Programa de PósGraduação Stricto Sensu em Literatura,
área de concentração Literaturas.
O teatro, emblema de confrontações sociopolíticas e ideológicas
intensificadas no último século, foi palco da criação do grupo teatral The
Living Theatre, em 1947, em Nova Iorque. Os fundadores do Living, o
casal anarquista Julian Beck e Judith Malina, concebeu o grupo de teatro
experimental mais ativo, e ainda em atividade, da contemporaneidade.
Com o apogeu do movimento contracultural nos anos 60 e 70, o grupo
intensificou o seu papel de porta-voz das artes cênicas e dentro deste
contexto de ação ocasionou seu roteiro itinerante. Após o convite de
José Celso e Renato Borghi, do Teatro Oficina, o Living Theatre veio ao
Brasil para apresentar a sua metodologia de criação e encenação,
participando de seminários em São Paulo e em Minas Gerais, onde, em
1971, seus integrantes foram presos pelo Regime Militar Brasileiro.
Nesse período, dentro da prisão, Judith Malina escreveu em seu diário
sobre sua estada no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).
Em sua injusta morada na prisão, Judith Malina relatou em seus escritos
às várias situações pelas quais passou dentro do cárcere. Desse modo, a
sua fala, além de caracterizar a sua aflição individual, reflete um
momento histórico tanto do The Living Theatre quanto de diversas
pessoas que foram presas pela Ditadura Militar por motivos obscuros,
como acusação de subversão. Ao ler o diário de Malina, se percebem
algumas inquietações advindas de uma mulher alemã, judia, mãe,
anarquista, pacifista e revolucionária. No entanto, para compreender
melhor o panorama de vida dessa mulher, se faz necessário olhar para o
passado, para a seleção de alguns poemas do livro Poems of a
Wandering Jewess (1984) e seus últimos poemas publicados na obra
Having Loved: new poems (2015). Para um olhar atento sobre a
tradutora de Antigone (1990) do dramaturgo Bertold Brecht, Judith
Malina, parte-se do mito de Antígona, mulher que desobedece às leis
vigentes para lutar pelo que almeja, uma marca também em Malina.
Para compreender seu desempenho político que se funde com a vida
privada, percebe-se Malina em um universo performático em que seus
escritos e suas ações no teatro se enredam de tal forma a se examinar as
diferenças do público e o privado; entre a performance na vida política e
na vida cotidiana da artista. Deste modo, o presente estudo apresenta a
mulher, Judith Malina, em seu tablado de atuação, nos palcos, na escrita
e na revolução. Para a tessitura do texto utilizam-se como suporte
teórico, estudos sobre o teatro como Steiner (1995), Artaud (2006),
Brook (1996), Biner (1976), Bornheim (2007) e Brecht (1978); sobre
diário e testemunho, como Seligmann-Silva (2005), Ginzburg (2008),
Gagnebin (2009), Blanchot (1987) e (2005); sobre a tortura violência na
ditadura brasileira, Butler (2015), Wolff (2015), Malina (2011),
Vannucci (2012), Green (2009), entre outros. Neste cenário almeja-se
visualizar a mulher revolucionária Judith Malina, tanto nos palcos como
na vida.