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Fórum
O caso "Titica":
Falhas da cobertura
policial do Jornal Agora


Reprodução
Por Paula Milano Sória*

Este trabalho se propõe a analisar a cobertura policial do Jornal Agora, da cidade de Rio Grande, Rio Grande do Sul, sobre o caso do serial killer "Titica". Entre dezembro de 1998 e março de 1999, o pescador Paulo Sérgio Guimarães da Silva, conhecido por "Titica", atacou quatro casais, o que resultou na morte de sete pessoas e deixou tetraplégica uma menina de 14 anos.

Depois que "Titica" começou a agir, os moradores da praia do Cassino, onde aconteceram três dos quatro crimes, tiveram suas rotinas modificadas devido à série de assassinatos. A imprensa local publicou as reportagens, utilizando como fonte principal a polícia. Em raros momentos escutou outras fontes para a composição dos textos, o que tornou a cobertura burocratizada.

Segundo Kovack e Rosenstiel, (2003, p. 206) a imprensa gera fóruns de discussão e pode orientar o trabalho do jornalista desde o início da cobertura de um fato, seja esse policial ou não. As pessoas interessadas no tema criam um fórum público de discussões onde há troca de idéias e opiniões. Fala-se muito em um grande crime, principalmente quando ocorre numa praia pequena como a do Cassino, onde crimes brutais chocam a opinião pública, especialmente os assassinatos em série. Nessas situações, o público espera que a imprensa o mantenha informado sobre os acontecimentos como uma forma de orientar suas rotinas.

A pressão exercida pela opinião pública e pela imprensa faz com que a polícia, muitas vezes, sucumba à pressão dos dois primeiros e divulgue os resultados antes que as investigações sejam completadas. Na verdade, polícia e imprensa se precipitam na tentativa de saciar o desejo de informação da opinião pública. A informação chega capenga ao público.

Muitas vezes baseada em apenas uma fonte.

As matérias publicadas pelo Jornal Agora, de Rio Grande, sobre o caso "Titica", num período de cinco meses, é o objeto deste estudo que procurará responder as seguintes perguntas: em que fontes se basearam os jornalistas na cobertura do caso que abalou a cidade de Rio Grande entre dezembro de 1998 e março de 1999? Houve tentativas de mostrar os vários lados da história buscando fontes além da polícia, como, por exemplo, os próprios suspeitos, seus advogados e especialistas? Ou o jornal, seguindo uma tendência que prioriza o sensacionalismo e o entretenimento na cobertura policial, transformou suspeitos em acusados baseando-se em uma única fonte - a polícia?

Furio Colombo (1998) acredita que o jornalista é induzido pela grande quantidade de notícias de seqüências fechadas e que "o ritmo em cascata acabam por persuadir o repórter de que se encontra próximo de uma mina a céu aberto. Não necessita cavar, basta colher" (p.63).

A estratégia é contestada por especialistas. Conforme Nassif (2003) em casos de grande repercussão a polícia pode não ser a melhor fonte num primeiro momento devido ao deslumbramento com a imprensa. Por isso, muitas vezes os jornalistas equivocam-se em dar total credibilidade às fontes policiais e, pior, em contentar-se apenas com elas.

Um estudo publicado em novembro de 2004 pelo Newspaper Research Journal, sob o título Juvenile Crime Stories Use Police Blotter Without Comment from Suspects, de James Simmon e Sean Hayes (2004), questiona o uso de fontes oficiais. Quando apenas a polícia é usada como fonte na cobertura de crimes e os suspeitos não têm a chance de se defender, como fica o papel da imprensa que prevê a apresentação dos dois lados da história? Perguntam-se Simmon e Hayes.

Policiais e jornalistas têm um papel social importante: a prestação de serviços à sociedade. E ambos cometem erros. Há vários problemas na relação fonte oficial X repórter. O jornalista avalia a informação da polícia como sendo de grande credibilidade e em muitos casos noticia erros sem saber, até porque não se preocupa em ouvir outras fontes.

Além disso, repórteres desconhecem as áreas jurídicas e a natureza dos crimes e veiculam nomes e fotografias de suspeitos como se já tivessem sido acusados.

A polícia, por sua vez, também está despreparada para lidar com a imprensa. Segundo o presidente da OAB de São Paulo, Luís Flávio Borges D'Urso (2004), o inquérito policial deve servir como uma peça de relevo nas investigações e pautar-se pela apuração imparcial dos fatos. Portanto, o delegado que o preside jamais deve acusar ou defender, pois tem que se portar como uma autoridade imparcial.

Pela lei, o suspeito só passa a ser acusado após a denúncia do Ministério Público. Isto não impede que muitos jornais tratem os suspeitos como acusados. Em muitos casos, pessoas inocentes ficam, irremediavelmente, associadas a crimes que não cometeram.

É prática comum na cobertura policial não publicar o desfecho das ações judiciais. Ou noticiar a prisão de um suspeito e mais tarde não esclarecer que tal pessoa não tem envolvimento com o delito.

Há várias maneiras de contornar situações como estas. A imprensa pode retratar-se ou auto corrigir-se, por exemplo. Pode voltar ao assunto e explicar que o "acusado" foi inocentado ou anunciar que há outros suspeitos e que as investigações seguiram um rumo diferente. Em geral, a imprensa não esclarece com exatidão que a polícia cometeu um engano e/ou que o jornalista não buscou outras fontes, exagerando na sensacionalização da violência, promovendo a criação de estereótipos e arrasando a credibilidade de inocentes, como aponta este estudo.

A análise da cobertura do caso "Titica" é uma pequena contribuição ao debate sobre o tratamento dado à criminalidade pela imprensa, freqüentemente acusada de ocupar-se de casos isolados e quase nunca apresentar análises e interpretações sobre as causas do problema.
Relação repórter X fonte oficial

Os repórteres que cobrem criminalidade preferem as fontes oficiais (Simon and Hayes, 2004). É fácil transcrever o conteúdo de boletins de ocorrência e confiar nas informações fornecidas por delegados, investigadores e escrivãos. Segundo Sanford Sherizan, no estudo Social Creation of Crime News: All thew news fitted to print, mencionado por Simon and Hayes, "a polícia supre os repórteres com um fluxo constante de crimes e essas informações se adaptam às rotinas de trabalho dos repórteres transformando-se em matéria prima do noticiário policial" (p.90).

Mesmo sendo consideradas como as mais confiáveis, Lage (2001) sustenta que as fontes oficiais falseiam a realidade para preservar interesses, beneficiar pessoas e grupos.

Comumente - e isso não é considerado aético -, sonegam informações de que efetivamente dispõem (o segredo de estado, os dados confidenciais ou reservados, constituem uma categoria que costuma expandir-se além do justificável), destacam aspectos da realidade que convém às instituições (preferindo, por exemplo, números relativos a absolutos, ou o contrário), alegam dificuldades inexistentes para desestimular quem procura informar-se. Funcionários mentem também por desleixo e preguiça, por vaidade (para fingir que são bem informados) e para se livrar do repórter chato. (Lage, 2001, p. 64).

Para o autor, a estrutura centralizada do jornalismo convencional gera uma supremacia absoluta das fontes oficiais.

A polícia é uma fonte oficial legítima, mas é papel do jornalista questionar e fiscalizar as suas ações. No entanto, isso nem sempre ocorre. O jornalista apressa-se em eleger acusados com base nas informações da fonte oficial.

Desta forma, acredita que esta suprindo a opinião pública com informações e vencendo a concorrência com outros meios de comunicação.

Para Luís Nassif, "Esse personagem meio indefinido e caprichoso, de nome opinião pública, há alguns anos é o mais importante agente político do país, e sua importância será cada vez maior" (2003, p. 224). Esta influência que o público exerce sobre a notícia acaba por cegá-lo. Se um jornal apresenta argumentos em defesa de um suspeito e questiona o rumo das investigações policiais, a opinião pública pode mobilizar-se contra o veículo. No entanto, a imprensa deve dar uma chance aos acusados de se defenderem. Como explica Nassif, "O papel do jornalista é correr riscos, na defesa do que lhe parece correto. E, nesse clima de linchamentos que caracteriza o comportamento da mídia, ter a coragem de remar contra a maré" (p. 226).

O Caso Escola Base e Bar Bodega são dois grandes exemplos de como a imprensa comete erros em coberturas policiais. Ambos ilustram o que pode acontecer quando a pressão pública orienta o trabalho tanto de policiais quanto de jornalistas.

O caso Escola Base ganhou notoriedade em abril de 1994, quando alguns pais denunciaram à polícia a prática de abuso sexual de alunos por proprietários e funcionários da instituição. Jornais e emissoras de televisão não apenas acolheram indícios mal sustentados como ampliaram as dimensões das denúncias, tomando-as verdades absolutas.

Os resultados dessa atitude não tardaram a acontecer. As sete pessoas envolvidas tiveram o patrimônio depredado, a liberdade privada e a credibilidade destruída. A imprensa, que alardeou as acusações e deu pouco espaço aos suspeitos, pediu desculpas ao perceber os equívocos, mas era tarde. A justiça absolveu os acusados. Entretanto, uma parcela da população sustenta para sempre a suspeita contra aquelas pessoas.

O mesmo ocorreu no caso do Bar Bodega em agosto de 1996, em São Paulo, quando bandidos entraram no bar, freqüentado por jovens de classe média, e mataram a tiros um dentista e uma estudante.

O incidente provocou comoção popular e, estimulada pela imprensa, a população deu início a uma campanha de justiça. Pressionado, o delegado responsável pelo caso deteve nove suspeitos, moradores de uma favela das imediações. Depois de dois meses a promotoria divulgou a suspeita de que os menores haviam confessado os assassinatos sob tortura e pediu que fossem liberados. Segundo Nassif (2003), a imprensa já sabia que os primeiros suspeitos haviam confessado sob tortura, mas não divulgou uma linha sobre isso. Contentou-se em ceder aos apelos do público sem ao menos questionar.

Há lugares onde a imprensa não sabe como agir frente a crimes que abalam a opinião pública. Para Nassif, "entender e utilizar os procedimentos judiciais na apuração de notícias, além de minimizar injustiças, ajudaria a mídia a pensar melhor e oferecer ao público um produto de melhor qualidade" (p. 41).

A relação repórter x fonte para um jornalista da editoria de polícia baseia-se quase sempre na dependência de uma única fonte oficial: a própria polícia. Essa relação é conturbada, pois a polícia diz o que lhe convém e o jornalista na maioria dos casos publica sem ressalvas.

A fonte oficial não está livre de cometer erros em suas investigações. Colombo (1998, p. 80) diz que: "o jornalismo tanto quanto parece é enganado pelo espetáculo e pelas instruções dadas, de uma vez por todas, pelas fontes autorizadas, e renuncia a uma investigação independente". Não convém ao jornalista desconfiar da informação pronta e avalizada por uma fonte oficial.

Este tipo de fonte tem notícias recentes, úteis e "confiáveis". No entanto, Hulteng (1990, p. 127) alerta para o fato de que "a síndrome da dependência das fontes oficiais" pode ser um problema, pois afasta o repórter de outras noticiais para as quais não há porta voz oficial.
O jornalista fica subordinado aos canais de rotina. Institucionaliza e valida como normal a dependência às fontes autorizadas com medo de não encontrar fontes substitutas e de cessar o fluxo de matéria-prima para o seu trabalho.

A capacidade de informação regular e autorizada poupa os jornalistas dos "inconvenientes das investigações em profundidade e da recorrência a especialistas para decodificação", diz Sousa (2002, p. 52). Em conseqüência, a utilização rotineira dessas fontes facilita a manipulação do fato, fortalecendo a relação entre imprensa e estado.

Como salienta Sousa (p. 51), o "jornalista burocrático" é dependente de fontes acessíveis, centralizadas, sistemáticas e com horários compatíveis. Isso traz conseqüências diretas à realização do trabalho jornalístico e asua função social de informar, vigiar e controlar os poderes.

As editorias policiais

A relação que os jornalistas estabelecem com as fontes oficiais faz parte do processo de rotinização das redações. As redações criam suas normas burocráticas para lidar com as normas burocráticas das instituições sociais com as quais se relaciona, como explicam Shoemaker e Reese (1996).

Nesse sentido, a notícia é o produto de uma burocracia (a redação) recolhida de outra burocracia (a polícia, no caso), e muitas vezes importa a linguagem técnica da burocracia externa onde é captada a informação.

Portanto, alegam Shoemaker e Reese, as rotinas tem um papel muito importante na produção do conteúdo da imprensa. O impacto das rotinas jornalísticas no conteúdo da imprensa é uma das áreas de estudo da sociologia da mídia. Os estudos de sociologia da mídia nos Estados Unidos surgiram na década de 1950 com o as pesquisas desenvolvidas por David White sobre gatekeeping (o processo de seleção da informação) e Warren Breed, que descreveu em detalhes como os jornalistas aprendem as rotinas de trabalho dentro das redações.

Segundo Breed (1955), os jornalistas internalizam as normas da redação, inclusive seus deveres e direitos como profissionais de imprensa. As políticas editoriais dos jornais, dizia Breed naquela época, não estão escritas em manuais detalhados. Elas fazem parte do processo de controle social dentro das redações e são captadas pelos jornalistas quase que por osmose, através da prática do dia-a-dia.

Em muitos casos, o jornalista que trabalha para as editorias policiais é visto como alguém sem experiência, em início de carreira e que não recebe apoio à realização de seu trabalho. Para o jornal, interessa que o jornalista se adapte à dinâmica interna e seja socializado à organização inserindo-se no processo de rotinização. "O jornalista será sempre constrangido pela política editorial da empresa e pela forma de fazer as coisas no órgão de comunicação social para o qual trabalha" (Souza, p. 55).

Em algumas redações, por experiência própria, as informações policiais são obtidas pelo telefone e, raramente, o jornalista dispõe de carro e fotógrafo para realizar o trabalho de campo e ir até a cena de um crime ou falar pessoalmente com os investigadores e suspeitos. Quando isso acontece é o único momento em que o jornalista será capaz de fazer uma matéria com mais detalhes, porque terá contato direto com o fato. Caso contrário, dependerá da polícia que, por telefone, nem sempre está disposta a falar.

Raras são as vezes em que uma empresa retira o jornalista da rotina da redação e permite que ele investigue um caso a fundo.

As editorias de policia limitam-se a publicar, por exemplo, novas informações sobre um caso. Fatos anteriores são esquecidos. Em muitos casos não há continuidade cronológica nem contextualização dos acontecimentos. Então, como creditar à mídia o papel social de informar?
Segundo Karam (1997, p.103), para que a informação jornalística seja exata, imparcial e tenha responsabilidade social, o jornalista precisa ir além de poucas declarações ou documentos parciais, revelando publicamente aquilo que atinge o público no cotidiano.

Mas o jornalista, de acordo com Cornu (1994), não tem meios para brincar de polícia e nem é a sua missão. Sua margem de manobra quando a atenção é atraída para um fato crítico seria investigar por conta própria, mas "os jornalistas estão simplesmente desprovidos das armas capazes de lhes trazer provas blindadas, irrefragáveis" (p. 79).

Na maior parte dos casos de homicídio, como por exemplo, os assassinatos em série, a polícia está interessada em contar que caminhos seguem a investigação. O jornalista, interessado em saber o que a fonte tem a dizer acaba passando por cima das ressalvas e desconfianças que se deve ter em relação às fontes oficiais.

Conforme o pesquisador Elias Machado,

A cobertura setorizada dos meios convencionais, com base em uma estrutura de redação centralizada e dividida em editorias reforça o vício do recurso às fontes oficiais. Uma redação descentralizada que opera dentro de um projeto de afinidades temáticas estimula a diversificação das fontes. (http://bocc.ubi.pt/pag/machado-elias-ciberespaco-jornalista.html)

As notícias policiais

Segundo Colombo (1998, p. 75), há três tipos de histórias onde se enquadram as notícias: as truncadas, que são abandonadas para sempre após terem iniciado com grande eco nos veículos de comunicação; as cíclicas, que regressam de tempos em tempos como se fossem novas e não existissem notícias anteriores, e as suspensas, que durante algum período não têm seqüência, embora nem sempre se saiba o que justificou a suspensão do interesse da notícia, a qual mais cedo ou mais tarde retornará. Para o autor, "A notícia é um produto e, instintivamente, não se afigura útil aos produtores lançar no mercado algo que é discutível ou não é popular, que não é da preferência da cultura dominante" (p. 65).

Nos noticiários policiais os fatos sobre um determinado tema são expostos exaustivamente até que o vento do interesse público desvie a notícia de sua rota e a coloque em outra. (p. 75)

As matérias que atraem a atenção do público em todas as escalas sociais têm, segundo Ilana Casoy (2004), uma característica especial: exercem um fascínio psicológico nas pessoas.

Para Casoy, os homicídios são, sem dúvida, os que causam maior impacto perante a opinião pública, pois fazem as pessoas se questionarem sobre o contexto que levou alguém a cometer tais atos. Além do mais, alteram a rotina pessoal dos indivíduos, em locais com um número pequeno de habitantes. Não só a população em geral, mas também os especialistas, se mobilizam, segundo a autora, "na tentativa de compreender o que leva uma pessoa a agredir outra mortalmente com sinais de brutalidade, crueldade e frieza" (p. 25).

O estímulo gerado no público em relação às notícias criminais pode se dar de várias formas. As pessoas têm uma sensação de controle quando conhecem os fatos. Acreditam que estão distantes da realidade dos crimes, o que nem sempre é verdade.

Os valores notícia têm um papel importante na confecção das notícias policiais e, em conseqüência, no estimulo gerado no público. O interessante, característica que se enquadra nos critérios de noticiabilidade, é privilegiado em casos de homicídio para captar a atenção do público. As histórias de gente comum que se encontra em situações insólitas, como no caso dos assassinatos em série, encaixam-se neste perfil.

Para chamar a atenção para o interessante, contraria-se a ética indo contra a objetividade jornalística e ferindo as esferas legais. Ao empregar a imaginação, muitos jornalistas e editores "esquentam" as matérias para torná-las interessantes e transformam simples suspeitos em acusados praticamente condenados. Equivocam-se, cometendo um erro legal, ao trocar a palavra suspeito, que se refere a uma pessoa investigada e sobre a qual recaem apenas indícios, pela palavra acusado, que diz respeito a uma pessoa contra a qual já foi proposta a ação, portanto, um réu. Essa troca talvez seja feita, em alguns casos, por acreditarem que suspeito e acusado são palavras sinônimas.

Cornu (1998, p. 107) diz que os jornalistas têm deveres impostos a eles através das diversas formulações de sua deontologia profissional. Como aponta o autor, "os jornalistas são responsáveis, quanto ao conteúdo, pelo reflexo fiel e completo dos negócios públicos, pela proposta de uma visão crítica, assegurando uma informação respeitosa dos fatos e pessoas."

O caso "Titica"

No dia 12 de dezembro de 1998, o casal de namorados Felipe Santos, de 19 anos e Bárbara da Silva, de 22 anos, foi encontrado morto a tiros ao lado do carro estacionado à beira mar. Começava aí uma série de sete assassinatos que abalou a praia do Cassino, na cidade de Rio Grande, RS, no verão 1998-1999 e se estendeu até a prisão do réu confesso, o pescador Paulo Sérgio Guimarães da Silva, conhecido por "Titica", em 1º de maio de 1999.

O segundo casal assassinado, Anamaria Soares, de 31 anos e Márcio Olinto, de 30 anos, foi encontrado no dia 10 de março, na Praia do Totó, na cidade de Pelotas, distante cerca de 60 quilômetros de Rio Grande. Na ocasião, a polícia divulgou que mais de uma pessoa teria cometido os assassinatos devido às provas coletadas no local do crime.

Petrick de Almeida, de 18 anos, e Brenda Graebin, de 14 anos, foram o terceiro casal a ser atacado no dia 20 de março, na praia do Cassino. Ele morreu no local e a adolescente, que levou um tiro na nuca, ficou tetraplégica.

O quarto casal, Silvio Ibias, de 36 anos e Adriana Simões, de 28 anos, foi morto na madrugada do dia 26 de março, também na praia do Cassino.
Treze pessoas foram detidas pelos crimes antes de "Titica" confessá-los.

Hipóteses

Com base nos aspectos levantados, segundo os autores utilizados, este trabalho propõe a investigação das seguintes hipóteses, relacionadas à cobertura do caso "Titica":

H1: O Jornal Agora utilizou a polícia como fonte principal ao divulgar as notícias referentes aos assassinatos em série da praia do Cassino, no Rio Grande, RS.

H2: O jornal tratou os suspeitos como acusados na maioria das reportagens.

H3: Durante as investigações e após a prisão de "Titica", o Jornal Agora não divulgou versões por parte das treze pessoas inocentes que tiveram seus nomes relacionados aos crimes.

Método

Este estudo utiliza a Análise de Conteúdo Clássica para testar as hipóteses propostas acima. As reportagens analisadas referem-se ao caso Titica: o serial killer da praia do Cassino. As 47 matérias e 11 capas foram extraídas do Jornal Agora, durante um período de cinco meses, entre dezembro de 1998 e maio de 1999. O jornal é publicado em Rio Grande e tem tiragem de 6.800 exemplares diária, dos quais 6.200 são para assinantes.

A Análise de Conteúdo foi escolhida porque não requer equipamento especial e utilização de pessoal. A vantagem deste método sobre outros é que caso sejam constatadas falhas na investigação é possível repetir o estudo. A desvantagem é que as categorias de análise podem ser contestadas. (Gaskell e Bauer, 2002)

A análise de conteúdo clássica é essencialmente uma operação de codificação capaz de medir a freqüência com que um assunto aparece em um jornal na forma e conteúdo com base em critérios pré-estabelecidos pelo pesquisador. De acordo com Bauer e Gaskell (p.190), "no divisor quantidade/qualidade das ciências sociais, a análise de conteúdo é uma técnica híbrida que pode medir esta improdutiva discussão sobre virtudes e métodos".

Segundo Earl Babie (1989, p. 298), a análise de conteúdo clássica trabalha com dois tipos de análise: o conteúdo manifesto e o latente. Para o autor, a utilização simultânea dos dois tipos de análise é a melhor forma de estudar um problema, pois no conteúdo manifesto está a objetividade do estudo enquanto no latente é preciso investigar as entrelinhas - uma forma de interpretação subjetiva por parte do pesquisador.

Este estudo concentrou-se no conteúdo manifesto de 47 reportagens e onze capas do jornal, que foi analisado segundo três categorias:

1) Fontes - Fontes utilizadas nas reportagens e chamadas de capa. Ex.: polícia, especialistas, suspeitos, advogados dos suspeitos, familiares, Ministério Público.

2) Tratamento - Tratamento dado às pessoas mencionadas nas reportagens e chamadas de capa. Ex.: suspeitos, acusados, culpados e inocentes.

3) "O outro lado" - notícias contendo versões breves ou detalhadas sobre suspeitos inocentados durante ou após as investigações. Por ex.: entrevistas com os ex-suspeitos, com os familiares e/ou polícia, mostrando outros aspectos do caso.

A seleção da amostra foi intencional, recolhendo-se todas as reportagens que trataram do caso durante cinco meses. Os textos foram coletados entre os dias 12 de dezembro de 1998, data de publicação da reportagem inicial sobre o primeiro assassinato, e 31 de maio de 1999, data que marca os trinta dias de prisão de Paulo Sérgio Guimarães da Silva - o "Titica", réu confesso dos assassinatos.

Optou-se por analisar todas as reportagens do período para que a investigação garantisse o mínimo de falhas em relação aos objetivos propostos. Como uma das categorias de análise é constatar se houve cobertura do "outro lado", o estudo de 30 dias após a prisão de "Titica" tem como objetivo descobrir se o jornal publicou reportagens com o depoimento de ex-suspeitos que tiveram suas vidas expostas pela imprensa local.

Resultados e Análises

1) H1: O Jornal Agora utilizou a polícia como fonte principal ao divulgar as notícias referentes aos assassinatos em série da praia do Cassino, no Rio Grande, RS.

Tabela 1 - Categoria 1 - Fontes utilizadas nas reportagens

Reportagens
Polícia
Especialistas
Suspeitos
Advogados
dos suspeitos
Família
Ministério
Público
Total: 47
36
01
zero
zero
01
03

Tabela 2 - Categoria 1 - Fontes utilizadas nas chamadas de capa

Capas
Polícia
Especialistas
Suspeitos
Advogados dos suspeitos
Família
Ministério Público
Total:11
11
zero
zero
zero
zero
01

A hipótese um foi confirmada. Do total de 47 reportagens, 35 (quase 74%) utilizaram a polícia como fonte primária, duas utilizaram o Ministério Público e uma, o depoimento de um familiar do suspeito. Sete reportagens não tiveram a polícia como fonte direta, pois eram em sua maioria matérias de retomada ao assunto, enquanto as autoridades não divulgavam novos fatos.

Nas onze chamadas de capa sobre o tema foi unânime a utilização da polícia como fonte, sendo que em uma o Ministério Público também foi consultado.

Na única reportagem que utiliza a família como fonte, a Reportagem 30 intitulada "Polícia já tem prova material de autoria de chacina", o pai de um dos suspeitos diz que seu filho é inocente, ressaltando que ele não tem nenhuma tatuagem e que é bem mais alto que o homem descrito pela vítima Brenda Graebin, que sobreviveu ao ataque.

Na capa em que o Ministério Público foi consultado, referente a reportagem 44 intitulada "Promotoria vai pedir suspensão de processos", aparece a única e primeira entrevista do promotor Luis Rogério Lima Tavares, abordando a suspensão do processo contra oito suspeitos, que já haviam sido acusados pelo Ministério Público. Depois que "Titica" confessou os homicídios e contou os detalhes das execuções, a polícia começou a procurar por provas que confirmassem o depoimento dele. Na reportagem 45 intitulada "Encontra mais uma prova contra Titica", o jornal informa que a polícia descobriu um par de tênis supostamente usado pela vítima Felipe dos Santos na noite do primeiro crime, em um local indicado por "Titica" em depoimento.

2) H2: O jornal tratou os suspeitos como acusados na maioria das reportagens.

Tabela 3 - Categoria 2 - Tratamento dado às pessoas mencionadas nas reportagens.

Reportagens
Suspeitos
Acusados
Total: 47
17
14

Tabela 4 - Categoria 2 - Tratamento dado às pessoas mencionadas nas chamadas de capa.

Capas
Suspeitos
Acusados
Total: 11
zero
01

A segunda hipótese não foi confirmada, pois na maioria das reportagens os suspeitos receberam o tratamento correto. Em 17 reportagens (36% do total), as pessoas detidas foram tratadas como suspeitas e em 14 reportagens, (27%) como acusadas. Mesmo não sendo maioria, o termo acusado foi usado em grande quantidade erroneamente, 27% não é uma estimativa baixa. O restante das reportagens se referia aos casos de homicídios sem, no entanto, fazer menção a quaisquer nomes.

Das 47 edições analisadas, o jornal publicou "chamadas" em onze capas, mas só na última foi utilizado o termo acusado, quando "Titica" já havia confessado os assassinatos. Isto indica que o Jornal Agora foi mais cuidadoso em relação às capas, já que das 13 reportagens em que se referia a acusados apenas uma tinha "chamada" com o mesmo termo.

A capa 10 não utiliza o termo "acusado", enquanto a reportagem a qual se refere, a de número 43, intitulada "'Titica' confessa autoria de mais um duplo homicídio", menciona-o dessa maneira. As outras nove capas noticiam os novos fatos descobertos pela polícia e os assassinatos na medida que vão acontecendo. Na C-8, a chamada "'Muralha' se entrega pedindo garantia de vida" destaca a prisão do suspeito Tino Rogério Moura, conhecido por "Muralha", por participar da morte das vítimas Anamaria Soares e Márcio Olinto. Já na chamada de capa seguinte (C-9), "'Serial Killer' confessa assassinatos", "Titica" se entrega e confessa os assassinatos e na C-10 admite ter matado um outro casal - Felipe dos Santos e Bárbara da Silva - cujo crime havia negado num primeiro depoimento.

Na reportagem 35, "Muralha se entrega à secretaria de justiça e segurança", a polícia divulgou um retrato falado, baseado em descrições da sobrevivente Brenda Graebin e recebeu mais de 1.600 telefonemas, alguns dizendo tratar-se de um homem de Pelotas, como já supunha, erroneamente, o delegado que presidia as investigações naquela cidade.

"Titica", o criminoso, é de Rio Grande. Após a prisão deste último, o repórter não questionou a polícia quanto aos fatos divulgados anteriormente, que se supunha ser verdade.

A partir da reportagem 40, "Autor de assassinatos em série confessa os crimes", quando "Titica" é preso e confessa os assassinatos, ele passa a ser chamado de acusado, mesmo sem a denúncia do Ministério Público, que é quando um suspeito pode ser assim chamado.

De acordo com o advogado Rafael Lanau, em entrevista concedida on-line, o processo de acusação funciona da seguinte maneira: depois de concluídas as investigações do delegado de polícia, contidas no inquérito, a pessoa é indiciada caso existam indícios de autoria e materialidade da prática do crime. Assim, o inquérito é enviado ao Ministério Público, onde o promotor denuncia a pessoa, ou seja, vai acusá-la pela prática do crime.

A partir desse momento a pessoa pode ser chamada de acusada. Isso indica que o Jornal Agora se precipitou ao chamar os suspeitos de acusados. O jornal estava à mercê da fonte oficial e tornou-se presa da "síndrome da dependência das fontes oficiais", como aponta a revisão da literatura. Não houve em nenhum momento um questionamento sobre o rumo das investigações policiais. O jornal contentou-se em reproduzir a versão policial para suprir as necessidades da opinião pública por informações. Os jornalistas do Agora que trabalharam no caso desconheciam a diferença entre os termos "suspeito" e "acusado". Talvez o fato de o jornal ter acertado mais que errado, utilizando o termo "suspeito" ao invés de "acusado", seja simplesmente por terem reproduzido a linguagem da fonte.

3) H3: Durante as investigações e após a prisão de "Titica" o Jornal Agora não divulgou versões por parte das treze pessoas inocentes que tiveram seus nomes relacionados aos crimes. Categoria 3 - "O outro lado".
A terceira hipótese foi comprovada, pois em 46 reportagens das 47 o jornal não mencionou o "outro lado": familiares, advogados, especialistas e até mesmo os próprios suspeitos.

Na reportagem 17, intitulada "Sepultado o casal de amigos assassinados", o repórter relata que o delegado Adilson Mazzin, de Pelotas, forneceu informação extra-oficial. Delegados podem ser citados como fonte extra-oficial? Segundo o delegado, naquele momento, sabia-se que duas armas tinham sido utilizadas na execução de Anamaria Soares e Márcio Olinto.

Como aponta a reportagem 43, após a prisão de "Titica", apenas uma arma foi encontrada.

Na reportagem 18, "Ainda não há pistas sobre autoria do duplo assassinato", testemunhas disseram ter visto o carro da vítima Márcio Olinto com várias pessoas na praia do Totó, onde os corpos foram encontrados. E também viram o suspeito Tino Rogério Moura, conhecido por "Muralha", descontando um cheque de Márcio, fato que não ocorreu.

A análise mostra que o jornal publicou detalhes sobre as atividades dos primeiros suspeitos com base em informações oficiais e extra-oficiais da polícia, todas elas não confirmadas. Nos trinta dias após a prisão de "Titica", o jornal não retornou ao assunto para relatar o porquê do inquérito policial ter apontado 13 pessoas inocentes como suspeitas.

A investigação indicou ainda, que nas duas reportagens publicadas após a prisão de "Titica" o jornal não se referiu à inocência dos primeiros suspeitos. Na reportagem 44, intitulada "Promotoria vai pedir suspensão de processos", publicada em 7 de maio de 1999, a repórter Carmen Ziebell, da editoria de polícia, relatou: "não há provas suficientes contra os oito acusados, apenas indícios", mesmo tendo "Titica" confessado os crimes e a promotoria suspendido o processo criminal. A reportagem não explica que os suspeitos eram inocentes e que foram colocados em liberdade por falta de provas.

Durante as investigações, antes da confissão de "Titica", 10 pessoas foram apontadas no inquérito policial pelo assassinato de Felipe dos Santos e Bárbara Silva. Na reportagem 13, intitulada "Entregue à justiça inquérito do duplo homicídio", o repórter relata constar nos autos, baseado em informações do delegado Moacir Bernardo, que Flávio Agostino Leonor, conhecido por "Boy", é apontado como o autor dos disparos que vitimaram o casal.

Charles Barbosa, o "Charlão"; Robson da Silva, Anderson Ferraz, o "Meio" e o Policial Militar Gladiomar da Silva, conhecido por "Calcinha", são indicados como co-autores dos assassinatos e mais cinco pessoas têm os nomes citados por estarem envolvidas em ambas mortes. Inclusive a reportagem descreve em detalhes como ocorreram os crimes, relatando os passos de cada suspeito na execução das vítimas Felipe e Bárbara.

Segundo a reportagem, Anderson Ferraz, o "Meio", suspeito de ter participado do homicídio, "conta os crimes em detalhes, deixando a impressão de que acompanhou a execução do casal".

Quando o verdadeiro assassino confessa os crimes na reportagem 40, o delegado regional Pedro Álvares diz ter convicção de que "Titica" foi o autor dos duplos homicídios devido aos detalhes narrados. Como podem "Titica" e "Meio" - citado no parágrafo anterior como tendo contado a execução das vítimas Felipe e Bárbara em pormenores - falarem com detalhes de um crime cometido por apenas um deles, "Titica", conforme confissão deste último?

A análise aponta que houve graves equívocos cometidos tanto pela polícia quanto pelos repórteres em relação à divulgação das informações. A polícia não quis perder a chance de estar em evidência e mostrar-se eficiente, divulgando tudo que parecesse um novo indício de envolvimento dos supostos criminosos, inclusive opiniões pessoais dos delegados. O jornalista, como apontou a revisão da literatura, interessado em produzir as reportagens, passa por cima de desconfianças que deveria ter em relação às fontes oficiais e publica o que lhe dizem. Talvez essa tenha sido a atitude dos repórteres do Jornal Agora que cobriram o caso "Titica", embora o que se pode fazer aqui em relação ao caso é especular .

Considerações finais

Com base no que foi analisado, pode-se afirmar que o uso exclusivo das fontes policiais na cobertura do caso "Titica" prejudicou o desenvolvimento da cobertura jornalística e confundiu a opinião pública de Rio Grande, porque os repórteres descreviam as atividades e ações dos suspeitos baseados em uma única fonte oficial, que estava equivocada.

A análise da cobertura do Jornal Agora indica ainda que os jornalistas locais desconhecem os termos técnicos, embora a palavra "suspeito" tenha sido mais utilizada que a "acusado". Entrevista realizada com o atual editor de polícia do Jornal Agora, Valério Cabral, que cobriu o julgamento do formalmente acusado Paulo Sérgio Guimarães da Silva - o "Titica" -, confirma o fato.

Questionado sobre a diferença entre os termos legais, o editor disse erroneamente que suspeito é "aquele sobre o qual recai suspeita de participação em algum delito e que pode ter a prisão preventiva decretada". E acusado é "'aquele que geralmente é pego em flagrante pela polícia".

Segundo Cabral, atualmente, a política do Jornal Agora é de não divulgar os nomes de suspeitos até a sua condenação por crimes, pois o veículo já teve muitos problemas com a publicação de nomes e fotografias. De acordo com o editor houve na cidade casos de pessoas que confessaram crimes, mas foram inocentadas no fim do processo. Estas pessoas acionaram judicialmente a empresa pela publicação de seus nomes. Por isso, o Jornal Agora atualmente publica apenas as iniciais e a profissão dos suspeitos.

O editor disse não ter conhecimento da linguagem jurídica, mas acredita que o jornal explica ao leitor de forma clara como ocorrem os fatos. Para Cabral, o Jornal se preocupa em cobrir crimes que abalam a opinião pública para que a comunidade esteja bem informada sobre o que está acontecendo. Reconhece que toda história tem dois lados, mas admite que dá preferência à fonte policial porque "é uma informação oficial, existe um boletim de ocorrência, um registro, embora seja sempre questionável".

Em muitos casos, disse o editor, é a única informação que se tem, pois ouvir outra fonte é mais difícil. Para Cabral, é quase impossível ouvir o suspeito, pois ele se resguarda a falar em juízo. Entretanto ouvir a família e o advogado é mais fácil, mas foram poucas às vezes em que ele utilizou esse recurso. Se for possível publicar o outro lado, aquele que não é oriundo da polícia, a história ficaria mais fácil, explica Cabral: "Assim o leitor poderia tirar suas próprias conclusões". De acordo com o editor, os jornalistas devem se policiar para não "assumir" a notícia, usando a emoção ao invés da informação, principalmente em casos de grande repercussão.

O caso "Titica" identifica-se de certa forma com o da Escola Base. Naquela ocasião a cobertura da imprensa foi considerada burocrática por depender exclusivamente das fontes oficiais.

A análise do caso "Titica" demonstra que o jornal não procurou ouvir os suspeitos, exercendo um jornalismo pobre por não cercar o fato por todos os lados. Além disso, deixou de fazer aquilo que Nassif (2002) propõe como sendo o ideal: dar a chance aos acusados de se defenderem. Como explica Hulteng (1990), os jornalistas, em geral, excluem a possibilidade de defesa por parte dos suspeitos.

Futuros estudos sobre a cobertura policial poderão indicar mais falhas nessa relação entre jornalista e fonte oficial, na qual o primeiro fica à mercê do segundo e não cumpre o seu papel social de informar os vários lados de um problema ou as várias versões de um fato. É importante também que novos estudos avaliem os dilemas éticos da relação que os jornalistas enfrentam no relacionamento com as fontes oficiais.

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*Paula Milano Sória é especialista em Jornalismo e Mídia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), graduada em Comunicação Social pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel-RS) e trabalha atualmente no jornal "O Estado", em Florianópolis.

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