Notícias
15/06/2004
O
jornalismo
catarinense em pesquisa
Estudos
evidenciam aspectos da imprensa catarinense
Por
Monitor de Mídia
Além
do acompanhamento sistemático dos principais jornais
catarinenses, o MONITOR DE MÍDIA também realiza
pesquisas científicas enfocando aspectos da presença
e importância da imprensa no mercado local. Recentemente,
dois desses estudos feitos por acadêmicos do curso de
Jornalismo da Univali foram concluídos: "Imprensa
e Desenvolvimento Social: presença dos jornais em dez
municípios do Vale do Itajaí", desenvolvido
pela aluna Schayla Kurtz Jurk, e "Os Direitos Humanos nas
páginas dos jornais catarinenses", por Jefferson
Puff, aluno do 7º período.
Jornais
ajudam no desenvolvimento?
Beneficiada
por uma bolsa do Probic-Univali, Schayla Jurk queria discutir
o binômio que associa o bom desenvolvimento das sociedades
com a presença de uma imprensa consolidada naqueles contextos.
Assim, a aluna indagava se dez cidades do Vale do Itajaí,
escolhidas por seus indicadores sociais, tinham evoluído
graças aos jornais ou a despeito de sua existência.
"Em que medida jornais e revistas auxiliam na promoção
social? Sociedades que consomem mais informação
pela mídia são sempre mais desenvolvidas? Como
isso se apresenta numa região onde os índices
de desenvolvimento são altos?", perguntou a pesquisadora.
O
estudo concentrou-se no Vale do Itajaí por ser a área
de influência da universidade financiadora e por ser a
região que concentra os maiores índices de desenvolvimento,
conforme dados do IBGE e do governo do estado.
Foram
escolhidos os seguintes municípios: Blumenau (População
de 261505 habitantes, índice de desenvolvimento social
alto), Botuverá (População de 3757 habitantes,
índice de desenvolvimento social médio), Brusque
(População de 75798 habitantes, índice
de desenvolvimento social alto), Gaspar (População
de 46381 habitantes, índice de desenvolvimento social
médio alto), Guabiruba (População de 12986
habitantes, índice de desenvolvimento social médio),
Indaial (População de 40163 habitantes, índice
de desenvolvimento social médio alto), Itajaí
(População de 147395 habitantes, índice
de desenvolvimento social alto), Navegante (População
de 39299 habitantes, índice de desenvolvimento social
alto), Rio do Sul (População de 51650 habitantes,
índice de desenvolvimento social médio) e Timbó
(População de 29295 habitantes, índice
de desenvolvimento social alto).
Após
a tabulação dos dados, a pesquisadora seguiu para
as cidades para observar as realidades locais e levantar dados
do mercado de jornal nos municípios. O cruzamento destas
duas variáveis é que poderia apontar se existe
uma estreita relação entre desenvolvimento social
e a presença dos jornais nas localidades. Percebeu-se
que em Brusque, Indaial, Itajaí e Timbó, essa
relação é expressiva; em Rio do Sul e Gaspar,
é pouco significativa; em Botuverá, Guabiruba
e Navegantes, a relação é pequena; a insuficiência
de dados não permitiu que se concluísse sobre
a correlação direta Presença dos Jornais-Desenvolvimento
Social em Blumenau.
Schayla
Jurk concluiu que pode-se supor que os municípios teriam
atingido seus níveis sociais da mesma forma como se apresentam
hoje, mas tais processos poderiam ter sido mais lentos. Para
além das conjecturas, o que se tem é que não
há um modelo único que aponte a influência
da imprensa nos planos locais de desenvolvimento das cidades
analisadas. As características essenciais que configuram
a conjunção do binômio Mídia-Desenvolvimento
não são uma regra, mesmo apesar de sua evidência
em alguns municípios.
Tal
conclusão motiva a questionar a premissa segundo a qual
sociedades bem informadas sempre se desenvolvem mais que suas
semelhantes sem órgãos locais de informação.
No Vale do Itajaí, afirmar tachativamente isso pode se
configurar num erro de análise da conjuntura local. Por
outro lado, indagar a premissa nos convida a repensar o papel
da imprensa nessas localidades, motiva-nos a questionar o peso
e o alcance desses jornais e sua função social
nesses territórios.
Em
tempos como os nossos, com sociedades cada vez mais complexas,
ter tais respostas pode ser imprescindível para determinar
metas de crescimento econômico e, principalmente, social.
A
imprensa cobre os Direitos Humanos?
Beneficiado
por bolsa de estudos prevista no artigo 170 da Constituição
Estadual, o aluno de Jornalismo Jefferson Puff concluiu no final
de 2003 a pesquisa "Os Direitos Humanos nas páginas
dos jornais catarinenses", que desejava traçar um
mapa da visibilidade e da presença dos Direitos Humanos
(DH) nos três principais jornais catarinenses - A Notícia,
Jornal de Santa Catarina e Diário Catarinense
entre agosto e novembro de 2003. Esse mapeamento ajudaria a
revelar se o assunto é considerado enquanto pauta jornalística
e que tratamento tem no noticiário local.
O
estudo observou aparição e ocorrência, nominação
e repercussão dos direitos expressos na Declaração
Universal dos Direitos do Homem, por meio do monitoramento sistemático
no período previsto. Das 349 edições analisadas,
212 acabaram mencionando o tema, o que corresponde a 60%. Esses
números permitiram concluir que os DH aparecem com freqüência
nos jornais catarinenses.
Nas
212 edições, foram contabilizadas 368 menções.
A simples presença de menções aos DH demonstrou
uma preocupação dos meios de comunicação
em pautar a temática e também um interesse do
público em consumir informações do assunto,
concluiu o pesquisador.
Entretanto,
um aspecto chamou a atenção do pesquisador: o
tema apareceu nas primeiras páginas apenas 46 vezes (12,5%
do total), rendendo só 7 manchetes (1,9%), o que relativiza
sua importância na hierarquização dos assuntos
do dia na capa dos jornais.
A
pesquisa apontou ainda que das 368 menções, 300
(81,5%) foram noticiosas, das quais apenas 14 reportagens (4,6%).
Percebeu-se, então, que os jornais estão se esforçando
para cobrir os DH, mas isso se mostra principalmente no gênero
jornalístico "notícia", com tratamento
rápido e superficial. Em termos opinativos, das 349 edições
analisadas, em apenas 18, os DH motivaram editoriais dos jornais,
o que revela pouca preocupação das empresas com
a discussão mais detida do assunto.
Na
análise das edições, percebeu-se uma distribuição
mais ou menos uniforme das ocorrências ao longo do período
escolhido. Das 368 menções, foram 82 em agosto
(22,2%), 120 em setembro (32,6%), 104 em outubro (28,2%) e 62
em novembro (16,8%). O mês de Setembro concentrou o maior
número, graças à convergência dos
episódios mais marcantes envolvendo Direitos Humanos,
no período: o caso Chan Kim Chang, a abertura dos processos
contra os ex-ditadores argentinos, o caso da seita paraense
que torturava, mutilava e matava crianças, o caso Gugu-PCC
e visita da relatora da ONU Asma Jahangir ao Brasil.
A
conclusão aponta para o fato de que a presença
dos DH nos jornais reflete a A pesquisa reitera a afirmação
de que a realidade desses direitos na sociedade brasileira:
ainda vigora um quadro longe do ideal. Puff conclui que os DH
são pautas dos jornais, mas ainda recebem tratamento
instantâneo, superficial.
Falta
aprofundamento de reportagens e empenho dos jornais em editorializar
mais o assunto. Para o pesquisador, "pode-se dizer que
os jornais catarinenses estão começando a cumprir
melhor o seu papel, mas ainda devem percorrer um longo caminho
se pretendem realmente auxiliar a sociedade na construção
de uma cidadania real."
Fonte:
Equipe do Monitor de Mídia - Edição nº
48 (Data original da matéria: 30.04.2004).
Contato:
monitordemidia@yahoo.com.br
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