Notícias
14/05/2004
O
dia da imprensa baiana
Por
Luís Guilherme Pontes Tavares*
O 14 de Maio deveria ter sido reservado, desde o transcurso
do primeiro centenário em 1911, à celebração
do dia da instalação da imprensa na Bahia, ou
melhor, do dia em que estreou o primeiro jornal baiano, o Idade
dOuro do Brazil.
Na
véspera, 13 de maio de 1811, data do aniversário
do príncipe dom João, o português Manoel
Antonio da Silva Serva, que vivia em Salvador há cerca
de 20 anos, inaugurara na Cidade Baixa sua tipografia ao imprimir
o prospecto anunciando o lançamento do jornal no dia
seguinte.
Festejar o 14 de Maio é lembrar que o empresário
Serva, com sua mulher Maria Rosa e os filhos José e Manoel,
foi o pioneiro da indústria gráfico-editorial
na Bahia, tendo lançado a promissora semente de um segmento
cuja floração não foi exuberante em nosso
Estado. Apesar disso há motivos suficientes para que,
desde já, comecemos a cuidar das comemorações
do bicentenário da imprensa baiana porque logo, logo
alcançaremos o 14 de maio de 2011.
Em
1961, portanto no transcurso do sesquicentenário da data,
o bibliógrafo Renato Berbert de Castro promoveu exposição
das servinas, neologismo que ele próprio criou para agrupar
as muitas obras impressas pelas tipografias da família
Serva entre 1811 e 1843. Não seria demais se outra vez
as homenagens girassem em torno de Manoel Antonio da Silva Serva
e familiares porque há 193 anos esse primeiro empresário
do ramo da comunicação na Bahia, volumoso de corpo
e de barba, tomou a iniciativa para que a Bahia fabricasse prelo,
tipos e papel e fez de sua tipografia escola de gráficos.
Entre
1911 e 1919 ele foi quatro vezes ao Rio de Janeiro, onde faleceu,
vender publicações e serviços gráficos
e, pasmem, assinaturas do seu Idade dOuro do Brazil.
Há
muito ainda o que pesquisar sobre Silva Serva, apesar dos valiosos
trabalhos de Renato Berbert de Castro, do casal Cybelle e Marcelo
de Ipanema e de Maria Beatriz Nizza da Silva. A propósito
do livro dessa historiadora luso-brasileira - A primeira gazeta
da Bahia: Idade dOuro do Brasil (São Paulo: Cultriz;
Brasília: INL, 1978) -, a Editora da Universidade Federal
da Bahia - Edufba - está cuidando da merecida e necessária
segunda edição.
Por
certo haverá alguém interessado em prosseguir
a pesquisa sobre o tema, até porque os estudos sobre
a história da imprensa brasileira estão animados
desde 2001 pela Rede Alfredo de Carvalho, iniciativa liderada
pelo doutor José Marques de Melo, professor emérito
da Universidade de São Paulo.
A Rede realizou encontros nacionais no Rio de Janeiro, em 2003,
e em Florianópolis, no corrente ano, quando foram apresentados
muitos trabalhos sobre a história do jornalismo brasileiro.
Ela se reunirá no III Encontro Nacional em abril de 2005
em Novo Hamburgo (RS). Convém acentuar que essa efervescência
está refletida na indústria livreira nacional.
Há
hoje no Brasil, como nunca houve outrora, uma produção
de livros sobre jornalismo cuja quantidade de títulos
é um desafio a encarar. A tendência é aumentar
porque em 2008 o País comemora o bicentenário
da instalação da imprensa - foi em 13 de maio
de 1808 quando dom João autorizou a criação
da Impressão Régia no Rio de Janeiro.
Neste
14 de maio de 2004 apreciaria muito que fosse dada continuidade
ao projeto do Museu da Comunicação Jorge Calmon,
iniciativa que congregou muitas instituições públicas
e privadas sem que, no entanto, fosse adiante. O belo Forte
de São Diogo que lhe serviria de sede não é
adequado. Quiçá seja possível transferi-lo
para Cachoeira, cidade natal de Cinccinato José Melchiades
e de Ernesto Simões Filho, onde há, além
de outros tesouros, dois prelos do século XIX de indiscutível
valor.
O
atuante homenageado que empresta seu nome ao museu, o jornalista
Jorge Calmon, cujos artigos das terças-feiras nA
TARDE têm público cativo e crescente, porque ele
pratica o bom jornalismo que informa e nos move, certamente
concordaria, sobretudo por causa da vocação turística
da Heróica em Portugal, por exemplo, o Museu Nacional
da Imprensa foi sediado no Porto e não na capital.
Talvez
a direção do Museu da Comunicação
Jorge Calmon pudesse atrair a parceria da Empresa Gráfica
da Bahia - EGBA - que em 7 de setembro de 2005 estará
comemorando 90 anos de existência (foi denominada Imprensa
Oficial do Estado e Imprensa Oficial da Bahia).
*Luís
Guilherme Pontes Tavares é jornalista, produtor editorial
e professor da FIB.
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