Centro de Comunicação e Expressão
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Com o aporte teórico-metodológico da Teoria da Variação e Mudança Linguística (Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968]), o objetivo desta pesquisa é identificar as formas de tratamento utilizadas em 12 peças de teatro florianopolitanas dos séculos XIX e XX e sua relação com as dimensões de poder e solidariedade, teorizadas por Brown e Gilman (2003 [1960]. Os dois séculos foram divididos em 4 períodos de 50 anos, e cada período era representado por 3 peças de teatro. Após a identificação das formas de tratamento, foram destacadas as duas formas mais frequentes em cada período de 50 anos para se proceder a uma análise estatística multidimensional e revelar que grupos de fatores eram mais significativos na escolha por uma ou outra forma de tratamento. No período referente à primeira metade do século XX, foram selecionadas 3 formas em vez de 2, por conta da distribuição dos dados. A tendência indicada pela análise dos grupos de fatores deveria apontar que forma, dentre as duas (ou três) mais frequentes de cada período de 50 anos, estaria mais associada à dimensão de solidariedade e qual estaria mais associada à dimensão de poder. Como resultados, na primeira metade do século XIX, destacaram-se como variáveis independentes significativas as ‘relações de intimidade’, a ‘faixa etária’, as ‘relações familiares’, a ‘audiência’ e as ‘relações profissionais’. A correlação entre os fatores e variável dependente indicaram que a forma de tratamento TU, nesse período, estava mais associada à dimensão de solidariedade, e a forma O SENHOR estava mais relacionada à dimensão de poder. Na segunda metade do século XIX, os grupos de fatores relevantes foram as ‘relações de intimidade’, a ‘classe social’, as ‘relações profissionais’ e a ‘faixa etária’. Os resultados parecem indicar que, nesse período, a forma de tratamento TU estava mais associada à dimensão de solidariedade, ao passo que a forma O SENHOR estava mais relacionada à dimensão de poder. Na primeira metade do século XX, as variáveis independentes selecionadas pelo programa estatístico GoldVarb como mais relevantes foram ‘ambiente’, ‘classe social’, ‘faixa etária’, ‘relações familiares’, ‘relações de intimidade’, ‘audiência’, ‘relações profissionais’ e ‘sexo/ ‘gênero’. A correlação entre os fatores e as formas variantes parecem indicar que, nesse período, a forma de tratamento TU estava mais associada à dimensão de solidariedade, a forma O SENHOR à dimensão de poder, e a forma VOCÊ estaria flutuando entre as duas dimensões. Na segunda metade do século XX, os grupos de fatores significativos foram a ‘faixa etária’, as‘relações de intimidade’, a ‘audiência’ e a ‘classe social’. Os resultados parecem mostrar que, nesse período, a forma de tratamento VOCÊ estava mais associada à dimensão de solidariedade e a forma O SENHOR à dimensão de poder. Neste estudo ainda são brevemente suscitadas questões com relação ao papel dos grupos de fatores linguísticos, ao papel dos grupos de fatores socioestilísticos, à noção de neutralidade, teorizada por Cook (1994, 1997), à possibilidade de se considerarem as formas de tratamento como não sendo variantes de uma mesma variável e aos 5 problemas empíricos relacionados à mudança linguística, postulados por Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968]).