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Notícias


01/06/2004
O mercado para os jornalistas
de web na América Latina

Por Bia Moraes, de Curitiba

Uma pesquisa recente feita por jornalistas do eltiempo.com - site do jornal diário El Tiempo, da Colômbia, e também o site jornalístico mais visitado daquele país - traz alguns dados expressivos sobre jornalismo on-line na América Latina. Os resultados da sondagem, que foram apresentados no 5.º Simpósio Internacional de Jornalismo Online, em Austin, Texas, nos EUA, revelam, entre outros dados, que a maioria dos jornalistas que trabalham em internet de jornais latino-americanos são bastante jovens, ganham menos do que seus colegas de mídia impressa e são vistos, em geral, por seus empregadores, em um nível profissional mais baixo que os demais.

A pesquisa apontou também que o trabalho dos jornalistas on-line é focado mais em texto e edição e pouco em reportagem. Além disso, esses profissionais afirmam que sentem falta de formação teórica mais adequada nesta área, em especial na aquisição de conhecimentos técnicos sobre a web, que ainda não são oferecidos regularmente nas universidades – e tampouco os empregadores têm estimulado os jornalistas a fazer cursos na área, oferecendo oficinas ou módulos de treinamento. A pesquisa foi feita pela internet, pelos jornalistas Julio César Guzmán e Guillermo Franco, e teve o apoio da Sociedade Interamericana de Prensa (SIP), Grupo Diarios de América (GDA), e Fundación para el Nuevo Periodismo Hispanoamericano.

A sondagem foi respondida por mais de 70 coordenadores de websites, unidades de internet ou sites de jornais impressos. A lista de pesquisados abrange veículos líderes em seus respectivos mercados, o que conferiu boa representatividade ao trabalho. Entre os veículos que participaram, estão o Globo Online e o ClicRBS, do Brasil; o La Nación e o clarin.com, da Argentina; o El País, do Uruguai; o El Universal, do México, e o bolívia.com, na Bolívia, entre outros. Além destes, dezenas de websites de conteúdo noticioso da América Latina que não possuem versão impressa foram também pesquisados.

A jornalista Cláudia Belfort, que durante quatro anos foi editora de internet e coordenadora de internet do site TudoParaná, do Grupo RPC, em Curitiba, analisou alguns resultados da pesquisa a pedido do Comunique-se.

Para ela, que atualmente é editora-chefe do jornal Gazeta do Povo, também do Grupo RPC, a parte da pesquisa que aponta texto e edição como foco principal do webjornalismo está correta. “Muitos ainda acham que a internet carece de grandes reportagens. Mas o meio web é lugar para furos, para a notícia do tempo real. Quem deve ser mais profundo na reportagem é o jornal, a mídia impressa”, afirma.

Já a questão salarial, pelo menos na RPC, não condiz com o resultado da pesquisa, afirma Cláudia Belfort. “É verdade que a maioria dos jornalistas online é jovem. Mas no TudoParaná os salários são iguais aos de repórter e editor do jornal”, aponta.

Cláudia diz também que jornalistas que trabalham para o meio web não precisam fazer cursos de webdesign ou programação. “Precisam ser bons jornalistas, bons apuradores, ter bom texto, trabalhar rápido com pouco erro e saber fazer título”, explica, comentando o ponto da pesquisa que toca na formação desses profissionais.

A sondagem do eltiempo.com apontou que a maioria dos empregadores (jornais impressos) reduziu os departamentos de internet porque, de acordo com as empresas, o que essas unidades fazem não é suficiente para bancar sua própria operação. Por essa razão, em algum momento, algumas das empresas decidiram cobrar pelo acesso ao seu conteúdo na internet.

Sobre isso, Cláudia Belfort afirma que “não dá para jogar na produção das unidades de internet de jornais a responsabilidade pela geração de receita. Não é a produção que os anunciantes compram, e sim a exposição à audiência”.

Para ela, há uma série de fatores para as empresas de internet ainda não gerarem lucro, e este “é um longo debate”, mas, diz Cláudia, “é a primeira vez que ouço o argumento de que unidades de internet não geram suficiente para bancar sua própria operação”. A jornalista opina que a cobrança de acesso ao conteúdo é uma questão estratégica cujas razões variam de empresa para empresa, e pode ser sucesso de geração de receita em casos isolados como o WSJ.com e o Financial Times, cita. “Mesmo assim, cobrar pelo conteúdo não é a principal fonte de receita para quem optou por esse modelo”, conclui Cláudia.

A seguir, algumas das principais conclusões retiradas da pesquisa, que foram também publicadas pelo site do Knight Center for Journalism in the Americas, da University of Texas at Austin – onde aconteceu o Simpósio Internacional de Jornalismo Online.

- 68% das “dotcoms” (unidades de internet) são feitas por uma equipe de oito ou menos jornalistas. O pagamento dos jornalistas de internet representa entre 5 e 10% do total da área jornalística do veículo (impresso+online).

- Apenas 10% das unidades de internet dos jornais latino-americanos atualizam o conteúdo 24 horas por dia. 61% deles o fazem num período entre 15 e 20 horas. Mas, 78% deles afirmaram que atualizam o site quantas vezes for necessário.

- 87% dos jornalistas de internet de jornais na AL têm idade entre 20 e 30 anos. Nos demais websites (os que não têm versão impressa), essa percentagem é de 63%.

- A maioria dos coordenadores ou empregadores de sites de jornais líderes na AL acreditam que os jornalistas online estão em um nível menor de profissionalização do que seus colegas de jornal impresso. Uma pequena, porém significativa porcentagem, afirma porém que os jornalistas digitais são “o futuro” da profissão.

- Quase a metade (49%) dos jornalistas de websites de veículos impressos ganham menos do que seus colegas de redação; e 43% ganham o mesmo. Apenas um jornal entre os pesquisados paga mais aos jornalistas online.

- Mais da metade – 53% - dos jornalistas de internet de jornais na AL não tiveram disciplinas acadêmicas da área, mas 47% deles o fizeram: 17% cursaram em outros países e 30% em seus próprios países.

- 61% dos programas acadêmicos oferecidos em seus países aconteceram em cursos ou seminários; 13% foram no nível de graduação e outros 13% em pós-graduação. A metade dos jornalistas afirmou que a qualidade desses cursos não é boa.

- Apenas 43% dos veículos oferece treinamento em web dentro da própria empresa para seus jornalistas. A maioria dos treinamentos (68%) é oferecida poucas vezes, entre uma a três vezes por ano.

- Nenhuma das unidades de internet dos jornais consultados considera a reportagem o foco da sua atividade jornalística; a grande maioria acredita que o principal é escrever e editar. Por outro lado, nos sites noticiosos que não estão ligados a jornais, reportagem é o foco, para 28% deles.

- As editorias onde as unidades de internet de jornais concentram a maior parte do conteúdo feito por elas é, pela ordem: breaking news, entretenimento, esportes e tecnologia.

- Assuntos preferidos do público são: notícias sobre esporte, política, segurança e entretenimento, pela ordem.

- Apenas 14% das redações dos jornais geram conteúdo “real time” para as edições online, como parte de política interna das empresas. 9% o fazem por iniciativa própria; 63% o fazem ocasionalmente, e 14% não o fazem.

- Apenas 19% das unidades de internet de jornais consideram que a maior parte de seu conteúdo vem da edição impressa.

- 43% delas usam áudio e vídeo em seus sites. Nas demais, metade dizem usar esses recursos em projetos especiais. 71% afirmam que o conteúdo de áudio e vídeo é produzido pela sua própria equipe de jornalistas.

Os jornalistas responsáveis pela pesquisa são: Julio César Guzmán julguz@eltiempo.com.co e Guillermo Franco guifra@eltiempo.com.co, do jornal El Tiempo - eltiempo.com

Fonte: Site Comunique-se, 01.06.2004.

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