Manchetes
IMPRENSA
CONFISCADA
Luz sobre jornais clandestinos
Por
Observatório da Imprensa
A
imprensa confiscada pelo DEOPS, de Maria Luiza Tucci Carneiro
e Boris Kossoy (orgs.), 296 pp., Imprensa Oficial do Estado,
Arquivo do Estado e Ateliê Editorial, São Paulo,
2004; R$ 80,00; lançamento em 13 de maio, às 18h30,
no anfiteatro de História da USP, à Avenida Lineu
Prestes, 338, Cidade Universitária, São Paulo,
SP.
Este
livro é o primeiro volume de uma ampla pesquisa feita
pela equipe do Projeto Integrado Arquivo do Estado/USP, criado
para inventariar a documentação do extinto Deops
Departamento Estadual de Ordem Política e Social
de São Paulo (1924 a 1983), composta por cerca de 154
mil prontuários e 6.500 dossiês da Polícia
Política do Estado de São Paulo. As próximas
publicações da série são Panfletos
Sediciosos, Charges proibidas, risos contidos e Minorias Rebeldes.
Durante
três anos, os professores Boris Kossoy (titular do Departamento
de Jornalismo e editoração da Escola de Comunicação
e Artes da USP) e Maria Luiza Tucci Carneiro (livre-docente
do Departamento de História da USP) coordenaram uma equipe
de 26 pesquisadores no trabalho de reunir jornais de militância
política confiscados entre 1924 e 1954 pelo DEOPS.
A
obra revela como diferentes governantes brasileiros vigiaram
e coibiram intensamente a livre circulação de
idéias no país, com o objetivo de garantir a persistência
do regime republicano enquanto forma de governar e construir
sua própria versão da história. Ao mesmo
tempo, partidos políticos, associações
de classe e grupos étnicos se articulavam em defesa de
seus ideais e projetos de vida.
A
razão do confisco desses jornais em grande parte
clandestinos era sempre a mesma: aos olhos das autoridades,
eles ameaçava à ordem constituída e a segurança
nacional. Tanto em períodos democráticos quanto
autoritários, veículos comunistas (como A Classe
Operária), anarquistas (A Lanterna), de classe (A Voz
dos Alfaiates) ou aqueles expressivos da cultura política
das comunidades imigrantes radicadas no Estado de São
Paulo e que foram sistematicamente vigiadas pela Polícia
Política, o DEOPS-SP.
A
produção dos jornais revolucionários confiscados
representa, segundo Boris Kossoy, a expressão das inquietações
da sociedade brasileira: "Em qualquer época e lugar,
imagem e texto cumprem o papel de doutrinação
e sedução, função inerente à
imprensa política." Outra curiosidade destacada
pelo professor: pelo fato de circularem no submundo do impresso,
estes jornais procuravam preservar a identidade dos seus colaboradores,
obrigados a se manterem no anonimato.
Maria
Luiza Tucci Carneiro enfatiza que "a apreensão de
jornais dito perigosos e a sistemática prisão
de seus editores, jornalistas e tipógrafos devem ser
avaliadas como a formulação de uma resposta institucional
à ameaça provocada por aqueles que atentavam contra
a estabilidade das elites dominantes". A historiadora lembra,
ainda, que o jornalismo militante de esquerda proliferou no
estado de São Paulo. Liderando este gênero de publicação,
entre 1890 a 1920, por exemplo, funcionavam 149 títulos
em São Paulo, sendo que 53 eram editados em língua
estrangeira.
A
forma como esses jornais eram distribuídos para romper
as barreiras do controle policial também é explicada
com detalhes. O operariado e as comunidades de imigrantes radicados
no Brasil principalmente em São Paulo transformaram
a imprensa em porta-voz de suas utopias, desencantos e carências.
Um bom exemplo é o jornal anarquista O Trabalho, dirigido
por Francisco Neves, fundado em 1º de maio de 1931.
Páginas
dos jornais confiscados, seus editores, a forma de atuação
da polícia política, os diferentes governos e
os instrumentos de dominação para frustrar quaisquer
possibilidades de alternativas de vida e opções
ideológicas são temas analisados com seriedade
pela obra.
O
livro pode ser encontrado em livrarias e nos sites da Imprensa
Oficial do Estado:
(www.imprensaoficial.com.br/livraria),
Livraria Histórica do Arquivo do Estado (www.arquivoestado.sp.gov.br),
e Atéliê Editorial www.atelie.com.br)
e e-mail
(atelie_editorial@uol.com.br).
Fonte: Observatorio da Imprensa, 11.05.2004.
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