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Manchetes


Sobre o livro “Jornalismo Opinativo”

Por Elizabete Kobayashi

Quase vinte anos após sua primeira edição, a tese de livre docência do professor José Marques de Melo está sendo reeditada pela Editora Mantiqueira, de Campos de Jordão. O livro relançado com o título “Jornalismo Opinativo” traça um panorama dos gêneros opinativos existentes nos meios de comunicação do Brasil.

Um dos traços marcantes da obra é sua atualidade. Mesmo sendo originalmente uma tese de livre-docência, apresenta uma linguagem simples e clara a qualquer leitor que se interesse pela trajetória do jornalismo opinativo. A forma como foi dividida nesta edição permite que o leitor possa "criar" um contexto no qual se encaixam os gêneros jornalísticos, em especial aqueles voltados à opinião.

São cinco capítulos que abordam a Teoria do jornalismo, Gêneros Jornalísticos, A expressão opinativa, Gêneros opinativos e uma Bibliografia Essencial. No primeiro capítulo, professor Marques de Melo explica a natureza do jornalismo, enfocando as características da área, como a efemeridade, a rapidez dos acontecimentos. Fala também da constante mutação do jornalismo, enquanto ciência.

Segundo o professor muitas vezes quando as universidades ou institutos de pesquisa concluem seus estudos a realidade já se modificou, não só por estudar fenômenos sociais, mas pelo próprio caráter dinâmico do jornalismo. Para que o cientista possa "fixar" seu objeto de estudo, ele necessita de maior argúcia na observação e de melhor instrumentação metodológica para não cair na transitoriedade dos fatos.

No segundo capítulo, o autor estabelece uma comparação entre os gêneros jornalísticos existentes em nosso país com outros que influenciaram o jornalismo brasileiro, como Espanha, Estados Unidos, França, Itália e países hispano-americanos. Para o professor Marques essa comparação se faz necessária devido às influências forâneas que o jornalismo brasileiro recebeu e o modo como este as incorporou.

O livro oferece ao leitor a oportunidade de estabelecer um cenário, uma imagem da maneira como os gêneros opinativos se articulam no jornalismo. Por exemplo: no capítulo três, o professor Marques aborda a natureza ideológica desses gêneros.

"Entendemos que os meios de comunicação coletiva, através dos quais as mensagens jornalísticas penetram na sociedade, bem como os demais meios de reprodução simbólica, são ´aparatos ideológicos´, funcionando, se não monoliticamente atrelados ao Estado, como dá a entender Althusser, pelo menos atuando como uma ´indústria da consciência´, de acordo com a perspectiva que lhes atribui Enzensberger, influenciando pessoas, comovendo grupos, mobilizando comunidades, dentro das contradições que marcam as sociedades.

São, portanto, veículos que se movem na direção que lhes é dada pelas forças sociais que os controlam e que refletem também as contradições inerentes às estruturas societárias em que existem". (MARQUES MELO: 2003, 73).Seguindo o mesmo raciocínio, neste capítulo também são abordadas questões como o controle negociado da linha editorial, os filtros (pautas, coberturas, fontes e copidesque), títulos e manchetes (conotação jornalística).

Gêneros opinativos

O autor divide os gêneros opinativos em: EDITORIAL, COMENTÁRIO, ARTIGO, RESENHA ou CRÍTICA, COLUNA, CRÔNICA, CARICATURA, CARTA. Cabe ressaltar que não se trata apenas de uma simples enumeração de gêneros, mas de uma abordagem histórica e de uma crítica a visões, por vezes, equivocadas de cada gênero.

Prova disso é a contextualização feita pelo autor ao tratar das mudanças que os gêneros opinativos sofreram com a transformação do jornalismo numa organização industrial. Se antes o jornal era reflexo da opinião de uma só pessoa, agora as opiniões se fragmentam, assumindo o caráter de uma organização complexa. As opiniões se dividem entre assalariados e colaboradores.

Ou seja, são diferentes núcleos emitindo suas opiniões. Numa época em que guerras são articuladas, considerando, principalmente, o poder da informação, o livro “Jornalismo Opinativo” vem reforçar o entendimento a respeito do jornalismo brasileiro e mundial.

Lançamento

O VI Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, realizado na cidade de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte, entre os dias 01 a 03 de maio de 2003, dedicou parte de sua programação, especialmente, para o lançamento do livro “Jornalismo Opinativo”. Segundo o professor Antonio F. Costella, responsável pela terceira edição, uma das características fundamentais da obra do professor Marques de Melo é a atualidade. "Embora tenha vindo a público pela primeira vez em 1985, foi de tal forma revisto e ampliado pelo autor, que marca presença pela atualidade e, até certo ponto, pela novidade".

O editor vai além ao defender também a "imortalidade" da obra. Para ele, esta pode ser considerada um autêntico clássico na bibliografia brasileira. O editor afirma que os leitores terão acesso a uma obra de caráter lúcido e claro, que analisa todos os gêneros opinativos do jornalismo: "por mais que a tecnologia venha a transmudar a feição dos engenhos de comunicação, a transmissão da opinião continuará fielmente enfocada neste livro em todos os ângulos possíveis", afirma Costella no prefácio à segunda edição.

Professor Costella continua a frisar a importância e pertinência da obra, dizendo que o livro coloca em relevo, na sucessão de suas edições, a evolução do pensamento do autor. "Nessa evolução, destaca-se a coerência no essencial, que perdurou com firmeza, e a flexibilidade oportuna, que garantiu a atualização dos elementos acessórios".

Costella é um dos muitos professores e pesquisadores que reconhecem a importância do relançamento desta obra e da contribuição ímpar do professor Marques de Melo ao estudo da comunicação no Brasil. Em seu último livro, “Legislação da Comunicação Social”, ele explicita seu reconhecimento ao incentivo recebido de Marques de Melo, dedicando o livro ao professor.


São Paulo, maio de 2003.

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