Este trabalho almeja compreender a consolidação do vilão como uma personagem estereotipada, representante de questões relacionadas à concepção de valores sociais, culturais e históricos, de acordo com um imaginário coletivo. Para tanto, busca-se apoio na análise comparativa de duas obras em que se pode observar a configuração dessa personagem – uma delas, representante de um tipo teatral de forte apelo popular, o melodrama, e a outra, vinculada à dramaturgia brasileira produzida no século XIX. Tal abordagem favorece a observação de aspectos relevantes acerca do desenvolvimento do teatro no Brasil, numa época em que se verifica um movimento acentuado em prol do estabelecimento de uma cultura nacional. Nesse contexto, destaca-se um conflito entre o intuito de produzir obras de qualidade literária, de acordo com padrões estrangeiros (europeus, sobretudo) e o exercício cênico, em que se nota a predominância de representações de formas populares, como o melodrama, aclamado pelo grande público. Seu sucesso perante a plateia estimulou a influência de características de sua estrutura dramática sobre a escrita de obras nacionais, favorecendo a exploração de personagens-tipo (dentre elas, o vilão) e a relação do texto escrito com elementos próprios do espetáculo cênico, aproximando encenação teatral e literatura a partir da composição de peças que consagraram o uso sistemático de rubricas. Assim sendo, neste estudo, apresentamos uma mostra de que isso se deu na prática e sugerimos seu rendimento na caracterização da literatura dramática brasileira.
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