O
preço do espetáculo:
A espetacularização da TV
no Brasil
Por
Samira
Moratti Frazão*
Resumo
Qual
seria o sucesso que faz com que a televisão
seja o meio de comunicação
mais popular da sociedade? Os canais de
televisão propõem o divertimento
e informação, ou promovem
a construção de uma realidade,
por intermédio do espetáculo?
A fim de refletir acerca de tais indagações
surgiu este artigo, baseado em obras de
jornalistas tais como José Arbex
Júnior e Eugênio Bucci, do
filósofo Ari Herculano de Souza,
bem como a análise do filme "O
preço de uma verdade", com a
finalidade de discutir alguns pontos acerca
da espetacularização da televisão
brasileira.
Palavras-chave
[Jornalismo
/ Televisão / Espetáculo]
Introdução
A
comunicação na vida do ser
humano foi passo fundamental e decisivo
para o desenvolvimento e maturidade de sua
racionalidade. Os meios de comunicação,
desde a criação da máquina
de imprensa, por Gutenberg, até a
visão de uma aldeia global, por Marshall
McLuhan, e sua literal existência
através de cientistas da era high
tech, como Bill Gates, fortificam a
questão de que sem a comunicação
não há sistema organizacional
em uma grande empresa e no próprio
Estado, tampouco uma vida harmoniosa em
sociedade.
Prova
desta afirmativa é que a televisão,
cada vez mais aperfeiçoada e renovada,
é o meio de comunicação
mais popular entre a grande massa e a elite.
Suas ondas informatizadas chegam aos lares
dos ricos e, quase integralmente, entre
a camada popular, nas casas das periferias
e favelas.
Por
ser um veículo de caráter
popular, já que tem seu preço
reduzido em face de outros meios - perdendo
apenas para o rádio que, apesar de
não estar mais em sua fase áurea,
custa menos que o próprio aparelho
de televisão - possui características
e qualidades não pertinentes a outros
meios.
O
rádio, por exemplo, teve sua fase
áurea nos meados das décadas
de 30 a 50, até o surgimento da TV
no Brasil. Seu desprendimento e apego por
parte da população se deram,
contudo, devido ao fato de que a televisão
proporciona a fusão magnetizadora
de imagens e som, ao passo que o rádio
proporciona apenas o último.
Todavia,
a fusão de imagem e som garante o
sucesso que o aparelho de TV tem hoje, não
só no Brasil, mas também no
mundo? Ou há, juntamente com esta
premissa, outros pontos que contribuem para
o sucesso deste veículo? Outro ponto
a ser considerado é que mesmo com
o advento das telecomunicações
e, com elas, a Internet, a TV continua sendo
peça chave na construção
e formação de opinião
do público em geral. O mesmo tem
acesso a jornais, revistas e outros veículos
que também garantem entretenimento
e informação, mas a TV faz
parte da "vida familiar". Uma
casa sem televisão não faz
parte da normalidade e vida cotidiana das
pessoas.
Em
face de tais indagações surgiu
este artigo, com a finalidade de propor
a reflexão e debate dos leitores
e público em geral sobre o papel
da televisão na vida das pessoas,
seu poder de coerção, hipnose
e informação, além
de sua popularidade, tanto no quesito de
informação, quando de entretenimento.
Com
base em obras de jornalistas tais como José
Arbex Júnior, Eugênio Bucci,
o especialista em Ciência da Comunicação,
Flávio Calazans, do filósofo
Ari Herculano de Souza, bem como a análise
do filme "O preço de uma verdade"
sobre a história do jornalista americano
Stephen Glass, foi elaborado este artigo,
com a finalidade de discutir alguns pontos
acerca da espetacularização
da televisão brasileira como um todo.
Televisão:
o magnetismo mágico ou manipulado?
As
pessoas, inerentemente, necessitam de informações
para saber as medidas que deverão
tomar ou como deverão agir. Por exemplo:
os paulistanos precisam saber se as vias
de acesso às demais regiões
da cidade estarão livres ou se haverá
congestionamento em determinado horário
do dia. Por esta razão, é
fundamental ouvirem ou verem um noticiário
para saber notícias acerca do fator
'congestionamento de carros' ou mesmo rodízio.
O ser humano não precisa, necessariamente,
saber somente as notícias, mas também
precisa de divertimento e entretenimento,
o qual também pode ser obtido através
dos meios de comunicação.
A
televisão proporciona tanto informação
quanto entretenimento, com uma vantagem:
une imagens em movimento, muitas vezes em
tempo real, somando-se a isso o fator som,
para expressar conceitos, informar ou entreter.
O rádio, por exemplo, apenas emite
som, enquanto que os jornais e revistas
possuem imagens e leitura, mas de forma
estática, fazendo com que os ouvintes
/ leitores "imaginem" o que ouvem
/ lêem para interpretar e compreender
a mensagem.
Dessa
forma, se estaria desvendando o porquê
do magnetismo da televisão na vida
das pessoas, já que absorção
da mensagem pelo interlocutor é facilitada
pelo fator imagens reais e em movimento,
e som.
Eugênio
Bucci [1] faz uma comparação
entre o rádio e a TV, e o poderio
do segundo veículo, em seu livro
"Sobre ética e imprensa":
"O
poder da TV é bem maior que o do
rádio, pois este tem uma audiência
pulverizada em quase 3 mil emissoras,
que em sua maioria não se estruturam
em redes nacionais, enquanto a TV tem
platéias verdadeiramente nacionais.
(...) Priolli [2] lembra também
que, de acordo com o Grupo de Mídia
de São Paulo, apoiado em pesquisas
do instituto Marplan Brasil, 98%
da população entre dez e
65 anos via TV pelo menos uma vez por
semana e que, sozinha, a TV atraía
duas vezes mais público do que
todos os meios impressos, aí computados
também os livros, além de
jornais e revistas".
Os
programas exibidos pelos canais abertos
da televisão mesclam informação
mais distração, em sua maioria.
Desde os noticiários aos programas
de auditório (de perguntas e respostas
até shows musicais) a TV promove
sensações e vivências
cada vez diferentes aos telespectadores.
Apesar de se adaptar com a rotina, o ser
humano é atraído pelo diferente,
ousado, ou seja, pelo que é espetacular,
fora do comum, uma das explicações
pelas quais as pessoas gostam de assistir
a filmes de terror ou aventura, ou mesmo
ver cenas de fatos reais pelo noticiário,
envolvendo guerras, violência ou corrupção.
Assim
sendo, os canais de televisão existentes
- que compõem, sumariamente, uma
parcela considerável da grande mídia
de massa - almejam diversificar dia após
dia o conteúdo repassado aos telespectadores,
a fim de manter a audiência desejada,
ou seja, fidelizar, permanentemente, o seu
público. Para conseguir essa fidelidade,
entretanto, somente a diversificação
dos programas bastaria ou seria necessário
praticar padrões e formas de se obter
a audiência, por intermédio
da manipulação?
A
rejeição de programas educativos
Com
a finalidade de se obter audiência,
cada vez mais os canais de televisão
propõem uma programação
voltada para o sensacionalismo, além
de incentivar esta prerrogativa na mente
das pessoas. Dessa forma, o público
preferirá assistir e, conseqüentemente,
render audiência a programas nos quais
a pauta do dia seja tudo o que é
fora do comum, onde se explora o que é
"novo", desejado, atraente. Com
isso, o onhecimento e as programações
voltadas para a formação educativa
são esquecidas ou evitadas.
As
notícias, bem como a programação
focada no entretenimento, que possuem cunho
sensacionalista e espetacular, geralmente
contêm um teor violento, corrupto
(tanto político, quanto financeiro
ou sexual), bem como a incitação
à sexualidade, etc.
"Segundo
a ONG Movimento Internacional pela Paz
e não-Violência (Movpaz),
as crianças brasileiras assistem,
entre os 3 e 10 anos de idade, a 107 mil
cenas de violência e mais de 40
mil tiros por ano. No Ceará, chega-se
ao cúmulo de 13 horas diárias
de programas de 'mundo cão' na
TV. É recorde no Brasil".
[3]
Neste
contexto, toma-se como exemplo a programação
infantil, especialmente os desenhos animados.
Em sua totalidade, os desenhos que contêm
cenas de violência dão maior
audiência do que os desenhos puramente
educativos. Na criação de
tais desenhos violentos, costuma-se empregar
as mais variadas formas de mensagens subliminares,
seja por texto, imagem ou mesmo cor, a fim
de que se haja a "fidelização"
do público infantil para com o desenho
animado em questão, ou mesmo para
que haja o consumo dos produtos que envolvem
a marca do programa.
Algo
semelhante ocorre com a biomidiologia, descrito
por Calazans [4], onde um acidente envolvendo
crianças japonesas que assistiam
determinado desenho animado estilo "mangá"
mostrou que o programa em questão
emitiu, em uma determinada parte do capítulo,
mais de 50 imagens super coloridas (que
seriam as mensagens subliminares) em apenas
5 segundos, o que fez ocasionar a "confusão"
no cérebro de tais crianças,
ocorrendo os ataques epilépticos,
posteriormente. Ao serem hospitalizadas,
foi-se detectado a razão dos ataques,
já que a maior parte das crianças
assistiu ao desenho animado antes de sofrerem
à convulsão.
O
espetáculo serve para mascarar a
realidade
O
espetáculo é criado para tentar
realizar uma busca para mascarar a realidade
do telespectador. São criados moldes
alienativos e introduzidos no imaginário
popular, incentivando a comercialização
de um produto ou marca, além de desviar
a atenção do telespectador
da realidade. Pode-se relembrar o caso da
Copa do Mundo da década de 70, com
o apogeu da TV em cores.
Pelé,
consagrado "Rei do futebol" serviu
também para que fosse concentrada
a atenção da população
na então mais nova sensação
tecnológica (TV em cores) bem como
no futebol, fazendo com que estes esquecessem
ou não dessem atenção
aos atentados cometidos a qualquer civil
considerado subversivo, por exemplo.
A
"conversão" da realidade
em espetáculo acontece de forma constante,
indiretamente, com o propósito de
que o telespectador não saiba da
realidade tal qual ela é. Contudo,
fatos já aconteceram nos quais a
manipulação / espetacularização
da mídia foi desmascarada. Um exemplo,
que inclusive virou filme - intitulado "O
preço de uma verdade" -
foi o caso do jornalista Stephen Glass,
articulista da revista americana "The
New Republican", um dos mais lidos
e prestigiados periódicos.
Em
1998, Glass foi desmascarado pelo jornalista
da revista virtual "Forbes",
Adam Penenberg, o qual verificou que o artigo
"O paraíso Hacker",
escrito por Glass, era fruto de sua imaginação.
Posteriormente, o editor chefe da revista
na qual Glass atuava descobriu que, dos
41 artigos escritos por ele, 27 continham
dados irreais. Um fato que lhe custou toda
a carreira.
As
programações de cunho educativo,
cultural ou de conhecimentos gerais perdem
espaço na grade midiática
dos grandes canais de comunicação
para programações, em suma,
que evidenciam o entretenimento e a propaganda.
Seja nas novelas ou em um reality show,
a publicidade de produtos está bastante
presente, em detrimento de informações
vitais, notícias ou outro fator relevante
para o conhecimento do público em
geral.
Ivo Lucchesi [5], em artigo escrito para
o site "Observatório
da Imprensa", analisa justamente
o porquê de o público ofertar
atenção a um dos reality
shows mais famosos no Brasil: O "Big
Brother Brasil", transmitido pela
"Rede Globo", em sua 7ª
edição, bem como às
novelas:
"O
programa se mantém exatamente porque
nada nele há capaz de representar
ameaça ao espectador. Levando-se
em conta que a história da sociedade
brasileira, por trás da máscara
da alegria, abriga incertezas (inflação,
carências habitacionais) e, principalmente,
medo (escravidão, ditadura, desemprego,
expansão da violência urbana),
somados à fragilidade de uma cultura
basicamente midiática, não
causa estranheza que famílias se
plantem diante de um televisor no qual
encontram um formato que, sem dar-lhes
nada, nada lhes tira. (...) À circularidade
do formato do programa, agrega-se a vacuidade
do conteúdo. A fórmula,
pois, retira do público, a sensação
incômoda tanto das incertezas quanto
do medo. As novelas também adquiriram
igual perfil. O imaginário brasileiro,
há décadas, se alimenta
do cotidiano pequeno e imediato".
Telejornais:
a notícia descartável
Segundo
Arbex Jr. [6], o telenoticiário interfere
nos acontecimentos com o intuito de alcançar
objetivos políticos ou econômicos,
conforme relatou em sua obra intitulada
"Showrnalismo: a notícia
como espetáculo":
"A
televisão (...) não é
mera 'observadora' ou 'repórter':
tem o poder de interferir nos acontecimentos.
O telenoticiário diário
adquiriu o estatuto de uma peça
política, cuja lógica é
determinada pelas relações
de cada veículo da mídia
com o sistema político, financeiro
e econômico do país ou região
em que se encontra".
Desta
forma, a televisão contribui para
contaminar a criticidade do público,
impedindo que o telespectador consuma a
notícia composta de realidade, para
a partir de então fazer suas críticas
ou ter uma opinião própria
a respeito. Assim não o faz, já
que recebe uma opinião pré-formatada
do apresentador de telejornal que, na maioria
dos casos faz parte do pequeno grupo de
formadores de opinião no país.
"A mídia cria diariamente a
sua própria narrativa e a apresenta
aos telespectadores (...) como se essa narrativa
fosse a própria história do
mundo" [7].
Eugênio
Bucci [8] faz uma analogia interessante
sobre o telejornalismo e as novelas:
"O
noticiário da atualidade constrói
pequenas novelas diárias ou semanais
cujos protagonistas são tipos da
vida real absorvidos por uma narrativa
que funciona como se fosse ficção.
Programas jornalísticos na televisão
desenvolvem-se como se fossem filmes -
de ação, de suspense, de
romance, de horror. (...) a seqüência
dramática do telejornalismo é
precisamente melodramática, segue
a estrutura das narrativas das telenovelas,
que fundaram no público nacional
o ato de ver televisão. É
esse o estilo brasileiro pelo qual a imagem
preside a notícia. O massacre de
trabalhadores sem-terra em Eldorado dos
Carajás, no interior do Pará,
em abril de 1996, só foi a manchete
porque veio acompanhado de cenas vibrantes".
O
público, na ânsia de ver o
"próximo capítulo"
do espetáculo da vida "real",
assiste diariamente as notícias,
refletindo-as muito superficialmente. E,
dessa forma, a televisão cria uma
atmosfera na qual o público absorve
aquilo que os donos dos grandes canais de
TV desejam que seja absorvido, como se fosse
o real acontecimento dos fatos.
Há
uma explicação aparente para
a inexistência da consciência
crítica, por parte dos telespectadores
e público em geral. Segundo Ari Herculano
de Souza [9], o indivíduo não
consegue desenvolver uma consciência
crítica - a qual possibilitaria que
ele se "defendesse" das manipulações
e modos alienativos pregados pela TV - devido
a uma "barreira" ideológica
criada por uma pequena parcela da sociedade:
os indivíduos de classe alta e o
seleto grupo de formadores de opinião.
E faz a seguinte afirmação":
"Você
já percebeu que, quando uma notícia
que relata alguma crise social ou política
é apresentada - por exemplo, uma
greve -, em seguida se apresenta uma outra
notícia que tenha um tom espetacular,
de curioso, de fantástico? É
que assim, quando não se puder
calar diante de uma crise social ou política,
ela é apresentada em meias e rápidas
palavras, seguidas de notícias
que impedem o espectador ou o ouvinte
de refletir sobre a crise. Assim, neutralizam-se
a difusão e o resultado da notícia
dada. Trata-se de uma forma de impedir
que o indivíduo tome consciência
da realidade concreta".
Para
que essa construção de uma
outra realidade alcance sucesso, conta-se
também com outro fator determinante:
o problema da amnésia permanente
dos telespectadores e público em
geral. Com a disseminação
rápida das informações,
as notícias são descartáveis,
já que a cada minuto há a
reformulação da mesma informação
ou a presença de uma nova.
Na
TV algo semelhante tende a ocorrer no caso
dos telejornais, uma vez que as informações
são passadas rapidamente e com várias
imagens.
Assim
sendo, o telespectador não consegue
acompanhar com igual rapidez as informações,
contribuindo, ainda, para que não
haja tempo para que este faça seu
ponto de vista ou reflexão a respeito.
Há
fatores subliminares que também levam
o público a acreditar e desejar assistir
a determinados tipos de programações.
O apelo à subliminaridade, segundo
Flávio Calazans [10], é manipulador,
conforme explana em seu livro "Propaganda
Subliminar Multimídia" sobre
o emprego da subliminaridade em telejornais,
por intermédio da superposição
de imagens e som de forma rápida:
"A
saturação subliminar é
resultante da falta de tempo para pensar
nas imagens. (...) Esse é o ritmo
do videoclipe e até do telejornalismo,
cuja força manipuladora reside
na rapidez com que é transmitida
muita informação diversificada,
passando no subtexto, nas entrelinhas,
toda uma visão de mundo ou ideologia
das agências de notícias
que selecionaram o material distribuído".
Logo,
com a rapidez da informação
e a sua reformulação ou renovação
constante, a tendência é que
tais notícias sejam consumidas e
posteriormente esquecidas pelo público.
As novelas e demais programações
de entretenimento, além de serem
responsáveis pelo empobrecimento
cultural - haja vista que em sua maior parte
não incentivam a cultura ou educação
- também são fator determinante
para que haja a constante "amnésia"
na mente do público, já que
os telejornais têm sua transmissão
intercalada com esse tipo de programação.
O
público, por conseguinte, é
condicionado a se interessar pelo novo,
não refletindo se as informações
que está consumindo fazem sentido,
correspondem com a realidade, ou se o prejudicarão
ou beneficiarão em longo prazo. As
informações descartáveis,
minuto a minuto, são fundamentais
para que haja a amnésia, já
que o telespectador esquecerá facilmente
o que acabou de ver, para prestar atenção
no "novo".
Algumas
ferramentas para construir uma nova realidade
A
construção do imaginário
popular e a manutenção da
amnésia constante ajudam a potencializar
as ferramentas pelas quais as grandes empresas
televisivas utilizam para distrair o público,
desviando sua atenção dos
fatos e mantendo a audiência de determinado
programa. No caso das notícias transmitidas
pelo telejornal, alguns meios são
comumente empregados.
Niceto
Blásquez [11] detalhou alguns padrões
utilizados pela grande imprensa - especialmente
a televisão - para alterar, omitir
ou rejeitar a veracidade dos fatos, os quais
seguem resumidos abaixo:
-
Via da citação: onde
a notícia é passada omitindo
detalhes nos quais poderia ser percebida
a notícia como um todo e não
cortada;
- Via
da reconstrução:
na qual a notícia é construída
novamente pelo profissional que a manuseia,
da forma como este deseja informar os
fatos ou como a empresa jornalística
em questão assim preferir;
- Via
do comentário:
a opinião do jornalista (apresentador,
comentarista, articulista) é levada
em consideração, sobre o
fato exposto;
- Via
da ocultação:
na qual um fato de grande relevância
é exposto apenas com uma versão
dos fatos;
- Via
de mudança:
a qual discute que o silêncio e
a mudança têm seus efeitos
comparados á censura;
- Via
do silêncio:
também chamada "Dissertização
audiovisual" ocorre quando o silêncio,
ou seja, a omissão dos fatos se
dá intencionalmente, seja por interesses
ideológicos, funcionais, dogmáticos
ou políticos.
Os
grandes canais de comunicação
utilizam alguns desses meios, com o intuito
de construir a "realidade" que
lhes convêm, repassando esta nova
realidade ao público. Arbex Júnior
[12] retrata tal afirmativa em uma passagem
do seu livro:
"A
mídia cria diariamente a sua própria
narrativa e a apresenta aos telespectadores
(...) como se essa narrativa fosse a própria
história do mundo. Os telespectadores,
embalados pelo 'estado hipnótico'
diante da tela de televisão, acreditam
que aquilo que vêem é o mundo
em estado 'natural', é 'o' próprio
mundo".
A
criticidade é a solução?
A
criticidade do público e, posteriormente,
o domínio da mente crítica
em lugar da alienada seria uma solução
para que os telespectadores não se
deixassem influenciar pela TV? Segundo Arbex
Júnior [13]:
"O
leitor pode 'garimpar' a 'verdade da notícia'
mediante a confrontação
da versão construída por
determinado veículo, com a versão
apresentada por outros veículos
de comunicação e com seus
próprios conhecimentos e convicções.
Mas esse processo só será
eficaz se mantiver no horizonte a idéia
do trabalho jornalístico sempre
como o resultado de uma rede extremamente
complexa de interesses (...)".
Pois,
apesar do poder que a televisão possui,
"... não é verdade que
ela sempre consiga impor livremente qualquer
versão dos fatos" [14]. Poder-se-ia,
então, afirmar que com a criticidade
do público em geral, as liberdades
de informação e expressão,
bem como de escolha, se fariam concretas,
já que se estaria desenvolvendo uma
própria opinião, em detrimento
das pré-formatadas que a televisão
fornece, seja pelo articulista do jornal,
seu apresentador ou intelectuais da mídia
em geral.
Tal
medida significaria, portanto, assistir
ao espetáculo, sem se deixar envolver
pela manipulação que há
por detrás da mensagem. Ao passo
que a TV lhe proporciona mensagens com imagens,
que mecham com a emoção, o
telespectador terá senso crítico
para deduzir e afirmar se tal mensagem é
válida ou não.
O
radicalismo de deixar de assistir determinados
programas de TV, contudo, não seria
a solução desse problema.
Tampouco as grandes organizações,
detentoras de canais de TV irão mudar
suas ideologias e perder seu "poder".
Há que se considerar, ainda, que
não somente a TV proporciona o espetáculo,
mas outros veículos de comunicação
também podem proporcioná-lo.
A TV é enfatizada aqui, haja vista
que tem maior popularidade entre a sociedade.
A
possibilidade aparente seria, então,
cultivar o próprio ponto de vista
acerca das informações consumidas,
assim como consumir informações
de outros canais de TV e veículos
de comunicação (como jornais,
revistas, Internet e rádio) para
tirar as suas próprias conclusões
a respeito da notícia.
Esta
deveria ser a idéia propagada pelos
meios de comunicação - e,
inclusive, são poucos que assim o
fazem, raras vezes - e não a construção
de um espetáculo alienador e sensacionalista,
no qual a platéia, que são
os telespectadores, a tudo vê impassível
e a tudo aplaude, sem romper limites.
Notas
[1]
BUCCI, Eugenio. Sobre Ética e
Imprensa. (2000, p. 139).
[2]
PRIOLLI, Gabriel. Apud BUCCI, Eugenio. Op.
Cit., p.139.
[3]
GIRÃO, L. E. Apud: PASCHOAL, Engel.
"Cultura da violência
ou da paz? Você decide".
(2007, p. 36).
[4]
CALAZANS, Flávio. Propaganda Subliminar
Multimídia. (2006, p. 185-194).
[5]
LUCCHESI, Ivo. "Os reality shows
e o país das continhas". (2007).
[6]
ARBEX JR., José. Showrnalismo:
a notícia como espetáculo.
(2001, p. 98).
[7]
Ibidem. (2001, p. 103).
[8]
BUCCI, Eugenio. Op. Cit., p. 142-143.
[9]
SOUZA, Ari Herculano de. Ideologia.
(s.d.).
[10]
CALAZANS, Flávio. Propaganda subliminar
multimídia. (2006, p.49).
[11]
VILCHES, Lorenzo. Apud: BLÁSQUEZ,
Niceto. Ética e meios de comunicação.
(1999, p. 501-505).
[12]
ARBEX JR., José. Op. Cit., p.103.
[13]
Ibidem (2001, p. 136).
[14]
Ibidem (2001, p. 136).
Fonte
audiovisual
"O
Preço de uma Verdade" (Shattered
Glass, EUA, 2003). Direção:
Billy Ray. Produção: Baumgarten
Merims. Elenco: Hayden Christensen, Peter
Sarsgaard, Chloë Sevigny, Steve Zahn.
Lions Gate Films, DVD, 93 min., NTSC
Dolby Digital 2.0.
Referências
bibliográficas
ARBEX
JR., J. Showrnalismo: a notícia
como espetáculo. São Paulo:
Casa Amarela, 2001.
BLÁSQUEZ,
N. Ética e meios de comunicação.
São Paulo: Paulinas, 1999.
CALAZANS,
F. Propaganda subliminar multimídia.
São Paulo: Summus, 2006. (Novas
buscas em comunicação; Vol.
42). 7ª ed.
GIRÃO,
L. E. Apud: PASCHOAL, E. "Cultura da
violência ou da paz? Você decide".
A Tribuna. Vitória, 25mar.2007.
Economia, p. 36.
LUCCHESI,
I. "Os reality shows e o país
das continhas". Observatório
da Imprensa. Disponível em: <http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=422TVQ
001>. Acesso em: 01mar2007.
SOUZA,
A. H. "As formas de consciência
e a ideologia". In: Ideologia.
[s.n.t.].
*Samira
Moratti Frazão é graduanda
do curso de Comunicação Social,
com habilitação em Jornalismo,
pelo Centro Universitário São
Camilo/ES. E-mail: samiramoratti@gmail.com.
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