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Monografias


De rosas e pedras: a trajetória de Carlos Lacerda

Por Vera Rodrigues Silva

"Porque a vida não existe por definição. É aí que eu quero chegar. Viver não é apenas se deixar viver. É ter, a cada momento, a consciência de cada momento, a mão que guarda um pássaro e saber que a todo instante poderá abrir-se para deixar voar essa presença enternecedora e palpitante de um pássaro na mão. Este é o senso dramático da vida, o movimento patético pelo qual cada um pode provar a si mesmo esta verdade não axiomática: Eu vivo. Minha profissão é viver... Penso no meu destino. Sou feliz, sem nenhum ressentimento, com alguns arrependimentos e uma ferocidade superficial, que me defende da ingenuidade nativa e desta incansável alegria de viver, que se não cuidar me domina. Nunca me preparei para a História...Meu destino, parece, é fazer às pressas o que requer vagar e devagar o que, a rigor, demanda pressa... Agora, neste forçado remanso, quando os apressados me julgam vencido e querem passar por cima para chegarem mais depressa, e outros, alegando as minhas ambições, pressurosamente satisfazem as suas, tenho de fazer o que sempre tentei evitar - falar de mim - pois é através de minha experiência e testemunho que se encomenda um panorama do Brasil nestes tempos em que perambulo pelo mundo de Deus a fora."

"Rosas e pedras do meu caminho", Carlos Lacerda.

Introdução

Analisar a trajetória de Carlos Frederico Werneck de Lacerda, ator e personagem da história política e da imprensa contemporâneas, aparentemente caótico e fragmentado em diversas personas que parecem negar uma à outra, exige uma visão mais ampla, abrangente, sem nenhuma amarra a uma visão bipolar ou reducionista, a uma relação imediata de causa-efeito. É buscar um diálogo interdisciplinar que permita é situá-lo numa visão da complexidade do seu e do nosso tempo. Ou, como enunciou Edgar Morin, enfrentar a contradição, em vez de elimina-la, para apoiarmo-nos nela.

"....a complexidade é a união da simplicidade com a complexidade, parafraseando aliás uma frade muito profunda de Hegel e que, de maneira paradoxal, um filósofo chinês do século XVll, Fang-Yischi, encontrou, por seu lado : a vida é a união da união com a desunião ". (1)

Dentro desta perspectiva, a proposta é recusar o caminho fácil dos rótulos apoiado em certezas e verdades e buscar as incertezas, as nuances e contradições que marcaram a trajetória de Lacerda - escritor, empresário, político e sobretudo - como ele enfatizava - jornalista.

Como instrumento de análise, situá-lo no contexto sócio-político de seu tempo, bem como na sua própria vida e realizações, com base na formulação sujeito-obra como intimamente ligados, buscando conhecer melhor o personagem através não só das visões que se tinham dele (seus biógrafos) como da interpretação que ele fazia de si mesmo, através de seus escritos - entrevistas, depoimentos, artigos, discursos, crônicas e acima de tudo, seu pensamento sobre o ofício do jornalista.

Tentando, como escreve o pesquisador Sergio Vilas Boas, "descobrir o universal embutido nas particularidades, lançar luzes sobre os dramas humanos que incitem o pensamento[...] É possível criticar sem ofender; alfinetar sem ferir; homenagear sem trair-se; retratar sem granular. (2) Costuma-se dizer que Lacerda foi incoerente com suas próprias idéias, que mudou de lado político conforme sua conveniência pessoal e isso basta para satanizá-lo.

Para muitos, ele não merece lugar junto aos justos, como Vargas( que de ditador, simpatizante do nazismo e do fascismo, passou a nacionalista e democrata) ou mesmo de um ícone da esquerda, Luís Carlos Prestes, que em nome da revolução socialista, sucessivamente apoiou a ditadura getulista que mandou sua mulher judia para ser morta num campo de concentração e na volta de Getúlio ao governo, já como democrata, em 54, apoiou a UDN, o partido chamado da "reação" contra Vargas.

Não é preciso recorrer a psicologia freudiana ou ao reducionismo de uma visão presa a uma ideologia, como fizeram outros autores, para explicar a trajetória de Lacerda. Não só ele se achava com a missão de salvar o Brasil, velar pela pátria e ser presidente da República. Vários homens públicos, antes e depois dele, tiveram este mesmo sonho, alguns conseguindo realizá-lo, outros não.

A visão unilateral levou além de uma repulsa profunda por determinados setores intelectuais, a um quase esquecimento de Lacerda pelas novas gerações (as edições de seus livros se encontram esgotadas) que desconhecem sua contribuição para a formação de uma teoria sobre o jornalismo e o papel da imprensa na sociedade.

Este estudo tem como proposta básica mostrar um pouco do pensamento jornalístico de Lacerda, resultante de sua visão e atuação política, ao mesmo tempo em que o situa como homem de seu tempo, um tempo em que não só o Brasil, como o resto do mundo, atravessaram profundas alterações políticas, econômicas e sociais, num século XX marcado por dilacerantes mudanças.

I - Inspiração nas fontes liberais

É possível estabelecer, senão um paralelo, mas pelo menos influência marcante, entre o pensamento de Carlos Lacerda e o acento fortemente liberal que marcou a formação política brasileira.

"Na América Latina, a Política tem figurado como variável principal no âmbito da Comunicação Massiva", escreve Marques de Melo. "Tanto assim que se atribui à função política dos media, mas concretamente ao seu "potencial revolucionário, a natureza restritiva das políticas públicas que marcaram a fisionomia da nossa História colonial ".(3)

A utopia da liberdade mobilizou os sentimentos nativistas desde o Brasil Colonia, passando pelo Império e atravessando os primeiros anos da República.

O surgimento do Brasil como nação é, a exemplo de tantos outros países, uma história de lutas, rebeliões, repressões e martírios, com destaque significativo para o papel desempenhado pela imprensa. Como escreveu Nelson Werneck Sodré,

"Coincidência interessante fêz do aparecimento do Brasil na História e do da imprensa, acontecimentos da mesma época, só nisso aproximados, porque a arte de multiplicar os textos, acompanhou de perto e serviu a ascenção burguesa enquanto a nova terra, integrada no mundo conhecido, iniciava a sua existência com o escravismo: (4)

Por outro lado, ainda atento às origens da imprensa brasileira - tardia em relação aos países da América Espanhola e dos Estados Unidos- é importante ressaltar o seu caráter dependente das benesses do Estado, o que gerou uma cumplicidade entre certa imprensa (já então vista como empresa) por um lado e de patriotas visionários e impolutos, que desafiavam com seus panfletos e pasquins, o poder estabelecido, a corrupção e a falta de valores, entre os quais, bandeira suprema, a liberdade.

Ou seja, as mudanças sócio-políticas se fazem no mesmo compasso do desenvolvimento da imprensa, que surge ora como estimuladora, ora como testemunha atuante destas mudanças. Os intelectuais, que se tornam jornalistas ou revolucionário, muitas vezes se confundem. E já aí se atribuem a missão de conduzir a sociedade, assumindo uma função política. Essa simbiose política/jornalismo é uma constante na nossa história. Para Carlos Chagas, isso se explica porque política e jornalismo são ou deveriam ser, funções públicas, já que a sociedade ( no sentido de uma elite cultural que tem acesso aos meios de comunicação e é por eles influenciada) é guiada por estas duas balizas.

Do passado distante ao presente bicudo, sem falar no futuro misterioso, é pelas páginas dos jornais, de início panfletários, depois empresariais, das revistas ilustradas, mais tarde de textos corridos, como em seguida, também, através de microfones e câmeras, que primeiro se traçam as linhas mestras dos principais atos e fatos de nossa história. (5)

É pois, consensual o papel do jornalista como testemunha viva da História, embora nem sempre completamente confiáveis, na medida em que, como atores do processo, tendem a registrar os fatos à partir de seus próprios paradigmas, como destaca Ana Maria de Abreu Laurenza, ao dizer que em comparação à memória de outras atividades profissionais, a história do jornalismo brasileiro perde em produção e ganha em fabricação de mitos (6).

Mas é importante destacar que os pioneiros do jornalismo queriam mais, queriam também fazer a história. Tratados sobre o desenvolvimento da imprensa no Brasil estão recheados de exemplos de intelectuais e ativistas usando a palavra escrita como seu poder maior de persuasão da opinião pública. Nomes como Frei Caneca ( fuzilado por sua participação na Confederação do Equador, Evaristo da Veiga, Líbero Badaró ( este gritando, antes de tombar assassinado, "Morre Um liberal, mas não morre a Liberdade") e tantos outros se destacaram na vida nacional recorrendo ao jornalismo como forma de luta para suas causas.

O exercício do jornalismo em nosso país foi feito, durante todo o século XlX, como fonte de ascensão social por intelectuais que o utilizavam como trampolim para fazer carreira na burocracia estatal ou para influir no cenário político", diz Marques de Melo, citando Max Weber(7)

Desnecessário dizer que as relações entre imprensa e poder político se tornaram, permanentemente conflituosas no Brasil, como aliás, em todo o mundo.

Talvez pelo fato de serem usados como arma na defesa de grandes causas sociais e políticas, os textos jornalísticos, principalmente no período colonial, imperial e até o golpe militar de 64, que marcou uma grande transformação na imprensa, eram carregados de adjetivos, geralmente ferinos e impiedosos(provavelmente, inspirados no jornalismo praticado principalmente na França e Na Inglaterra, quando a imprensa se transforma no principal instrumento de luta contra o absolutismo).

Este tipo de texto tem seu ápice com Rui Barbosa, sem dúvida, uma das maiores expressões do jornalismo político/interpretativo/opinativo que o país já teve.

Em seu livro "A Missão da Imprensa, Carlos Lacerda mencionava a influência de Rui Barbosa, um dos seus patronos profissionais, no desenvolvimento de sua própria trajetória como jornalista. E abraçava a proposição de que o jornalista é o político do povo, ou nas palavras do próprio Rui, : ao mesmo tempo um mestre de primeiras letras e um catedrático de democracia em ação, um advogado e um censor, um familiar e um magistrado". (8)

Nascido em 1849, Rui viveu o final do segundo império e a transformação causada pela proclamação da República, da qual foi apaixonado defensor. Jurista, parlamentar, escritor, jornalista, Rui uma das mais emblemáticas figuras deste período crucial para a formação da nacionalidade, participando ativamente dos principais momentos da vida pública, defensor de causas como abolição e a república, além de jornalista dos mais contundentes. Foi profundamente influenciado pelos pensadores europeus, principalmente ingleses, escrevendo com admiração sobre o papel da imprensa na Grã Bretanha( notadamente durante a Guerra da Criméia ) e nos Estados Unidos.

Rui acreditava que a liberdade de um povo estava intimamente ligada à democracia e à liberdade de imprensa, que ,segundo ele, era a "vista da Nação". Para ele, registra Freitas Nobre, a imprensa não significa simplesmente uma liberdade individual, mas uma instituição de ordem pública e, por isso, conclui que "não se suprime esta liberdade, senão para ocultar a ausência das demais".(9)

Em seu livro paradigmático, A imprensa e o dever da verdade, faz um chamamento á responsabilidade social da imprensa, exortando o jornalista a seguir princípios éticos.

Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam ou nodoam, mede o que lhe cerceiam ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça. (10).

A teoria da responsabilidade social teve como base a filosofia liberal, elaborada partir do inglês John Locke, formaram o núcleo do pensamento comunicacional norte-americano, a partir do conceito estabelecido por Tyrus Butker, da Escola de Jornalismo da Universidade da Geórgia, depois adotado por vários teóricos da comunicação de massa. Tyrus definiu quatro conceitos para a comunicação social: controle através de licenças, liberdade sem restrições, imprensa a serviço do Estado e liberdade com responsabilidade ( a imprensa plenamente informada e responsável.

Seguindo este fio de raciocínio, encontramos uma descrição mais detalhada em Fred S.Siebert e Theodore Peterson, citados por Antonio Fernandes Neto, onde se coloca que, por gozar de uma posição privilegiada, a imprensa está obrigada a assumir certas responsabilidades, perante o governo e a sociedade.

"Se llegaraon a atribuir seis tareas a la prensa, a medidaque evolicionó la teoria tradicional: 1.servir al sistema político brindando información, discusión y debate sobre los asuntos públicos; 2.ilustrar ao público para capacitarlo en el auto-gobierno; 3. Proteger los derechos del indivíduo actuando como perro guardián contra el gobierno; 4. Servir al sistema económico, acercando principalmente a los compradores y vendedores de biens y servicios mediantes los avisos de publicidade; 5. Brindar entretenimiento; 6. Mantener sua própria auto-suficiência financiera para librarse de las presiones de los intereses especiales. (11 )

Intensamente debatida por estudiosos americanos, a Teoria da Responsabilidade Social incorpora em determinados momentos, a possibilidade da autocensura ou até mesmo da censura, se acordo com os interesses de Estado, o que pode ser verificado em Lacerda, quando justifica perante a SIP o fato de colocar censores nos jornais cariocas, num momento de intensa agitação social.

À luz da teoria da responsabilidade social, é possível perceber porque Lacerda, ao tentar ele mesmo balizar seus conceitos sobre imprensa recorre a Rui Barbosa, que via no jornalista o zelador da comunidade. Mais ainda, via na imprensa papel construtivo da democracia, com destaque para a função do jornalista.

"Cada jornalista é, para o comum do povo, ao mesmo tempo, um mestre de primeiras letras e um catedrático de democracia em ação, um advogado e um censor, um familiar e um magistrado. Bebidas com o primeiro pão do dia, as suas lições penetram até o fundo das consciências inexpertas, onde vão elaborar a moral usual, os sentimentos e os impulsos de que depende a sorte dos governos e das nações". (12)

Até sua morte, em 1923, Rui Barbosa de bateu pela liberdade e democracia e contra a corrupção que identificava no governo e em alguns setores da imprensa, que denunciava e criticava acirradamente.

Nada mais útil às nações, do que a imprensa na lisura de sua missão. Nada mais nefasto do que ela mesma na transposição do seu papel. Se o fiel der em ladrão, não haverá, neste mundo, ladrão tão perigoso , alertava em A Imprensa e o dever da verdade (13)

Lacerda sempre admitiu a profunda admiração por Rui e até o defendeu, quando Austregésilo de Atayde, durante uma conferência no Itamarati, atribuiu à imprensa um lugar secundário na vida do grande jurista, orador e tribuno. Para Lacerda, Rui era antes de tudo, essencialmente jornalista, permanentemente jornalista (...) a quem deve o jornalismo brasileiro análises penetrantes da situação nacional e internacional (....). (14)

Outra grande influência admitida por Lacerda, foi Alceu Amoroso Lima, de quem aceita a proposição de que o jornalista é o zelador da comunidade.
Para Alceu, a informação tem o dever de formar a opinião pública.

É a grande finalidade moral e social do jornalista, escreve ele, que vai além da finalidade puramente informativa (.......). O que importa é acentuar o caráter social do jornalismo. E a sua alta responsabilidade na formação e esclarecimento da Opinião Pública, coluna mestra dos regimes de liberdade política. (15)

Um dos mais respeitados intelectuais brasileiros do século XX, Alceu, nascido em 1893, formado em ciências jurídicas e sociais, começou a carreira jornalística em 1919, já com o pseudônimo de Tristão de Athayde, especializando-se em crítica literária.

Humanista cristão, como ele mesmo se definia, teve uma trajetória intelectual complexa, mas sempre ligado ao pensamento católico, recusando as propostas comunistas e integralistas, postura que o levou a estar ao lado do Estado Novo junto com a igreja conservadora. Também não se pode reduzir o pensamento de Alceu Amoroso Lima a um só momento. Sua visão era muito mais ampla e profunda, quando dizia abominar no capitalismo a falta de justiça e no comunismo a falta de liberdade. Ao longo de sua profícua existência, pode mostrar com firmeza a defesa de suas idéias, sempre contra o arbítrio e a injustiça, se colocando contra os atos de força do regime militar pós-64,ao mesmo tempo em que criticava abusos das organizações de esquerda. Com relação à imprensa, sempre defendeu a valores éticos compatíveis com seu modo de pensar, ou seja, uma imprensa orientada por nobres princípios morais, éticos e políticos (16).

Estas influências, somadas ao fato de ter sido criado, como ele mesmo dizia, num meio político, podem lançar algumas luzes sobre o futuro desempenho de Lacerda no jornalismo e na política. Seu pai foi Maurício de Lacerda, também político e jornalista, que participou dos movimentos de 1922 e 1924, foi preso e perseguido. O avô, Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda, foi ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ouvi falar de política em casa, desde que me entendo por gente..[...] No tempo do colégio a política era um excelente pretexto para matar aula [...] Quando meu pai era vereador e as aulas eram muito chatas, eu ia para a Câmara acompanhar os debates [...] Depois, naturalmente, no clima da faculdade; a minha geração foi muito politizada, desde cedo, exatamente porque criada dentro da idéia de lutar contra a ditadura que então se pronunciava. (17)

II- De jornalismo e política

Carlos Lacerda, nascido em 1914, viveria seus anos de juventude num cenário político bastante conturbado, marcado por conflitos que vinham do império, se agravaram na passagem para a República e se intensificaram nas primeiras décadas do século.

Os conflitos entre elites agrárias e civis e os militares que ocuparam o poder após a derrubada da monarquia, continuaram durante os primeiros anos da República. Mas a partir de 1894, com a posse do paulista Prudente de Morais, esta elite passou a dominar o cenário político, até a revolução de 30. Foi a chamada República Velha ou das Oligarquias, ou do café com leite, quando paulistas e mineiros se alternavam no governo, mas sempre mantendo as diretrizes do grupo. Trocas de favores, corrupção, apadrinhamento eram as situações mais comuns.

Naturalmente os demais estados queriam seus próprios espaços, gerando tensões locais. Por outro lado, o início de um processo de industrialização, notadamente no eixo Rio-São Paulo, levou à formação de um proletariado urbano, representado basicamente pelos imigrantes, que traziam idéias socialistas e anarquistas da Europa.
Após o triunfo da revolução bolchevique na Rússia, as idéias comunistas se espalharam pelo mundo, chegando ao Brasil e sendo marcadas pela criação do partido comunista, em 1922. Começando a se organizar, este grupos criam formas de luta por melhores condições profissionais.

A imprensa, que começa a se estruturar, como a indústria, em moldes empresariais, capitalistas, desempenha papel importante, mas, como dizia Rui Barbosa, por vezes fugindo de sua missão ética e cooperando com a corrupção governamental. O resultado é uma repressão violenta do governo, tanto à imprensa que não consegue cooptar, quanto aos grupos de oposição.
Com a expansão do ensino secundário e a criação de novas faculdades, surge uma nova classe social, formada de grupos agrários decadentes e descendestes de imigrantes (médicos, professores e engenheiros, que passam a formar novo grupo de opinião e influência, mas o primeiro degrau as escala política, ainda é o bacharelado em direito. Nos anos 20, a pressão política aumenta, surgem os movimentos como o Forte de Copacabana (22), a Revolução Gaúcha ( 23) e em 24, uma série de levantes pelo país, articulada a partir de São Paulo. Os tenentes conseguem mobilização em Mato Grosso, Sergipe, Amazonas e Pará, contra o governo Artur Bernardes. Os rebeldes marcham rumo sul, dando origem ao episódio que ficou conhecido como a Coluna Prestes e projetou Luís Carlos Prestes no cenário político nacional. Em 1930, Vargas assume o poder, com a promessa de uma verdadeira revolução, o que acabou não conseguindo.

[...] o episódio de 30 não foi uma"revolução"no sentido exato da palavra,pois significou apenas m novo arranjo político nas esferas do poder.As transformações ocorridas nesse período, resultaram basicamente em uma reorganização das forças oligárquicas. (18)

A partir daí, personificado na figura de Getúlio Vargas, o mito do salvador da Pátria, o líder que guiaria o povo.

Desde os anos 30,industrialização e populismo caminharam juntos, potenciando-se reciprocamente. Sua atuação combinada mudou a face do país [..] (19)

Todo este cenário é importante para se conhecer em que contexto se forma o pensamento de Carlos Lacerda.

Em 1929, com 15 anos, inicia sua carreira jornalística, como auxiliar da escritora Cecília Meirelles, no Diário de Notícias. Em 1932, ingressa na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, mesmo ano da Revolução Constitucionalista que acontece em São Paulo e é aplaudida pela classe média do Rio de Janeiro e intensamente discutida pelos estudantes. Lacerda se engaja não apenas nestas discussões, como nas atividades do centro acadêmico da faculdade, forma de organização estudantil fomentada por intelectuais impregnados de idéias esquerdistas, como destaca Marina Gusmão de Mendonça.

"Logo nos primeiros tempos, ligara-se a um grupo liderado pelos professores marxistas Edgard de Castro Rebelo e Leônidas Rezende e e composto, entre outros, por Mário Lago, Evandro Lins e Silva e Antonio de Pádua Chagas Freitas[......] Além do jornalismo, também tomava parte em todas as atividades de cunho esquerdista promovidas na Faculdade de Direito [...] (20)
Anos mais tarde, já nas reflexões da idade madura, Lacerda, ao paraninfar uma turma de estudantes, escrevia em "Palavras aos Moços":

Antes de mais nada, que fique bem claro que a minha geração foi emparedada em vida pela imprevidência e pela complacência daquela que a antecedeu.[...] À parte as nobres exceções, graças a Deus numerosas, dos que fizeram todos os sacrifícios para dar testemunho de sua resistência, a geração que antecedeu a nossa deixou-se desfibrar pela perda do sentido moral da vida. (21)

Como grande parte da juventude daqueles anos, Lacerda foi atraído pelas idéias socialistas, que representavam a única alternativa contra os regimes autoritários (nazi-fascismo), que subjugavam na Europa, o pensamento liberal. Revelando desde logo seu talento retórico e sua intensa capacidade de mobilização, ataca os integralistas de Plínio Salgado em discursos veementes e corrosivos, intensifica suas atividades políticas e colabora coma Revista Acadêmica, iniciando uma prática que retomaria ao longo se sua carreira: o uso de pseudônimos.

Participa também da organização da ANL- Aliança Nacional Libertadora, uma frente de cunho nacionalista, controlada pelo PCB e concebida nos moldes da orientação preconizada pela Internacional Comunista, em Moscou, como destaca Marina Gusmão de Mendonça..

[...] a ANL defendia, fundamentalmente, a adoção no Brasil de uma política nacionalista, propondo, entre outras medidas, a suspensão do pagamento da dívida externa, a reforma agrária, a nacionalização das empresas estrangeiras e a organização de um governo popular.(22)

A Lacerda, como orador oficial, coube apresentar o nome de Luís Carlos Prestes ao cargo de presidente de honra do movimento.

Com a deflagração do movimento liderado pelos comunistas, em 35, Lacerda se escondeu para evitar a prisão, abandonando a faculdade. Muitos anos mais tarde, falando como patrono de um grupo de universitários, ele relembrou seu tempo de estudante.

Sou de uma geração que se atirou contra si mesma, dilacerada, devorada pelo excesso de esperança e pelo excesso de decepção.[......] Não nos deixavam alternativa, não nos permitiam nuances; nem a nossa era uma idade que preferisse nuances à viva apresentação das cores puras. Fascismo ou comunismo. De um lado e de outro, excluíam-se os democratas - que, aliás, quase sempre se deixavam excluir. (23)

III- A Imprensa Como Missão

Dos primeiros passos no jornalismo estudantil e do início como assistente de Cecília Meirelles, até quase sua morte, Lacerda ora foi mais jornalista ora mais político, mas não deixou uma coisa, nem outra, a exemplo de seu mestre Rui Barbosa. De 49 até 60, conciliou atividade parlamentar com vida de empresário e editorialista na própria Tribuna da Imprensa. A partir de 60, se afasta do jornal para assumir o governo da Guanabara. Em 66, depois de sair do governo, volta a exercer a função de jornalista concomitantemente à de empresário- funda sua própria editora. Após a cassação, colabora com alguns jornais - principalmente do grupo O Estado de São Paulo e publica livros de crônicas e memórias.

Mas foi nos anos do Estado Novo e até 49, quando funda seu próprio jornal, a Tribuna da Imprensa, que Carlos Lacerda viveu intensamente sua atividade como repórter e editorialista.

Passou por diversos veículos, entre jornais - como O Jornal, de Assis Chateaubriand, Diário Carioca e Correio da Manhã e revistas, como Diretrizes, criada por Samuel Wainer. Este seria, anos depois, seu mais feroz inimigo, com quem protagonizaria um dos mais formidáveis embates da história da imprensa brasileira, Lacerda na Tribuna da Imprensa e Wainer, na Última Hora, esmiuçado no trabalho de Ana Maria de Abreu Laurenza, "Lacerda e Wainer, o Corvo e o Bessarabiano". Desta guerra, surgiu a crise que culminou com o atentado a Lacerda, na Rua Toneleros, onde morreu o major Vaz, oficial da Aeronáutica e desencadeou o episódio que terminou com o suicídio de Getúlio Vargas.

Para melhor se compreender o Lacerda jornalista, é se fixar na sua prática profissional, caminho que o levou a teorizar sobre sua visão de imprensa - uma verdadeira missão ética - que é objeto do presente estudo.
Como profissional, Lacerda foi um autodidata, mesmo porque como não existiam escolas de jornalismo, cada interessado na atividade aprendia na prática e se reportando a outros mestres (no caso de Lacerda, se inspirando, conforme já citado, em Rui Barbosa e Alceu de Amoroso Lima). Também vale frisar que a imprensa no Brasil, nas primeiras décadas do século XX, mudava do pasquim para o jornal empresa. Os reflexos desta mudança se faziam notar na atividade diária dos profissionais, já que se buscava um caminho entre as referências européias e o modelo comunicacional americano( que viria a preponderar no ensino do jornalismo nas escolas, anos depois).

Lacerda conseguiu destaque na área, graças a seu talento para a oratória e a facilidade para a escrita. Se nos anos 50 e 60, a oratória foi seu grande aliado no uso do rádio e da televisão, nos anos 40 foi a capacidade de escrever com a precisão de um dardo na busca de um objetivo, que tornou seus artigos e reportagens instrumento mortal contra seus adversários. Lacerda não fazia concessões. Sua principal área de atuação foi o jornalismo político, onde estava em seu elemento.

Destacamos, como foco de observação, dois momentos importantes na trajetória do jornalista Carlos Lacerda, por estarem relacionados com o conteúdo que ele expressa no texto de "A Missão da Imprensa": a entrevista com José Américo de Almeida e a campanha que moveu contra a candidatura de Yeddo Fiuza, em 45.

Estes dois momentos ocorreram durante a vigência do Estado Novo, instituído por Vargas em 37. Através do DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda, a ausência de liberdade se refletiu principalmente na imprensa, o que é uma característica dos regimes autoritários.

O autoritarismo impede a existência de um processo de comunicação voltado para os interesses da sociedade. O governo não detém, como norma, a responsabilidade do comando dos veículos. Contudo, os grupos proprietários dos veículos ou titulares da sua exploração (casos do rádio e da televisão) são inteiramente manejados pelos governantes, ressalta Antonio Fernandes Neto.(24)

Diferentemente do regime comunista, onde os meios de comunicação são propriedade do Estado e do Partido, instâncias máximas do regime ditatorial, os regimes autoritários preferem submeter a imprensa ou silenciá-la enquanto oposição, através de sanções econômicas, coerção ou aliciamento.
Na ditadura do Estado Novo, o Dip expunha a face verdadeiramente autoritária do regime, ao censurar os jornais, o rádio, o teatro e o cinema, pois como colocaram Rivers e Schramm, este é um meio de amordaçar qualquer possibilidade de crítica .

" [....] paises em que a crítica política por meio de alguns ou todos os veículos é possível, mas sujeita à ação da censura e países em que leis especiais ou outra legislação discriminatória expoem os que trabalham em comunicação à prisão e à perseguição.. (25)

A ação de Lacerda neste período é bem explicitada por Cremilda Medina, no prefácio da reedição de A Missão da Imprensa. Para ela, o autor faz "um exercício de metalinguagem, tão útil para compreender sua visão de imprensa.(.....) O Lacerda jornalista nunca se divorcia do estrategista, do autor que pretende intervir na história (..) Convinha ao Lacerda político matizar sempre o papel do jornalista de uma função opinativo-interventora cuja meta, em última instância, era derrubar ditadores e ditaduras".(26)
A entrevista que José Américo de Almeida concedeu a Lacerda, é considerada o início do fim do Estado Novo e foi publicada no jornal carioca Correio da Manhã, de 22 de fevereiro de 1945.

Em seu livro de memórias, José Américo de Almeida, candidato às eleições presidenciais que não aconteceram, em 37)l relembra a luta que desenvolvia contra o Estado Novo e que o levou a falar com o jornalista.

"Exercia-se sobre mim uma pressão ininterrupta para que eu publicasse um manifesto contra a ditadura.[...] Além dos civis, apareciam oficiais, meus amigos, com a mesma exigência, ao que eu respondia: "Vocês, que têm a espada, tratem de desembainhá-la". Luís Camilo de Oliveira, o puro, um democrata até a medula, não me deixava sossegado. Amanhecia e anoitecia em minha casa, batendo no assunto, com uma sacrossanta impertinência. Até que, uma noitinha, foi Carlos Lacerda visitar-me. Palavra vai, palavra vem, concluiu que eu estava em condições de falar e pediu uma entrevista para o Diário Carioca. Prometi. Viesse depois. Veio e, se ditei com segurança o que me vinha à cabeça, foi melhor a apresentação". (27).

Feita a entrevista, o Diário Carioca e outros jornais procurados, tiveram receio em publicá-la. Carlos Chagas rememora o fato.

Carlos Lacerda percorre as redações dos principais jornais cariocas, oferecendo a matéria. Ninguém aceita. Uns lamentam não poder publicá-la por causa das represálias que o governo tomaria. Outros fogem como o diabo da cruz. Afinal, no Correio da Manhã, o redator-chefe Costa Rego, interessa-se. Consulta o dono do jornal,Paulo Bittencourt, por telegrama, já que ele se encontrava no México. Vem a autorização.(28)

Aqui, vale uma pequena rememoração de Costa Rego, também figura paradigmática da imprensa brasileira. Costa Rego foi um dos primeiros teóricos brasileiros de comunicação e responsável por transformar o jornal Correio da Manhã numa lenda do jornalismo, reunindo numa mesma redação nomes como Graciliano Ramos, Aurélio Buarque, Otto Maria Carpeaux, Ávaro Lins, Luis Alberto Bahia, Antonio Callado, entre tantos outros gigante da imprensa e das letras do país. Além disso, exerceu cargos políticos entre os quais, de deputado e governador de Alagoas.

Com o título "Declarações do sr. José Américo", a reportagem ocupa uma página inteira do jornal. Além do indiscutível valor histórico do documento, o texto também mostra um pouco do talento do repórter Carlos Lacerda, que não se limita a fazer perguntas e registrar respostas, mas situar o leitor no próprio clima da entrevista, como se também estivesse na casa, participando.
Este tipo de reportagem quase um texto literário,( o que deve ter alegrado muito o autor de O Jornalismo como gênero literário, Alceu Amoroso Lima) passou anos depois, a ser considerada modelo, não só para estudantes, como para outros profissionais que a sistematizaram em revistas como Realidade e modernamente, Veja, IstoÉ e outras.

Diante disso, reproduzimos aqui um trecho.

"Nesta hora não me nego a falar. Ao contrário, julgo chegado o momento de todos os brasileiros opinarem. Esta é uma hora decisiva que exige a participação de todos no rumo dos acontecimentos". Com estas palavras, o Sr.José Américo de Almeida, chefe civil da revolução de 30, do Norte, ministro da Viação e depois candidato à Presidência da República, volta à participação ativa na vida pública.[....] Na varanda de sua casa da Rua Getúlio das Neves, com raras interrupções - a netinha que vem pedir um envelope, a empregada que traz o café, a chegada de um amigo -, na paz das samambaias umbrosas, junto à massa do Corcovado ao fundo da pequena rua, o Sr. José Américo faz as suas declarações. Em plena maturidade, sem os óculos que os caricaturistas celebrizaram em duas espirais representando as lentes grossas, baixando um pouco a cabeça para falar, num gesto modesto e tímido, mas inexorável de dizer as suas verdades, é indisfarçável a emoção com a qual ele se dirige à opinião brasileira[......]. (29) ( O conteúdo integral, pode ser verificado no final deste trabalho, nos anexos).

A repercussão da reportagem leva Paulo Bittencourt a oferecer a Lacerda uma coluna no Correio da Manhã, que se chamou Tribuna da Imprensa, onde o jornalista tinha inteira liberdade para cobrir os fatos políticos, num momento em que o país vivia os ventos democráticos soprados pela Constituinte instalada em 46. Tão grande foi sua repercussão, que em 1949,a coluna deu nome ao jornal que Lacerda finalmente conseguiu fundar.
Outro momento marcante de Carlos Lacerda como jornalista político, foi o Caso Fiúza.

Trata-se de uma série de artigos publicados no Diário Carioca, depois transformada em livro publicado em 46. Nestes artigos, Lacerda mais uma vez comprava briga com os comunistas e com seu já então inimigo Luís Carlos Prestes.

O início da peleja foi a decisão de Getúlio Vargas, numa tentativa de manter o controle sobre a transição para a democracia depois de 15 anos de ditadura, de convocar eleições gerais para 2 de Dezembro de 1945, nas quais, além do Presidente da República, seriam escolhidos os parlamentares para a Assembléia Nacional Constituinte. A estratégia de Getúlio era compor uma base aliada em torno do queremismo( a continuidade com Vargas), incluindo o apoio dos comunistas. Para tanto, decretou anistia ao partido e mandou soltar Prestes, secretário geral, para facilitar a articulação. De outro lado, a UDN de Lacerda apoiava a candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes. Já o PSD lançara o General Eurico Gaspar Dutra, também apoiado pelos integralistas. Prestes saiu da cadeia e passou a defender a união em torno de Getúlio, o que foi demais para Lacerda.

No dia 27 de Maio, sai seu primeiro artigo pelo Correio da Manhã, chamado "A mão estendida e a liquidação moral", anunciando o rompimento com Prestes e lembrando a participação de Getúlio Vargas na deportação da mulher de Prestes, Olga Benário, para a Alemanha, onde ela, judia, morreria num campo de concentração. Lembrava também as simpatias de Vargas pelos nazi-fazistas, durante a guerra. O artigo, apesar do pêso das denúncias, é considerado comedido pela historiadora Marina Gusmão de Mendonça
"É curioso verificar que a notória violência de Lacerda está ausente desse texto. Em lugar da agressividade, ele assumia o comedimento de um conselheiro, chegando quase a ditar as palavras que, no seu entendimento, deveriam ser pronunciadas por Prestes, caso este realmente aspirasse à união nacional, como propalava". (30)

Meses depois, o PCB resolvia indicar candidato próprio e o escolhido foi o engenheiro do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), Yeddo Daudt Fiúza. Amigo de Vargas, Fiúza era também ex-prefeito de Petrópolis, onde haviam denúncias de corrupção contra ele.
De 22 de novembro a 2 de dezembro, Lacerda publicou no Diário Carioca, dez artigos, que ele chamou de "um documentário - depois também reproduzidos em outros jornais. A linguagem forte, panfletária, adjetivada, mas com denúncias que não foram contestadas pelos adversários, o que revela o cuidado do articulista em embasar os textos em informações concretas, mostrou toda a capacidade de Carlos Lacerda em demolir os inimigos.

Em um trecho do primeiro artigo, por exemplo, dizia:

As circunstâncias que rodearam esta candidatura-caricatura, são dignas de nota. Depois de lançar o seu candidato como quem lança um inseticida, com uma publicidade incompatíveis (sic)com os limites do decoro,[...] o sr. Prestes já não quererá contar em que empregou a sua paranóia desde meiados (sic) de outubro.

No artigo seguinte, entre outros apupos, acusava o candidato de corrupção:
Pelo curioso apelido de "Dez por cento"é conhecido no Departamento de Estradas de Rodagem o sr. Yeddo Fiúza. A origem do apelido é apenas esta: nos negócios de fornecimentos para estradas havia sempre uma comissão 10% fornecida a pessoas intimamente ligadas ao candidato do sr. Prestes ou ao próprio "candidato atômico".

No seguintes, declarava que uma de suas motivações para a campanha, era a paixão;

"Acusem-me de paixão, se quiserem. Sim, sou um jornalista movido pela paixão, a dor de ver como se mente e se ilude o povo do meu país [....].
No décimo artigo, publicado a dia 2 de dezembro, dia das eleições, Lacerda voltava a lembrar o que considerava os princípios éticos do jornalista:
Fiel à honra profissional do jornalista, que exige elementar respeito à verdade, eu não poderia silenciar sôbre (sic) um candidato, qualquer que ele fôsse, (sic) ao verificar, com os meus próprios olhos, que esse homem é indigno de merecer a confiança de seus concidadãos [.....]"

No mesmo artigo, se refere a como foi em busca das provas para suas afirmações

Foi então que trouxe a público com provas e documentos que tenho divulgado desde terça-feira passada sem que até hoje se pudesse contestá-los, a vida administrativa e profissional do candidato Fiúza [..]
Ao agradecer as mensagens de apoio, cita telegrama de Alceu Amoroso Lima
[....] o líder católico Alceu Amoroso Lima, do qual tenho divergido desde o meu tempo de estudante, envia-me um telegrama que ouso transcrever porque, se muito me honra, mais ainda há de honrar a inteligência brasileira, que assim se mostra capaz de unir-se diante da infâmia para fazer valer a voz da verdade inerme.

"Seus recentes artigos, coroados pelas palavras de ontem, no rádio, o consagram como um dos maiores jornalistas brasileiros"...

Num outro trecho, Lacerda faz defesa apaixonada da democracia:

A democracia brasileira ainda não existe, e o que dela se possui em embrião, está desaparelhado para lutar, na praça pública, contra os seus inimigos. Os que estavam encarregados de incarná-las (sic) e defendê-la(sic) cuidaram sempre que para isso bastaria a Polícia especial. Hão de saber, agora, que a democracia só se defende, praticando-a, preservando-a, num trabalho de aperfeiçoamento progressivo, militante, apaixonado. (31)

A citação destes textos (o conteúdo integral do último capítulo pode ser verificado em Anexos) é importante, para analisarmos a semelhança, não apenas temática, mas mesmo na forma incisiva e instigante de escrever, além do chamamento do dever do jornalista para com a verdade e defesa do regime democrático e a probidade dos homens públicos. Esta semelhança pode ser notada, no texto de Rui,

[....] Se o homem público há de viver na fé que inspirar aos seus concidadãos, o primeiro, o maior, o mais inviolável dos deveres do homem público, é o dever da verdade: verdade nos conselhos, verdade nos debates, verdades nos atos; verdade no governo, verdade na tribuna, na imprensa e em tudo verdade, verdade e mais verdade. (32)

Os padrões que criou para si, na sua prática profissional, Lacerda os reuniu em seu livro paradigmático, A missão da Imprensa.

Este é transcrição de uma palestra que Carlos Lacerda pronunciou, como convidado, em três lugares diferentes, no ano de 1949: no auditório da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro, a convite da Resistência Democrática; no Conservatório de Belo Horizonte, a convite da União Estadual de Estudantes e na Faculdade de Direito de São Paulo, a convite da Juventude Universitária Católica. O Autor a dedicou a duas figuras emblemáticas, para ele: Carlos Alberto Nóbrega da Cunha, que o responsável pelo seu início profissional e Luís Camilo de Oliveira Neto, que, no dizer de Lacerda, "libertou a imprensa brasileira".

Como o que escreve já no início:

Assim amparado ouso enfrentar um tema que é o da minha própria vida, minha áspera fortuna, minha radiosa miséria, triste glória, fecundo opróbrio [...] Por jornalista fizeram-me político, por jornalista renunciei, por jornalista vivo, por jornalista quiseram matar-me; justa, portanto, é a licença que ora para mim reclamo de analisar os erros e as desculpas e, ainda mais, as razões de uma profissão pela qual não somente ganho como igualmente gasto a minha vida .(33 )

Citando este trecho em seu livro "O Demolidor de Presidentes", a historiadora Marina Gusmão de Mendonça comenta, a propósito de Lacerda considerar a imprensa como uma missão:

"Como uma metralhadora giratória, jamais pouparia quem quer que fosse, fazendo dos ataques sistemáticos a pessoas e instituições a tônica de seu estilo jornalístico. Se, de um lado, este traço virulento poderia ser uma característica de sua personalidade, de outro, talvez resultasse da própria visão que parece ter desenvolvido de si e de seu ofício.(....) Portanto, como bom profissional, suas investidas contra tudo e todos estariam plenamente justificadas, apenas refletindo o zêlo pela verdade". (34)

Mas para ele, o jornalismo não era só o zêlo pela verdade. Em A missão da imprensa, procura destacar aspectos éticos, como quando
a imprensa se vê submetida á influência de fatores estranhos ao dever da verdade, o primeiro dever do jornalista é servir à justiça.

Também condena o que chama "tendência dos jornalistas" de uma propensão ao ceticismo, que justificaria uma postura de complacência e capitulação. E conclui: ao jornalista é próprio construir uma opinião pública bem informada, atenta, vigilante, esclarecida.

Não poupa de críticas os jornalistas amadores, a serviço de interesses outros que não o de informar. Jornalistas venais, que trocam elogios por dinheiro e vantagens. Para ele, o verdadeiro jornalista, o que tem paixão pelo jornal, morre amarrado a um salário magro, sem renunciar a seu prazer e sua responsabilidade para com os outros.

Chama atenção para o perigo do jornalista ser seduzido pela vaidade e pela ambição, sua ou dos outros, numa crença falsa de que todo mundo pode ser jornalista. Para ele, o jornalista tem que mostrar sua capacidade de ser tolerante e ao mesmo tempo intransigente. Mas ressalta a importância de uma imprensa livre, até mesmo para que os governantes possam governar.
Para Lacerda, jornalismo pode ser definido como a arte de simplificar a complexidade dos fatos e das opiniões, tornando-os acessíveis à compreensão de um número apreciável de pessoas, fixando-os num momento de sua trajetória, o que confere certa permanência à sua transitoriedade se passando.

Embora o texto tenha sido escrito antes dele se tornar empresário - fundaria logo depois a Tribuna de Imprensa - já revela sua preocupação da diferença entre o pensar e o fazer jornalístico, quando diz que o jornal não dá todas as opiniões, submete a informação a uma seleção, critério que demonstra a opinião de alguém, antes da notícia chegar ao leitor, que não tem aí nenhuma participação. Mas deixar ao jornalista o critério de decidir o que precisa ser passado ao leitor, implica, segundo Lacerda, em grande responsabilidade. Por isso enfatiza que o jornalista não pode ser qualquer um, nem defender qualquer coisa.

E cita a definição de outro autor paradigmático, o americano Walter Lippmann, sobre a "função da notícia, que é assinalar um fato; já a função da verdade é iluminar os fatos escondidos, estabelecer relação entre uns e outros e apresentar um quadro da realidade sobre a qual os homens possam atuar".

Também insiste em que cada povo tem não a imprensa que merece, mas que reflete os traços da elite dominante. Neste caso, os males da imprensa, para ele, são os males da elite do país, entendendo elite todos os grupos que exercem influência na comunidade - patrão ou operário, homem ou mulher. Atribui à falta de densidade destas elites, a crise moral que impede o desenvolvimento da população.

Ele diz, textualmente: Se a nossa imprensa está ruim, a culpa não é dos que não a lêem e sim, precisamente, das elites que lêem, que escrevem, que pagam, que anunciam, que temem, que se ausentam, que se esquivam, que se furtam - e que furtam! Elogiando o leitor, que considera o que há de melhor na imprensa, Lacerda critica o abuso de manchetes, fotos e títulos chamativos, que na sua avaliação, estão mais para pasquins, que jornais verdadeiros, aqueles que fazem juz à missão civilizadora da imprensa.
Conclama o leitor a exigir do jornalista que seja intérprete e não deformador da opinião pública, questionando se suas ações visam o bem público e não uma conveniência ou preconceito de ordem pessoal ou ideológica.
Para ele, mais importante que discutir liberdade de imprensa, é a questão da liberdade que a imprensa tenha de usar a liberdade, fazendo alusão certamente ao fim da censura na imprensa com a redemocratização do país em 45.

Alertava para o perigo do uso político da imprensa, como propaganda do governo. (Aliás, voltando a Rui Barbosa, que fazia desta sua bandeira de luta). Como Rui, enfatiza a necessidade do bom uso da liberdade de expressão.

Outra preocupação que expressa, é a de o jornal não deva ser só um veículo para dar lucro, embora dependente de verbas e anunciantes. E lembra o perigo de virar porta voz do interesse do proprietário ou de um governo, como se deu na própria formação da imprensa em Portugal e no Brasil, dependentes do poder do Estado, o que explicaria sua natureza submissa ( se refere à grande imprensa). Lembra estudo de Carlos Rizzini, no qual aquele ressalta que o Brasil foi o último país americano a ter jornal e tipografia e mesmo assim, o primeiro jornal, chamado a Gazeta do Rio de Janeiro, circulou pela primeira vez em 1808, com atos oficiais e elogios ao governo. Segundo Lacerda, a imprensa brasileira só se redime quando Hipólito José da Costa funda o Correio Braziliense em Londres e critica o jornal da corte, dizendo que para gastar papel com notícias tão chinfrins, seria melhor usar o papel para embrulhar manteiga.

Ressalta que não quer denegrir a imprensa, já que seus defeitos não são incuráveis. Mas afirma que entre estes defeitos, está a falta de amor pelo jornalismo e até um desprezo pela opinião pública por parte dos profissionais.
E concluindo sua verdadeira aula, define o que considera algumas características do jornalismo brasileiro.

Exagero e facilidade no ataque e no elogio;

Pouca referência às fontes de informação e verificação da notícia, por dificuldade de acesso. Basta dizer que apenas três ou quatro jornais, no Brasil, têm arquivo digno deste nome;

Preferência pelos aspectos superficiais do problema;

Nacionalismo extremado como regra, subserviência ao interesse estrangeiro como exagero contrário.

Conclusões

Ao final, algumas observações;

Lacerda jornalista, Lacerda político - duas personas numa só, uma necessitando da outra todo o tempo, uma suplantando a outra, por vezes. Mas tanto no político como no jornalista, uma trajetória marcada pela paixão e uma determinação obstinada em perseguir algumas utopias, como liberdade, ética, democracia, enfim, o melhor dos mundos, mas deixando entrever uma postura realista sobre o mundo possível, como quando afirma
A democracia só é possível onde os homens, em sua maioria, tomam consciência da relatividade das soluções. (35)

Em diversas oportunidades, ao longo de sua vida, Carlos Lacerda fez questão de deixar claro sua opção pelas idéias democratas, rejeitando o totalitarismo, fosse de esquerda ou de direita. Assim como se penitenciou muitas vezes por ter, na juventude, se deixado atrair pela sedução da "verdade absoluta e salvadora"do pensamento único, representado pelos regimes autoritários.
Mas, segundo alguns dos seus biográfos, durante toda sua vida nutriu pelos comunistas uma relação de amor/ódio desde seu desligamento do Partido, em 1938, após publicação de uma reportagem onde dava nomes e segredos do PCB, o que teria permitido prisão e tortura de militantes pela repressão do Estado Novo.

Esta versão foi amplamente desmentida posteriormente, conforme relatam a historiadora Marina Gusmão de Mendonça e o jornalista Carlos Chagas. Lacerda teria escrito o artigo a pedido do próprio partido e os militantes, presos antes mesmo da publicação. (36) Numa entrevista publicada no Diário da Noite, do Rio de Janeiro, em 1945, explicava porque não aceitava o comunismo.

Não sou comunista porque não posso tolerar a ditadura, seja qual for; porque não quero censura à imprensa nem o predomínio de uma casta partidária, cujos privilégios, acumulando-se com o tempo e o longo exercício do poder, acabam por transformar-se em dominação em tudo semelhante àquela que vemos na sociedade capitalista. Em vez de "perigoso extremista", o homem que pensa livremente é então chamado de "reacionário" ou "trotsquista"(sic), O resultado é o mesmo: intolerância, propaganda maciça, opinião pública dirigida, falsificação das idéias e dos fatos. Mas, é claro, não ser comunista não significa negar aos comunistas o direito de existirem politicamente e de se manifestarem -contanto que eles dêm aos seus adversários o direito de também existirem e se manifestarem políticamente. (37)

Examinando seus depoimentos, emerge dali um homem realmente atraído pelas idéias democráticas, vendo em si mesmo o responsável por uma missão salvadora. Em honra desta missão, foi preso sob Vargas, colaborou, com intensa militância, para a restauração do regime democrático em 45, apoiou e criticou governos, foi vereador, deputado, governador do Estado da Guanabara e um dos líderes civis do golpe de 64. Descontente com os militares, não deixou de denunciar o que considerou distorções do regime militar e pedir a volta da democracia. Também pela democracia, tentou a Frente Ampla, uma articulação com antigos e ferrenhos inimigos - JK e Jango Goulart. Preso e cassado, morreu sem ver o fim da ditadura de 20 anos e o país retomar os caminhos democráticos.

Se vivo estivesse, talvez pudesse notar no país de hoje, as mesmas dificuldades, as mesmas propostas de homens dispostos a "salvar o Brasil", os poderosos jogos de interesses, grupos e partidos que seguem postos no tabuleiro da política nacional.

Neste início de século XXl, o país dos sonhos e da liberdade que Rui Barbosa e tantos outros grandes homens perseguiram, ainda é apenas uma utopia. E o Brasil segue ainda sendo apenas o "país do futuro".

Carlos Lacerda pode - e deve - ser incluído entre aqueles que amaram e defenderam o jornalismo como a máxima expressão de uma sociedade democrática. E mais: nunca deixaram de acreditar nele.

Para lembrar estes " construtores de utopias",(fazendo aqui uma apropriação- indevida- de frase inspirada do Prof. Marques de Melo), um pequeno texto de Odylo Costa, filho, à guisa de encerramento:

O jornalismo das épocas de liberdade de imprensa é, inevitavelmente, óbviamente, uma das fontes com que se há de escrever história, a História.[...] Viva o jornalismo livre: viva o jornal de outrora, com tipos de madeira e xilogravuras cavadas em casca de cajá, que enfrentava o Poder e não dependia do Dinheiro. Mas viva também a imprensa, que, na era industrial, e apesar das coordenadas que lhe são intrínsecas, soube garantir, dentro das limitações da natureza humana e das vigilâncias onipresentes do Estado, a exatidão da notícia e da liberdade de opinião. ( 38)

Trechos Citados


(1) Morin, Edgar O Pensar Complexo.Org. Alfredo Pena-Veja e Elimar Pinheiro de Almeida, Rio de Janeiro, Garamond, 1999, pg.31

(2) Vilas Boas, Sérgio Perfis e como escrevê-los, São Paulo, Summus, 2003, pg. 16

(3) Melo, José Marques de, História do Pensamento Comunicacional, São Paulo, Paulus, 2003, pg.92

(4) Sodré, Nelson Werneck, História da Imprensa no Brasil, Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1966.pg.11

(5 ) Chagas, Carlos - O Brasil sem retoque 1808-1964: a História contada por jornais e jornalistas, Rio de Janeiro, Editora Record, 2001 - volume I -pg.10

(6)Laurenza, Ana Maria de Abreu, Lacerda e Wainer- O Corvo e o Bessarabiano, São Paulo, Editora SENAC 1998, pg. 17

(7) Melo, José Marques de, História do Pensamento Comunicacional, obra citada, pg.296.

8) Lacerda, Carlos, A Missão da Imprensa, 2 ed. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2003 - pg.30.

(9 ) Nobre, Freitas, Prefácio de A imprensa e o poder da verdade, 4 ed. São Paulo - Editora da Universidade de São Paulo,2003 pg. 25

(10) Barbosa, Rui - A imprensa e o dever da verdade -São Paulo : Editora da Universidade de São Paulo, 4.ed. 2003 -pg.37

(11) Siebert, Fred S. e Theodore Peterson, Tres Teorias Sobre La Prensa, citado por Fernandes, Antonio Neto, Jornalismo e Liberdade, São Paulo, Edição Pannartz ,1980

(12) Barbosa, Rui A imprensa e o dever da verdade. obra citada. pg.38

(13 ) Barbosa, Rui, Obra citada, pg.38

(14) Lacerda, Carlos A Missão da Imprensa, obra citada, nota à pg.11

(15) Lima, Alceu Amoroso, O jornalismo como gênero literário, em Clássicos do Jornalismo Brasileiro, São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo,2003, pg.61

(16 ) Koshiyama, Alice Mitika, o Ideal Inatingido do Jornalismo, em O jornalismo como gênero literário, obra citada, pg.21.

(17) Israel Beloch e Alzira Alves Abreu (orgs.), "Carlos Frederico Werneck de Lacerda", citado por Ana Maria de Abreu Laurenza , Lacerda e Wainer o Corvo e o Bessarabiano, pg. 37.

(18) Domingues, Joelza Ester, Brasil Uma perspectiva histórica, São Paulo, FTD, 1983, pg.222.

(19) Gorender, Jacob, Combate nas Trevas, São Paulo, Editora Ática,1987, pg.15

(20) Mendonça, Marina Gusmão de. obra citada, pg. 34.

(21) Lacerda, Carlos, Em Vez, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1975 pg.242

(22) Mendonça, Marina Gusmão de, obra citada, pg.37.

(23) Lacerda, Carlos, O Poder das Idéias -obra citada, pg. 42.

(24) Fernandes, Antonio Neto, Jornalismo e Liberdade, São Paulo, Edição Pannartz,1980 1ed. pg.43

(25) Rivers, William L. e Schramm, Wilbur - Responsabilidade na Comunicação de Massa, Rio, 1970 Bloch Editores,1970 (citado por Neto, Antonio Fernandes, obra citada, pg.45)

(26)Medina, Cremilda, Sob a Alegria do Risco e A Intuição do Indefinível - prefácio de A missão da imprensa, de Carlos Lacerda, Edusp -2003 Segunda edição pg. 11 a 13

(27 ) Lacerda, Carlos e outros, Reportagens que abalaram o Brasil, Rio de Janeiro, Bloch Editores, 1973, pg.110.

(28 ) Chagas, Carlos, obra citada, pg.479

(29 ) Reportagens que abalaram o Brasil, obra citada, pgs. 111 -112.

(30 ) Mendonça, Marina Gusmão de, obra citada,pg.76

(31) Lacerda, Carlos, O Rato Fiúza, Rio de Janeiro, Editora Moderna, 1946,pgs. 20-59 e 98-103

(32) Barbosa, Rui, obra citada, pg.67

(33) Lacerda, Carlos, obra citada,pg 24.

(34) Mendonça, Marina Gusmão de, O Demolidor de Presidentes, obra citada, pág.59).

(35) Lacerda, Carlos, O Poder das Idéias, obra citada, pg,48.

(36) Para a referência de Marina Gusmão, O Demolidor de Presidentes, obra citada,pg.46. Para a de Carlos Chagas, O Brasil Sem Retoque, obra citada, pg.478.

(37) Lacerda, Carlos, O Rato Fiuza, pg 109.

(38) Branco, Carlos Castello, Introdução à Revolução de 1964, Rio de Janeiro, Editora Artenova, 1975 - 2o Tomo , Prefácio,pg.11 by Odylo Costa, filho

Anexos

1."Assim como se confunde a veemência com a violência e a ira com o ódio, confunde-se também a paciência com o cansaço e a compreensão que se deve às pessoas, com a complacência que não se deve ter para com os erros. Abomino o erro, o meu e o de outros. Mas assim como me perdôo, devo ainda mais depressa perdoar os outros", afirma em um dos seus últimos escritos autobiográficos, Rosas e Pedras de meu Caminho.

2.Jornalista que abraçou a política, se revela, no final das contas, apaixonado pelo ofício de informar. "Eu não sou um político, não passo de um jornalista que faz o papel de político para substituir as estrelas enquanto faltam atores" escreveu uma vez, salientando o que considerava sua missão maior. Como um guerreiro temporariamente fora de combate, quis, em determinado momento, voltar para as "torrinhas onde me reservo o direito de aplaudir e de vaiar, e infelizmente mais de vaiar que de aplaudir. Esse papel - o de jornalista - é o que eu reivindico. Ele é tudo o quanto pretendo". (2)

3. Depoimento de José Américo de Almeida

4. Íntegra da entrevista de Carlos Lacerda com José Américo de Almeida, publicada no Correio da Manhã

5. Décimo Artigo da série "O Rato Fiúza

6. Textos de Carlos Lacerda

Carlos Lacerda - Dados Bibiográficos

1914 - Carlos Frederico Werneck de Lacerda nasce em 30 de Abril, no Rio de Janeiro, mas é registrado na cidade de Vassouras, Estado do Rio, pelo avô Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda, ministro do Supremo Tribunal Federal. Filho do político Maurício de Lacerda e Olga Caminhoá Lacerda
1929 - Aos 15 anos, começa a trabalhar no Diário de Notícias, auxiliando a poetisa Cecília Meireles
1931 - Publica seu primeiro artigo assinado
1932 - Ingressa na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro( Inicia atividades como orador, ao participar de grupos de discussão política no centro acadêmico. Se aproxima de grupos marxistas) É preso pela primeira vez, por participar de um comício contra o governo. Colaborador da revista Rumo
1934 - Militante da Federação da Juventude Comunista - colaborador da Revista Acadêmica- Preso pela segunda vez pelo DOPS
1935 - Tomando partido na luta contra o governo Vargas - lê em público manifesto escrito pelo líder comunista Luís Carlos Prestes, conclamando o povo a resistir a Getúlio e tomar o poder. - Sob o pseudônimo de Marcos, publica seu primeiro livro, O quilombo de Manuel Congo. - Colaborador dos jornais A Marcha e A Manhã
Como outros militantes de esquerda, é perseguido após a eclosão da revolta comunista, episódio chamado pelo governo de "Intentona Comunista"
1937 - Engaja-se na campanha de presidencial de José Américo de Almeida. Com a decretação do Estado Novo, é preso pela terceira vez.
1938 - Casamento com Letícia Brasilina Abruzzini. Sob o pseudônomo de Marcos Pimenta escreve na revista Seiva. Escreve o artigo A exposição anticomunista e rompe com a esquerda. É tratado como traidor pelos comunistas. Trabalha para o Observador Econômico e Financeiro. . Começa a escrever na revista Diretrizes ( de Samuel Wainer, depois seu maior adversário político) .Organiza e dirige a Agência Meridional . Assume o cargo de secretário de redação de O Jornal, editado pelos Diários Associados, de Assis Chateaubriand
1945- Consegue entrevista histórica com José Américo de Almeida, publicada pelo Correio da Manhã, que apressou o fim da censura à imprensa no Estado Novo
1946 - Começa a trabalhar no Correio da Manhã, onde passa a publicar a coluna Tribuna da Imprensa. É eleito vereador. Em protesto contra o cerceamento da liberdade dos políticos imposta pelo governo, renuncia.
1949 - Funda o jornal a Tribuna da Imprensa
1954 - Sofre atentado na Rua Toneleros, onde morre o major Rubens Vaz, em plena guerra contra Getúlio. Os desdobramentos do episódio levam ao suicídio de Vargas e a uma das maiores crises políticas do país. Se elege deputado federal
1954/55 - Crise política - Episódio do Cruzador Tamandaré - A Novembrada
1955/56 - Exílio nos Estados Unidos
1956 - Regressa e reassume seu mandato de deputado
1958 - Se reelege deputado
1960 - Eleito governador da Guanabara
1961 - Denuncia golpe armado pelo governo Jânio Quadros
1962 - Se reúne com o presidente americano John Kennedy
1964 - Articula golpe com os militares
1966/1968 - Articula a Frente Ampla,com Jango e Juscelino . É cassado pelo Ato 5, proibido de exercer direitos políticos por 10 anos e preso
1977 - Morre no Rio, aos 64 anos -

Principais Obras de Carlos Lacerda

O Rio ( 1943)
O Rato Fiuza ... (1943)
Como Foi Perdida a Paz; a Política das Grandes Potências, da Conferência de Paris a Moscou (1947)
O Brasil e o Mundo Árabe; a Partilha da Palestina; o Petróleo e o ..... (1948)
Uma Luz Pequenina (1948)
O Caminho da Liberdade; Discurso na Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados (1957)
Xanan e outras Histórias (1959)
O Poder das Idéias (1963)
Reforma Agrária, Liberdade e Propriedade; Notas Taquigráficas do Improviso do Governador da Guanabara na Convenção Nacional da UDN (1963)
Paixão Crime; o Processo do Dr. Jaccoud (1965)
Uma Rosa é uma Rosa é uma Rosa (1965)
Palavras e Ação (1965)
Crítica e Autocrítica (1966)
Reportagens que abalaram o Brasil por Carlos Lacerda e outros (1973)
Em vez; Crônicas (1975)
A Casa do meu Avô; Pensamentos, Palavras e Olhos (1976)
O Cão Negro; Crônicas (1980)
Discursos Parlamentares (1982)

Referências Bibliográficas

Andrade, Jeferson de -Um jornal assassinado - a última batalha do Correio da Manhã - Rio de Janeiro, José Olympio, 1991
Baciu, Stefan - Lavradio, 98 - Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982
Barbosa, Rui - A imprensa e o dever da verdade - São Paulo - Editora da Universidade de São Paulo - 2003
Branco,Carlos Castello, Introdução à Revolução de 1964 - 1 e 2 Tomos - Rio de Janeiro, Editora Artenova, 1975
Chagas, Carlos - O Brasil Sem Retoque - 1808-1964: A História contada por jornais e jornalistas volumes 1 e 2- Rio de Janeiro; Record, 2001
Domingues, Joelza Ester/ Layla Paranhos Leite - Brasil uma perspectiva histórica - São Paulo, FTD, 1983
Dulles, John W.F. - Carlos Lacerda: a vida de um lutador - volumes 1 e 2 Rio de Janeiro, Nova Fronteira- 1992
- Anarquistas e Comunistas no Brasil - Rio de Janeiro - Editora Nova Fronteira, 1973
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Consultas

Revista IstoÉ Online - Artigo citado "Mataram Lacerda" 08.04.2003
Fundamar - Projeto Fundo de Arquivo Carlos Lacerda - www.fundamar.com

Obra Analisada

"A missão da imprensa
Lacerda, Carlos - 2.ed.- São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003.

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