Monografias
De
rosas e pedras: a trajetória de Carlos Lacerda
Por
Vera Rodrigues Silva
"Porque
a vida não existe por definição. É
aí que eu quero chegar. Viver não é apenas
se deixar viver. É ter, a cada momento, a consciência
de cada momento, a mão que guarda um pássaro e
saber que a todo instante poderá abrir-se para deixar
voar essa presença enternecedora e palpitante de um pássaro
na mão. Este é o senso dramático da vida,
o movimento patético pelo qual cada um pode provar a
si mesmo esta verdade não axiomática: Eu vivo.
Minha profissão é viver... Penso no meu destino.
Sou feliz, sem nenhum ressentimento, com alguns arrependimentos
e uma ferocidade superficial, que me defende da ingenuidade
nativa e desta incansável alegria de viver, que se não
cuidar me domina. Nunca me preparei para a História...Meu
destino, parece, é fazer às pressas o que requer
vagar e devagar o que, a rigor, demanda pressa... Agora, neste
forçado remanso, quando os apressados me julgam vencido
e querem passar por cima para chegarem mais depressa, e outros,
alegando as minhas ambições, pressurosamente satisfazem
as suas, tenho de fazer o que sempre tentei evitar - falar de
mim - pois é através de minha experiência
e testemunho que se encomenda um panorama do Brasil nestes tempos
em que perambulo pelo mundo de Deus a fora."
"Rosas
e pedras do meu caminho", Carlos Lacerda.
Introdução
Analisar
a trajetória de Carlos Frederico Werneck de Lacerda,
ator e personagem da história política e da imprensa
contemporâneas, aparentemente caótico e fragmentado
em diversas personas que parecem negar uma à outra, exige
uma visão mais ampla, abrangente, sem nenhuma amarra
a uma visão bipolar ou reducionista, a uma relação
imediata de causa-efeito. É buscar um diálogo
interdisciplinar que permita é situá-lo numa visão
da complexidade do seu e do nosso tempo. Ou, como enunciou Edgar
Morin, enfrentar a contradição, em vez de elimina-la,
para apoiarmo-nos nela.
"....a
complexidade é a união da simplicidade com a complexidade,
parafraseando aliás uma frade muito profunda de Hegel
e que, de maneira paradoxal, um filósofo chinês
do século XVll, Fang-Yischi, encontrou, por seu lado
: a vida é a união da união com a desunião
". (1)
Dentro
desta perspectiva, a proposta é recusar o caminho fácil
dos rótulos apoiado em certezas e verdades e buscar as
incertezas, as nuances e contradições que marcaram
a trajetória de Lacerda - escritor, empresário,
político e sobretudo - como ele enfatizava - jornalista.
Como
instrumento de análise, situá-lo no contexto sócio-político
de seu tempo, bem como na sua própria vida e realizações,
com base na formulação sujeito-obra como intimamente
ligados, buscando conhecer melhor o personagem através
não só das visões que se tinham dele (seus
biógrafos) como da interpretação que ele
fazia de si mesmo, através de seus escritos - entrevistas,
depoimentos, artigos, discursos, crônicas e acima de tudo,
seu pensamento sobre o ofício do jornalista.
Tentando,
como escreve o pesquisador Sergio Vilas Boas, "descobrir
o universal embutido nas particularidades, lançar luzes
sobre os dramas humanos que incitem o pensamento[...] É
possível criticar sem ofender; alfinetar sem ferir; homenagear
sem trair-se; retratar sem granular. (2) Costuma-se dizer que
Lacerda foi incoerente com suas próprias idéias,
que mudou de lado político conforme sua conveniência
pessoal e isso basta para satanizá-lo.
Para
muitos, ele não merece lugar junto aos justos, como Vargas(
que de ditador, simpatizante do nazismo e do fascismo, passou
a nacionalista e democrata) ou mesmo de um ícone da esquerda,
Luís Carlos Prestes, que em nome da revolução
socialista, sucessivamente apoiou a ditadura getulista que mandou
sua mulher judia para ser morta num campo de concentração
e na volta de Getúlio ao governo, já como democrata,
em 54, apoiou a UDN, o partido chamado da "reação"
contra Vargas.
Não
é preciso recorrer a psicologia freudiana ou ao reducionismo
de uma visão presa a uma ideologia, como fizeram outros
autores, para explicar a trajetória de Lacerda. Não
só ele se achava com a missão de salvar o Brasil,
velar pela pátria e ser presidente da República.
Vários homens públicos, antes e depois dele, tiveram
este mesmo sonho, alguns conseguindo realizá-lo, outros
não.
A
visão unilateral levou além de uma repulsa profunda
por determinados setores intelectuais, a um quase esquecimento
de Lacerda pelas novas gerações (as edições
de seus livros se encontram esgotadas) que desconhecem sua contribuição
para a formação de uma teoria sobre o jornalismo
e o papel da imprensa na sociedade.
Este
estudo tem como proposta básica mostrar um pouco do pensamento
jornalístico de Lacerda, resultante de sua visão
e atuação política, ao mesmo tempo em que
o situa como homem de seu tempo, um tempo em que não
só o Brasil, como o resto do mundo, atravessaram profundas
alterações políticas, econômicas
e sociais, num século XX marcado por dilacerantes mudanças.
I
- Inspiração nas fontes liberais
É
possível estabelecer, senão um paralelo, mas pelo
menos influência marcante, entre o pensamento de Carlos
Lacerda e o acento fortemente liberal que marcou a formação
política brasileira.
"Na
América Latina, a Política tem figurado como variável
principal no âmbito da Comunicação Massiva",
escreve Marques de Melo. "Tanto assim que se atribui à
função política dos media, mas concretamente
ao seu "potencial revolucionário, a natureza restritiva
das políticas públicas que marcaram a fisionomia
da nossa História colonial ".(3)
A
utopia da liberdade mobilizou os sentimentos nativistas desde
o Brasil Colonia, passando pelo Império e atravessando
os primeiros anos da República.
O
surgimento do Brasil como nação é, a exemplo
de tantos outros países, uma história de lutas,
rebeliões, repressões e martírios, com
destaque significativo para o papel desempenhado pela imprensa.
Como escreveu Nelson Werneck Sodré,
"Coincidência
interessante fêz do aparecimento do Brasil na História
e do da imprensa, acontecimentos da mesma época, só
nisso aproximados, porque a arte de multiplicar os textos, acompanhou
de perto e serviu a ascenção burguesa enquanto
a nova terra, integrada no mundo conhecido, iniciava a sua existência
com o escravismo: (4)
Por
outro lado, ainda atento às origens da imprensa brasileira
- tardia em relação aos países da América
Espanhola e dos Estados Unidos- é importante ressaltar
o seu caráter dependente das benesses do Estado, o que
gerou uma cumplicidade entre certa imprensa (já então
vista como empresa) por um lado e de patriotas visionários
e impolutos, que desafiavam com seus panfletos e pasquins, o
poder estabelecido, a corrupção e a falta de valores,
entre os quais, bandeira suprema, a liberdade.
Ou seja, as mudanças sócio-políticas se
fazem no mesmo compasso do desenvolvimento da imprensa, que
surge ora como estimuladora, ora como testemunha atuante destas
mudanças. Os intelectuais, que se tornam jornalistas
ou revolucionário, muitas vezes se confundem. E já
aí se atribuem a missão de conduzir a sociedade,
assumindo uma função política. Essa simbiose
política/jornalismo é uma constante na nossa história.
Para Carlos Chagas, isso se explica porque política e
jornalismo são ou deveriam ser, funções
públicas, já que a sociedade ( no sentido de uma
elite cultural que tem acesso aos meios de comunicação
e é por eles influenciada) é guiada por estas
duas balizas.
Do
passado distante ao presente bicudo, sem falar no futuro misterioso,
é pelas páginas dos jornais, de início
panfletários, depois empresariais, das revistas ilustradas,
mais tarde de textos corridos, como em seguida, também,
através de microfones e câmeras, que primeiro se
traçam as linhas mestras dos principais atos e fatos
de nossa história. (5)
É
pois, consensual o papel do jornalista como testemunha viva
da História, embora nem sempre completamente confiáveis,
na medida em que, como atores do processo, tendem a registrar
os fatos à partir de seus próprios paradigmas,
como destaca Ana Maria de Abreu Laurenza, ao dizer que em comparação
à memória de outras atividades profissionais,
a história do jornalismo brasileiro perde em produção
e ganha em fabricação de mitos (6).
Mas
é importante destacar que os pioneiros do jornalismo
queriam mais, queriam também fazer a história.
Tratados sobre o desenvolvimento da imprensa no Brasil estão
recheados de exemplos de intelectuais e ativistas usando a palavra
escrita como seu poder maior de persuasão da opinião
pública. Nomes como Frei Caneca ( fuzilado por sua participação
na Confederação do Equador, Evaristo da Veiga,
Líbero Badaró ( este gritando, antes de tombar
assassinado, "Morre Um liberal, mas não morre a
Liberdade") e tantos outros se destacaram na vida nacional
recorrendo ao jornalismo como forma de luta para suas causas.
O
exercício do jornalismo em nosso país foi feito,
durante todo o século XlX, como fonte de ascensão
social por intelectuais que o utilizavam como trampolim para
fazer carreira na burocracia estatal ou para influir no cenário
político", diz Marques de Melo, citando Max Weber(7)
Desnecessário
dizer que as relações entre imprensa e poder político
se tornaram, permanentemente conflituosas no Brasil, como aliás,
em todo o mundo.
Talvez
pelo fato de serem usados como arma na defesa de grandes causas
sociais e políticas, os textos jornalísticos,
principalmente no período colonial, imperial e até
o golpe militar de 64, que marcou uma grande transformação
na imprensa, eram carregados de adjetivos, geralmente ferinos
e impiedosos(provavelmente, inspirados no jornalismo praticado
principalmente na França e Na Inglaterra, quando a imprensa
se transforma no principal instrumento de luta contra o absolutismo).
Este
tipo de texto tem seu ápice com Rui Barbosa, sem dúvida,
uma das maiores expressões do jornalismo político/interpretativo/opinativo
que o país já teve.
Em
seu livro "A Missão da Imprensa, Carlos Lacerda
mencionava a influência de Rui Barbosa, um dos seus patronos
profissionais, no desenvolvimento de sua própria trajetória
como jornalista. E abraçava a proposição
de que o jornalista é o político do povo, ou nas
palavras do próprio Rui, : ao mesmo tempo um mestre de
primeiras letras e um catedrático de democracia em ação,
um advogado e um censor, um familiar e um magistrado".
(8)
Nascido
em 1849, Rui viveu o final do segundo império e a transformação
causada pela proclamação da República,
da qual foi apaixonado defensor. Jurista, parlamentar, escritor,
jornalista, Rui uma das mais emblemáticas figuras deste
período crucial para a formação da nacionalidade,
participando ativamente dos principais momentos da vida pública,
defensor de causas como abolição e a república,
além de jornalista dos mais contundentes. Foi profundamente
influenciado pelos pensadores europeus, principalmente ingleses,
escrevendo com admiração sobre o papel da imprensa
na Grã Bretanha( notadamente durante a Guerra da Criméia
) e nos Estados Unidos.
Rui
acreditava que a liberdade de um povo estava intimamente ligada
à democracia e à liberdade de imprensa, que ,segundo
ele, era a "vista da Nação". Para ele,
registra Freitas Nobre, a imprensa não significa simplesmente
uma liberdade individual, mas uma instituição
de ordem pública e, por isso, conclui que "não
se suprime esta liberdade, senão para ocultar a ausência
das demais".(9)
Em
seu livro paradigmático, A imprensa e o dever da verdade,
faz um chamamento á responsabilidade social da imprensa,
exortando o jornalista a seguir princípios éticos.
Por
ela é que a Nação acompanha o que lhe passa
ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que
lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe
onde lhe alvejam ou nodoam, mede o que lhe cerceiam ou destroem,
vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça.
(10).
A
teoria da responsabilidade social teve como base a filosofia
liberal, elaborada partir do inglês John Locke, formaram
o núcleo do pensamento comunicacional norte-americano,
a partir do conceito estabelecido por Tyrus Butker, da Escola
de Jornalismo da Universidade da Geórgia, depois adotado
por vários teóricos da comunicação
de massa. Tyrus definiu quatro conceitos para a comunicação
social: controle através de licenças, liberdade
sem restrições, imprensa a serviço do Estado
e liberdade com responsabilidade ( a imprensa plenamente informada
e responsável.
Seguindo
este fio de raciocínio, encontramos uma descrição
mais detalhada em Fred S.Siebert e Theodore Peterson, citados
por Antonio Fernandes Neto, onde se coloca que, por gozar de
uma posição privilegiada, a imprensa está
obrigada a assumir certas responsabilidades, perante o governo
e a sociedade.
"Se
llegaraon a atribuir seis tareas a la prensa, a medidaque evolicionó
la teoria tradicional: 1.servir al sistema político brindando
información, discusión y debate sobre los asuntos
públicos; 2.ilustrar ao público para capacitarlo
en el auto-gobierno; 3. Proteger los derechos del indivíduo
actuando como perro guardián contra el gobierno; 4. Servir
al sistema económico, acercando principalmente a los
compradores y vendedores de biens y servicios mediantes los
avisos de publicidade; 5. Brindar entretenimiento; 6. Mantener
sua própria auto-suficiência financiera para librarse
de las presiones de los intereses especiales. (11 )
Intensamente
debatida por estudiosos americanos, a Teoria da Responsabilidade
Social incorpora em determinados momentos, a possibilidade da
autocensura ou até mesmo da censura, se acordo com os
interesses de Estado, o que pode ser verificado em Lacerda,
quando justifica perante a SIP o fato de colocar censores nos
jornais cariocas, num momento de intensa agitação
social.
À
luz da teoria da responsabilidade social, é possível
perceber porque Lacerda, ao tentar ele mesmo balizar seus conceitos
sobre imprensa recorre a Rui Barbosa, que via no jornalista
o zelador da comunidade. Mais ainda, via na imprensa papel construtivo
da democracia, com destaque para a função do jornalista.
"Cada
jornalista é, para o comum do povo, ao mesmo tempo, um
mestre de primeiras letras e um catedrático de democracia
em ação, um advogado e um censor, um familiar
e um magistrado. Bebidas com o primeiro pão do dia, as
suas lições penetram até o fundo das consciências
inexpertas, onde vão elaborar a moral usual, os sentimentos
e os impulsos de que depende a sorte dos governos e das nações".
(12)
Até
sua morte, em 1923, Rui Barbosa de bateu pela liberdade e democracia
e contra a corrupção que identificava no governo
e em alguns setores da imprensa, que denunciava e criticava
acirradamente.
Nada
mais útil às nações, do que a imprensa
na lisura de sua missão. Nada mais nefasto do que ela
mesma na transposição do seu papel. Se o fiel
der em ladrão, não haverá, neste mundo,
ladrão tão perigoso , alertava em A Imprensa e
o dever da verdade (13)
Lacerda
sempre admitiu a profunda admiração por Rui e
até o defendeu, quando Austregésilo de Atayde,
durante uma conferência no Itamarati, atribuiu à
imprensa um lugar secundário na vida do grande jurista,
orador e tribuno. Para Lacerda, Rui era antes de tudo, essencialmente
jornalista, permanentemente jornalista (...) a quem deve o jornalismo
brasileiro análises penetrantes da situação
nacional e internacional (....). (14)
Outra
grande influência admitida por Lacerda, foi Alceu Amoroso
Lima, de quem aceita a proposição de que o jornalista
é o zelador da comunidade.
Para Alceu, a informação tem o dever de formar
a opinião pública.
É
a grande finalidade moral e social do jornalista, escreve ele,
que vai além da finalidade puramente informativa (.......).
O que importa é acentuar o caráter social do jornalismo.
E a sua alta responsabilidade na formação e esclarecimento
da Opinião Pública, coluna mestra dos regimes
de liberdade política. (15)
Um
dos mais respeitados intelectuais brasileiros do século
XX, Alceu, nascido em 1893, formado em ciências jurídicas
e sociais, começou a carreira jornalística em
1919, já com o pseudônimo de Tristão de
Athayde, especializando-se em crítica literária.
Humanista
cristão, como ele mesmo se definia, teve uma trajetória
intelectual complexa, mas sempre ligado ao pensamento católico,
recusando as propostas comunistas e integralistas, postura que
o levou a estar ao lado do Estado Novo junto com a igreja conservadora.
Também não se pode reduzir o pensamento de Alceu
Amoroso Lima a um só momento. Sua visão era muito
mais ampla e profunda, quando dizia abominar no capitalismo
a falta de justiça e no comunismo a falta de liberdade.
Ao longo de sua profícua existência, pode mostrar
com firmeza a defesa de suas idéias, sempre contra o
arbítrio e a injustiça, se colocando contra os
atos de força do regime militar pós-64,ao mesmo
tempo em que criticava abusos das organizações
de esquerda. Com relação à imprensa, sempre
defendeu a valores éticos compatíveis com seu
modo de pensar, ou seja, uma imprensa orientada por nobres princípios
morais, éticos e políticos (16).
Estas
influências, somadas ao fato de ter sido criado, como
ele mesmo dizia, num meio político, podem lançar
algumas luzes sobre o futuro desempenho de Lacerda no jornalismo
e na política. Seu pai foi Maurício de Lacerda,
também político e jornalista, que participou dos
movimentos de 1922 e 1924, foi preso e perseguido. O avô,
Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda, foi ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ouvi
falar de política em casa, desde que me entendo por gente..[...]
No tempo do colégio a política era um excelente
pretexto para matar aula [...] Quando meu pai era vereador e
as aulas eram muito chatas, eu ia para a Câmara acompanhar
os debates [...] Depois, naturalmente, no clima da faculdade;
a minha geração foi muito politizada, desde cedo,
exatamente porque criada dentro da idéia de lutar contra
a ditadura que então se pronunciava. (17)
II-
De jornalismo e política
Carlos Lacerda, nascido em 1914, viveria seus anos de juventude
num cenário político bastante conturbado, marcado
por conflitos que vinham do império, se agravaram na
passagem para a República e se intensificaram nas primeiras
décadas do século.
Os
conflitos entre elites agrárias e civis e os militares
que ocuparam o poder após a derrubada da monarquia, continuaram
durante os primeiros anos da República. Mas a partir
de 1894, com a posse do paulista Prudente de Morais, esta elite
passou a dominar o cenário político, até
a revolução de 30. Foi a chamada República
Velha ou das Oligarquias, ou do café com leite, quando
paulistas e mineiros se alternavam no governo, mas sempre mantendo
as diretrizes do grupo. Trocas de favores, corrupção,
apadrinhamento eram as situações mais comuns.
Naturalmente
os demais estados queriam seus próprios espaços,
gerando tensões locais. Por outro lado, o início
de um processo de industrialização, notadamente
no eixo Rio-São Paulo, levou à formação
de um proletariado urbano, representado basicamente pelos imigrantes,
que traziam idéias socialistas e anarquistas da Europa.
Após o triunfo da revolução bolchevique
na Rússia, as idéias comunistas se espalharam
pelo mundo, chegando ao Brasil e sendo marcadas pela criação
do partido comunista, em 1922. Começando a se organizar,
este grupos criam formas de luta por melhores condições
profissionais.
A
imprensa, que começa a se estruturar, como a indústria,
em moldes empresariais, capitalistas, desempenha papel importante,
mas, como dizia Rui Barbosa, por vezes fugindo de sua missão
ética e cooperando com a corrupção governamental.
O resultado é uma repressão violenta do governo,
tanto à imprensa que não consegue cooptar, quanto
aos grupos de oposição.
Com a expansão do ensino secundário e a criação
de novas faculdades, surge uma nova classe social, formada de
grupos agrários decadentes e descendestes de imigrantes
(médicos, professores e engenheiros, que passam a formar
novo grupo de opinião e influência, mas o primeiro
degrau as escala política, ainda é o bacharelado
em direito. Nos anos 20, a pressão política aumenta,
surgem os movimentos como o Forte de Copacabana (22), a Revolução
Gaúcha ( 23) e em 24, uma série de levantes pelo
país, articulada a partir de São Paulo. Os tenentes
conseguem mobilização em Mato Grosso, Sergipe,
Amazonas e Pará, contra o governo Artur Bernardes. Os
rebeldes marcham rumo sul, dando origem ao episódio que
ficou conhecido como a Coluna Prestes e projetou Luís
Carlos Prestes no cenário político nacional. Em
1930, Vargas assume o poder, com a promessa de uma verdadeira
revolução, o que acabou não conseguindo.
[...]
o episódio de 30 não foi uma"revolução"no
sentido exato da palavra,pois significou apenas m novo arranjo
político nas esferas do poder.As transformações
ocorridas nesse período, resultaram basicamente em uma
reorganização das forças oligárquicas.
(18)
A
partir daí, personificado na figura de Getúlio
Vargas, o mito do salvador da Pátria, o líder
que guiaria o povo.
Desde
os anos 30,industrialização e populismo caminharam
juntos, potenciando-se reciprocamente. Sua atuação
combinada mudou a face do país [..] (19)
Todo
este cenário é importante para se conhecer em
que contexto se forma o pensamento de Carlos Lacerda.
Em
1929, com 15 anos, inicia sua carreira jornalística,
como auxiliar da escritora Cecília Meirelles, no Diário
de Notícias. Em 1932, ingressa na Faculdade de Direito
do Rio de Janeiro, mesmo ano da Revolução Constitucionalista
que acontece em São Paulo e é aplaudida pela classe
média do Rio de Janeiro e intensamente discutida pelos
estudantes. Lacerda se engaja não apenas nestas discussões,
como nas atividades do centro acadêmico da faculdade,
forma de organização estudantil fomentada por
intelectuais impregnados de idéias esquerdistas, como
destaca Marina Gusmão de Mendonça.
"Logo
nos primeiros tempos, ligara-se a um grupo liderado pelos professores
marxistas Edgard de Castro Rebelo e Leônidas Rezende e
e composto, entre outros, por Mário Lago, Evandro Lins
e Silva e Antonio de Pádua Chagas Freitas[......] Além
do jornalismo, também tomava parte em todas as atividades
de cunho esquerdista promovidas na Faculdade de Direito [...]
(20)
Anos mais tarde, já nas reflexões da idade madura,
Lacerda, ao paraninfar uma turma de estudantes, escrevia em
"Palavras aos Moços":
Antes
de mais nada, que fique bem claro que a minha geração
foi emparedada em vida pela imprevidência e pela complacência
daquela que a antecedeu.[...] À parte as nobres exceções,
graças a Deus numerosas, dos que fizeram todos os sacrifícios
para dar testemunho de sua resistência, a geração
que antecedeu a nossa deixou-se desfibrar pela perda do sentido
moral da vida. (21)
Como
grande parte da juventude daqueles anos, Lacerda foi atraído
pelas idéias socialistas, que representavam a única
alternativa contra os regimes autoritários (nazi-fascismo),
que subjugavam na Europa, o pensamento liberal. Revelando desde
logo seu talento retórico e sua intensa capacidade de
mobilização, ataca os integralistas de Plínio
Salgado em discursos veementes e corrosivos, intensifica suas
atividades políticas e colabora coma Revista Acadêmica,
iniciando uma prática que retomaria ao longo se sua carreira:
o uso de pseudônimos.
Participa
também da organização da ANL- Aliança
Nacional Libertadora, uma frente de cunho nacionalista, controlada
pelo PCB e concebida nos moldes da orientação
preconizada pela Internacional Comunista, em Moscou, como destaca
Marina Gusmão de Mendonça..
[...]
a ANL defendia, fundamentalmente, a adoção no
Brasil de uma política nacionalista, propondo, entre
outras medidas, a suspensão do pagamento da dívida
externa, a reforma agrária, a nacionalização
das empresas estrangeiras e a organização de um
governo popular.(22)
A
Lacerda, como orador oficial, coube apresentar o nome de Luís
Carlos Prestes ao cargo de presidente de honra do movimento.
Com
a deflagração do movimento liderado pelos comunistas,
em 35, Lacerda se escondeu para evitar a prisão, abandonando
a faculdade. Muitos anos mais tarde, falando como patrono de
um grupo de universitários, ele relembrou seu tempo de
estudante.
Sou
de uma geração que se atirou contra si mesma,
dilacerada, devorada pelo excesso de esperança e pelo
excesso de decepção.[......] Não nos deixavam
alternativa, não nos permitiam nuances; nem a nossa era
uma idade que preferisse nuances à viva apresentação
das cores puras. Fascismo ou comunismo. De um lado e de outro,
excluíam-se os democratas - que, aliás, quase
sempre se deixavam excluir. (23)
III-
A Imprensa Como Missão
Dos primeiros passos no jornalismo estudantil e do início
como assistente de Cecília Meirelles, até quase
sua morte, Lacerda ora foi mais jornalista ora mais político,
mas não deixou uma coisa, nem outra, a exemplo de seu
mestre Rui Barbosa. De 49 até 60, conciliou atividade
parlamentar com vida de empresário e editorialista na
própria Tribuna da Imprensa. A partir de 60, se afasta
do jornal para assumir o governo da Guanabara. Em 66, depois
de sair do governo, volta a exercer a função de
jornalista concomitantemente à de empresário-
funda sua própria editora. Após a cassação,
colabora com alguns jornais - principalmente do grupo O Estado
de São Paulo e publica livros de crônicas e memórias.
Mas
foi nos anos do Estado Novo e até 49, quando funda seu
próprio jornal, a Tribuna da Imprensa, que Carlos Lacerda
viveu intensamente sua atividade como repórter e editorialista.
Passou
por diversos veículos, entre jornais - como O Jornal,
de Assis Chateaubriand, Diário Carioca e Correio da Manhã
e revistas, como Diretrizes, criada por Samuel Wainer. Este
seria, anos depois, seu mais feroz inimigo, com quem protagonizaria
um dos mais formidáveis embates da história da
imprensa brasileira, Lacerda na Tribuna da Imprensa e Wainer,
na Última Hora, esmiuçado no trabalho de Ana Maria
de Abreu Laurenza, "Lacerda e Wainer, o Corvo e o Bessarabiano".
Desta guerra, surgiu a crise que culminou com o atentado a Lacerda,
na Rua Toneleros, onde morreu o major Vaz, oficial da Aeronáutica
e desencadeou o episódio que terminou com o suicídio
de Getúlio Vargas.
Para
melhor se compreender o Lacerda jornalista, é se fixar
na sua prática profissional, caminho que o levou a teorizar
sobre sua visão de imprensa - uma verdadeira missão
ética - que é objeto do presente estudo.
Como profissional, Lacerda foi um autodidata, mesmo porque como
não existiam escolas de jornalismo, cada interessado
na atividade aprendia na prática e se reportando a outros
mestres (no caso de Lacerda, se inspirando, conforme já
citado, em Rui Barbosa e Alceu de Amoroso Lima). Também
vale frisar que a imprensa no Brasil, nas primeiras décadas
do século XX, mudava do pasquim para o jornal empresa.
Os reflexos desta mudança se faziam notar na atividade
diária dos profissionais, já que se buscava um
caminho entre as referências européias e o modelo
comunicacional americano( que viria a preponderar no ensino
do jornalismo nas escolas, anos depois).
Lacerda
conseguiu destaque na área, graças a seu talento
para a oratória e a facilidade para a escrita. Se nos
anos 50 e 60, a oratória foi seu grande aliado no uso
do rádio e da televisão, nos anos 40 foi a capacidade
de escrever com a precisão de um dardo na busca de um
objetivo, que tornou seus artigos e reportagens instrumento
mortal contra seus adversários. Lacerda não fazia
concessões. Sua principal área de atuação
foi o jornalismo político, onde estava em seu elemento.
Destacamos,
como foco de observação, dois momentos importantes
na trajetória do jornalista Carlos Lacerda, por estarem
relacionados com o conteúdo que ele expressa no texto
de "A Missão da Imprensa": a entrevista com
José Américo de Almeida e a campanha que moveu
contra a candidatura de Yeddo Fiuza, em 45.
Estes
dois momentos ocorreram durante a vigência do Estado Novo,
instituído por Vargas em 37. Através do DIP -
Departamento de Imprensa e Propaganda, a ausência de liberdade
se refletiu principalmente na imprensa, o que é uma característica
dos regimes autoritários.
O
autoritarismo impede a existência de um processo de comunicação
voltado para os interesses da sociedade. O governo não
detém, como norma, a responsabilidade do comando dos
veículos. Contudo, os grupos proprietários dos
veículos ou titulares da sua exploração
(casos do rádio e da televisão) são inteiramente
manejados pelos governantes, ressalta Antonio Fernandes Neto.(24)
Diferentemente
do regime comunista, onde os meios de comunicação
são propriedade do Estado e do Partido, instâncias
máximas do regime ditatorial, os regimes autoritários
preferem submeter a imprensa ou silenciá-la enquanto
oposição, através de sanções
econômicas, coerção ou aliciamento.
Na ditadura do Estado Novo, o Dip expunha a face verdadeiramente
autoritária do regime, ao censurar os jornais, o rádio,
o teatro e o cinema, pois como colocaram Rivers e Schramm, este
é um meio de amordaçar qualquer possibilidade
de crítica .
"
[....] paises em que a crítica política por meio
de alguns ou todos os veículos é possível,
mas sujeita à ação da censura e países
em que leis especiais ou outra legislação discriminatória
expoem os que trabalham em comunicação à
prisão e à perseguição.. (25)
A
ação de Lacerda neste período é
bem explicitada por Cremilda Medina, no prefácio da reedição
de A Missão da Imprensa. Para ela, o autor faz "um
exercício de metalinguagem, tão útil para
compreender sua visão de imprensa.(.....) O Lacerda jornalista
nunca se divorcia do estrategista, do autor que pretende intervir
na história (..) Convinha ao Lacerda político
matizar sempre o papel do jornalista de uma função
opinativo-interventora cuja meta, em última instância,
era derrubar ditadores e ditaduras".(26)
A entrevista que José Américo de Almeida concedeu
a Lacerda, é considerada o início do fim do Estado
Novo e foi publicada no jornal carioca Correio da Manhã,
de 22 de fevereiro de 1945.
Em
seu livro de memórias, José Américo de
Almeida, candidato às eleições presidenciais
que não aconteceram, em 37)l relembra a luta que desenvolvia
contra o Estado Novo e que o levou a falar com o jornalista.
"Exercia-se
sobre mim uma pressão ininterrupta para que eu publicasse
um manifesto contra a ditadura.[...] Além dos civis,
apareciam oficiais, meus amigos, com a mesma exigência,
ao que eu respondia: "Vocês, que têm a espada,
tratem de desembainhá-la". Luís Camilo de
Oliveira, o puro, um democrata até a medula, não
me deixava sossegado. Amanhecia e anoitecia em minha casa, batendo
no assunto, com uma sacrossanta impertinência. Até
que, uma noitinha, foi Carlos Lacerda visitar-me. Palavra vai,
palavra vem, concluiu que eu estava em condições
de falar e pediu uma entrevista para o Diário Carioca.
Prometi. Viesse depois. Veio e, se ditei com segurança
o que me vinha à cabeça, foi melhor a apresentação".
(27).
Feita
a entrevista, o Diário Carioca e outros jornais procurados,
tiveram receio em publicá-la. Carlos Chagas rememora
o fato.
Carlos
Lacerda percorre as redações dos principais jornais
cariocas, oferecendo a matéria. Ninguém aceita.
Uns lamentam não poder publicá-la por causa das
represálias que o governo tomaria. Outros fogem como
o diabo da cruz. Afinal, no Correio da Manhã, o redator-chefe
Costa Rego, interessa-se. Consulta o dono do jornal,Paulo Bittencourt,
por telegrama, já que ele se encontrava no México.
Vem a autorização.(28)
Aqui,
vale uma pequena rememoração de Costa Rego, também
figura paradigmática da imprensa brasileira. Costa Rego
foi um dos primeiros teóricos brasileiros de comunicação
e responsável por transformar o jornal Correio da Manhã
numa lenda do jornalismo, reunindo numa mesma redação
nomes como Graciliano Ramos, Aurélio Buarque, Otto Maria
Carpeaux, Ávaro Lins, Luis Alberto Bahia, Antonio Callado,
entre tantos outros gigante da imprensa e das letras do país.
Além disso, exerceu cargos políticos entre os
quais, de deputado e governador de Alagoas.
Com
o título "Declarações do sr. José
Américo", a reportagem ocupa uma página inteira
do jornal. Além do indiscutível valor histórico
do documento, o texto também mostra um pouco do talento
do repórter Carlos Lacerda, que não se limita
a fazer perguntas e registrar respostas, mas situar o leitor
no próprio clima da entrevista, como se também
estivesse na casa, participando.
Este tipo de reportagem quase um texto literário,( o
que deve ter alegrado muito o autor de O Jornalismo como gênero
literário, Alceu Amoroso Lima) passou anos depois, a
ser considerada modelo, não só para estudantes,
como para outros profissionais que a sistematizaram em revistas
como Realidade e modernamente, Veja, IstoÉ e outras.
Diante
disso, reproduzimos aqui um trecho.
"Nesta
hora não me nego a falar. Ao contrário, julgo
chegado o momento de todos os brasileiros opinarem. Esta é
uma hora decisiva que exige a participação de
todos no rumo dos acontecimentos". Com estas palavras,
o Sr.José Américo de Almeida, chefe civil da revolução
de 30, do Norte, ministro da Viação e depois candidato
à Presidência da República, volta à
participação ativa na vida pública.[....]
Na varanda de sua casa da Rua Getúlio das Neves, com
raras interrupções - a netinha que vem pedir um
envelope, a empregada que traz o café, a chegada de um
amigo -, na paz das samambaias umbrosas, junto à massa
do Corcovado ao fundo da pequena rua, o Sr. José Américo
faz as suas declarações. Em plena maturidade,
sem os óculos que os caricaturistas celebrizaram em duas
espirais representando as lentes grossas, baixando um pouco
a cabeça para falar, num gesto modesto e tímido,
mas inexorável de dizer as suas verdades, é indisfarçável
a emoção com a qual ele se dirige à opinião
brasileira[......]. (29) ( O conteúdo integral, pode
ser verificado no final deste trabalho, nos anexos).
A
repercussão da reportagem leva Paulo Bittencourt a oferecer
a Lacerda uma coluna no Correio da Manhã, que se chamou
Tribuna da Imprensa, onde o jornalista tinha inteira liberdade
para cobrir os fatos políticos, num momento em que o
país vivia os ventos democráticos soprados pela
Constituinte instalada em 46. Tão grande foi sua repercussão,
que em 1949,a coluna deu nome ao jornal que Lacerda finalmente
conseguiu fundar.
Outro momento marcante de Carlos Lacerda como jornalista político,
foi o Caso Fiúza.
Trata-se
de uma série de artigos publicados no Diário Carioca,
depois transformada em livro publicado em 46. Nestes artigos,
Lacerda mais uma vez comprava briga com os comunistas e com
seu já então inimigo Luís Carlos Prestes.
O
início da peleja foi a decisão de Getúlio
Vargas, numa tentativa de manter o controle sobre a transição
para a democracia depois de 15 anos de ditadura, de convocar
eleições gerais para 2 de Dezembro de 1945, nas
quais, além do Presidente da República, seriam
escolhidos os parlamentares para a Assembléia Nacional
Constituinte. A estratégia de Getúlio era compor
uma base aliada em torno do queremismo( a continuidade com Vargas),
incluindo o apoio dos comunistas. Para tanto, decretou anistia
ao partido e mandou soltar Prestes, secretário geral,
para facilitar a articulação. De outro lado, a
UDN de Lacerda apoiava a candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes.
Já o PSD lançara o General Eurico Gaspar Dutra,
também apoiado pelos integralistas. Prestes saiu da cadeia
e passou a defender a união em torno de Getúlio,
o que foi demais para Lacerda.
No
dia 27 de Maio, sai seu primeiro artigo pelo Correio da Manhã,
chamado "A mão estendida e a liquidação
moral", anunciando o rompimento com Prestes e lembrando
a participação de Getúlio Vargas na deportação
da mulher de Prestes, Olga Benário, para a Alemanha,
onde ela, judia, morreria num campo de concentração.
Lembrava também as simpatias de Vargas pelos nazi-fazistas,
durante a guerra. O artigo, apesar do pêso das denúncias,
é considerado comedido pela historiadora Marina Gusmão
de Mendonça
"É curioso verificar que a notória violência
de Lacerda está ausente desse texto. Em lugar da agressividade,
ele assumia o comedimento de um conselheiro, chegando quase
a ditar as palavras que, no seu entendimento, deveriam ser pronunciadas
por Prestes, caso este realmente aspirasse à união
nacional, como propalava". (30)
Meses
depois, o PCB resolvia indicar candidato próprio e o
escolhido foi o engenheiro do Departamento Nacional de Estradas
de Rodagem (DNER), Yeddo Daudt Fiúza. Amigo de Vargas,
Fiúza era também ex-prefeito de Petrópolis,
onde haviam denúncias de corrupção contra
ele.
De 22 de novembro a 2 de dezembro, Lacerda publicou no Diário
Carioca, dez artigos, que ele chamou de "um documentário
- depois também reproduzidos em outros jornais. A linguagem
forte, panfletária, adjetivada, mas com denúncias
que não foram contestadas pelos adversários, o
que revela o cuidado do articulista em embasar os textos em
informações concretas, mostrou toda a capacidade
de Carlos Lacerda em demolir os inimigos.
Em
um trecho do primeiro artigo, por exemplo, dizia:
As
circunstâncias que rodearam esta candidatura-caricatura,
são dignas de nota. Depois de lançar o seu candidato
como quem lança um inseticida, com uma publicidade incompatíveis
(sic)com os limites do decoro,[...] o sr. Prestes já
não quererá contar em que empregou a sua paranóia
desde meiados (sic) de outubro.
No
artigo seguinte, entre outros apupos, acusava o candidato de
corrupção:
Pelo curioso apelido de "Dez por cento"é conhecido
no Departamento de Estradas de Rodagem o sr. Yeddo Fiúza.
A origem do apelido é apenas esta: nos negócios
de fornecimentos para estradas havia sempre uma comissão
10% fornecida a pessoas intimamente ligadas ao candidato do
sr. Prestes ou ao próprio "candidato atômico".
No
seguintes, declarava que uma de suas motivações
para a campanha, era a paixão;
"Acusem-me
de paixão, se quiserem. Sim, sou um jornalista movido
pela paixão, a dor de ver como se mente e se ilude o
povo do meu país [....].
No décimo artigo, publicado a dia 2 de dezembro, dia
das eleições, Lacerda voltava a lembrar o que
considerava os princípios éticos do jornalista:
Fiel à honra profissional do jornalista, que exige elementar
respeito à verdade, eu não poderia silenciar sôbre
(sic) um candidato, qualquer que ele fôsse, (sic) ao verificar,
com os meus próprios olhos, que esse homem é indigno
de merecer a confiança de seus concidadãos [.....]"
No
mesmo artigo, se refere a como foi em busca das provas para
suas afirmações
Foi
então que trouxe a público com provas e documentos
que tenho divulgado desde terça-feira passada sem que
até hoje se pudesse contestá-los, a vida administrativa
e profissional do candidato Fiúza [..]
Ao agradecer as mensagens de apoio, cita telegrama de Alceu
Amoroso Lima
[....] o líder católico Alceu Amoroso Lima, do
qual tenho divergido desde o meu tempo de estudante, envia-me
um telegrama que ouso transcrever porque, se muito me honra,
mais ainda há de honrar a inteligência brasileira,
que assim se mostra capaz de unir-se diante da infâmia
para fazer valer a voz da verdade inerme.
"Seus
recentes artigos, coroados pelas palavras de ontem, no rádio,
o consagram como um dos maiores jornalistas brasileiros"...
Num
outro trecho, Lacerda faz defesa apaixonada da democracia:
A
democracia brasileira ainda não existe, e o que dela
se possui em embrião, está desaparelhado para
lutar, na praça pública, contra os seus inimigos.
Os que estavam encarregados de incarná-las (sic) e defendê-la(sic)
cuidaram sempre que para isso bastaria a Polícia especial.
Hão de saber, agora, que a democracia só se defende,
praticando-a, preservando-a, num trabalho de aperfeiçoamento
progressivo, militante, apaixonado. (31)
A
citação destes textos (o conteúdo integral
do último capítulo pode ser verificado em Anexos)
é importante, para analisarmos a semelhança, não
apenas temática, mas mesmo na forma incisiva e instigante
de escrever, além do chamamento do dever do jornalista
para com a verdade e defesa do regime democrático e a
probidade dos homens públicos. Esta semelhança
pode ser notada, no texto de Rui,
[....]
Se o homem público há de viver na fé que
inspirar aos seus concidadãos, o primeiro, o maior, o
mais inviolável dos deveres do homem público,
é o dever da verdade: verdade nos conselhos, verdade
nos debates, verdades nos atos; verdade no governo, verdade
na tribuna, na imprensa e em tudo verdade, verdade e mais verdade.
(32)
Os
padrões que criou para si, na sua prática profissional,
Lacerda os reuniu em seu livro paradigmático, A missão
da Imprensa.
Este
é transcrição de uma palestra que Carlos
Lacerda pronunciou, como convidado, em três lugares diferentes,
no ano de 1949: no auditório da Associação
Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro, a convite da Resistência
Democrática; no Conservatório de Belo Horizonte,
a convite da União Estadual de Estudantes e na Faculdade
de Direito de São Paulo, a convite da Juventude Universitária
Católica. O Autor a dedicou a duas figuras emblemáticas,
para ele: Carlos Alberto Nóbrega da Cunha, que o responsável
pelo seu início profissional e Luís Camilo de
Oliveira Neto, que, no dizer de Lacerda, "libertou a imprensa
brasileira".
Como
o que escreve já no início:
Assim
amparado ouso enfrentar um tema que é o da minha própria
vida, minha áspera fortuna, minha radiosa miséria,
triste glória, fecundo opróbrio [...] Por jornalista
fizeram-me político, por jornalista renunciei, por jornalista
vivo, por jornalista quiseram matar-me; justa, portanto, é
a licença que ora para mim reclamo de analisar os erros
e as desculpas e, ainda mais, as razões de uma profissão
pela qual não somente ganho como igualmente gasto a minha
vida .(33 )
Citando
este trecho em seu livro "O Demolidor de Presidentes",
a historiadora Marina Gusmão de Mendonça comenta,
a propósito de Lacerda considerar a imprensa como uma
missão:
"Como
uma metralhadora giratória, jamais pouparia quem quer
que fosse, fazendo dos ataques sistemáticos a pessoas
e instituições a tônica de seu estilo jornalístico.
Se, de um lado, este traço virulento poderia ser uma
característica de sua personalidade, de outro, talvez
resultasse da própria visão que parece ter desenvolvido
de si e de seu ofício.(....) Portanto, como bom profissional,
suas investidas contra tudo e todos estariam plenamente justificadas,
apenas refletindo o zêlo pela verdade". (34)
Mas
para ele, o jornalismo não era só o zêlo
pela verdade. Em A missão da imprensa, procura destacar
aspectos éticos, como quando
a imprensa se vê submetida á influência de
fatores estranhos ao dever da verdade, o primeiro dever do jornalista
é servir à justiça.
Também
condena o que chama "tendência dos jornalistas"
de uma propensão ao ceticismo, que justificaria uma postura
de complacência e capitulação. E conclui:
ao jornalista é próprio construir uma opinião
pública bem informada, atenta, vigilante, esclarecida.
Não
poupa de críticas os jornalistas amadores, a serviço
de interesses outros que não o de informar. Jornalistas
venais, que trocam elogios por dinheiro e vantagens. Para ele,
o verdadeiro jornalista, o que tem paixão pelo jornal,
morre amarrado a um salário magro, sem renunciar a seu
prazer e sua responsabilidade para com os outros.
Chama
atenção para o perigo do jornalista ser seduzido
pela vaidade e pela ambição, sua ou dos outros,
numa crença falsa de que todo mundo pode ser jornalista.
Para ele, o jornalista tem que mostrar sua capacidade de ser
tolerante e ao mesmo tempo intransigente. Mas ressalta a importância
de uma imprensa livre, até mesmo para que os governantes
possam governar.
Para Lacerda, jornalismo pode ser definido como a arte de simplificar
a complexidade dos fatos e das opiniões, tornando-os
acessíveis à compreensão de um número
apreciável de pessoas, fixando-os num momento de sua
trajetória, o que confere certa permanência à
sua transitoriedade se passando.
Embora
o texto tenha sido escrito antes dele se tornar empresário
- fundaria logo depois a Tribuna de Imprensa - já revela
sua preocupação da diferença entre o pensar
e o fazer jornalístico, quando diz que o jornal não
dá todas as opiniões, submete a informação
a uma seleção, critério que demonstra a
opinião de alguém, antes da notícia chegar
ao leitor, que não tem aí nenhuma participação.
Mas deixar ao jornalista o critério de decidir o que
precisa ser passado ao leitor, implica, segundo Lacerda, em
grande responsabilidade. Por isso enfatiza que o jornalista
não pode ser qualquer um, nem defender qualquer coisa.
E
cita a definição de outro autor paradigmático,
o americano Walter Lippmann, sobre a "função
da notícia, que é assinalar um fato; já
a função da verdade é iluminar os fatos
escondidos, estabelecer relação entre uns e outros
e apresentar um quadro da realidade sobre a qual os homens possam
atuar".
Também
insiste em que cada povo tem não a imprensa que merece,
mas que reflete os traços da elite dominante. Neste caso,
os males da imprensa, para ele, são os males da elite
do país, entendendo elite todos os grupos que exercem
influência na comunidade - patrão ou operário,
homem ou mulher. Atribui à falta de densidade destas
elites, a crise moral que impede o desenvolvimento da população.
Ele
diz, textualmente: Se a nossa imprensa está ruim, a culpa
não é dos que não a lêem e sim, precisamente,
das elites que lêem, que escrevem, que pagam, que anunciam,
que temem, que se ausentam, que se esquivam, que se furtam -
e que furtam! Elogiando o leitor, que considera o que há
de melhor na imprensa, Lacerda critica o abuso de manchetes,
fotos e títulos chamativos, que na sua avaliação,
estão mais para pasquins, que jornais verdadeiros, aqueles
que fazem juz à missão civilizadora da imprensa.
Conclama o leitor a exigir do jornalista que seja intérprete
e não deformador da opinião pública, questionando
se suas ações visam o bem público e não
uma conveniência ou preconceito de ordem pessoal ou ideológica.
Para ele, mais importante que discutir liberdade de imprensa,
é a questão da liberdade que a imprensa tenha
de usar a liberdade, fazendo alusão certamente ao fim
da censura na imprensa com a redemocratização
do país em 45.
Alertava
para o perigo do uso político da imprensa, como propaganda
do governo. (Aliás, voltando a Rui Barbosa, que fazia
desta sua bandeira de luta). Como Rui, enfatiza a necessidade
do bom uso da liberdade de expressão.
Outra
preocupação que expressa, é a de o jornal
não deva ser só um veículo para dar lucro,
embora dependente de verbas e anunciantes. E lembra o perigo
de virar porta voz do interesse do proprietário ou de
um governo, como se deu na própria
formação da imprensa em Portugal e no Brasil,
dependentes do poder do Estado, o que explicaria sua natureza
submissa ( se refere à grande imprensa). Lembra estudo
de Carlos Rizzini, no qual aquele ressalta que o Brasil foi
o último país americano a ter jornal e tipografia
e mesmo assim, o primeiro jornal, chamado a Gazeta do Rio de
Janeiro, circulou pela primeira vez em 1808, com atos oficiais
e elogios ao governo. Segundo Lacerda, a imprensa brasileira
só se redime quando Hipólito José da Costa
funda o Correio Braziliense em Londres e critica o jornal da
corte, dizendo que para gastar papel com notícias tão
chinfrins, seria melhor usar o papel para embrulhar manteiga.
Ressalta
que não quer denegrir a imprensa, já que seus
defeitos não são incuráveis. Mas afirma
que entre estes defeitos, está a falta de amor pelo jornalismo
e até um desprezo pela opinião pública
por parte dos profissionais.
E concluindo sua verdadeira aula, define o que considera algumas
características do jornalismo brasileiro.
Exagero
e facilidade no ataque e no elogio;
Pouca
referência às fontes de informação
e verificação da notícia, por dificuldade
de acesso. Basta dizer que apenas três ou quatro jornais,
no Brasil, têm arquivo digno deste nome;
Preferência
pelos aspectos superficiais do problema;
Nacionalismo
extremado como regra, subserviência ao interesse estrangeiro
como exagero contrário.
Conclusões
Ao final, algumas observações;
Lacerda
jornalista, Lacerda político - duas personas numa só,
uma necessitando da outra todo o tempo, uma suplantando a outra,
por vezes. Mas tanto no político como no jornalista,
uma trajetória marcada pela paixão e uma determinação
obstinada em perseguir algumas utopias, como liberdade, ética,
democracia, enfim, o melhor dos mundos, mas deixando entrever
uma postura realista sobre o mundo possível, como quando
afirma
A democracia só é possível onde os homens,
em sua maioria, tomam consciência da relatividade das
soluções. (35)
Em
diversas oportunidades, ao longo de sua vida, Carlos Lacerda
fez questão de deixar claro sua opção pelas
idéias democratas, rejeitando o totalitarismo, fosse
de esquerda ou de direita. Assim como se penitenciou muitas
vezes por ter, na juventude, se deixado atrair pela sedução
da "verdade absoluta e salvadora"do pensamento único,
representado pelos regimes autoritários.
Mas, segundo alguns dos seus biográfos, durante toda
sua vida nutriu pelos comunistas uma relação de
amor/ódio desde seu desligamento do Partido, em 1938,
após publicação de uma reportagem onde
dava nomes e segredos do PCB, o que teria permitido prisão
e tortura de militantes pela repressão do Estado Novo.
Esta
versão foi amplamente desmentida posteriormente, conforme
relatam a historiadora Marina Gusmão de Mendonça
e o jornalista Carlos Chagas. Lacerda teria escrito o artigo
a pedido do próprio partido e os militantes, presos antes
mesmo da publicação. (36) Numa entrevista publicada
no Diário da Noite, do Rio de Janeiro, em 1945, explicava
porque não aceitava o comunismo.
Não
sou comunista porque não posso tolerar a ditadura, seja
qual for; porque não quero censura à imprensa
nem o predomínio de uma casta partidária, cujos
privilégios, acumulando-se com o tempo e o longo exercício
do poder, acabam por transformar-se em dominação
em tudo semelhante àquela que vemos na sociedade capitalista.
Em vez de "perigoso extremista", o homem que pensa
livremente é então chamado de "reacionário"
ou "trotsquista"(sic), O resultado é o mesmo:
intolerância, propaganda maciça, opinião
pública dirigida, falsificação das idéias
e dos fatos. Mas, é claro, não ser comunista não
significa negar aos comunistas o direito de existirem politicamente
e de se manifestarem -contanto que eles dêm aos seus adversários
o direito de também existirem e se manifestarem políticamente.
(37)
Examinando
seus depoimentos, emerge dali um homem realmente atraído
pelas idéias democráticas, vendo em si mesmo o
responsável por uma missão salvadora. Em honra
desta missão, foi preso sob Vargas, colaborou, com intensa
militância, para a restauração do regime
democrático em 45, apoiou e criticou governos, foi vereador,
deputado, governador do Estado da Guanabara e um dos líderes
civis do golpe de 64. Descontente com os militares, não
deixou de denunciar o que considerou distorções
do regime militar e pedir a volta da democracia. Também
pela democracia, tentou a Frente Ampla, uma articulação
com antigos e ferrenhos inimigos - JK e Jango Goulart. Preso
e cassado, morreu sem ver o fim da ditadura de 20 anos e o país
retomar os caminhos democráticos.
Se
vivo estivesse, talvez pudesse notar no país de hoje,
as mesmas dificuldades, as mesmas propostas de homens dispostos
a "salvar o Brasil", os poderosos jogos de interesses,
grupos e partidos que seguem postos no tabuleiro da política
nacional.
Neste
início de século XXl, o país dos sonhos
e da liberdade que Rui Barbosa e tantos outros grandes homens
perseguiram, ainda é apenas uma utopia. E o Brasil segue
ainda sendo apenas o "país do futuro".
Carlos
Lacerda pode - e deve - ser incluído entre aqueles que
amaram e defenderam o jornalismo como a máxima expressão
de uma sociedade democrática. E mais: nunca deixaram
de acreditar nele.
Para
lembrar estes " construtores de utopias",(fazendo
aqui uma apropriação- indevida- de frase inspirada
do Prof. Marques de Melo), um pequeno texto de Odylo Costa,
filho, à guisa de encerramento:
O
jornalismo das épocas de liberdade de imprensa é,
inevitavelmente, óbviamente, uma das fontes com que se
há de escrever história, a História.[...]
Viva o jornalismo livre: viva o jornal de outrora, com tipos
de madeira e xilogravuras cavadas em casca de cajá, que
enfrentava o Poder e não dependia do Dinheiro. Mas viva
também a imprensa, que, na era industrial, e apesar das
coordenadas que lhe são intrínsecas, soube garantir,
dentro das limitações da natureza humana e das
vigilâncias onipresentes do Estado, a exatidão
da notícia e da liberdade de opinião. ( 38)
Trechos
Citados
(1) Morin, Edgar O Pensar Complexo.Org. Alfredo Pena-Veja e
Elimar Pinheiro de Almeida, Rio de Janeiro, Garamond, 1999,
pg.31
(2)
Vilas Boas, Sérgio Perfis e como escrevê-los, São
Paulo, Summus, 2003, pg. 16
(3)
Melo, José Marques de, História do Pensamento
Comunicacional, São Paulo, Paulus, 2003, pg.92
(4)
Sodré, Nelson Werneck, História da Imprensa no
Brasil, Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira,
1966.pg.11
(5
) Chagas, Carlos - O Brasil sem retoque 1808-1964: a História
contada por jornais e jornalistas, Rio de Janeiro, Editora Record,
2001 - volume I -pg.10
(6)Laurenza,
Ana Maria de Abreu, Lacerda e Wainer- O Corvo e o Bessarabiano,
São Paulo, Editora SENAC 1998, pg. 17
(7)
Melo, José Marques de, História do Pensamento
Comunicacional, obra citada, pg.296.
8)
Lacerda, Carlos, A Missão da Imprensa, 2 ed. São
Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2003 - pg.30.
(9
) Nobre, Freitas, Prefácio de A imprensa e o poder da
verdade, 4 ed. São Paulo - Editora da Universidade de
São Paulo,2003 pg. 25
(10)
Barbosa, Rui - A imprensa e o dever da verdade -São Paulo
: Editora da Universidade de São Paulo, 4.ed. 2003 -pg.37
(11)
Siebert, Fred S. e Theodore Peterson, Tres Teorias Sobre La
Prensa, citado por Fernandes, Antonio Neto, Jornalismo e Liberdade,
São Paulo, Edição Pannartz ,1980
(12)
Barbosa, Rui A imprensa e o dever da verdade. obra citada. pg.38
(13
) Barbosa, Rui, Obra citada, pg.38
(14)
Lacerda, Carlos A Missão da Imprensa, obra citada, nota
à pg.11
(15)
Lima, Alceu Amoroso, O jornalismo como gênero literário,
em Clássicos do Jornalismo Brasileiro, São Paulo,
Editora da Universidade de São Paulo,2003, pg.61
(16
) Koshiyama, Alice Mitika, o Ideal Inatingido do Jornalismo,
em O jornalismo como gênero literário, obra citada,
pg.21.
(17)
Israel Beloch e Alzira Alves Abreu (orgs.), "Carlos Frederico
Werneck de Lacerda", citado por Ana Maria de Abreu Laurenza
, Lacerda e Wainer o Corvo e o Bessarabiano, pg. 37.
(18)
Domingues, Joelza Ester, Brasil Uma perspectiva histórica,
São Paulo, FTD, 1983, pg.222.
(19)
Gorender, Jacob, Combate nas Trevas, São Paulo, Editora
Ática,1987, pg.15
(20)
Mendonça, Marina Gusmão de. obra citada, pg. 34.
(21)
Lacerda, Carlos, Em Vez, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira,
1975 pg.242
(22)
Mendonça, Marina Gusmão de, obra citada, pg.37.
(23)
Lacerda, Carlos, O Poder das Idéias -obra citada, pg.
42.
(24)
Fernandes, Antonio Neto, Jornalismo e Liberdade, São
Paulo, Edição Pannartz,1980 1ed. pg.43
(25)
Rivers, William L. e Schramm, Wilbur - Responsabilidade na Comunicação
de Massa, Rio, 1970 Bloch Editores,1970 (citado por Neto, Antonio
Fernandes, obra citada, pg.45)
(26)Medina,
Cremilda, Sob a Alegria do Risco e A Intuição
do Indefinível - prefácio de A missão da
imprensa, de Carlos Lacerda, Edusp -2003 Segunda edição
pg. 11 a 13
(27
) Lacerda, Carlos e outros, Reportagens que abalaram o Brasil,
Rio de Janeiro, Bloch Editores, 1973, pg.110.
(28
) Chagas, Carlos, obra citada, pg.479
(29
) Reportagens que abalaram o Brasil, obra citada, pgs. 111 -112.
(30
) Mendonça, Marina Gusmão de, obra citada,pg.76
(31)
Lacerda, Carlos, O Rato Fiúza, Rio de Janeiro, Editora
Moderna, 1946,pgs. 20-59 e 98-103
(32)
Barbosa, Rui, obra citada, pg.67
(33)
Lacerda, Carlos, obra citada,pg 24.
(34)
Mendonça, Marina Gusmão de, O Demolidor de Presidentes,
obra citada, pág.59).
(35)
Lacerda, Carlos, O Poder das Idéias, obra citada, pg,48.
(36)
Para a referência de Marina Gusmão, O Demolidor
de Presidentes, obra citada,pg.46. Para a de Carlos Chagas,
O Brasil Sem Retoque, obra citada, pg.478.
(37)
Lacerda, Carlos, O Rato Fiuza, pg 109.
(38)
Branco, Carlos Castello, Introdução à Revolução
de 1964, Rio de Janeiro, Editora Artenova, 1975 - 2o Tomo ,
Prefácio,pg.11 by Odylo Costa, filho
Anexos
1."Assim
como se confunde a veemência com a violência e a
ira com o ódio, confunde-se também a paciência
com o cansaço e a compreensão que se deve às
pessoas, com a complacência que não se deve ter
para com os erros. Abomino o erro, o meu e o de outros. Mas
assim como me perdôo, devo ainda mais depressa perdoar
os outros", afirma em um dos seus últimos escritos
autobiográficos, Rosas e Pedras de meu Caminho.
2.Jornalista
que abraçou a política, se revela, no final das
contas, apaixonado pelo ofício de informar. "Eu
não sou um político, não passo de um jornalista
que faz o papel de político para substituir as estrelas
enquanto faltam atores" escreveu uma vez, salientando o
que considerava sua missão maior. Como um guerreiro temporariamente
fora de combate, quis, em determinado momento, voltar para as
"torrinhas onde me reservo o direito de aplaudir e de vaiar,
e infelizmente mais de vaiar que de aplaudir. Esse papel - o
de jornalista - é o que eu reivindico. Ele é tudo
o quanto pretendo". (2)
3.
Depoimento de José Américo de Almeida
4.
Íntegra da entrevista de Carlos Lacerda com José
Américo de Almeida, publicada no Correio da Manhã
5.
Décimo Artigo da série "O Rato Fiúza
6.
Textos de Carlos Lacerda
Carlos
Lacerda - Dados Bibiográficos
1914
- Carlos Frederico Werneck de Lacerda nasce em 30 de Abril,
no Rio de Janeiro, mas é registrado na cidade de Vassouras,
Estado do Rio, pelo avô Sebastião Eurico Gonçalves
de Lacerda, ministro do Supremo Tribunal Federal. Filho do político
Maurício de Lacerda e Olga Caminhoá Lacerda
1929 - Aos 15 anos, começa a trabalhar no Diário
de Notícias, auxiliando a poetisa Cecília Meireles
1931 - Publica seu primeiro artigo assinado
1932 - Ingressa na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro( Inicia
atividades como orador, ao participar de grupos de discussão
política no centro acadêmico. Se aproxima de grupos
marxistas) É preso pela primeira vez, por participar
de um comício contra o governo. Colaborador da revista
Rumo
1934 - Militante da Federação da Juventude Comunista
- colaborador da Revista Acadêmica- Preso pela segunda
vez pelo DOPS
1935 - Tomando partido na luta contra o governo Vargas - lê
em público manifesto escrito pelo líder comunista
Luís Carlos Prestes, conclamando o povo a resistir a
Getúlio e tomar o poder. - Sob o pseudônimo de
Marcos, publica seu primeiro livro, O quilombo de Manuel Congo.
- Colaborador dos jornais A Marcha e A Manhã
Como outros militantes de esquerda, é perseguido após
a eclosão da revolta comunista, episódio chamado
pelo governo de "Intentona Comunista"
1937 - Engaja-se na campanha de presidencial de José
Américo de Almeida. Com a decretação do
Estado Novo, é preso pela terceira vez.
1938 - Casamento com Letícia Brasilina Abruzzini. Sob
o pseudônomo de Marcos Pimenta escreve na revista Seiva.
Escreve o artigo A exposição anticomunista e rompe
com a esquerda. É tratado como traidor pelos comunistas.
Trabalha para o Observador Econômico e Financeiro. . Começa
a escrever na revista Diretrizes ( de Samuel Wainer, depois
seu maior adversário político) .Organiza e dirige
a Agência Meridional . Assume o cargo de secretário
de redação de O Jornal, editado pelos Diários
Associados, de Assis Chateaubriand
1945- Consegue entrevista histórica com José Américo
de Almeida, publicada pelo Correio da Manhã, que apressou
o fim da censura à imprensa no Estado Novo
1946 - Começa a trabalhar no Correio da Manhã,
onde passa a publicar a coluna Tribuna da Imprensa. É
eleito vereador. Em protesto contra o cerceamento da liberdade
dos políticos imposta pelo governo, renuncia.
1949 - Funda o jornal a Tribuna da Imprensa
1954 - Sofre atentado na Rua Toneleros, onde morre o major Rubens
Vaz, em plena guerra contra Getúlio. Os desdobramentos
do episódio levam ao suicídio de Vargas e a uma
das maiores crises políticas do país. Se elege
deputado federal
1954/55 - Crise política - Episódio do Cruzador
Tamandaré - A Novembrada
1955/56 - Exílio nos Estados Unidos
1956 - Regressa e reassume seu mandato de deputado
1958 - Se reelege deputado
1960 - Eleito governador da Guanabara
1961 - Denuncia golpe armado pelo governo Jânio Quadros
1962 - Se reúne com o presidente americano John Kennedy
1964 - Articula golpe com os militares
1966/1968 - Articula a Frente Ampla,com Jango e Juscelino .
É cassado pelo Ato 5, proibido de exercer direitos políticos
por 10 anos e preso
1977 - Morre no Rio, aos 64 anos -
Principais
Obras de Carlos Lacerda
O
Rio ( 1943)
O Rato Fiuza ... (1943)
Como Foi Perdida a Paz; a Política das Grandes Potências,
da Conferência de Paris a Moscou (1947)
O Brasil e o Mundo Árabe; a Partilha da Palestina; o
Petróleo e o ..... (1948)
Uma Luz Pequenina (1948)
O Caminho da Liberdade; Discurso na Comissão de Justiça
da Câmara dos Deputados (1957)
Xanan e outras Histórias (1959)
O Poder das Idéias (1963)
Reforma Agrária, Liberdade e Propriedade; Notas Taquigráficas
do Improviso do Governador da Guanabara na Convenção
Nacional da UDN (1963)
Paixão Crime; o Processo do Dr. Jaccoud (1965)
Uma Rosa é uma Rosa é uma Rosa (1965)
Palavras e Ação (1965)
Crítica e Autocrítica (1966)
Reportagens que abalaram o Brasil por Carlos Lacerda e outros
(1973)
Em vez; Crônicas (1975)
A Casa do meu Avô; Pensamentos, Palavras e Olhos (1976)
O Cão Negro; Crônicas (1980)
Discursos Parlamentares (1982)
Referências
Bibliográficas
Andrade,
Jeferson de -Um jornal assassinado - a última batalha
do Correio da Manhã - Rio de Janeiro, José Olympio,
1991
Baciu, Stefan - Lavradio, 98 - Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
1982
Barbosa, Rui - A imprensa e o dever da verdade - São
Paulo - Editora da Universidade de São Paulo - 2003
Branco,Carlos Castello, Introdução à Revolução
de 1964 - 1 e 2 Tomos - Rio de Janeiro, Editora Artenova, 1975
Chagas, Carlos - O Brasil Sem Retoque - 1808-1964: A História
contada por jornais e jornalistas volumes 1 e 2- Rio de Janeiro;
Record, 2001
Domingues, Joelza Ester/ Layla Paranhos Leite - Brasil uma perspectiva
histórica - São Paulo, FTD, 1983
Dulles, John W.F. - Carlos Lacerda: a vida de um lutador - volumes
1 e 2 Rio de Janeiro, Nova Fronteira- 1992
- Anarquistas e Comunistas no Brasil - Rio de Janeiro - Editora
Nova Fronteira, 1973
Fernandes, Antonio Neto - Jornalismo e Liberdade -São
Paulo, Edição Pannartz,1980
Gaspari, Elio - A Ditadura Envergonhada/ A Ditadura Escancarada,
São Paulo,Companhia das Letras, 2002
Gorender, Jacob - Combate nasTrevas - São Paulo, Editora
Ática -1987 3a edição
Henriques, Affonso - Rio de Janeiro, 1966 - Record - Ascensão
e Queda de Getúlio Vargas
Lacerda, Carlos - A missão da imprensa, São Paulo
--Editora da Universidade de São Paulo -2003
- Em Vez , Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1975
- O Poder das Idéias, Rio de Janeiro, Distribuidora Record
- 1963 2a Edição
- Reportagens que Abalaram o Brasil, Rio de Janeiro, Bloch Editores,
1973
- O Rato Fiúza, Rio de Janeiro, Editora Moderna, 1946
Lacerda,
Cláudio - Carlos Lacerda, 10 anos depois, Rio de Janeiro,
Nova Fronteira, 1987
Laurenza, Ana Maria de Abreu, Lacerda e Wainer : O Corvo e o
Bessarabiano, São Paulo, Editora SENAC, 1998
Lima, Alceu Amoroso - O Jornalismo como gênero literário
- São Paulo - Editora da Universidade de São Paulo
- 2003
Lima, Barbosa Sobrinho - O problema da imprensa - São
Paulo - Editora da Universidade de São Paulo, 2003
Magalhães, Mauro - Carlos Lacerda, o Sonhador Pragmático
- Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira,
1993
Melo, José Marques - História do Pensamento Comunicacional
- São Paulo, Paulus -2003
Mendonça, Marina de Gusmão - O demolidor de presidentes
São Paulo- Códex, 2002
Morin, Edgar - O Pensar Complexo - Rio de Janeiro - Editora
Garamond -1999 3a Edição
Silva, Hélio - História da República Brasileira,
volumes 14, 15, 16,17,18,19- São Paulo, Editora Três,
1975
Sodré, Nelson Werneck, História da Imprensa no
Brasil, Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira,
1966
Vilas Boas, Sergio - Perfis e como escrevê-los - São
Paulo - Summus Editorial - 2003
Wainer, Samuel - Minha razão de viver, memórias
de um repórter
Rio de Janeiro: Record ,1988 -
Consultas
Revista
IstoÉ Online - Artigo citado "Mataram Lacerda"
08.04.2003
Fundamar - Projeto Fundo de Arquivo Carlos Lacerda - www.fundamar.com
Obra
Analisada
"A
missão da imprensa
Lacerda, Carlos - 2.ed.- São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 2003.
Voltar
|