que existiram até 1964, com informações
atualizadas pela Fundação Biblioteca Nacional,
em dezembro de 2001.
Leia
a apresentação deste livro no link:
Novas
páginas de uma vida de combate, por Fred Ghedini
Fonte:
Observatório da Imprensa, 16.03.2004
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