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Manchetes


Lições de um editor

William Bonner e a equipe do Jornal Nacional, da TV Globo, ajudam a entender o funcionamento do mais assistido telejornal do País

Por Carla Jamille*

William Bonner, editor-chefe do Jornal Nacional, e sua equipe jornalística estiveram com os alunos de comunicação da UFRJ para comemorar os 35 anos do JN.

Começando a carreira na contramão dos demais jornalistas, Bonner iniciou no rádio e foi direto para a parte interna do jornal. "Infelizmente, não tive oportunidade de, primeiro, começar na rua, como a Fátima (a apresentadora Fátima Bernardes, também presente no evento)",afirmou Bonner.

Dirigindo o telejornal mais assistido do Brasil, ele acredita ter uma missão quase impossível: coletar, todos os dias, as principais notícias do mundo e do país inteiro e fazer com que caibam em 30 minutos.

Ele afirma que as notícias são selecionadas sob certos critérios: "Há um senso comum na cabeça do jornalista daquilo que é verdadeiramente relevante no âmbito nacional e internacional. É claro que Brasília, Washington, são grandes centros de notícias de alta relevância para os brasileiros. Como também São Paulo, o maior centro industrial, Rio de Janeiro, ainda uma capital cultural, o Nordeste e o Sul. Então, isso estará sempre no JN.

Segundo Bonner, o objetivo "é mostrar o mais importante do dia de forma antecipada, para que, no outro dia, esteja na capa dos grandes jornais impressos do país. Terminada esta missão, poderá sobrar tempo ou não para outros assuntos. Devido ao horário eleitoral, sobram para o JN vinte e um minutos e, mesmo assim, conseguimos cobrir as Olimpíadas de Atenas".

No tempo normal da edição, o JN procura abrir para temas atuais, que ajudem a entender o mundo e o Brasil. "Por isso", diz Bonner, "criamos as séries com um texto caprichado e apresentamos ao longo da semana, detalhadamente, para o telespectador se interessar pelo assunto".

Mea-culpa

Em sua trajetória, o JN provocou polêmicas: a operação Proconsult, a cobertura das “Diretas já”, a edição do debate da eleição de 1989, e os dez minutos dedicados ao nascimento de Sasha (filha da apresentadora Xuxa Meneghel).

Sobre esses momentos, Bonner esclareceu: "o Jornal Nacional é uma instituição de 35 anos e não pode ser sustentado por tanto tempo se não tiver credibilidade. Esta não é imposta, é conquistada. Muitos falaram mal destes quatro episódios que afetaram a nossa credibilidade. Então, vamos discutir: primeiro, a operação Proconsult: a Globo não tem nada a ver com a Proconsult. Segundo, Diretas já: a Rede Globo, neste livro (obra relatando os 35 anos do JN), está colocando a mão na ferida e oferecendo às comunidades acadêmicas ou não a oportunidade de discutir em profundidade, sem pré-concepções, o que verdadeiramente aconteceu neste evento".

Bonner revelou o clima dos bastidores, naqueles momentos difíceis: "Sofremos pressões externas contra a entrega do material e também pressões internas dos profissionais que queriam dá-lo. A angústia da direção da empresa, os diálogos tensos nas reuniões, um helicóptero militar pairando ao lado do sétimo andar do prédio no Jardim Botânico".

E explica a criticada edição do debate Collor x Lula: "Eu já era funcionário nessa época e achei um escândalo aquilo no ar, uma vergonha". E por fim ele analisa a matéria relativa ao nascimento da Sasha: "O editor decidiu que o JN, por ser um produto de marca, deveria também ter um forte apelo popular. Foi uma cobertura determinada rigorosamente apenas pelo editor–chefe".

Por fim, Bonner chama a atenção dos estudantes para o Conselho Federal de Jornalismo: "É um raciocínio tacanho, imbecil, merece ter um repúdio imediato, aos gritos, da sociedade brasileira. É o pescoço e a liberdade dos estudantes de comunicação que estão em jogo neste conselho".

*Estudante de jornalismo das Faculdades Integradas Hélio Alonso (RJ).

Fonte: Balaio de Notícias, Edição 64, 12 a 26 de setembro de 2004.

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