Nº 8 - Julho 2007 Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ANO V
 
 

Expediente

Vinculada
à Universidade
de São Paulo

 

 

 


 

 

 

 

 

 


ENSAIOS
   

Cem Anos Luz

Por Adriana Guedes,
Antônio Militão,
Camila Araújo,
Fernanda Cruz e
Marcos Aurélio
*


Definição Conceitual

Reprodução

Documentário é um gênero videográfico que registra, interpreta e comenta um fato, um ambiente ou uma determinada situação.

Mas, assim como a ficção, o documentário é uma representação parcial da realidade. Sendo um gênero audiovisual utilizado como forma de expressão da sociedade e registro dos acontecimentos, o documentário surgiu no início do século XIX. Alguns fatores presentes no documentário facilitam a compreensão dos espectadores, como a linguagem mais aprofundada e o maior tempo disponibilizado para a sua produção e exibição.

É fundamental ressaltar a importância do documentário na construção e divulgação do conhecimento, além da possibilidade de desenvolvimento de uma participação ativa de uma determinada comunidade a partir da utilização do gênero, como no caso, no gênero jornalístico.

O documentário surgiu da característica original do cinema de registrar os acontecimentos cotidianos das pessoas e animais. Os primeiros relatos quando tratamos de documentário, surgiram com o norte americano Robert Flaherty. Sua experiência foi acompanhar a vida dos esquimós no norte do Canadá nos anos de 1912 a 1919, resultando em um filme chamado Nanouk, o esquimó.

Segundo pensamentos do jornalista Fábio Sola-Penna, Flaherty trabalhava com um estilo representativo da realidade e, além disso, apreciava pequenos gestos do cotidiano. Para ele, "o realizador não hesita em reconstituir as cenas que quer filmar, pedido a Nanouk e à sua família que representem os seus próprios papéis: a preparação das refeições, a construção de um iglu, a caça de uma foca". [1]

O estilo do documentário brasileiro sofreu muitas mutações constantes, de acordo com as influências européias ou até mesmo da política nacional.

Essa influência pode ser vista em cada década, que representaram as mudanças de pensamentos dos documentaristas e da sociedade. Os primeiros documentários brasileiros foram feitos pelos próprios donos das salas de cinema, registrando assim a realidade que viviam e tendo aos expectadores uma opção de entretenimento.

Em toda trajetória histórica do documentário no início do século passado, os assuntos desenvolvidos no cinema ou na televisão envolviam a realidade de fatos ou pessoas. Com isso, aumenta a teoria de que o documentário pode ser um importante instrumento para a conscientização da população e conhecimento real dos fatos, de maneira da qual possa compreender os passos da construção daquela realidade.

Assim sendo, é realçado o papel da televisão e do jornalismo, permitindo que seja difundido as informações ao desenvolvimento crítico da sociedade, através do documentário. Temos como enfoque, registrar, em forma de "retrospectiva", toda a história da Estação da Luz, desde sua construção no início do século XX até os dias de hoje, mostrando sua importância para a cidade de São Paulo e para o Brasil, não deixando de enfatizar sua beleza arquitetônica e o Museu da Língua Portuguesa.

Estrutura

Nosso documentário será de aproximadamente trinta minutos, sendo três blocos de dez minutos cada. O primeiro bloco terá uma breve apresentação da importância da Estação da Luz e suas principais características, mostrando sua história, desde seu nascimento, em 1901, até os dias atuais, abordando essencialmente a movimentação da economia no país e seus imigrantes.

Também serão exibidos depoimentos de pessoas que desembarcaram na Estação da Luz à procura de emprego na cidade de São Paulo, e de economistas, para explicar a importância da estação na exportação do café, que impulsiona a economia brasileira.

No segundo bloco, apresentaremos a arquitetura da estação, com depoimentos de arquitetos e restauradores que participaram da construção e do processo de revitalização da estação ou que estejam de alguma forma ligados a ela.

O destaque do terceiro bloco será o Museu da Língua Portuguesa, localizado no prédio da Estação da Luz e seus principais aspectos são revelados por meio de depoimentos de organizadores e responsáveis pelo espaço.

Linguagem

Seguimos como referência para nosso trabalho, os pensamentos da mestre em ciência da comunicação Manuela Penáfria, pela Universidade da Beira Interior, localizada em Portugal. Para Manuela, o documentário tem como principal objetivo voltar toda a atenção do público para os problemas do cotidiano, o que de fato, é o nosso objetivo também produzindo o documentário "105 anos Luz".

Nosso objetivo não é o sensacionalismo, e sim a exploração limitada dos fatos para que possamos transparecer a veracidade das informações, apresentando o mesmo olhar sobre o tema e abrindo espaço para um mergulho de compreensão e para a reflexão. O documentário deverá ter, além de informações básicas para a construção da história da Estação da Luz, imagens que farão uma ligação entre o passado e o presente.

Por ser um documentário informativo sobre a Estação da Luz, a presença dos entrevistados é fundamental para que nosso trabalho se torne interativo por meio de informações abrangentes sobre toda a história da estação, desde seu nascimento até os dias atuais. Mostraremos também a importância e a influência da estação na vida de muitos paulistanos, principais usuários da estação, e brasileiros.

O projeto pesquisou sobre a história da Estação da Luz, localizada no centro da cidade de São Paulo. Um dos maiores marcos na economia brasileira, A Estação da Luz é também de grande relevância para os paulistas e seus migrantes, sendo também uma referência arquitetônica e cultural. Vale lembrar ainda que recentemente, e depois de passar por um amplo processo de revitalização, a estação tornou-se palco para aqueles que desejam conhecer um pouco mais sobre a língua portuguesa. O Museu da Língua Portuguesa é um dos maiores projetos abrigados pela estação.

A Estação da Luz foi escolhida como tema deste trabalho para que seja levantada a história desta estação, cuja importância não tem um espaço nos livros, jornais e revistas, somente é encontrado em alguns artigos pequenos. Produzimos um trabalho capaz de apresentar a Estação da Luz em seus mais diversos aspectos, resgatando sua história e sua importância, destacando suas relações atuais com a sociedade, seus aspectos econômicos, culturais e arquitetônicos, passeando pelos 105 anos de sua existência (o ontem e o hoje).

Também esse trabalho teve como objetivo permitir que o público conheça e entre em contato com um dos mais importantes prédios e monumentos arquitetônicos da cidade. Dessa forma, permitirá também recuperar e reforçar as origens e as raízes da maior metrópole do país.

Para que isso se tornasse possível, partimos como perguntas básicas:

- Qual era a importância social, econômica, cultural e arquitetônica da Estação da Luz para a cidade de São Paulo? E atualmente?

  • Quando a Estação da Luz foi tombada?
  • Por que ela ficou decadente ao longo dos anos?
  • Quais as relações que ela estabelece contemporaneamente com a cidade?
  • De que forma e porque a Estação da Luz pode valorizar bairros centrais ou até mesmo a cidade de São Paulo?
  • As pessoas costumam ter curiosidade sobre a Estação da Luz? Que tipo? É mais um interesse didático ou um interesse particular?

A Estação da Luz passou a centralizar usos mal vistos, como hotéis populares, prostituição. Você acha que isso "mancha" a história da estação?

Para que estas questões sejam fundamentadas, a partir da pesquisa que realizamos para o documentário, aqui apresentamos os resultados:

O documentário

Abordamos, neste documentário, os principais fatos históricos, desde a construção e a inauguração da estação, em 1901, até sua restauração e modernização, nos últimos tempos. O aspecto turístico, assim como a arquitetura e o Museu da Língua Portuguesa, também foram abordados.

Fundamentamos nossas pesquisas em obras como os livros: "Um Século de Luz" (Lourenço Diaferia, Nadia Somekh, Candido Malta Campos Neto, Haroldo Gallo, Marcos Carrillho, Fernanda Magalhães, José Geraldo Simões Junior, Roberto Righi, Helena Saia e Renato Viegas) e "Cem Anos Luz" (Maria Inês Dias Mazzoco, Eduardo Albarello e Antônio Soukef Júnior). A emissora de televisão TV Cultura não demonstrou resistência em disponibilizar seu material videográfico, enriquecendo nossa pesquisa com imagens, diferentes tipos de depoimentos e fatos de suma importância para dar suporte ao desenvolvimento de nosso documentário.

Entramos em contato também com a Secretaria da Cultura do Município de São Paulo, Biblioteca "Viva o Centro" - Associação, sem fins lucrativos, objetivada no desenvolvimento da Área Central de São Paulo - e, por fim, com professores e estudantes de Arquitetura da Universidade Mackenzie, na busca por arquivos históricos. Portanto, quanto mais amplo nosso material histórico e cultural sobre a Estação da Luz, maior suporte tivemos para desenvolver nosso trabalho.

Assistimos e observamos a todos os tipos de linha de diferentes documentários, para definir e comentar planos e cortes, para que nosso vídeo não se torne cansativo e desgastante.

Mesclamos as imagens antigas - para a exibição das principais características da estação antigamente - com as imagens atuais, que fizemos e produzimos não só para efeito de comparação, mas também para que as pessoas reconheçam a importância da estação nos dias atuais e não apenas em décadas passadas.

Entramos em contato com a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), a qual nos forneceu parâmetros para entrevistarmos profissionais adequados para esclarecer possíveis dúvidas e nos fornecem alguns detalhes importantes sobre a arquitetura da estação, como o arquiteto que participou da revitalização da estação. Entrevistamos pessoas da qual acompanharam as mudanças da estação, como também usuários e pessoas que fizeram ou fazem parte da história da Estação da Luz, seja utilizando-a como meio de transporte ou de renda e consideramos de suma importância.

Tivemos como nossos entrevistados, Maria Inês Dias Mazzocco (coordenadora da preservação ferroviária do patrimônio histórico da rede ferroviária Federal e autora do livro "Cem Anos Luz"), Haroldo Gallo (doutor em arquitetura e urbanismo; professor titular de projeto e restauro na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e pós-graduação da Universidade FAAP), Antônio Soukef Júnior (arquiteto especializado em restauração vem desenvolvendo trabalho de documentação do patrimônio ferroviário paulista, e autor do livro "Edifício Júlio Prestes", publicado em 1997 e "Cem Anos Luz"), Cândido Malta Campos Neto (arquiteto e urbanista, doutor pela FAU-USP, professor do programa de pós-graduação em arquitetura e urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e autor do livro "Cem Anos Luz"), Jarbas de Campos Montovanini (gerente do projeto do Museu da Língua Portuguesa), Antônio Carlos de Moraes Sartini (diretor do Museu da Língua Portuguesa), Rogério de Souza Dias (coletor), Alberto Vaz Roncon (metalúrgico),

Marco Aurélio de Paula (estudante) e Rogério Aparecido (taxista).

Decidimos ir até a estação não somente para a elaboração de nosso Trabalho de Conclusão do Curso, mas também para observar todos os seus aspectos, e compreendermos a sua importância e contribuição para o desenvolvimento do país.

A grande quantidade e concentração de pessoas e os diferentes tipos de freqüentadores e usuários fazem com que a estação se torne uma "fonte de luz" para a cidade de São Paulo. Um exemplo disso é a maneira com que a população enxerga a estação ao passar próximo dela, as pessoas ficam olhando e observando cada detalhe.

Outro fato interessante é a maneira como a estação foi construída. Sua arquitetura, toda diferenciada, apresenta uma cobertura de vidro no vão, de cerca de 40 metros de largura, sem colunas, sobre a via férrea; há no sistema de ventilação e limpeza da cobertura, placas de zinco (importadas da Letônia) e de madeira que juntas favorecem a entrada de claridade com luz natural e dissolvem a fumaça das locomotivas; isso sem falar na qualidade das caneletas e dos condutores metálicos das águas pluviais, resistentes à oxidação. Grades de ferro, que servem de anteparo nas escadas amplas são fundidas, formando delicados ramos com grãos de café.

Estas grades foram produzidas para a segurança e ao mesmo tempo para ornamentação. As escarradeiras também chamam a atenção. São de bronze, têm pedestal, medem cerca de meio metro de altura, a superfície coberta de areia fina. As clarabóias são resistentes ao desgaste e montadas com vidro, chumbo e bronze, e ficam no piso de um pavimento superior para permitir a passagem de luz e clarear banheiros e corredores.

A segurança é exercida pelos guardas ferroviários; uniforme caqui, cinturão largo, boina preta e revólver. Também ficam de olho esperto nas proximidades das três pontes de ferro.

Resultado de uma parceira e de um investimento de 37 milhões de reais entre o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil, o Museu da Língua Portuguesa não podia ficar em local mais apropriado, a Estação da Luz.

Foi nesse rico cenário da Estação da Luz que decidimos nos inspirar para a criação e elaboração de nosso Trabalho de Conclusão de Curso. Nosso objeto de pesquisa é um dos mais importantes patrimônios históricos da cidade de São Paulo, portanto merece ser lembrado e homenageado por todos nós.

Considerações finais

Quando tivemos que decidir um tema específico para o nosso Trabalho de Conclusão de Curso, queríamos algo que ninguém tivesse falado sobre, ou alguma coisa que não tivesse um acervo de pesquisas muito grande.

Quando alguém decide falar sobre São Paulo, certamente escolherá a beleza da Avenida Paulista ou até mesmo da cultura que esta cidade abriga. Conhecemos a Estação da Luz, porque ela faz parte de nossa cidade, porém, quando fomos pesquisar sobre ela, o que conseguimos foi um material muito vasto de informações. Deste modo, surgiu a idéia de criar um documentário para informar às pessoas ou aos interessados, toda a história da estação.

Ao lidar com um tema fantástico que é a história da Estação da Luz, aprendemos muito deste lugar esquecido pelas pessoas que vivem na cidade de São Paulo e até usuários da própria estação. De fato, muitas pessoas passam por lá e se quer conhecem esta história e principalmente, a importância que ela tem para a cidade e para a economia de todo o país.

Foi um prazer lidar com essa história podendo conhecer um pouco mais dela, fazendo com que, através de nosso documentário, podemos informar a todos o quanto a Estação da Luz fez e faz diferença para a cidade, tanto pelo transporte do café colhido no estado de São Paulo, passando pela sua arquitetura moderna e finalizando com um dos maiores museus dedicado à nossa língua falada: o português.

Tivemos contra-tempos e grandes momentos de conhecimento em nosso trabalho; estivemos ao lado de pessoas da qual entendesse sobre o assunto que nós abordamos. E isso enriqueceu nossa pesquisa. Estamos felizes com o trabalho desenvolvido, pois hoje nós olhamos a Estação da Luz não só como uma simples estação, mas com outros olhos: os olhos daqueles que agora sabem da importância que ela nos trás, nunca deixando de cultivar as coisas esquecidas pela correia de nosso cotidiano.

Nota

[1] Disponível em: <www.bocc.ubi.pt/pag/zandonade-vanessa-video-documentario.html>. S/d.

Referências bibliográficas

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*Adriana Guedes, Antônio Militão, Camila Araújo, Fernanda Cruz e Marcos Aurélio são graduados em jornalismo pela Universidade Anhembi-Morumbi.


®Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro [ISSN 1806-2776]