Nº 9 - Dez. 2007 Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ANO V
 
 

Expediente

Vinculada
à Universidade
de São Paulo

 
 

 

 


 

 

 

 

 

 


MONOGRAFIAS
  Mudanças editoriais e gráficas
na sociedade da informação:

Análise dos jornais O Estado de S.Paulo
e A Tribuna de Santos (1995 a 2007)

Por Fábia Angélica Dejavite*

RESUMO

O aparecimento do jornal impresso diário está associado às necessidades de as pessoas se relacionarem com o mundo à sua volta. Esse meio foi o primeiro grande “palco” de difusão de idéias, tendências, de explicação do contexto social, econômico, político e cultural.

Reprodução

A gênese do jornal impresso está no aparecimento da tipografia como um sistema de produção em massa, cujo precursor foi Johannes Gutenberg, no século XV. No entanto, da Bíblia de Gutenberg aos meios de produção digital (Internet) neste início de século XXI, um longo e veloz caminho foi percorrido. Nesse trajeto, esse meio passou por diversas mudanças editoriais, estéticas e administrativas.

PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo impresso / Arte Gráficas / Linguagem

Na verdade, já em fins do século XIX o jornal começou a ter que lidar com a concorrência. Inicialmente, com o aparecimento da revista e do cinema. Depois, no século XX, o rádio e a televisão. O surgimento dos meios eletrônicos provocou as primeiras ondas de maior ansiedade. Teriam esses meios poderes para desestabilizar os jornais? O tempo passou e mostrou claramente que a resposta não estava na eliminação de uma mídia pela outra, e sim, na busca de reestruturação das que surgiram anteriormente.

Isso porque a história das mídias antigas e novas não pode ser narrada apenas em termos tecnológicos, também é preciso levar em consideração que a política, a economia e a cultura, por exemplo, permitem que novidades, como satélites e computadores, convivam com veteranos jornais.

Contudo, desde as duas últimas décadas do século passado (1980 e 1990), os jornais impressos diários têm sofrido, talvez, a série de mudanças mais significativa de sua evolução. Esse período corresponde ao surgimento da sociedade da informação, que, por meio das inovações tecnológicas e científicas, propicia transformações importantes nas esferas sociais, econômicas, políticas e culturais.

No âmbito das relações entre comunicação e tecnologia, o advento recente do mais novo meio - a internet – tem gerado mais velocidade na produção e na forma de obter a informação que aparece, agora, em tempo real.

Com a Internet, surgem novas maneiras de as pessoas receberem e transmitirem mensagens. Esse meio tem tornado, como a televisão, referência para modismos, efemeridades, consumo e novos formatos para as mensagens: o estilo “clip” (informação fragmentada) e o “light” (linguagem mais leve). Além de, principalmente, trazer uma forma diferenciada de interação entre o receptor e a informação.
O jornalismo, especialmente o praticado no meio impresso, não poderia deixar de ser afetado.

“Em relação aos conteúdos, as tecnologias interferem, favorecendo certas linguagens e depreciando outras [...] A precedência da imagem sobre o texto muda a importância da matéria escrita e a submete a leis mais impressionistas e aleatórias: a aparência e a dinamicidade da página é que se tornam agora decisivos” (Cf. Marcondes Filho, 2000: p.31).

Por enquanto, sabe-se que a internet não possui a configuração desejada suficiente para sepultar o jornal impresso, visto que ainda é uma mídia muito jovem e precisa quebrar preconceitos. Entre os entraves que a nova mídia enfrenta está o grande incômodo de ler longas matérias à frente de um monitor; além do alto custo de um equipamento em um país em que menos de 15% da população têm condições para isso.

Por outro lado, o jornal possui nos dias atuais várias vantagens em relação a seu mais novo concorrente. Entre elas, a relação custo/consumidor, ou seja, é mais barato pagar a assinatura anual de um jornal do que comprar um computador com os acessórios para a navegação na internet. Além de ser um meio que informa e orienta a opinião de uma parcela de cidadãos influentes em seus grupos de atuação, apresentando-se, pelo menos a médio e longo prazo, como um importante meio de comunicação para as pessoas.

De acordo com a pesquisa O Estado da Mídia Informativa 2006, [1] realizada pelo projeto pela Excelência no Jornalismo, associado à Universidade de Columbia (Nova York), “uma pergunta se faz: 2005 foi o ano em que os jornais impressos começaram a morrer”?

A questão central do debate continua a ser quanto ainda vai demorar até que o webjornalismo se torne um produto de peso e se conseguirá ser tão rentável quanto a TV e o jornalismo impresso. Com o ritmo de crescimento dos sites de notícia e dos jornais impressos, ao que parece os dois só se equipararão por volta de 2017.

Ainda segundo esse estudo da respeitosa universidade americana, os jornais gastam cada vez menos com a apuração da notícia e mais com as formas de divulgá-las. Umas das mudanças editoriais que mais expressam essa nova tendência identificada é o aumento do espaço dado a informações sobre modo de vida, comportamento e fofocas sobre celebridades. Outro dado também significante diz respeito ao crescimento cada vez maior do webjornalismo.

No Brasil, nota-se que os jornais diários impressos tradicionais brasileiros, tais como: O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, a Tribuna (de Santos), O Globo, Jornal da Tarde, entre outros,têm oferecido páginas mais leves e agradáveis. Além disso, passaram a ofertar conteúdos bem distintos de tempos atrás.

Nesse sentido, esta pesquisa procura responder a seguinte problemática: quais inovações editoriais e gráficas têm sido empregadas pelo jornal impresso diário de referência no Brasil para melhorar sua qualidade no contexto da sociedade da informação?

Para responder esta questão duas hipóteses foram levantadas:

  1. H1 - o jornal diário impresso tem se aproveitado de novos padrões gráficos (como o aumento do espaço em branco, o uso de cores e infográficos) para estimular a interação do leitor, tornando a leitura mais agradável para fazer frente ao novo formato da notícia imposto pela internet.

  2.  H2 – o jornal diário impresso tem feito mudanças em seu conteúdo – como a inserção de notícias de entretenimento – para atrair e satisfazer a necessidade do novo leitor, cidadão da sociedade da informação.

 Desse modo, o objetivo geral deste trabalho é determinar quais os tipos de inovações editoriais e gráficas foram adotadas pelo jornal impresso diário de referência no Brasil no contexto da sociedade da informação (1995 a 2007).

Entre os objetivos específicos estão: 1) analisar a evolução do mercado de jornais brasileiros ocorrida nos últimos dez anos para fazer frente à concorrência com a internet; 2) estabelecer o papel e a importância do jornal diário impresso na sociedade da informação; 3) verificar de que maneira a internet tem contribuído para as mudanças editoriais e gráficas nos jornais impressos.

Assim, parte-se da idéia de que a internet vem não só se somar às demais mídias, mas também empurrá-las para novas reestruturações.  Diante dos argumentos expostos, a escolha do tema remete, dessa forma, à necessidade de destacar a importância da aproximação das investigações científicas com a evolução do mercado jornalístico e com as mudanças operadas na sociedade nos últimos anos.

O objeto de estudo selecionado nesta pesquisa corresponde aos jornais, especificamente, O Estado de S.Paulo (nacional) e o A Tribuna, de Santos (regional). Os dois veículos fazem parte da história do país e da imprensa brasileira, já que são centenários.

Diante da complexidade do tema, opta-se em desenvolver uma pesquisa qualitativa. Esse tipo tem três características essenciais: visão holística, abordagem indutiva e investigação naturalística. Segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznajder [2]:

“A visão holística parte do princípio de que a compreensão do significado de um comportamento ou evento só é possível em função da compreensão das inter-relações que emergem de um dado contexto. A abordagem indutiva pode ser definida como aquela em que o pesquisador parte de observações mais livres, deixando que dimensões e categorias de interesse emirjam progressivamente durante os processos de coleta e análise de dados...”.

A opção por essa abordagem deve-se, principalmente, por que o tema exige, em especial, hipóteses, experimentação (confronto das hipóteses) e abstração (observação dos pontos de acordo e de desacordo dos dados recolhidos), portanto, dados qualificáveis, que comprovem a sua existência, porém de maneira menos padronizada. 

Por isso, o emprego da abordagem indutiva, processo do qual parte-se de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal.
Ainda do ponto de vista metodológico, esta pesquisa é de cunho exploratório, pois busca desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vistas na formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores em relação ao tema ainda pouco conhecido.

Empregam-se as técnicas da pesquisa bibliográfica, documental (análise dos dois jornais) e a entrevista semi-estruturada (com os jornalistas). É importante salientar que a pesquisa documental deu-se com o sorteio de um mês. A partir daí, a análise deu-se por meio do censo (teste das hipóteses em todas as edições do mês) nos anos de 1995, 1999 e 2007.

Resultados

A chegada da Internet fez com que o jornal impresso tivesse que realizar mudanças mais rápidas em vista das que ocorreram anteriormente no século XX, com o surgimento do rádio e da televisão.

O jornal impresso sempre procurou se despontar em ofertar diferentes formas de conteúdos. Um dos jornais pioneiros foi o Sun, pertencente a Benjamim Day, que, para atingir as massas, trouxe uma das primeiras redefinições do conceito de notícia, já no início dos anos de 1830, que até então relatava os acontecimentos políticos, sociais e comerciais.

Ainda no decorrer do século XIX, em face das conquistas sociais, aumentaram as opções de lazer e, conseqüentemente, o conteúdo do jornal impresso passou a ressaltar essas atividades, além, é claro, dele próprio (o jornal) ter-se tornado um instrumento de diversão. Na última década desse século, quando as empresas jornalísticas começaram a assumir seu lado comercial, esse meio atravessou um novo impulso tanto no conteúdo como no aspecto gráfico, passando a ganhar dimensões mais concretas e populares, com a imprensa sensacionalista.

Contudo, foi depois da Segunda Guerra Mundial, com o aparecimento de seu mais forte concorrente – a tevê – que o jornal realmente passou a se preocupar em oferecer informações mais específicas a seu público e tornar mais atrativo visualmente.

A tevê parece ter convertido tudo em entretenimento (por ser esse o seu discurso natural), inclusive a informação que, naquele momento, era tida como o seu antônimo. Com isso, o jornal diário impresso foi obrigado a adotar características desse seu concorrente, procurando empregar novos recursos editoriais e gráficos na tentativa de seduzir o leitor.

Em fins dos anos de 1990, com o surgimento da internet, o jornal sentiu-se novamente obrigado a procurar novas formas de veicular a informação e repensar seu papel junto ao público. Ocorreu, mais uma vez, uma nova reestruturação gráfica e editorial. Porém, as principais modificações editoriais e gráficas têm ocorrido de maneira mais rápida no período de 1995 a 2007, com o surgimento da internet.

Entre as muitas transformações efetuadas pelos veículos destacam-se a valorização do título e do subtítulo, que ganharam letras maiores e mais importância na página, sendo, agora, tão ou mais importante do que o texto. No que cabe aos títulos, a predominância ainda é para os discursivos. No entanto, o corpo foi aumentado, bem como o destaque do negrito e do espaço em branco.

Já o subtítulo, entre 1995 e 1999, havia sido substituído pelo antetítulo ou chapéu. Em 2007, teve sua função ampliada, possuindo o papel de ser a primeira chamada da matéria.

Com isso, a informação ficou mais ágil e fácil de ser entendida. Agora, é mais extenso, maior em relação ao texto da chamada. Ele vem logo abaixo do título e é valorizado pelo espaço em branco e também pelo tamanho da letra, com tipo com serifa para facilitar a leitura. No O Estado de S.Paulo, os subtítulos vieram, muitas vezes, caracterizados como um texto de webjornalismo, tendo algumas palavras destacadas em negrito, principalmente na primeira página.

Além deles, o box, o olho e o intertítulo também ganharam um novo status, tornando-se elementos  valiosos para a compreensão  da notícia. O uso desses itens deu-se gradativamente. No início eram mais explorados nas editorias de política e cultura, depois passaram a ocupar todas as editorias. O box vem agora destacado por fios e, às vezes, marcado pelo espaço em branco. Isso ocorre em matérias mais longas, em que as informações contidas são mais relevantes e merecem ser valorizadas.

Antes tanto no O Estado de S.Paulo quanto no A Tribuna, esse elemento era preterido pela matéria retranca. O olho ganhou mais espaço, possuindo um recurso gráfico para destacá-lo (fio e cor azul, além do espaço em branco). Recebeu até uma pequena retranca, a palavra Frase, denominada dessa maneira em ambos os jornais.

Surge sempre que o editor quer destacar algo sobre algum fato da página, em qualquer editoria. Muitas vezes, desempenha a função de legenda. E o intertítulo, devido a influencia da internet, nunca foi tão necessário, pois é fundamental para deixar o fato com melhor compreensão. Com isso, a contigüidade do texto foi de certa forma quebrada, pois, agora, ele vem blocado, como o é na Internet.

O texto era predominante nos anos de 1995 e 1999 em relação aos outros elementos que compõem a notícia. No entanto, observou-se que, entre esse intervalo de quatro anos, o mesmo passou a ceder espaço às fotografias e também aos infográficos. Os outros elementos gráfico-editorial, como o título, o olho, o box e os infográficos não eram tão valorizados nesse período.

No entanto, em 2007, em ambos os veículos registrou-se, também, que tanto o texto das matérias quanto o das chamadas ficaram mais curto e passaram a ser não mais o elemento relevante.

A infografia é um elemento editorial importante, que se destaca em relação ao texto (utilizado quando se precisa da linguagem visual como apoio à escrita). Tem a função no jornal diário de tornar a informação mais rápida de ser assimilada e aponta-se como a contribuição mais preciosa da internet, segundo as entrevistas empreendidas, já que surge com o desenvolvimento da tecnologia. No webjornalismo, é tido como uma das opções básicas de formato da notícia, pois agrega informação e imagem.

Há, ainda, como novidades editoriais, a valorização da fotorreportagem. A fotografia expressou-se como a vedete dos projetos gráfico-editoriais dos dois veículos, sendo a que recebeu o melhor tratamento e destaque. Hoje, possui autonomia em relação ao texto.  Aparece em todas as folhas, porém são editadas, em média, três em cada uma, para que ela tenha o espaço merecido e para que o leitor não seja bombardeado por várias informações imagéticas. Todas são coloridas. Em relação ao seu tratamento e exposição, a principal mudança ocorreu na primeira página, onde as imagens foram mais valorizadas, inclusive em extensão.

Como conteúdos, foram introduzidos diferentes assuntos dentro das editorias existentes, além de terem instituídos outros para criar uma nova interação com o leitor, como a Foto-leitor. Assuntos que não tinham importância nos anos de 1995 e 1999 passaram a sobressair em 2007, tais como as matérias sobre saúde (qualidade de vida), moda, gastronomia (que ganhou até um caderno no O Estado de S.Paulo, intitulado Paladar).

Outros conteúdos tradicionais ganharam novas abordagens, como economia, que agregou a perspectiva dos negócios; esportes, que passou a ser um caderno. E mesmo a editoria de cultura, que tem agora mais ênfase nos serviços. No O Estado de S.Paulo foi criado o Guia (que oferece serviços, lazer e entretenimento). Com essas reformulações, os jornais ampliaram a quantidade de conteúdos para o leitor com a concepção de suplementos e a “cadernização” de assuntos do dia-a-dia.
Em termos de diagramação, em 2007, a mais importante modificação foi a inserção de cores para o auxílio na “navegação” pelos cadernos.

Desse modo, todo o jornal foi mapeado para que cada editoria tivesse uma cor característica. Os tons mais clássicos e elegantes como o verde, o azul e o marrom remeteram aos conteúdos tradicionais, como política, economia e internacional. Já os cadernos ligados mais diretamente ao infotenimento (cultura e esportes) tiveram as gradações de amarelo e alaranjado.

Enfim, cada editoria ganhou uma escala cromática própria e toda peça gráfica e elemento infográfico se utiliza dessa escala cromática, de acordo onde está localizada. A cor usada como ferramenta de atenção (em chapéus de título, de página ou de algum elemento principal dentro da infografia) é o vermelho, que aparece assim em todas as páginas dos cadernos.

Nos anos de 1995 e 1999, as cores não eram exploradas pelos seus diversos matizes. Isso porque a possibilidade de inserção de cor de acordo com a tecnologia da época e a demanda por parte do leitor ainda estavam começando. Nesse período, predominava tanto nas fotos quanto nos recursos gráficos, o vermelho e o amarelo, cores tradicionais e as mais exploradas pela imprensa. Observa-se que, em ambos os anos, os jornais davam-se mais atenção ao corpo de texto das páginas do que ao título, ao “olho” e às imagens, que freqüentemente eram pequenas.

No entanto, é visível o aumento do espaço em branco. A primeira página foi a que mais explorou esse recurso, principalmente entre as linhas dos títulos e subtítulos e na separação do corpo da chamada e o título referente a ele.

O espaço em branco manifestou-se ainda para valorizar as fotos. Essa nova característica gráfica fez com que o fio -  o mais usado em 1995 - fosse preterido. O uso desse recurso deu-se também nas páginas internas. Sua diminuição, ao que tudo indica, levou a valorização do “Olho”. As letras ficaram comprimidas entre uma linha e outra.

Esse recurso aparece, hoje, com uma área de respiro e facilita a leitura, tornando a visualização dos elementos icônicos na página mais agradáveis e a informação mais compreendida. A leitura ficou, assim, mais prazerosa.

A cor usada como ferramenta de atenção (em chapéus de título, de página ou de algum elemento principal dentro da infografia) é o vermelho, que aparece assim em todas as páginas dos cadernos.

Em relação às fotografias, em 2007, usa-se apenas uma ou – no máximo – duas por página. Nas edições atuais, raramente o corpo de texto de uma matéria recebe mais espaço do que as imagens, infográficos ou ilustrações.

O espaço em branco passou a ditar a estética da folha, deixando-a mais fácil de ser lida e com melhor visualização de todos os assuntos e os vários elementos icônicos e textuais.

O fio, muito usado nos projetos anteriores de 1995 e 1999, é usado com comedimento na diagramação atual. Aparece nos cabeçalhos, no olho, no box e na assinatura das matérias. Acompanha a cor da editoria no cabeçalho.

A primeira página foi a que mais evidenciou as mudanças editoriais e gráficas. Isso pode ser constatado tanto nas entrevistas com os jornais dos veículos como na análise da pesquisa documental.

Considerações finais

Os dois jornais mantiveram o tradicionalismo conhecido, que o tornaram líderes no mercado de jornais brasileiros e em suas regiões. No entanto, se modernizaram tanto no conteúdo quanto no projeto gráfico. Em 2007, apresentam-se totalmente reformulados e bem diferentes dos anos anteriores. O processo se deu de forma gradativa para acostumar o leitor aos poucos com as diversas mudanças.

Dessa forma, em 2007, tanto O Estado de S.Paulo quanto a A Tribuna passaram a adotar definitivamente novos padrões gráficos e estéticos para tornar a leitura mais agradável e fazer frente ao novo formato da notícia imposto pela internet. Além de inserir conteúdos de infotenimento para atrair e satisfazer a necessidade do novo cidadão-leitor-consumidor da sociedade da informação.

Nesse sentido, observa-se a introdução de novos assuntos, que visaram o reposicionamento do conteúdo editorial nos dois jornais. O que se verificou é que esse meio está procurando atender a demanda de informações dos novos leitores sem, contudo, deixar de oferecer os assuntos antigos.

Eles o fazem oferecendo as notícias de infotenimento com a intenção de satisfazer os interesses e necessidades de se informar e entreter do atual receptor da mídia impressa. O aparecimento desses conteúdos deve-se, ainda, à necessidade de interagir com as camadas de leitores a serem mais atingidas – mulheres e jovens – e também com aqueles potenciais que não têm o hábito de ler um veículo impresso.

Assim, pode-se afirmar que, ao que tudo indica, as duas hipóteses foram comprovadas. O jornal diário impresso de referência tem introduzido novos padrões gráficos e de conteúdo para estimular a interação com o leitor. Além disso, têm introduzido novos conteúdos, principalmente, os de infotenimento. O intuito do emprego desses recursos é fazer frente aos diferentes formatos da notícia imposto pelos meios eletrônicos, especialmente a Internet.

Todas as reformulações editoriais e gráficas levam a constatação de que o jornal impresso diário está cada vez mais atento para interagir com o seu público, ou seja, suprir os anseios e as necessidades da sociedade na qual está inserido.

Isso porque para o receptor, além de um produto colocado à venda, a notícia deve ser tomada como um importante serviço a ser prestado. O leitor tem participado na determinação daquilo que quer receber como informação jornalística, um dos exemplos foi a seção Foto-Leitor, espaço criado pelos dois veículos. E demanda ainda um conteúdo bem característico: a notícia light (ou o infotenimento).

A notícia light é a informação efêmera, de fácil entendimento, de circulação intensa e rápida, que busca informar e divertir o público. Ao que parece, esse tipo de conteúdo nada mais é do que o desejo do receptor de receber informações que ao mesmo tempo satisfaz suas necessidades e interesses de se informar e formar, mas que também que não o deixe de distraí-lo, já que a leitura do jornal é feita geralmente no tempo destinado ao lazer e à diversão.

Desse modo, o jornalismo de infotenimentoaparece para satisfazer essa necessidade do leitor, já que fornece ao mesmo tempo dois valores principais da sociedade atual: informação e entretenimento.

Seu aparecimento mostra que, se antes o papel de entreter do jornalismo não tinha aceitação por se acreditar que esse tipo de conteúdo era desnecessário, hoje, tal função interage com perfeição com aquelas tradicionalmente reconhecidas, como informar, educar e interpretar. Além de evidenciar que a boa informação jornalística não é algo necessariamente sem humor, pesado e sério.

Também revela a preocupação por parte das empresas jornalísticas de estarem em sintonia com esse novo receptor. Essas transformações editoriais e gráficas apresentam-se como uma opção editorial inovadora, sendo um exercício autêntico do jornalismo de qualidade.

Coloca-se, ainda, como uma das muitas possibilidades para a elaboração de uma linha editorial também inovadora e contemporânea. Entretanto, nunca será igual em todos os veículos. Cada um, de acordo com suas características e seu público, deve definir a dosagem certa de quais conteúdos e recursos gráficos irá oferecer ao seu leitor, sempre tendo a ética como fiel da balança.

O fato de o jornal impresso diário realizar tais mudanças evidencia a necessidade de fazer com que o jornalismo praticado por esse meio continue a cumprir seu papel de integrador social da melhor maneira possível.

NOTAS

[1] Disponível em: www.stateofthemedia.org, 2006.

[2] ALVES-MAZZOTTI, Alda J.; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas Ciências Naturais e Sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1998. p. 131. 2 ª Ed.

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*Fábia Dejavite é doutoranda da ECA-USP e professora das Universidades Anhembi Morumbi/SP e Santa Cecília/SP.


Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro [ISSN 1806-2776]