Monografias
Jornalistas:
o sindicato no dilema
entre a militância e o profissionalismo
Por
Marco Antônio Roxo da Silva*
"Ao
contrário de todo mundo, os jornalistas passaram os últimos
dez anos amargando a imagem de uma greve fracassada."
Perseu Abramo, 1989
No
dia 23 de maio de 1979, os jornalistas de São Paulo pararam
suas atividades. Reivindicavam duas coisas: 25% de aumento salarial
e imUnidade para os representantes sindicais nas redações.
O sindicato patronal ofereceu 16% de antecipação
a ser descontada na data base da categoria, em dezembro do mesmo
ano. Diante do impasse, o Tribunal Regional do Trabalho, no
dia 28 do mesmo mês, julgou a greve "ilegal".
O resultado abriu espaço para a retaliação
das empresas que iniciaram um processo de demissão em
massa dos grevistas.
A
pergunta que se impõe é: o que essa greve tem
de tão importante para se tornar objeto de pesquisa?
A princípio estamos diante de um conflito trabalhista,
com reivindicações econômicas pertinentes
a um período inflação alta e de uma luta
do sindicato dos jornalistas para ampliar o seu poder de representação
no local de trabalho. De forma geral, são demandas típicas
da época, marcada pelo surgimento do "Novo Sindicalismo",
da reorganização da sociedade civil, da luta desta
pela anistia de presos políticos e pela redemocratização
do país. Um clima no qual "todo mundo fazia greve".
(Abramo, 1997).
Porém,
na memória de um ativista sindical, jornalista e chefe
do comitê de greve, Perseu Abramo, a paralisação
foi interpretada em outros termos: "ela representou a culminância
de um processo que se inicia nos anos setenta, de retomada do
sindicato, de luta contra a censura e de resistência à
identificação ideológica dos jornalistas
com as empresas jornalísticas". (Abramo, 1997).
Segundo
Perseu, a derrota da greve teve como conseqüência
à imposição por parte das empresas de um
"novo jornalismo", yuppiezado, acrítico, distante
de causas coletivas e de um projeto nacional, no qual valores
como a objetividade e a imparcialidade escondem os interesses
particulares dos donos dos meios de comunicação.
(Abramo, 1997 e Kucinski, 1998).
Já
Bernardo Kucinski trata a greve como uma ruptura ao processo
de cooptação dos jornalistas ao processo de abertura
"lenta, gradual e segura" proposto pelos militares
e ao qual as empresas jornalísticas, segundo o autor,
haviam aderido. Dada a adesão das empresas ao projeto
dos militares, a derrota da greve fez, segundo ele, que os jornais
instaurassem um processo demissionário que seguiu um
"padrão ideológico". Foi, para o autor,
um expurgo "dos quadros mais qualificados, que se haviam
insurgido ou conquistado mais autonomia durante as últimas
fases do regime militar" (Kucinski, 1998).
Seguindo
o pensamento dos dois autores, podemos pensar na hipótese
da greve como um ponto de inflexão, como um momento de
mudança no qual diferentes concepções de
jornalismo estavam em conflito. Tomamos a paralisação
de maio de 1979 como uma referência para discutirmos os
processos em disputa na definição da identidade
do jornalista. Situamos a luta sindical num contexto no qual
as disputas iam além da questão salarial no qual
não estava somente em jogo a recuperação
de um status econômico ou a definição da
categoria jornalista em "strito sensu". Mas, três
concepções de identidade em conflito, em que podemos
idealmente tipificar o jornalista seja como "trabalhador",
"intelectual" ou "profissional". A greve
de 1979 seria tomada como um processo de renegociação
de lugares e como um momento dramático de luta em torno
da redefinição da autoridade profissional.
Na
nossa hipótese, a ação sindical procurou
reiterar a identidade do jornalista enquanto "trabalhador"
em detrimento de outras formas de representação
da profissão mais sedimentadas, principalmente a do jornalista
enquanto "intelectual". Essa era uma imagem presente
tanto na grande imprensa quanto na imprensa alternativa. No
campo jornalístico, o ativismo sindical procurava engendrar
um pólo de resistência às "imposições
comerciais" e a "padronização de notícias".
O que nos leva para a questão do controle dos jornalistas
nas redações das grandes empresas e a luta dos
mesmos pelo resgate de sua "autonomia interpretativa".
Esses
três tipos, o jornalista "trabalhador", o jornalista
"intelectual" e o jornalista "profissional"
não eram os únicos e nem se apresentavam claramente
em todos os jornalistas. Mas eles nos permitem situar os conflitos
de valores existentes na profissão no recorte sincrônico
da greve e estabelecer "conexões de sentido"
entre as diversas polarizações existentes entre
os jornalistas no exame diacrônico das tradições
presentes na profissão. Ao se falar da hegemonia de um
"novo jornalismo", podemos perguntar: que tipo de
relações de poder passou a vigorar na imprensa
após 1979? Quais as normas e os valores que passaram
a organizar as práticas sociais dos jornalistas? Que
tipo de responsabilidade política eles passaram a assumir?
Enfim, como se redefiniu o papel social do jornalista?
É
evidente que um conjunto de questões tão amplas
não podem ser contempladas num artigo. Este trata de
aspectos preliminares de uma pesquisa de mestrado em desenvolvimento.
Entre as diversas fontes bibliográficas e empíricas,
este trabalho privilegiará o jornal do Sindicato de Jornalistas
Profissionais de São Paulo, o Unidade, se concentrando
entre janeiro de junho de 1978.
O
período escolhido tem importância por dois acontecimentos.
Um, a histórica greve dos metalúrgicos do ABC,
em maio do mesmo ano, que inaugura e dá visibilidade
ao chamado "Novo Sindicalismo". Outro, a mudança
de diretoria que ocorreu no Sindicato dos Jornalistas. Para
nós, a conjunção desses dois eventos nos
permite visualizar nas páginas do Unidade uma
intensificação das demandas sindicais e uma crescente
aproximação entre jornalistas e setores típicos
dos trabalhadores. Assim, apesar de não estarem dissociadas,
demandas mais amplas, como liberdade de imprensa, contempladas
na gestão anterior, ficaram atreladas a dinâmica
da luta de classes. A escolha da fonte se justifica pois o projeto
do Unidade era de um jornal de "luta" e uma
"tribuna", um "fórum" para a discussão
de problemas da categoria, entre os quais problemas inerentes
a prática jornalística.
O
que nos interessa, mais especificamente, é investigar
os motivos pelos quais as perspectivas de luta do Novo Sindicalismo
contaminaram os jornalistas, reconstruindo suas identidades
a ponto de lhes proporcionar uma consciência de classe.
E de que modo essa consciência de classe procura impor
uma ética ao jornalista, redefinindo o seu papel social.
O que nos interessa não é a dinâmica da
greve em si, mas o processo de construção da identidade
do jornalista como "um assalariado como outro qualquer".
Neste
sentido, o artigo fará uma apresentação
dos tipos ideais propostos para a análise tentando inseri-los
nas tradições políticas e jornalísticas
ainda presentes no cenário brasileiro; um deslocamento
para um confronto muito comentado a respeito da transição
do jornalismo dos anos 70 para os anos 80 ou seja a transição
do jornalismo "político" para a "esfera
de mercado"; uma rápida apresentação
das identidades políticas presentes no "Novo Sindicalismo"
e o que elas trazem de ruptura quando os "novos atores"
emergem na "esfera pública" de forma autônoma;
e o trabalho de análise do jornal Unidade.
O
jornalista e a construção de uma consciência
de classe
Ao
abordar uma luta de classe através da greve, assumimos
a perspectiva de EP Thompson, de entender classe como categoria
construída no decurso do processo histórico. Desse
ponto de vista, o conceito possui dois significados. Um primeiro
pensado para categorias típicas da sociedade capitalista
industrial, como forma de reconhecer os antagonismos e contradições
desta. Sua utilização dá conta de um fato
histórico que se situa num contexto no qual já
existe uma cultura de "classe" madura, formada pela
institucionalização de sindicatos, partidos e
centrais sindicais.
Outro,
para ajudar a evidenciar os antagonismos entre grupos sociais
em que não existe esta cultura de classe ou ela é
fluida e fragmentária. Neste caso não podemos
pensar classe ou a consciência de classe como categorias
pressupostas. Porém, a descoberta de interesses antagônicos
desperta o sentimento de oposição entre esses
distintos grupos e essa polaridade gera luta. É durante
a luta que as pessoas se identificam como classe. O conceito
ganha um sentido analítico e processual em que "classe
não é o primeiro, mas o último degrau de
um processo histórico real" (Thompson, 2001).
Neste
sentido, podemos trabalhar com a hipótese de que os jornalistas
articularam a identidade de seus interesses em oposição
aos interesses de outro grupo social. O sentimento desse antagonismo
gerou debates, posicionamentos e atitudes e, no desenvolvimento
desse processo de luta, os jornalistas se descobriram como classe.
Fizeram isso dotados de atributos culturais herdados de um passado
em comum. Nestes termos, a consciência de classe é
uma criação coletiva que sistematiza e dá
sentido a um conjunto heterogêneo de valores necessários
para se pensar e refletir sobre as atitudes a se tomar diante
do impacto das novas e grandes estruturas sociais, entendidas
em termos marxistas como relações de produção.
(Thompson, 2001).
A
identidade de um grupo social não implica na inexistência
de conflitos ou diferenças entre seus membros. Podemos
pensar na polaridade que existiu entre a militância sindical
dos anos 70, que procurou criar uma identidade do jornalista
enquanto "trabalhador", e na tradição
romântica, literária, boêmia e interventora,
que aproximava o jornalista de um "intelectual". Em
termos de identidades políticas pode-se pensar na crescente
influência do Partido dos Trabalhadores em detrimento
da centralidade do Partido Comunista Brasileiro ou de outros
grupos de esquerda que viveram a atmosfera romântica dos
anos 60 e 70. Em que termos podemos associar as dissidências
políticas e jornalísticas que se deram no período?
É uma questão a se examinar numa pesquisa mais
ampla e cuidadosa.
Classe
como categoria analítica nos ajuda a pensar na identidade
do jornalista enquanto "trabalhador" e na retomada
da atividade sindical como uma possível via de contribuição
para criar, entre os jornalistas, uma tradição
de luta que inexistia até aquele momento. Anterior a
greve de 1979 só se tem notícia do movimento de
1961. A situação do jornalista era, então,
diferente com metalúrgicos, bancários e outras
categorias, no qual a participação em diversos
movimentos coletivos ou particulares no período do chamado
"populismo", ou mesmo anterior a ele, criou uma memória
de luta. Portanto, essas categorias já possuíam
uma consciência de classe "madura", na qual
os jovens podiam ser socializados.
O
jornalista e o exercício de sua "autonomia interpretativa"
O
papel de mediação e de formação
de consenso político entre as diversas forças
da sociedade nos aproxima da concepção de Antônio
Gramsci, no qual os jornalistas são funcionários
do conjunto de instituições das superestruturas.
Seja em instituições da sociedade civil, imprensa,
jornais alternativos, partidos, sindicatos ou da sociedade política,
o Estado. Daí, sua aproximação com um intelectual
"orgânico". Pensar o jornalista nestes termos
significa vê-lo dotado de uma autonomia frente ao duplo
limite representado pelo Estado e pela Indústria Cultural
(Faro, 1999). Essa postura autônoma, no contexto do processo
redemocratização, punha os jornalistas que participavam
dessa luta numa tensão entre a repressão do regime
autoritário imposto em 1964 e a sedução
e a cooptação monetária, representada por
cargos de direção e postos chaves nas empresas
jornalísticas (Faro, 1999).
Ao
pensar sobre as modernas sociedades industriais do século
XX, Gramsci viu a crescente autonomização da sociedade
civil frente ao Estado. Foi sobre os conflitos existentes na
sociedade civil que o autor transferiu o seu olhar. Neste sentido,
a conquista da hegemonia política e cultural passou a
antecipar a conquista do poder político (Bobbio, 1988).
Isto significa: que a hegemonia está ligada a todas as
instituições que, para além dos partidos
políticos, tenham relação com a divulgação
e difusão de representações simbólicas
e culturais; que ela não se relaciona somente com a constituição
de uma nova formação política do Estado,
mas com uma nova visão de mundo. O exercício da
hegemonia é permeado de tensões, de lutas, de
constantes negociações no qual é possível
verificar as linhas de força presentes na disputa pelo
poder.
A
ênfase na hegemonia em detrimento da força repressiva
do poder estatal faz emergir o papel dos intelectuais como sujeitos
ativos, formadores de consenso em torno de valores (Gramsci,
1999 e Bobbio, 1988). Assim, no contexto dos anos 70, podemos
pensar nos jornalistas como intelectuais, presentes na luta
contra censura e na constituição de uma frente,
um bloco composto na e pela sociedade civil que se opusesse
contra hegemonicamente à cultura autoritária,
vigente época. Esse era um tipo de postura presente nos
jornais alternativos existentes na década de 70. Porém
não nos inibe de pensar que essa autonomia pode dificultar
uma identidade que possa ser vista como de "classe".
O
jornalista e o distanciamento do espírito de missão
No palco da greve, entretanto, também se fazia presente
uma outra tradição no jornalismo brasileiro. Desde
os anos 50, a entrada do modelo norte-americano trouxe valores
como a objetividade, imparcialidade, o desengajamento e as técnicas
narrativas (Gans, 1976 e Chalaby 1996). A "ideologia do
profissionalismo" sustenta a autonomia do jornalista no
distanciamento de causas políticas. Mesmo que, jornalismo
brasileiro, a crença na objetividade tenha sempre sido
relativizada, o domínio de uma técnica possibilitava
ao jornalista, de forma geral, adotar uma postura de independência
em relação à influência política
dos patrões. É nesse aspecto que a ideologia do
profissionalismo reitera a "autonomia" do jornalista.
O
jornalismo norte-americano define seu compromisso político
fundamental estabelecido com a objetividade na descrição
dos fatos (Shudson, 1978, Soloski, 1993) e com a representação
dos interesses do cidadão individual diante do Estado
e das grandes organizações (Hallin e Mancini,
1984) e com o sistema de divisão de poderes como um todo
(Cook, 1998). Neste sentido, a autoridade "moral"
do jornalista americano se configura no papel de "sentinelas
da liberdade ou cão de guarda" (Gans,1979). A crença
na objetividade só se firma onde haja um consenso fundamental
em torno de valores e instituições (Ettema e Glasser,
1998) e a ordem seja vista como "estável".
É uma visão distinta do Brasil, visto como sempre
em crise ou em transição (Albuquerque, 2000).
A
década de 50 foi também marcada pelo crescimento
e modernização empresarial das empresas jornalísticas.
Formou-se um contexto que onde a identidade profissional do
jornalista foi reforçada através do assalariamento,
com o aumento dos rendimentos, a criação de escolas
de jornalismo, a regulamentação da profissão,
o associativismo sindical e a emergência de uma ética
de responsabilidade social, similar à ética de
prestação de serviços própria do
jornalismo norte-americano. (AP Goulart, 2000).
Essa
postura desengajada nos anos pós-64, de defesa da objetividade
e da responsabilidade social do jornalismo era, por parte de
alguns profissionais um ato político, de resistência
e de construção afirmativa da identidade diante
da repressão e da censura. Pois ela sustentava o argumento
de que a cobertura se baseava nos fatos e não em opiniões.
Anos mais tarde, esse tipo de postura foi acusada de despolitizar
o jornalismo e de construir um consenso em torno da centralidade
do papel do mercado como instância reguladora das demandadas
sociais. É a institucionalização do que
é taxado de "pensamento único". Neste
sentido, a imprensa exerce o papel de "filtro", selecionando
e enquadrando os fatos de acordo com a ideologia da imparcialidade
e da objetividade, típicas do modelo americano.
O
conflito no campo jornalístico
Por
cima das rivalidades internas dos jornalistas, um outro confronto
se estabeleceu no jornalismo de forma mais intensa: política
X mercado. Segundo Lins e Silva, "os anos 70 haviam levado
a uma hipertrofia do plano político no jornal e os anos
80 deveriam levar, em contra partida, uma opção
maior pela parte técnico jornalística".
Para
Otávio Frias Filho, a opção pelo mercado
por parte dos jornais e a resistência engendrada pelo
sindicato dos jornalistas era reveladora da velha dicotomia
brasileira entre o moderno e o arcaico. Do seu ponto de vista,
a atividade sindical transformou o sentimento anticapitalista,
romântico, meramente boêmio ou intelectual, reinante
na imprensa nos anos 50 e 60, em "ares de ideologia da
resistência e da revolução", um anacronismo
no contexto da redemocratização. Para os dois
autores, o capitalismo já se apresentava consolidado
no Brasil na década de 80. Trata-se de adaptar a linha
editorial dos jornais aos ditamos administrativos de um "negócio"
(Lins da Silva, 1998). Na visão dos reformadores da Folha
de São Paulo, Carlos E. Lins da Silva e Otávio
Frias Filho, a ideologia do desengajamento passou a ser estratégica
para as empresas.
Para
esses autores, a questão do controle passou pela exigência
de adesão do jornalista ao projeto político administrativo
estabelecido pelos jornais. Os manuais de redação
passaram a Ter uma nova utilização. Quando introduzidos
na Folha de S. Paulo nos anos 60 serviram de orientação
digamos "técnica". Nos anos 80 eles transcenderam
essa dimensão e passaram a servir como instrumento de
controle e de adesão ideológica do jornalista
ao projeto do jornal.
Métodos
quantitativos e impessoais, típicos de uma racionalidade
administrativa passaram a ser usados com a mesma finalidade
e causaram um estranhamento e uma sensação de
desconforto dentro das redações da Folha (Kucinski,
1998). A intenção era enquadrar editores, subeditores
e das chefias e seus subordinados e romper com a Unidade
construída pelo movimento sindical, conforme demonstrou
o movimento de 1979 (Kucinski, 1998 e Lins da Silva, 1998).
A questão era romper com a visão dos jornalistas
de que os cargos de confiança eram apenas "técnicos"
e portanto descomprometidos com a visão política
dos patrões. A Folha de São Paulo se transformou
no modelo de jornal vocalizado para o "mercado".
Nesse
confronto entre militância e desengajamento uma variável
geracional passou a dar sentido a divisão entre jornalistas
criando uma nova tipologia. Os "antigos", guiados
pelos valores de um jornalismo interventor, enquadrado como
de "esquerda". Os "novos", que aderiram
aos projetos das empresas, seduzidos por cargos e salários
altos ou por necessidade de sobrevivência, na qual a prática
da autocensura se faz necessária como estratégia
de permanência no emprego. Esses tipos estabelecem uma
conexão com a forma de se interpretar as disputas que,
para nós ainda se fazem presentes, em torno da hegemonia
de um padrão de jornalismo e não têm necessariamente
a ver com a idade mas com os valores com que cada jornalista
se identifica. (Kucinski, 1998).
No
contexto da greve de maio de 1979, as tentativas de resistência
ao padrão norte-americano não deixavam de ter
uma ambigüidade. De acordo com Perseu Abramo, o jornalista
na sua prática deveria defender "a lisura nos procedimentos
técnicos na obtenção da informação,
na crítica a objetividade e a imparcialidade professadas
pela grande imprensa, que escondem escolhas ideológicas
e no engajamento necessário do jornalista na comunicação,
definida como social, isto é, a serviço do conjunto
da sociedade e não apenas da parcela que detém
o poder" (Abramo, 1997).
Que
procedimentos técnicos são esses? A técnica,
em certa medida não é herdada do jornalismo norte-americano?
Ela não é coerente com a ideologia do profissionalismo?
Como conciliar uma postura engajada e falar ao conjunto da população?
Isso não é supor a sociedade civil dotada de uma
homogeneidade ideológica? Em dada medida, se o conjunto
da população é heterogêneo, defender
uma postura imparcial não reitera a autoridade interpretativa
do jornalista? Afinal, em que reside a autoridade do jornalista
brasileiro?
Na
nossa hipótese, ao procurarem conciliar as perspectivas
conflitantes na prática jornalística, os ativistas
sindicais procuraram criar um modelo híbrido, que contemplasse
as tradições presentes no jornalismo brasileiro.
Tal
postura implicaria em procurar os momentos em que essas tradições
começaram a se constituir, suas lógicas, seus
valores e principalmente as contaminações e desvios
que sofreram ao se confrontarem umas com as outras, numa perspectiva
diacrônica, que vai desde a formação do
campo jornalístico, configurando as linhas de força
dessa disputa até a greve de 1979. O que sugere que também
examinemos as discussões que giram em torno do ethos
e do papel social desse ator chamado jornalista. Porém,
no limite de um artigo, situaremos esses problemas de modo a
obter elementos mais definidos para prosseguir a pesquisa. E
um primeiro passo é situar a greve dentro de um conjunto
de movimentos que deram identidade aos tipos de práticas
sindicais que surgiam no fim dos anos 70.
O
novo sindicalismo
O
"novo sindicalismo" que surgia em 1978 era identificado
pela "origem e centro no setor moderno da economia, autonomia
diante dos partidos e do Estado, organização voltada
para a base e ímpeto reivindicativo direcionado para
os interesses dos trabalhadores" (Santana, 1999). Os metalúrgicos
do ABC entraram em greve motivados pela "indignação"
com o arrocho salarial, custo de vida e contra os rígidos
controles disciplinar feito pela grandes empresas (Laís
Abramo, 1999 e Maroni, 1985).
Uma
concepção "basista" dava ênfase
a ação nas empresas em vez de se tratar a categoria
de forma genérica. Questões salariais eram tratadas
no "processo de negociação direta" entre
patrões e empregados. Na época, a política
salarial e a legislação do trabalho era centralizada
pelo governo militar. Este fato jogava qualquer a luta salarial
para além de um "pacto" classe a classe. Ou
seja, havia uma "politização" da luta
(Laís Abramo, 1999).
A
repressão ao movimento sindical e a intervenção
nos sindicatos e cassação dos dirigentes por parte
do Estado nas greves de 1979 e 1980, no próprio ABC,
aproximou o insurgente sindicalismo de outros movimentos políticos
da sociedade civil. O direito de greve entrou na pauta das liberdades
democráticas. A estrutura sindical corporativa brasileira
começou a ser "burlada". Demandas como liberdade
e autonomia sindicais terem se tornados centrais para a organização
dos trabalhadores, o que os colocam em alinhamento com lutas
pelas liberdades democráticas, como o Movimento pela
Anistia (Laís Abramo, 1999).
O
ressurgimento dos trabalhadores na cena política será
simbolizado pela criação do Partido dos Trabalhadores
(PT) em 1980 e na criação, anos depois de dois
organismos sindicais de cúpula, a Central Única
dos Trabalhadores, CUT, e a Coordenação Geral
da Classe Trabalhadora, CONCLAT. Essa divisão foi fruto
de tensões resultantes das práticas e orientações
que seguiam os grupos envolvidos. De um lado o bloco dos "combativos"
composto dos sindicalistas "autênticos", que
se reuniam em torno dos sindicalistas metalúrgicos do
ABC e das "Oposições Sindicais", grupos
egressos ou não da luta armada e militantes ligados a
Igreja Progressista. De outro, a Unidade Sindical, que
juntava lideranças tradicionais, pelegos e militantes
de esquerda ligados ao Partido Comunista Brasileiro, PCB, Partido
Comunista do Brasil, PC do B, e o Movimento Revolucionário
8 de Outubro, MR8. Esses dois "blocos" formariam as
bases de sustentação dos órgãos
intersindicais. O primeiro, da CUT e o segundo, da CONCLAT (Santana,
1999).
O
motivo da divisão reside nas leituras de práticas
associadas ao sindicalismo pré-64, taxado de populista,
reformista e pelego e que privilegiava arranjos políticos
pelo "alto", de "cúpula" e por "dentro"
da Estado. Esse sindicalismo era também visto como de
"colaboração de classes". (Weffort,
1978). Esse tipo de prática era vista enquanto "braço
auxiliar" da política "populista" do período.
As posições assumidas pelo PCB e serão
identificadas por essas práticas e sobre ele recairá
a responsabilidade do fracasso do "Velho Sindicalismo"
(Santana, 1999).
O
surgimento do PT, segundo Santana fez acirrar a luta pela hegemonia
em torno da representação. "Os novos atores",
que auxiliaram em sua criação, viam no PT, ainda
que de forma variada, o verdadeiro instrumento de representação
política dos trabalhadores. Já os militantes do
PCB acreditavam que seu partido, tradicionalmente, era o verdadeiro
e único representantes dos trabalhadores (Santana, 1999).
Os
arranjos políticos feitos em torno da luta pela redemocratização
influenciaram nessas disputas. A polaridade do PT com o PCB
pela hegemonia no campo sindical será transposta para
o plano político. As greves e os movimentos sociais da
época, comandados por setores identificados com o PT
não aderem a "frente democrática" que
tem no Movimento Democrático Brasileiro o eixo da luta
contra o Estado Autoritário. Para os pecebistas isto
é visto como uma atitude inconseqüente, esquerdista
e desestabilizadora. Punha o movimento pela redemocratização
numa "tensão" com os militares que poderia
estimular os grupos radicais de direita fecharem o regime (Santana,
1999).
Por
outro lado, os comunistas preconizavam uma estratégia
gradualista de transição democrática, evitando
confrontos diretos e buscando conquistar amplos apoios da sociedade,
inclusive do empresariado. Foram taxados de negocistas, conciliadores
e reformistas pelos setores "combativos" ligados ao
PT, que não aceitavam fazer composições
com grupos que apoiaram inicialmente o golpe e setores empresariais
nacionalistas ou não.
Foi
no bojo dessa atmosfera conflituosa, marcada por antagonismos
políticos e de classe, que os jornalistas paulistas começaram
a intensificar a busca de uma aproximação mais
orgânica com a "frente de massas", composta
por sindicalistas, por movimentos de eclesiais de base, de favelados,
trabalhadores rurais e outros. Os "novos atores" (Santana,
1999) entraram na cena política no fim dos anos 70, forjando
para eles uma nova identidade marcada pela ausência de
uma "doutrina" e promovendo uma ruptura com um modelo
leninista de organização que separava "vanguarda
e massa" (Kucinski, 1998).
A
aproximação dos jornalistas com o movimento sindical,
na conjuntura do final dos anos 70, implicou, do nosso ponto
de vista, numa ruptura em relação aos papéis
anteriores. Trabalhamos com a hipótese de que, diante
de um conjunto de posturas dos jornalistas, podia-se perceber
"distanciamento" das demandas específicas dos
grupos tachados como "populares". Em tese, esse distanciamento
permite visualisar dois tipos de conduta. Uma, com alimentada
por uma postura desengajada, necessária a prática
de um jornalismo entendido como "objetivo". Esses
eram os novos termos do "profissionalismo". A outra,
alimentada pela concepção vanguardista, presente
nas esquerdas, na qual o jornalista assume um papel de porta-voz,
de intérprete ou de vocalizador das demandas dos trabalhadores,
porém subordinando-as a causas mais gerais, assumindo
o jornalista o papel de "formador de opinião".
O
sindicato e a busca de uma identidade de classe
A
"chapa progressista" liderada por Audálio Dantas
ganhou as eleições para o Sindicato dos Jornalistas
Profissionais de São Paulo, de base de representação
estadual, em maio de 1975. Não temos elementos para situar
politicamente os componentes da chapa. Apesar de se afirmarem
como de "oposição" e de terem disputado
a hegemonia do Sindicato com grupos identificados como "pelegos,
ainda não sabemos se os membros da direção
eleita eram dos mesmos grupos políticos que compunham
o setor das "Oposições Sindicais" (Unidade
1 mai 1975)
A
estratégia do grupo vencedor se baseou na construção
de uma Unidade, um consenso, que superasse as possíveis
divergências ideológicas entre os jornalistas da
oposição sindical. Cada redação
indicou um representante para participar da chapa e a composição
final foi aprovada pelo conjunto da categoria, numa convenção,
com delegados eleitos nas redações. O processo
deu "autenticidade" aos novos membros da diretoria
e "legitimidade" em função da "participação
democrática" dos jornalistas na escolha de seus
representantes (Unidade 32 mai 1978).
A
morte de Vladimir Herzog, em outubro de 1975, acentuou a atenção
nas lutas mais gerais ao mesmo tempo em que reforçou
a presença do Sindicato na cena política e junto
a própria categoria. Nesse sentido, as lutas pelas liberdades
democráticas punham os jornalistas de São Paulo
e o Sindicato num exercício de mediação
entre as amplas forças da sociedade civil e as demandas
específicas que foram surgindo com o renascimento do
movimento sindical, com um certo privilégio para a luta
em torno da "liberdade de imprensa" (Smith, 1997).
A
presença mais explícita de um antagonismo de classe
pode ser percebida em Perseu Abramo, Editor de Educação
da Folha de São Paulo, ativista sindical e colaborador
do jornal do Sindicato dos Jornalistas, o Unidade.
Em um texto chamado, de março de 1977 "O Papel Social
do Jornalista". Nele, Abramo afirmava que a missão
do jornalista, diante da conjuntura da época, uma ditadura,
era "lutar contra a censura, para restabelecer e ampliar
a liberdade de imprensa entendida principalmente como forma
de participação coletiva no processo político
nacional" (Abramo, 1997).
Porém,
em partes anteriores do texto, Abramo identificou a existência
de um arranjo estrutural na sociedade capitalista, diante do
qual a circulação de representações,
valores e informações tinham um caráter
ideológico marcadamente "burguês". E,
de controle político, com o predomínio da lógica
particular de um grupo, os proprietários dos meios, sobre
os demais. Essa era a de forma censura "imanente"
da sociedade capitalista. Para enfrentar essa "censura
estrutural" no qual a propriedade do veículo garante
um padrão ideológico de circulação
simbólica, o jornalista teria de assumir o seu verdadeiro
papel, de "trabalhador assalariado" portador de uma
"consciência de classe", dando outros contornos
a sua prática "jornalística". Essa seria
sua conduta "ideal" (Abramo, 1997).
"Falo
em conduta ideal em termos de 'tendência histórica'
a ser conquistada: a) o jornalista deve assumir sua posição
de classe, lembrando que faz parte das classes assalariadas
e não das classes proprietárias dos meios de
produção; b) como decorrência disso, ele
deve assumir, diante do seu público leitor, a posição
e o compromisso de contribuir de todas as formas, e sempre
da melhor maneira possível, para a intensificação
da comunicação social, também de forma
crítica".
E
o que seria isso? "Comunicação social
como forma de participação coletiva nos processos
decisórios sociais e políticos... o papel do jornalista
na sociedade moderna deve ser, portanto, um papel eminentemente
político". (Abramo, 1997).
O
resgate de uma tradição interventora no jornalismo
brasileiro passaria então a adotar um novo padrão,
com os jornalistas assumindo explicitamente as suas posições
políticas e rechaçando quaisquer resquícios
que pudessem acenar com um jornalismo objetivo e desengajado.
Para isso, o jornalista deveria se fortalecer profissional e
economicamente através das "atividades sindicais"
para se opor a pressão econômica e alargar o campo
político na sociedade e, no limite, luta para democratizar
as grandes redações (Abramo 1997).
Em
fevereiro de 1978, o jornal do Sindicato dos Jornalistas de
São Paulo publicou um estudo do professor Sebastião
Geraldo Breguês, da UFMG, sobre "os principais aspectos
do jornalismo brasileiro após 1964". Breguês
fixou três pontos que caracterizaram a imprensa pós-64.
"Mudança estilística, legislação
coercitiva e capital estrangeiro". Os três fatores
associados teriam a de função mascarar o conflito
de classes e manter a "conjuntura em plena harmonia no
eterno trabalho de construção nacional".
Quanto à narrativa, "o lead e outras técnicas
universais construídas pela rica imprensa imperial norte-americana
ou se quiserem pelo rico imperialismo cultural norte-americano"
fez o jornalista desconsiderar a heterogeneidade ideológica
e cultural do leitor brasileiro (Unidade 29 fev 1978).
A
apresentação dos fatos de forma fragmentária,
sem mostrar a relação de um acontecimento e sua
causa, "tem como propósito encobrir os interesses
e as relações econômicas das empresas jornalísticas
na estrutura competitiva da sociedade de classes no Brasil".
Nesse sentido, o processo de modernização conservadora,
posto em voga com o golpe, não excluía o jogo
de mercado. Neste jogo, porém, só a livre movimentação
do capital era permitida. Segundo Breguês, era função
da imprensa "mascarar e encobrir" os interesses contraditórios
e conflituosos existentes entre as classes (Unidade 29
fev 1978).
Na
edição de março do mesmo ano, em um debate
no auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais
de São Paulo, chamado "Wladimir Herzog", o
sociólogo Werneck Vianna, afirmou que a ditadura criou
o paradoxo de introduzir mecanismos típicos de economias
liberais nas relações entre capital e trabalho,
como o FGTS e o fim da estabilidade. E, manteve a legislação
corporativa do trabalho para impedir a livre organização
dos trabalhadores. Isso criava uma assimetria na correlação
de forças, beneficiava o capital e explicava a "falta
de combatividade dos trabalhadores" (Unidade 30
mar 1978).
A
conjuntura mudaria rapidamente. Em março de 1978 teve
lugar eleições para a sucessão da diretoria
comandada por Audálio Dantas, com a apresentação
de uma única chapa, agora de "consenso entre a categoria".
David de Morais, do grupo Abril, foi eleito presidente, o jornalista
Fernando Morais, Veja, de vice. Audálio Dantas foi eleito
representante do Sindicato na Federação Nacional
dos Jornalistas, o que demonstra uma "continuidade"
na postura política do novo grupo na direção
da entidade.
Em
seu discurso de despedida, Dantas reafirmava a inserção
e papel de "vanguarda" do Sindicato dos jornalistas
no "novo sindicalismo", que segundo ele surge em 1977,
"com grande vigor" a partir "da luta pela reposição
salarial sofrida por todos trabalhadores em conseqüência
da manipulação dos índices de inflação
e custo de vida em 1973". Uma das marcas de sua gestão
era a ruptura com o "círculo do medo", atmosfera
repressiva difusa vivida naqueles tempos (Unidade 32
mai 1978).
A
ruptura com o "medo" e o vanguardismo era derivada
de dois aspectos. O primeiro, o próprio processo eleitoral
ativado em 1975 incentivou a maior participação
da categoria na vida sindical, dando voz às demandas
específicas dos jornalistas segundo o local de trabalho,
as redações. O questionamento da estrutura sindical
corporativista, com a mudança do estatuto do Sindicato
permitiu a criação do Conselho Consultivo de Representantes
das Redações, CCRR, entidade paralela, que visava
dar uma maior organização e incentivar a luta
pela institucionalização e reconhecimento a representação
de "base". O segundo aspecto foi a luta pela "liberdade
de imprensa e defesa dos direitos humanos" (Unidade
32 de mai 1978), que tomou um vulto muito grande com a morte
do jornalista Vladimir Herzog.
As
greves de maio de maio no ABC foram incorporadas pelos primeiros
editoriais publicados pelo jornal Unidade e escrito por
David de Morais. Ressaltando a necessidade "de participação
intensa da categoria nas lutas do Sindicato" ele ressaltou
os dois momentos nos quais isso aconteceu: a morte de Herzog
e a greve dos jornalistas de São Paulo, em dezembro de
1961, "a única realizada pelo Sindicato" (Unidade
32 1978).
Moraes
afirmou que as três prioridades imediatas da nova diretoria
eram: eleição do conselho editorial do jornal
Unidade, campanha salarial e a implantação
do CCRR. A idéia "básica" do jornal
era ser "de luta, de debates, de reivindicação,
de espelho de problemas e anseios de todas as redações
e todos os segmentos da categoria" (Unidade 32 mai
1978). Portanto um fórum e um agente mobilizador e interventor.
A
greve do ABC incentivaria os jornalistas, mesmo fora de data
base, a incrementar uma campanha que teria por base um confronto
"classe a classe". "Vamos entrar em contatos
direto com os nossos patrões que tem apoiado as negociações
diretas entre outros sindicatos e empresas e que agora terão
a oportUnidade de mostrar na prática seus pontos
de vista" diz o editorial. Quanto ao risco da greve ser
ilegal, Moraes disse que "os trabalhadores estão
mais conscientes de que suas reivindicações mais
legítimas não podem ser cerceadas por dispositivos
que podem ser legais mais carecem de legitimidade"
(Unidade mai 1978).
O
CCRR era o ponto mais importante do programa, essencial para
a organização de "todas as nossas lutas".
Segundo Moraes, "na medida em que conseguirmos sucesso
nessa tentativa, estaremos, possivelmente, abrindo caminho para
outros sindicatos empenhados hoje na luta pelo estabelecimento
dos comitês de fábrica e, pois, para um sindicalismo
forte, livre, aberto e democrático". O CCRR
era o início da superação da estrutura
legal corporativa, que impedia o sindicato de seguir sua vocação
original, de ser um "órgão de luta em defesa
dos interesses da categoria que representa" (Unidade
32 mai 1978).
No
sentido de realçar essa postura combativa, a memória
da greve de 1961, ocorrida no dia primeiro de dezembro, foi
ativada de forma estratégica no interior da edição
de seguinte do jornal Unidade. Uma manchete em letras
garrafais diz: "1961, a greve vitoriosa". Além
disso, uma reportagem com Fúlvio Abramo, presidente do
comitê de greve a época, que apontou os motivos
da vitória: reivindicações de natureza
estritamente sindical e econômica, elemento de coesão
numa uma categoria "cuja natureza do trabalho, intelectual,
a torna altamente politizada e por isso mesmo heterogênea,
com uma dificuldade natural para a Unidade"; adesão
dos chefes de redação, pois segundo Fúlvio,
cargos de confiança eram estritamente "técnicos"
e não "políticos", o que permitia aos
seus ocupantes manterem um distanciamento "crítico"
dos valores dos seus patrões e conservar sua identidade
de trabalhador; e a organização do comitê
de greve, formado "por elementos capazes, decididos e disciplinados
na execução de suas tarefas, sempre agindo por
determinação da assembléia geral"
(Unidade 33 jun/jul 1978).
Com
menor destaque a reportagem acrescentava a atuação
"firme" dos piquetes, o "espírito de colaboração"
de trabalhadores de outras categorias como motoristas, gráficos
e telegrafistas e o papel do governo João Goulart, "sem
iniciativa para reprimir os trabalhadores". A greve durou
cinco dias e o conflito teve a intermediação de
uma terceira instância, o Tribunal Regional de São
Paulo, que por seis votos a zero, decretou que os jornalistas
deveriam receber 45% de reajuste salarial a partir de janeiro
de 1962 (Unidade 33 jun/jul 1978).
Logo,
o processo de articulação entre valores jornalísticos
e atitudes "operárias", a memória foi
formada como, diz Pollak, como um processo de ordenamento, de
produção de sentido, enquadramentos, esquecimentos
e silêncios. Fatos e determinados aspectos do passado
foram enfatizados na medida em que podiam contribuir na construção
da identidade e das relações entre pessoas e grupos
(Pollak, 1989). Por outro lado, o processo de construção
de uma consciência de classe desfez o mito de haver uma
oposição absoluta entre as práticas do
sindicalismo pré-64, tido como "populista"
e "conciliador" e as do novo sindicalismo. Para se
postar como um sindicato de "luta", os jornalistas
atravessaram essas disputas conceituais, revelando que existiam
continuidades entre o velho e o novo movimento sindical.
A
diferença era que a lógica da reciprocidade (Gomes,
1982) não conduzia as práticas do Novo Sindicalismo.
A postura, no fim dos anos 70, era de confronto. O governo militar
e empresários, na ótica do movimento sindical,
possuíam uma "convergência" de interesses
(Santana, 1999). No seu discurso de posse, o novo presidente
do Sindicato dos Jornalistas, David Moraes disse que,
"...uma
liberdade sindical que não se detenha diante de nenhum
fantasma e que permita a busca de caminhos de organização
que desembocarão, fatalmente, na necessidade de criação
de uma central sindical ou qualquer que seja o nome de uma
organização que congregue todos os trabalhadores
do país. Defendemos uma liberdade de organização
que permita aos trabalhadores lutar por seus interesses individuais
e coletivos diante dos interesses conflitantes das empresas
e do Estado. Essa organização é básica
para o sucesso da luta pois tudo terá que ser conquistado"
(Unidade 32 mai 1978).
A
busca por uma sintonia e identidade de interesses com as diversas
categorias de trabalhadores, não descartava, segundo
Morais, "a questão da democracia e dos direitos
humanos", tendo sempre presente à memória
de Herzog (Unidade 32 mai 1978). O que sugere que o papel
destacado do Sindicato no plano político mais amplo de
luta contra o regime não se opunha à presença
dos jornalistas, através do ativismo sindical, na "frente
de massa" que iria se formando com os diversos movimentos
sociais presentes na "esfera pública".
A
descrença num jornalismo empresarial e desengajado existia,
pois, para Moraes "informar por informar não
existe. Informa-se sempre para orientar em determinado sentido
as diversas classes e camadas da sociedade e com o objetivo
de que essas orientações se reflitam em ações".
O discurso jornalístico teria um sentido ideológico
sujeito as "relações de classe" que
existiam na sociedade (Unidade 32 mai 1978).
A
consciência de classe seria um valor necessário
para que o "agente da comunicação" cumprisse
o seu papel de "agente transformador" da sociedade,
sendo mais "analista e crítico" e não
um mero "repetidor" da "ideologia dos proprietários".
Sem entrar em detalhes, Moraes sugeria a "cogestão",
e na medida do possível, a ampliação da
experiência da imprensa alternativa como um "remédio"
para o mal do processo de concentração e de monopolização
dos meios de comunicação. Porém, diferentemente
de Abramo, ele vê espaços para luta pela hegemonia
de valores no interior da grande imprensa:
"Além
da luta pelo fortalecimento da imprensa independente (alternativa),
o profissional brasileiro, no seu trabalho diário nas
grandes empresas, tem provado que é possível,
mesmo que limitadamente e dependendo de fatores meramente
conjunturais, refletir nos noticiários que produz,
os interesses mais amplos da sociedade, algumas vezes à
revelia dos interesses do grupo controlador dos meios"
(Unidade 32, mai 1978).
Porém,
quais são os interesses mais amplos da sociedade? Liberdades
sindicais? Liberdades democráticas? E por quê os
donos dos meios, diante da censura que tolhia os negócios
seriam contra elas? Aqui, implicitamente aparecia a concepção,
externada por Kucinski, de que a grande imprensa teria aderido
ao projeto de "abertura lenta, gradual e segura" criado
pelos militares.
Em
um debate acontecido na sede Sindicato dos Jornalistas em junho
de 1978, reproduzido em seus "melhores momentos" no
Jornal Unidade, edição 33, tratou-se dos
dilemas do movimento sindical perante a legislação
que definia a priori toda greve como "ilegal". O tema
era a "Greve em questão". O debate teve as
presenças de diversas lideranças sindicais e políticas,
entre elas Luís Inácio da Silva, o Lula, Audálio
Dantas, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de São
Paulo e atual representante da categoria na Federação
Nacional, e Almir Pazzianoto, advogado do Sindicato dos Metalúrgicos
de São Bernardo e deputado estadual pelo MDB.
Primeiro
a intervir, Audálio afirmou,
"Esse
movimento forte hoje existente no ABC está sendo uma
lição para nós. Nossa categoria teve
sempre tendência muito acentuada de se considerar a
margem do processo da luta dos trabalhadores, de modo geral,
porque, diga-se de passagem, era categoria intelectualizada
ou pára-intelectual. Isso prejudicou muito. E a nossa
briga aqui, permanentemente, foi essa, no sentido de que havia
necessidade de mobilização e de participação
dos membros da categoria, porque eles são trabalhadores
como outro qualquer. São assalariados, têm problemas
uma grande parcela de trabalhadores - insistimos sempre nisso
- que ganham salários abaixo do que pode se considerar
digno. E houve aumento gradativo de participação"
(Unidade 33 jun/jul 1978).
A
tônica do debate ficou centrada na questão do "fator"
que desencadeou o movimento grevista no ABC. Se ele foi "efeito"
da ação persistente das comissões de fábrica,
se foi um movimento "espontâneo" e o papel da
"consciência" dos trabalhadores diante da questão
jurídica, posta pela "ilegalidade". Em relação
aos jornalistas, a organização do CCRR foi vista
como "um passo a mais" para efetiva construção
de uma "consciência de classe" na categoria.
Porém, Pazzianoto lembrou que isso não era suficiente
para superar os dilemas que os jornalistas teriam ao fazer greve.
A heterogeneidade de salários e a relativa "independência
do jornal em relação às redações.
"Um jornalista interessado me disse que é muito
difícil fazer greve no jornais. Se a redação
parar o jornal continua saindo." (Unidade 33
jun/jul 1978).
Lula,
liderança mais destacada do emergente movimento sindical
foi convidado a falar, a "dar um recado" aos jornalistas
presentes, como expectadores, ao debate:
"...jornalistas,
uma classe que come mortadela e arrota peru, até por
inocência. Eu não posso entender tanto de
vocês ganhando seis mil cruzeiros, ou até quatro
mil e quinhentos, enquanto outros ganham quarenta mil para
escrever em jornal. Eu acho que uma das brigas fundamentais
que o sindicato dos jornalistas tem que comprar é essa.
Pessoas que ganham muito dinheiro em suas profissões
e não precisam tirar o pão da boca de um jornalista.
Outra questão que eu queria levantar é que,
o sindicato tem importância grande nisso, é pegar
essa meninada que está se formando em jornalismo e
mostrar para eles que é lamentável o status
que dá dizer 'eu sou jornalista'. Eu digo lamentável
no bom sentido. Eu sinceramente pensei que jornalista ganhasse
cem mil cruzeiros por mês" (Unidade, 33, jun/jul
1978).
Sem
posses, a maioria dos jornalistas vive de pose. Mas o que sustenta
essa pose? Ou, para um metalúrgico, o que faz um jornalista
demais, sem se preocupar com a jornada estabelecida em lei,
sem receber hora-extra?
"Quando
comecei a conhecer tantos jornalistas com consciência
ganhando seis mil cruzeiros, trabalhando doze horas por dia,
em dois empregos, três. Então esse pessoal devia
Ter consciência do seu papel como jornalista. Se vale
a pena ganhar quatro mil se o salário dele devia valer
quinze, vinte mil. Se vale a pena trabalhar por amor. Isto
para mim é um bestialidade muito grande. Por mais
burro que seja um metalúrgico ele nunca continua trabalhando
se encerra o expediente dele...ele encerra do jeito que tá.
Outro que continue. E o jornalista, por amor, trabalha das
oito da manhã até meia noite, sem ganhar hora
extra, porque ele se preocupa e o patrão ensinou a
ele não parar a matéria pela metade"
(Unidade, 33, jun/jul 1978).
Essa
lógica implicava, na visão de um metalúrgico,
poupar mão de obra. A consciência de classe teria
de ver masoquismo em vez de prazer, exploração
em vez de consciência do dever. Lógica própria
do maniqueísmo da época, que em dada medida, interferiu
no universo dos valores do jornalista. A dialética entre
uma dada "consciência de classe" e identidade
"jornalística" ficaria evidente se tomarmos,
para encerrar esse artigo, o depoimento de José Hamilton
Ribeiro, sobre sua passagem na revista Realidade e o seu aprendizado
na profissão:
"O
segredo era a fórmula 'amor/trabalho'. Todo mundo se
entregava ao trabalho com todo amor, com todo empenho. Na
hora de escrever uma notícia, o Narciso Kalili, o Luís
Fernando Mercadante, eu próprio, a gente passava três
dias escrevendo, reescrevendo, suando, sofrendo, emagrecendo.
Cada reportagem era um parto. Com dor" (Unidade, 8, mar.
1976).
Conclusão
Fica
patente a dificuldade de se enquadrar o jornalista em uma rígida
identidade de "trabalhador". Os valores e as tradições
interventoras existentes no jornalismo brasileiro persistiam.
Assim, a combatividade dos jornalistas, a inserção
do Sindicato no Novo Sindicalismo, era motivada por um discurso
que, diante do maniqueísmo existente na época,
apelava para uma contradição rígida de
interesses entre os donos dos meios de comunicação
e os jornalistas, trabalhadores assalariados. Era um discurso
essencialmente político.
O
exercício de uma contra-hegemonia passaria pela construção
de uma consciência de classe. Mas, quais os contornos
dessa "consciência"? Em muitos pontos do discurso
das lideranças sindicais transparece o desejo de se construir
uma Unidade que levasse os jornalistas a luta de classe
através da greve, instrumento fundamental na dinâmica
do movimento sindical da época. Era a luta que abriria
espaço na grande imprensa para o jornalista exercer a
sua "autonomia moral e interpretativa" intervindo
no debate político.
Porém,
a pergunta que se faz é, como sustentar a Unidade
resgatando uma postura ideológica para o jornalista?
Não voltaria o mesmo dilema posto por Fúlvio Abramo,
no qual o jornalista como "trabalhador intelectual",
bastante politizado, era, em virtude dessas características,
atomizado e fragmentado? Ou seja, o resgate do papel político
não levaria a fragmentação dessa mesma
unidade? Havia ou não ambigüidades entre uma identidade
de classe e uma nova identidade jornalística?
Para
as lideranças sindicais dos jornalistas de São
Paulo, não. Para eles não havia contradição
entre o resgate de um papel "político", mesmo
que não possamos precisar o que seja isto e uma identidade
de classe. A disputa analisada em torno tipos ideais não
nos permite falar que tenha havido e que ainda haja uma única
identidade jornalística compartilhada. É possível
se falar de identidades. Mas pode-se pensar no conjunto de empregados
das empresas jornalísticas, permeado pelas tensões
e apelos vindos de diversos lados, seja do Sindicato, das chefias
ou dos patrões.
A
mobilização iniciada de forma mais intensiva em
março de 1978, apontava para a hegemonia de valores,
que mesmo ambiguamente expressados pelos ativistas sindicais
teve como desdobramento o movimento grevista de 1979. Portanto,
mesmo que por um período limitado de tempo, um conjunto
de jornalistas de São Paulo se identificará como
"trabalhadores" e adotarão condutas típicas
de outras categorias com uma identidade de classe mais firmada.
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*Marco
Antônio Roxo da Silva é Doutorando do Programa
de Pós-Graduação da Universidade Federal
Fluminense. Este texto é uma versão inicial da
introdução da dissertação de mestrado
intitulada "Companheiros em Luta: A greve dos Jornalistas
de 1979", defendida em março de 2003.
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