Ensaios
A
natureza do jornalismo como importante
associação à pesquisa científica
Por
Eni Simões Magro
"Ninguém
ignora tudo, ninguém sabe tudo.
Por isso, aprendemos sempre"
Paulo Freire
Mais
de um século de pesquisa sistemática sobre os
fenômenos jornalísticos ainda não foi o
suficiente para se alcançar um estudo científico
do jornalismo sob uma orientação metodológica
regida pelas regras da ciência. Uma das questões
a este fato deve-se a condição de que o jornalismo
se nutre do efêmero, do provisório, do circunstancial,
tornando o método de pesquisa científica mais
difícil porque exige do cientista maior destreza na observação
dos fenômenos. A ciência do jornalismo sofre dificuldades
em estabelecer-se, também, por motivos históricos.
O
jornalismo teve a imprensa escrita como o seu maior veículo
de comunicação por muitos séculos, e, portanto,
os primeiros estudos desenvolvidos foram embasados sob este
paradigma desde o século XVII até meados dos anos
60, do século XX, quando já existia o rádio,
a televisão e o cinema. Como decorrência desta
forma científica de pensar jornalismo, os conceitos jornalismo
e jornal se confundiram. As primeiras publicações
significativas sobre o tema, aqui no Brasil, destacam tal fundição
de conceitos, a exemplo do livro de Danton Jobim, Espírito
do jornalismo, 1960, onde ele, entre ricas reflexões
sobre a problemática do jornalismo contemporâneo,
coloca que a "essência do jornalismo está
no fluxo de informações da atualidade que ocorre
nas páginas dos jornais." (1)
É
importante ter-se a compreensão maior de que o jornalismo
necessariamente se articula com todos os veículos que
tornem públicas suas mensagens, ainda que tal veículo
não seja integralmente fonte de veiculação
de informação jornalística. Os exemplos
são as revistas, a televisão, o rádio e
mesmo a imprensa escrita. Todos estes meios de comunicação
dividem seu espaço comunicacional entre informação
jornalística, publicidade e entretenimento. Os processos
sociais são de natureza diversa e por isso fluem através
de espaços comuns. "Desta maneira, o jornalismo
é concebido como um processo social que se articula a
partir da relação (periódica/oportuna)
entre organizações formais (editoras/emissoras)
e coletividades (públicos receptores), através
de canais de difusão (jornal/revista/rádio/televisão/cinema)
que asseguram a transmissão de informações
(atuais) em função de interesses e expectativas
(universos culturais ou ideológicos)." (2)
Bem,
sendo assim, toda forma de informação, (publicitária,
jornalística, educacional e entretenimento), atende uma
necessidade social, exigindo uma dinâmica veloz quanto
a sua atualidade, totalmente interligado ao canal para a sua
difusão, e, da capacidade de periodicidade na transmissão
dos fatos.
Tal
entendimento aponta o caminho para a formação
de uma ciência do jornalismo mais coesa e substancial,
porque a metodologia pode tomar regras mais acessíveis,
uma vez que, pode-se identificar claramente as variáveis
da mass media das quais o jornalismo está acometido.
Devemos
considerar a importância histórica, política
e social do jornalismo. Histórica e política porque
suas primeiras informações datavam fatos relativos
a transições políticas e econômicas
a partir do século XV, na Europa, e, social porque atendia
as necessidades do povo em obter informações acerca
de tais transições, uma vez que, afetava o dia
a dia comercial da comunidade.
Já,
na Europa dos séculos XV e XVI, o jornalismo vivia uma
censura prévia prejudicando a periodicidade das publicações
impressas, sendo que, neste momento, o jornalismo ainda era
apenas um veículo de transmissão de informação,
quer dizer, ainda não se tratava do jornalismo autêntico
que apresenta informação e opinião sobre
a conjuntura como vivemos nos moldes atuais. Com o final da
censura prévia deste momento citado, é que o jornalismo
passou a desenvolver-se como uma atividade comprometida com
o exercício do poder político, difusor de idéias
e opiniões.
Cabe,
neste momento, discutir até que ponto o jornalismo informativo
apenas limita-se a informar, e, o jornalismo opinativo concentra-se
em opinar. "Narrar os fatos e expressar as idéias
segundo os padrões historicamente definidos como jornalismo
informativo e jornalismo opinativo não altera fundamentalmente
o resultado do processo interativo que se estabelece entre a
instituição jornalística e a coletividade
que tem acesso ao universo temático e conteudístico
manufaturado continuamente." (3) A categorização
apenas opera fundamentalismo aos profissionais e estudiosos
da área e de nada importa aos receptores da notícia.
O
jornalismo atual apresenta quatro funções fundamentais:
informar, interpretar, orientar e entreter. O propósito
básico primordial é a transmissão da informação,
no entanto, a opinião tornou-se uma conseqüência
natural do mundo contemporâneo porque o cotidiano ficou
mais complexo e cheio de interesses diversos. Influenciar os
receptores é conseguir audiência para seus veículos.
E, isto é possível quando a transmissão
da informação torna-se mais dinâmica, direta
e associada a conteúdos de descontração.
Isto não significa dizer que, o jornalismo tornou-se
tão somente um meio manipulador e irresponsável,
não, a associação de diversas formas jornalísticas
são apenas resultados naturais da própria evolução
da categoria com o mundo moderno.
Otto
Groth, importante pesquisador científico e jornalista,
em sua época (1945), empenhado ferrenhamente, em conseguir
o reconhecimento da "ciência do jornalismo"
tal qual uma ciência independente, ressaltou como a importância
dos problemas sócio-culturais ao processo de comunicação
pela imprensa esta contido no contexto das ciências humanas.
Sua
pesquisa parte da análise da realidade cultural investigando
a imprensa sob aspectos que dizem respeito à preparação
e difusão das notícias e a sua vinculação
à própria filosofia. Groth estabelece como objeto
à pesquisa científica, o veículo da comunicação
da notícia, ou seja, os jornais, revistas e "folhas",
e, portanto, por se tratar de criações humanas
em nível cultural, estabelece que se trata de uma ciência
de obras culturais. A esse conjunto de idéias denominou
Periodik ou Periodika. No que se refere ao método, ele
acredita que "determinado o objeto, estabelecido a área
de estudo, o método surja espontaneamente como um imperativo
e uma necessidade do próprio processo de investigação."
(4) Ele procura também resolver a polêmica de o
jornalismo ser encarado como uma ciência ou como uma técnica.
Para tanto, Groth resume no estabelecimento e na análise
das características da "nova ciência",
os seguintes conceitos:
Periodicidade
"A
periodicidade é certamente a característica mais
objetiva (...) Ela serve, fundamentalmente para distinguir o
periódico das demais publicações. Numa
definição primária, é o intervalo
que decorre entre o aparecimento de duas edições
sucessivas de um jornal ou revista. (...) se identifica com
o que ele denomina "ritmo da vida". (...) está
em função de fatores econômicos, políticos,
sócio-culturais e psicológicos. (...) Groth foi
o primeiro a reconhecer a importância da periodicidade
como fator determinante do êxito de um periódico
e o papel que ela desempenha junto aos leitores.
Universalidade
Groth
costuma falar em "mundo presente", conceito que englobava
as relações entre "eu e o mundo", "eu
e você", "eu e a natureza", "eu e
a cultura", "cultura e cultura" etc, para justificar
a função de um periódico na sociedade.
(...) O fato de o jornal abarcar, pelo menos em hipótese,
todo o campo do conhecimento humano tem sido maximizado por
muito teóricos do jornalismo que acreditam residir aí
toda a importância de que se reveste o periódico
no mundo atual.
Atualidade
Evidentemente,
há diferença entre atualidade e novidade. (...)
A concorrência com o rádio e a televisão
tem pressionado o jornal, e mais indiretamente a revista, no
sentido de que a atualidade tenda à simultaneidade. (...)
Para fugir à concorrência, o jornal se vale, não
da maior atualidade e, sim, da interpretação dos
fatos. Dessa maneira, "tratando" os fatos do dia-a-dia
diversamente do rádio e da televisão, o jornal
reafirma sua posição e evita uma luta que somente
poderia ser adversa.
Difusão
A
quarta e última característica do Periodika (...)
Não importa tanto o número de pessoas que, efetivamente
lêem o jornal, mas sim, o fato de que o periódico
possa, em potencial, atingir ao maior número de leitores.
Groth distingue ainda (...) a difusão extensiva, por
definição, "temporal ou geográfica";
leva em conta as ruas, bairros, cidades, estados que são
atingidos pelo jornal, enquanto a difusão intensiva é
"social", isto é, diz respeito às camadas
sociais alcançadas pelo jornal." (5)
A
partir da análise destas quatro características,
Otto Groth define três elementos que definem o Periodika:
o periódico, a revista e o jornal, considerando as diferença
culturais envolvidas em cada elemento no que confere ao conteúdo
e a informação. Cada um desses veículos
se limitam à características próprias,
o que vem a definir a sua periodicidade, o seu conteúdo,
a abordagem de tal conteúdo, simultaneamente, definindo
o formato da informação e, o formato do veículo.
Todos estes veículos sofrem limitações
referentes as quatro características descritas acima,
sejam por motivos de concorrência, motivos geográficos,
pela atualidade da informação e até mesmo,
por motivos da difusão do veículo, que pode sofrer
por sanções econômicas e políticas,
como exemplo, a censura.
Otto
Groth, ainda, formulou leis, que são de fundamental importância
para a "ciência do jornalismo". Tais leis foram
simbolizadas, como ele mesmo se reporta, sob um prisma matemático,
num sistema de relações de estrutura do todo,
a medida do tempo da periodicidade e da atualidade, que se determinam
mutuamente. (6) Estas leis receberam críticas por serem
muitas vezes classificadas como idealistas. De alguma forma
parecem assim no instante em que não conseguem explicar
todos os fenômenos de um jornal, já que se deve
considerar fatores psicológicos, sociais, econômicos
e técnicos à atividade jornalística.
Outro
importante pensador dos métodos jornalísticos
foi Tobias Peucer, um grande investigador científico
da "ciência do jornalismo" tendo início
as suas atividades de pesquisa no século XVII, na Alemanha.
Paulo da Rocha Dias traduziu a tese de Peucer num desafio de
se fazer conhecer o trabalho deste importante cientista, que
apresenta em sua pesquisa, um trabalho conectado à atualidade
por mais de três séculos. A tese de Peucer se completa
em vinte e nove parágrafos. (7)
Para
o pensador, a história é o grande motivo de satisfação
à alma humana, não importando a maneira como foi
relatada. Estabelece critérios quanto as diversas formas
de história caracterizando-as como universal, que segue
a sucessão precisa dos fatos; história das coisas
esparsas, que não é linear aos fatos históricos
e se apresenta como em resenhas; e, história confusa,
que não segue a critérios de ordem nenhuma. Para
ele, relatos periodísticos - relationes - levam em conta
a sucessão exata dos fatos que estão inter-relacionados
e suas causas levando ao reconhecimento dos fatos históricos
mais importantes, ou ainda, relatam o cotidiano das pessoas.
É
importante conhecer a origem dos relationes para se entender
a sua utilidade na vida literária e cívica. Aponta
a importância do receptor enquanto aquele que codifica
a notícia porque é o seu espectador. Isto confere,
automaticamente, a mesma importância ao transmissor que
é o seu principal narrador. Compreender o igual valor
destes dois elementos é cuidar da qualidade do relato
porque este permanece sempre passível do julgamento,
e o resultado desta apreciação irá definir
a credibilidade do testemunho, contanto, tudo o que isto envolve
(jornalista, redação, veículo de comunicação).
A
fundamental contribuição deste cientista, além
de ser mais um importante batalhador pelo estabelecimento de
uma ciência específica do jornalismo, e da contribuição
bibliográfica que produziu, é que Peucer proporciona
pensar o jornalismo na sua atuação profissional.
A importância que o conhecimento histórico da comunicação
e do mass media pode trazer ao dia-a-dia profissional é
o grande diferencial, porque, o entendimento claro das formas
de comunicação e das regras envolvidas nisso,
só acrescenta para um jornalismo mais integrado ao mundo
contemporâneo e muito mais profissional e responsável.
Bem,
fatores sócio-culturais, bem como, a historicidade, são
elementos importantes à formação do pensamento
jornalístico; tanto quanto, a compreensão destes
fatores é importante à atuação jornalística.
Mas o que é a pesquisa científica e a atuação
profissional sem o comparecimento do próprio jornalista?
Por isso, a formação é fundamental. O ensino
do jornalismo no Brasil só teve início na década
de 60, do século XX, quando foi fundada a primeira faculdade
de jornalismo Cásper Líbero. Assim sendo, é
natural que o Brasil tenha sofrido influências de métodos
de ensino de outros países, até mesmo porque,
era o único referencial possível. Tomemos para
análise a formação dos cursos de pós-graduação
dos EUA, que serve ao Brasil de modelo.
O
surgimento do ensino do jornalismo nos EUA se deu quando houve
os fenômenos penny press e yellow jornalism em decorrência
do interesse público pelo sensacionalismo em meados do
século XIX. Este fenômeno criava um clima de interesse
generalizado pelos temas contundentes. Tal fato movimentou os
intelectuais a buscarem maior responsabilidade social por parte
do sistema comunicacional no caminho de infiltrar-se novos conteúdos.
Emergia a indústria cultural, e com ela, a necessidade
de profissionais mais preparados, com um embasamento cultural
e técnico mais adequado, de modos que, os efeitos e influências
sociais do trabalho cotidiano, fossem sensatamente avaliados
e criticados, para com isso, naturalmente, se alcançar
uma atitude mais responsável quanto à publicação
das notícias.
O
curso de doutorado tinha a importância de se estar formando
um técnico especialista competente porque possuía
um adestramento científico que o tornava apto a preencher
as exigências do mercado numa sociedade cuja realidade
se encontrava em fase de industrialização. Inicialmente,
o próprio EUA não possuía estrutura física
e humana adequada para tal formação, e os estudantes
americanos buscavam na Europa esta condição, especialmente
na Alemanha. Aos poucos, os EUA foram se estruturando neste
sentido, estabelecendo campus diferenciados para a adequação
dos cursos de pós-graduação. Estes campus
eram unidades independentes das unidades de graduação
da universidade, e ofereciam títulos específicos
de doutores formando pesquisadores científicos, docentes
e técnicos especializados. O curso de mestrado vinculou-se,
inicialmente, a formação de um pessoal mais qualificado
para o ensino de graduação, equiparando-se ao
bacharelado e a licenciatura, hoje títulos almejados
quando do término do curso de graduação.
Ainda hoje, em muitos campus, o curso de mestrado é visto
como uma etapa à formação do doutorado.
Mesmo para o mercado profissional docente, a exigência
do mestrado é marcante.
A
industrialização exigia técnicos que estivessem
em perfeita harmonia com os avanços tecnológicos,
e, portanto, o mercado de trabalho apresentava exigências
desumanas. Tal dificuldade lançou o contingente humano
para os cursos de pós-graduação resultando
numa massificação deste ensino. Os cursos tornavam-se
cursos para grande audiência, incluindo platéias
de graduação e pós-graduação
num mesmo plenário. O método de avaliação,
muitas vezes, nivelava os dois grupos convertendo a um sistema
duramente competitivo e individualista.
No
passo em que o jornalismo evoluía acompanhando a marcha
tecnológica, os docentes dentro das universidades, vislumbraram
a necessidade de caminharem num sentido mais organizado. O desenvolvimento
do jornalismo exigia novos instrumentos de captação
e descrição da realidade, e para tanto, dentro
das universidades, os docentes viram a importância da
elevação dos níveis de especulação
científica, a fim de contribuir para o progresso social,
e, concomitante a isso, ajudar a solucionar problemas daquele
momento histórico. Houve, neste momento, com o incentivo
as pesquisas, toda a atenção voltando-se à
metodologia e às ciências sociais, objetivando-se
a aplicação da investigação dos
fenômenos da comunicação de massa e dos
mass media. O ensino tornava-se mais concentrado e coeso. Ralph
Casey, importante pesquisador da época, em 1928, propõe
"uma reformulação dos programas de ensino
de jornalismo, ressaltando que, até então, os
professores da área não tinham sido hábeis
para desenvolver atividades outras que aquelas vinculadas às
técnicas da comunicação noticiosa."
(8)
Sua
principal crítica era de que os programas não
eram perfeitamente vinculados e integrados as áreas das
ciências-sociais e não havia aproximação
entre os professores destas áreas. Casey sugeria "a
organização de seminários conjuntos, com
a participação de professores de jornalismo e
das ciências-sociais, onde haveria oportunidade para discussões
e reflexões bilaterais, com o que aproveitariam substancialmente
os estudantes envolvidos no programa. (...) Casey aventa a possibilidade
de se criar a obrigatoriedade de uma área de concentração
em jornalismo e uma área complementar em qualquer dos
setores das ciências-sociais (...) de modo a levar o estudante
a aplicar a metodologia já desenvolvida por uma daquelas
ciências à análise sistemática dos
fenômenos jornalísticos." (9)
Casey
tinha a convicção de que o jornalismo não
era apenas uma atividade de comunicação restrita
aos jornais, mas, que deveria envolver outras formas de transmissão
de informação para o público. Ele coloca
que a concepção tradicional de escola de jornalismo
deveria acabar para se institucionalizar em escolas de comunicação.
O pensador ainda defendia o fato de os métodos tradicionais
de ensino não serem suficientes para a formação
de profissionais qualificados, e para tanto, algumas soluções
pedagógicas precisava ser desenvolvidas para atender
as quatro áreas básicas à estrutura curricular
por ele apresentadas: técnica, social, econômica
e histórica.
Wilbur
Schramm pensava de maneira muito semelhante. "Ele partia
do princípio de que as escolas de jornalismo foram construídas,
no início do século, dentro de uma realidade em
que o jornal era praticamente o único meio de comunicação
de massa. (...) porém, uma nova realidade surgia, com
mudanças no conjunto da sociedade e com o aparecimento
de novos veículos, que ampliavam consideravelmente o
papel do jornalismo. (...) defendia a idéia de que as
escolas de jornalismo deveriam se transformar em escolas de
comunicação, envolvendo um universo mais amplo
que as simples atividades da redação e edição
das notícias (...)."(10)
Quanto
à experiência na América latina, a crítica
que se faz é que para o desenvolvimento de uma metodologia
de estudos e pesquisas mais adequada às propostas de
ensino do jornalismo, não basta limitar-se apenas a incorporar
em nossa cultura técnicas e métodos peculiares
a outras culturas. É básico e primordial o exame
das suas adequações à nossa realidade sócio-cultural
e aos interesses nacionais. O que se deve tomar de exemplo é
a disciplina aplicada ao rigor da pesquisa científica
que resulta num avanço tecnológico e científico
responsável e inteligente, totalmente integrado ao contemporâneo.
É
prudente analisarmos o conhecimento para a investigação
científica para melhor entendermos o sentido da notícia
como também forma de conhecimento, um dos objetos primordiais
para a pesquisa científica da "ciência do
jornalismo" porque é o fenômeno motivador
de todas as formas comunicacionais a serviço da informação
jornalística. O que constitui o caráter singular
do conhecimento científico é o ser comunicável
porque ele, não somente apresenta sua tese baseada em
sua experiência prática e clínica, com soluções
apresentadas em termos lógicos e inteligíveis,
mas também, sua tese é postulada frente à
sua experiência em referência à realidade
empírica a que todos somos acometidos.
Dessa
maneira, a investigação deve tender a somar a
busca dos fatos com a pesquisa, que irá fornecer o conhecimento
científico específico para a interpretação
do relato. Como forma de conhecimento, a notícia não
trata apenas do passado nem do futuro, mas sim, do presente.
A notícia não é história porque
seus fatos não são relatos históricos já
que seu formato não obedece a regras definidas pelos
historiadores. A função da história é
descrever os acontecimentos situando-os numa sucessão
histórica enquadrada. O repórter busca o registro
dos fatos isolados, e somente busca uma investigação
maior sobre o passado e o futuro quando lhe é oportuno
de acordo às exigências do presente, quer dizer,
quando a informação se tornará rica para
o receptor engrandecendo o meio comunicacional. Isto não
é uma crítica, apenas uma pontuação.
O
motivo pelo qual a notícia chega como em circunstâncias
ordinárias, e não como relato histórico,
se deve ao interesse do público, ou, o que se denomina,
espírito do público. "O conhecimento não
chega ao público, como chega ao indivíduo, em
forma de percepção, mas em foram de comunicação,
isto é, de notícia. Entretanto, em condições
normais, a atenção pública oscila, não
tem firmeza e desvia-se facilmente. (...) Na verdade, a notícia
realiza, de certo modo, para o público, as mesmas funções
que realiza a percepção para o indivíduo;
isto é, não somente o informa como principalmente
o orienta, inteirando cada um e todos do que está acontecendo.
(...) sem qualquer esforço do repórter por interpretar
os acontecimentos relatados, exceto o esforço do repórter
para os tornar compreensíveis e interessantes."
(11)
Todo
público é imbuído de seus preconceitos
e limitações próprias. Assim o público
que aceita sem protesto o relato jornalístico não
atribui autoridade a sua interpretação dos relatos.
Já, para a história e a sociologia, a repercussão
social e cultural que tal interpretação pública
resulta, são dados relevantes para o arquivo histórico.
O
que há para concluir é que o que faz a notícia
é o seu interesse, e isto é uma quantidade variável.
O valor da notícia é relativo porque a sua dinâmica
a faz ter essa valia. Um novo acontecimento diminui o valor
do acontecimento anterior porque notícia é novidade
instantânea e corrente, funciona perfeitamente com a dinâmica
das percepções do indivíduo citado acima.
A
intenção desta tese é justamente acrescentar
contribuições à pesquisa dos fenômenos
jornalísticos para se alcançar "o estudo
científico do jornalismo sob uma orientação
metodológica regida pelas regras da ciência"
(vide primeiro parágrafo da primeira página deste
ensaio). Para pensarmos a investigação científica
do jornalismo, compreendo ser necessário o estudo da
natureza do jornalismo, sua condição histórica
e a avaliação constante das condições
docentes para tornar-se possível manter o jornalismo
situado com o presente, e desse modo, favorecer condições
futuras.
A
notícia é dinâmica, e os meios comunicacionais
se agilizam neste mesmo ritmo. Somente o profissional capacitado
de crítica e lógica, poderá exercer a profissão
com consenso e responsabilidade. A investigação
científica possibilita criar condições
para a formação deste profissional porque vai
discuti-lo da mesma maneira que estará sempre discutindo
o jornalismo e todas as implicações que lhe cabe.
Três
precursores dos estudos latino-americanos: Rizzini, Otero e
De La Suarée
Carlos de Andrade Rizzini
Nasceu
em Taubaté em 1898. Formou-se advogado na então
capital federal, Rio de Janeiro. Foi essencialmente jornalista
e empresário de jornalismo.Ensinou história da
imprensa na faculdade Casper Líbero, onde acabou assumindo
o cargo de diretor. Dentre toda sua obra literária, destacam-se:
O livro, o jornal e a tipografia no Brasil; O jornalismo antes
da tipografia; e, Hipólito José da Costa e o Correio
Braziliense.
O
livro, o jornal e a tipografia o Brasil, publicação
de 1946, é a obra fundamental de Rizzini e está
estruturado em dois volumes. No primeiro livro, o autor apresenta
estudos que equivalem dizer tratar-se do relato da pré-história
do jornalismo. Concluí defendendo a liberdade de imprensa
apoiando a informação como meio de libertação
do homem, e, da possibilidade de aproximação das
classes sociais a partir da informação. O segundo
livro apresenta a "história do Brasil Colonial sob
a perspectiva da informação e da circulação
de notícias, retomando temas clássicos da historiografia
brasileira como o jesuitismo, (...). Estes temas são
analisados a partir da perspectiva da informação
e da repressão da informação." (12)
Rizzini
atribui aos jesuítas e ao jesuitivismo a responsabilidade
da propagação da ignorância no Brasil da
época porque não permitiam a população
seguidora dos seus princípios, terem acesso ao desenvolvimento
de outras culturas, inclusive européia. Os jesuítas,
segundo o autor, desprovidos de ética, se utilizavam
da publicidade em benefício próprio.
Octavio
de La Suarée
Suarée
nasceu em Cardénas, em Cuba em 1903. Aos dezesseis anos
já atuava como jornalista na própria cidade de
Cardénas. Fez estudos na França que muito influenciaram
sua obra. Suas obras de destaque: El francês periodístico;
um programa de lengua francesa para estudiantes de periodismo;
Socioperiodismo. O principal livro, Socioperiodismo, trata-se
de uma obra baseada em fontes primárias muito bem analisadas
e reproduzida em fac-símile ao longo de sua obra.
Esta
obra totaliza-se em quinze livros somando-se 33 capítulos.
É o primeiro a "fazer alusão ao jornalismo
como uma "ciência com cujo estudo se chega ao conhecimento
de uma coisa pelas causas e razões". A esta "ciência
do jornalismo" De La Suarée dá o nome de
Socioperiodismo e tal ciência tem como objetivo o estudo
das sociedades humanas através do jornalismo e o estudo
de como se manifesta socialmente a imprensa." (13) Se utiliza
da psicologia e da ética como ciências auxiliares,
pois, a psicologia explica como é a imprensa, e a ética,
como deveria ser a imprensa.
O
socioperiodismo explica como a imprensa se manifesta na sociedade.
Observa que o sentimento público não pode desmerecer
a missão jornalística, sub julgando o jornalista
a condição de mero comerciante de notícias.
Sua obra concentra como principal tema a liberdade de imprensa.
Gustavo
Adolfo Otero
Otero
é boliviano. Atuou na comunicação como
publicista e, também, na política como diplomata.
Suas principais publicações datam de 1925 à
1953. Sua principal obra: La cultura y el periodismo em América,
é constituído de duas partes: estudo panor6amico
do jornalismo latino-americano e estudos monográficos
sobre a imprensa em 21 países da América Latina.
Sua
obra abrange a história do jornalismo em toda a América
latina assumindo uma significativa importância para o
estudo da gênese do pensamento comunicacional latino-americano.
"O objetivo da obra de Otero é "ultrapassar
as histórias do jornalismo que se resumem em um catálogo
de nomes de diários e biografias de seus redatores (...)
e interpretar esta história como expressão do
continente.
Para
Otero, o jornalismo latino-americano é um documento da
morfologia moderna e contemporânea da história
da cultura do continente." (14) Otto não mostrou-se
contra o jesuitivismo pois acreditava que os jesuítas
deram uma importante contribuição ao desenvolvimento
da informação quando da divulgação
da tipografia, recurso utilizado por eles em suas atividades
de catequese e registros documentais e/ou históricos.
Além
da clara importância destes precursores estudiosos do
pensamento jornalístico na América latina como
objeto de pesquisa científica, e o seu massivo interesse
pela instituição da "ciência do jornalismo"
para o estabelecimento da qualidade da formação
profissional e a edificação da profissão
mediante o incentivo da investigação científica,
sua outra importante contribuição foi à
metodologia científica, sem a qual nada disso é
possível. Estes cientistas do pensamento jornalístico
buscaram estabelecer metodologias com características
próprias, adequando conhecimentos forâneos para
a realidade latina.
Daí,
serem estas obras importantes referências bibliográficas
à pesquisa de qualquer formando de pós-graduação
em jornalismo. Isto é facilmente observado quando é
avaliado como característica comum aos três autores
terem eles elaborado trabalhos de natureza nitidamente científica
baseados em vastas e sólidas fontes latino-americanas
e extra-continentais. A prática metodológica é
vista quando é observado que os trabalhos utilizaram
fontes hemerográficas e a produção científica
está diretamente relacionada com o objeto de estudo da
comunicação. Outra importante referência
à formação da investigação
científica foi terem colocado em prática a associação
da pesquisa científica do jornalismo às ciências
sociais. Tal união como fonte de pesquisa, permite analisar
e interpretar a subjetividade dos fenômenos comunicacionais,
assim como, situar a informação dentro de um contexto
histórico e sócio-cultural. (15)
Estes
autores vêm provar a existência de um substancial
pensamento comunicacional na América latina, mesmo sendo
ele muito jovem, (surgiu em meados do século XX). A missão
dos novos pesquisadores científicos do pensamento jornalístico
é sedimentar ainda mais este pensamento, utilizando métodos
sérios e competentes para a produção de
um pensamento sempre atuante e ligado aos movimentos contemporâneos
aos quais a informação e a notícia se encontram
intimamente ligados. Visualizar com clareza as novas mídias,
é tornar-se capaz no exercício da função
jornalística e, também, ser capaz de produzir
um pensamento coerente e moderno que muito irá contribuir
tanto para o exercício da crítica e da análise
da comunicação, como irá servir de referência
bibliográfica futura.
O
sonho obriga o homem a pensar"
Milton Santos
(1)
Raízes Forâneas do Pensamento Jornalístico
Brasileiro, organizadores José Marques de Melo e Ruth
Viana, Capítulo 1 - Conceitos e categorias do jornalismo,
pág. 10 e 11.
(2)
Raízes Forâneas do Pensamento Jornalístico
Brasileiro, organizadores José Marques de Melo e Ruth
Viana, Capítulo 1 - Conceitos e categorias do jornalismo,
página 14 e 15.
(3)
Raízes Forâneas do Pensamento Jornalístico
Brasileiro, organizadores José Marques de Melo e Ruth
(4)
Raízes Forâneas do Pensamento Jornalístico
Brasileiro, organizadores José Marques de Melo e Ruth
Viana, Capítulo 2 - O jornalismo como disciplina científica:
a contribuição de Otto Groth, página 9.
(5)
Raízes Forâneas do Pensamento Jornalístico
Brasileiro, organizadores José Marques de Melo e Ruth
Viana, Capítulo 2 - O jornalismo como disciplina científica:
a contribuição de Otto Groth, pág. 18 a
21.
(6)
Para informações detalhadas acerca das leis vide:
Raízes Forâneas do Pensamento Jornalístico
Brasileiro, organizadores José Marques de Melo e Ruth
Viana, Capítulo 2 - O jornalismo como disciplina científica:
a contribuição de Otto Groth, página 30
e 31.
(7)
Para informações detalhadas acerca da tese vide:
Raízes Forâneas do Pensamento Jornalístico
Brasileiro, organizadores José Marques de Melo e Ruth
Viana, Capítulo 3 - Os relatos jornalísticos -
Tobias Peucer, páginas 34 a 41.
(8)
Raízes Forâneas do Pensamento Jornalístico
Brasileiro, organizadores José Marques de Melo e Ruth
Viana, Capítulo 4 - Pensamento jornalístico Norte-americano:
raízes acadêmicas, página 47.
(9)
Idem.
(10)
Raízes Forâneas do Pensamento Jornalístico
Brasileiro, organizadores José Marques de Melo e Ruth
Viana, Capítulo 4 - Pensamento jornalístico Norte-americano:
raízes acadêmicas, página 48.
(11)
Raízes Forâneas do Pensamento Jornalístico
Brasileiro, organizadores José Marques de Melo e Ruth
Viana, Capítulo 5 - A notícia como forma de conhecimento
- Robert Park, página 59 e 60.
(12)
Raízes Forâneas do Pensamento Jornalístico
Brasileiro, organizadores José Marques de Melo e Ruth
Viana, Capítulo 7 - Três precursores dos estudos
latino-americanos: Rizzini, Otero e De La Suarée, página
76.
(13)
Raízes Forâneas do Pensamento Jornalístico
Brasileiro, organizadores José Marques de Melo e Ruth
Viana, Capítulo 7 - Três precursores dos estudos
latino-americanos: Rizzini, Otero e De La Suarée, página
77.
(14)
Raízes Forâneas do Pensamento Jornalístico
Brasileiro, organizadores José Marques de Melo e Ruth
Viana, Capítulo 7 - Três precursores dos estudos
latino-americanos: Rizzini, Otero e De La Suarée, página
76.
(15)
Para maior detalhamento a cerca da metodologia de cada pensador
em sua obra vide: Raízes Forâneas do Pensamento
Jornalístico Brasileiro, organizadores José Marques
de Melo e Ruth Viana, Capítulo 7 - Três precursores
dos estudos latino-americanos: Rizzini, Otero e De La Suarée,
páginas 78 a 79.
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