Nº 8 - Julho 2007 Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ANO V
 
 

Expediente

Vinculada
à Universidade
de São Paulo

 

 

 


 

 

 

 

 

 


ARTIGOS
   

O grande inquisidor:
Lula enfrenta Bial no paredão do Fantástico

Por Célio Yano, Erike Feitosa, Ivan Sebben Filho e Patricia Thomaz*

Resumo
O presente artigo analisa a forma como o jornalista Pedro Bial construiu a sua discursividade na entrevista exclusiva com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, exibida no programa Fantástico da Rede Globo em 1º de janeiro de 2006, assim como a significação contida no interior das perguntas feitas pelo apresentador. No intuito de buscar a verdade, o profissional procura intimidar Lula com indagações diretas sobre a crise que o governo petista enfrentava. Desta forma, tenta-se verificar se a composição das mensagens fere a conduta ética do jornalista.

Palavras-chave
[
Jornalismo / Ética no jornalismo / Análise do discurso / Lula / Pedro Bial]


Prólogo de uma polêmica

Noite de domingo do primeiro dia do ano de 2006. O Fantástico leva ao ar a entrevista de 34 minutos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu ao jornalista da Rede Globo Pedro Bial. De um lado, o popular apresentador do reality show mais assistido do país, o Big Brother Brasil, aparentemente à vontade no gabinete do chefe do Executivo, tentando intimidá-lo com perguntas diretas e capciosas. De outro, inicialmente acuado, o presidente da República nitidamente comprometido em tentar salvar sua imagem perante o público.

Nem poderia ser diferente. O próprio entrevistador contextualiza, no início da entrevista, a crise vivida pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no ano de 2005:

O senhor me permite enumerar alguns dados que escandalizaram o país? O PT era meio tido como o partido que monopolizava a ética na política brasileira. E isso, em 2005, foi por terra. O deputado José Genoíno, presidente do partido, disse que não tomou empréstimo. Mas, tomou e caiu. Sílvio Pereira, secretário-geral, caiu. O ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, foi cassado. [1]

O mar de lama no qual o PT estava imerso ameaçava abocanhar, inclusive, a figura do presidente. A cada semana, uma nova suspeita de irregularidade era levantada pela imprensa.

Aproveitando o clima de dúvidas e indignação geral que pairava sobre todo o país, o apresentador Pedro Bial utiliza uma linguagem e um tom nas suas perguntas semelhantes ao utilizado no Big Brother. A impressão que se tem é a de que, a qualquer momento, Bial poderia mandar o presidente para o paredão, como faz no programa. Mais que uma simples entrevista, o episódio transformou-se em um valioso objeto de estudo sobre a ética e o poder da argumentação no jornalismo.

Entretanto, de certa forma, as perguntas feitas pelo repórter ao presidente não deixam de ser legítimas, pois, de fato, o interesse público sobre o caso era evidente. Analisando por esta ótica, é possível aceitar a chamada que o Fantástico atribuiu à produção: "Exclusivo! Você vai ver agora a entrevista que o presidente Lula concedeu ao Fantástico. O repórter Pedro Bial perguntou ao presidente tudo o que o Brasil quer saber".

Mas o jornalismo deve reviver a essência da Santa Inquisição, o antigo tribunal eclesiástico instituído com o fim de investigar e punir crimes contra a fé católica? Pode inquirir suspeitos de atos ilícitos, antes do julgamento pela instância competente? Os juízos de valor e o sensacionalismo podem ser aceitos como ferramentas jornalísticas ainda mais quando a figura interrogada é o presidente da nação? Este artigo investiga a conduta do apresentador Pedro Bial durante os 34 minutos da entrevista, com o objetivo de analisar se houve uma postura antiética por parte dele.

Assim, o trabalho pretende problematizar o embate retórico entre o presidente e o jornalista dentro das relações conceituais existentes entre uma ética absoluta, de convicção, e uma ética de responsabilidade profissional, conseqüente e objetiva. A relação entre jornalismo e ética será amparada pelo Código Deontológico dos Jornalistas e pelo Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. O campo conceitual da pragmática e da argumentação auxiliará a revelar alguns sentidos implicados e artifícios retóricos utilizados nas perguntas do entrevistador e nas respostas do entrevistado, em uma breve análise do discurso.

Bial e o poder da argumentação

A retórica, diz o filósofo Aristóteles (Apud: Serra, 1996), visa descobrir os meios que, relativamente a qualquer argumento, podem levar à persuasão de um determinado auditório acerca do que é verossímil ou provável. Neste sentido, teria uma natureza dialética, distinta da demonstração ou analítica, esta construída nos critérios de verdade e necessidade.

Na entrevista com o presidente Lula, para não restringir o horizonte das perguntas e manter o apelo nacional e, de certa forma, sensacional da crise moral do PT, o jornalista Pedro Bial realiza atos de fala pródigos em efeitos de retórica, de acordo com os rumos da conversa. Para manter a horizontalidade do tema - a crise ética do governo e do Partido dos Trabalhadores - prevalece a verticalidade das perguntas de Bial, reforçando um tom impositivo, reticente e insinuante. Haverá resposta plausível que não corrobore a tese já formada de Bial?

Levando-se em conta os três tipos de discursos retóricos, apontados pelo filósofo, é possível verificar o discurso deliberativo, aquele voltado para o futuro, que procura persuadir ou dissuadir em relação a algo a fazer, quando o jornalista especula o futuro político de Lula:

Presidente, o ex-ministro José Dirceu, desculpe-me insistir nesse nome, afirmou que as direitas e a oposição querem prolongar a crise política para inviabilizar a sua reeleição. O senhor será candidato à reeleição para contrariar essa versão? [...] O meio do ano não é tarde demais para começar uma campanha? [...] Colher em ano eleitoral é ótimo, não é?

Nos três casos, não se trata apenas de uma simples pergunta, mas de implicações de sentido. As opções plausíveis de resposta, para o primeiro questionamento, são duas: Lula confirma a candidatura à reeleição, superando a crise política vivida no seu primeiro governo, e contraria a versão de José Dirceu ou Lula nega uma nova candidatura, confirma os efeitos diretos da crise e endossa a versão de Dirceu.

O efeito semântico não é, obviamente, apenas especular sobre a reeleição. É cercar de sentido uma resposta de Lula, implicar um significado previamente elaborado. O teor das outras duas perguntas exibe uma contradição semântica capciosa: Bial insinua ser demasiadamente tarde para o início de uma campanha eleitoral no meio do ano, para, em seguida, ironizar quaisquer dividendos políticos colhidos em pleno ano eleitoral.

O segundo tipo de discurso retórico na concepção Aristotélica, o epidítico, volta-se para o presente e procura louvar ou condenar atos contemporâneos. Em alguns trechos da fala do jornalista, tal recurso é flagrante. Após o presidente repetidamente se esvair de respostas conclusivas a respeito das acusações e especulações, Bial constata irregularidades ao enunciar o que ele chama de "provas".

Assim, o jornalista objetiva deslegitimar a principal defesa de Lula, a ignorância, pois ele afirmava não ter lido os relatórios parciais da Comissão Parlamentar de Inquérito:

Acho que posso apresentar já algumas provas conclusivas para o senhor fazer um juízo de valor. Como, por exemplo, a auditoria feita pelo próprio Banco do Brasil sobre a questão da Visanet, em que dados conclusivos dessa auditoria comprovaram o desvio de R$ 20 milhões. Além disso, o uso de 80 mil, 80 mil presidente, em notas falsas no valerioduto - assim chamado - foi comprovado pela Polícia Federal. Isso são provas.

Mais adiante, Bial aproveita o apontamento de Lula sobre práticas ilícitas anteriores ao seu governo, para relembrar episódio semelhante praticado pelo PT, numa clara condenação ao ato. O jornalista pede desculpas por evocar o fato, o que só reforça o tom irônico disfarçado de certa polidez que se sucede no seu discurso. Bial induz ao momento dramático da situação com uma pergunta fatalista sobre a situação do partido. A resposta de Lula, por mais convincente que aparentemente possa ser, constrói uma contradição, quando dela o jornalista deduz que o presidente conhece as provas que antes negava.

(Lula): [...] tenho informações também do Banco do Brasil de que o pagamento adiantado era uma norma, que vinha acontecendo no Brasil há algum tempo. Não é uma coisa que foi implantada na atual gestão do Banco do Brasil, a partir do momento em que tomei posse. Era uma norma que já vinha sendo implantada e isso está no relatório do Banco do Brasil, me apresentado pelo presidente do Banco do Brasil [...].

(Bial): O senhor me desculpe, mas, quando fala de normas que já vinham anteriormente sendo executadas, me lembra aquela frase da entrevista de Paris: que o caixa dois do PT era apenas uma prática sistemática da política brasileira e que o PT também fazia, o que surpreendeu muito o eleitor do PT, que acreditava que o PT tinha vindo para acabar com esse tipo de prática!

(Lula): O PT cometeu um erro, que é de uma gravidade incomensurável. Todo mundo sabe - e sabe o PT hoje e sabe quem cometeu os erros - que o PT cometeu um erro e que será de difícil reparação pelo próprio PT. O PT vai sangrar muito para poder se colocar diante da sociedade outra vez com uma credibilidade, que ele conquistou ao longo de 20 anos [...].

(Bial): O senhor acredita que ele vai recuperar essa credibilidade?

(Lula): Vai! Vai recuperar.

(Bial): Tem salvação?

(Lula): Eu acho que tem salvação porque o PT é um partido muito grande. E numa família, quando alguém comete um erro qualquer, você não pune a família inteira. Vai ser punido quem cometeu o erro. [...] E esse é um processo de depuração, que vai levar tempo. Você não tem uma varinha de condão para falar "apareçam os corruptos ou os malfeitores da pátria, que nós vamos punir". Não. Você fica sabendo das coisas quando lê, quando alguém denuncia, quando alguém faz uma denúncia ou pelo menos um indício de prova. Aí você manda investigar. E, na investigação, você prova se é inocente ou não, se é culpado ou não.

(Bial): Mas, até agora, o senhor vinha insistindo na tese de que não havia provas! Eu entendi bem ou o senhor hoje está reconhecendo que já há provas conclusivas do mensalão ou, enfim, de condutas irregulares e de corrupção conduzidas pelo PT?

É o discurso retórico judicial, típico dos tribunais, o mais recorrente na fala de Bial. Segundo a retórica aristotélica, ele compreende digressões no passado a fim de acusar ou defender em relação a atos mostrados como justos ou injustos. Os termos de interlocução ("me permita ler", "há de convir", "o senhor está se referindo...?") e introspecção ("eu entendi bem"), a enumeração, o raciocínio calculado, a citação de perguntas do interlocutor ("o senhor já afirmou, nas seguintes palavras..."), os questionamentos formulados após controvérsias, entre outros procedimentos discursivos típicos de um inquérito policial, permeiam a entrevista. Assim, o gabinete do presidente se transforma em um tribunal ou seria o paredão de Bial diante das câmeras de televisão?

O senhor está se referindo às CPIs? Para apurar, o governo resistiu muito. Procurou impedir a implantação das CPIs, num primeiro momento. E, mesmo agora há pouco, tentou evitar a prorrogação de seu trabalho. [...].

O deputado José Genoíno, presidente do partido, disse que não tomou empréstimo. Mas, tomou e caiu. Sílvio Pereira, secretário-geral, caiu. O ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, foi cassado. Esses não são erros? [...].

Falando em verdade e mentira, o senhor já afirmou, nas seguintes palavras, que essa história do mensalão parece folclore do Congresso. Aí temos o relatório do deputado Ibrahim Abi-Ackel, que diz "houve recebimento de vantagens financeiras...". O senhor me permita ler, porque está entre aspas: "Houve recebimento de vantagens financeiras indevidas por parlamentares e dirigentes partidários, com periodicidade variável, porém, constante, de 2003 e 2004". E ele chegou a dizer "chame-se semanão, quinzenão ou mensalão". O senhor ainda acredita que não passa de folclore? [...].

Eu entendi bem ou o senhor hoje está reconhecendo que já há provas conclusivas do mensalão ou, enfim, de condutas irregulares e de corrupção conduzidas pelo PT? [...].

Mas, o senhor concorda que o governo, assim como as mulheres dos césares, além de ser honesto, tem que parecer honesto? O senhor há de convir que as aparências não estão ajudando. [...] Como é que o PT - que não tem renda, é um partido - conseguiu esse dinheirão todo apenas com a assinatura de um simples tesoureiro, do nosso Delúbio, como o senhor disse? [...].

Assim, o enunciado de Bial é argumentativo, não pelo que diz acerca de Lula, do PT ou da crise política, mas pela maneira como opera as formas lingüísticas a favor de uma retórica. Lula, por sua vez, não parece páreo, pelo menos até a metade da entrevista, com uma fala baseada muito mais na demonstração.

Se a argumentação de Bial aposta na equivocidade da linguagem natural, para daí extrair uma controvérsia, simular contradição em cima do dito; a demonstração de Lula, explicativa, assenta na univocidade da linguagem simbólica, enumera, e admite a petição de princípio como contrapeso à retórica de Bial. Diante das provas colocadas por Bial, as proposições de Lula soam em sentenças condicionais:

Primeiro, porque não é o papel do presidente da República. Segundo, porque não tenho conhecimento suficiente para analisar como tem um delegado de polícia, como tem um representante do Ministério Público ou como tem um ministro do Supremo Tribunal Federal. [...].

Primeiro, para alertar a gente de que é preciso tomar mais cuidado. Segundo, é preciso fiscalizar mais. Terceiro, é preciso fortalecer as instituições. Quarto, é preciso exercer mais democracia e que a sociedade possa ter mais controle das ações do Poder Executivo, do Poder Legislativo. [...].

Se há indícios, tem que ter uma investigação séria. [...].

Se eu tivesse condições de saber, não teria acontecido.

O jornalista se revela, indiscutivelmente, um mestre da tópica, a arte da controvérsia, que Aristóteles define como todo um conjunto de estratégias conclusivas que não se integram no raciocínio lógico, mas sustentam-se nas relações entre enunciados aceitos como prováveis pelo bom senso de uma época.

Estas relações, a partir de certos atos de fala, nos orientariam em direção a outros enunciados. A nível sintático, eles existiriam nos operadores e conectores argumentativos. Nota-se que, muitas vezes, Bial introduz sua fala com conjunções coordenativas adversativas ("mas", "porém"):

O senhor me desculpe, mas, quando fala de normas [...].

Mas, até agora, o senhor vinha insistindo na tese de que não havia provas [...].

Mas, o senhor concorda que o governo, assim como as mulheres dos césares, além de ser honesto, tem que parecer honesto? [...].

Mas, não é uma dedução lógica de que são empréstimos de fachada? [...].

Mas você sabe que, quando soube que iria ter o privilégio de conversar com o senhor, saí conversando muito com o povão mesmo em feira-livre, táxi, botequim [...].

Mas, o Delúbio era tão próximo do senhor [...].

Mas, ainda há a sensação no senso comum de que a economia brasileira [...].

Porém, antes mesmo dessas investigações serem concluídas, o senhor afirmou que levaria José Dirceu ao seu palanque
.

A forte presença da conjunção exprime que o enunciado posterior é uma premissa que, junto a outro(s) enunciado(s) anterior(es), vai fixar uma conclusão, uma interpretação. Em um dos trechos da discursividade do jornalista, duas hipóteses (a de Lula sentir-se traído e a de ser solidário com os envolvidos na corrupção) são apresentadas por uma conjunção coordenativa ("e"), operando uma ligação recíproca de dois enunciados idênticos, sugerindo conclusões acusatórias sem expressá-las abertamente: "O senhor já se disse traído e depois se solidarizou com aqueles que estavam envolvidos na corrupção, se reunindo com eles".

Na seqüência, Bial interroga o presidente utilizando uma conjunção disjuntiva ("ou"), ligando, assim, duas orações de sentidos diferentes, porém, indicando que, ao verificar-se o que se diz em uma delas, deixa de confirmar o que se diz na outra: "Afinal, o senhor foi traído ou é solidário?

Por exemplo, o José Dirceu o traiu?" Assim, subentende-se a escolha de uma das duas opções apresentadas pelo jornalista-inquisidor.

Além destes recursos, as modalidades do implícito no enunciado e na enunciação, que subentendem sentidos específicos, são também usuais na fala do jornalista. Os implícitos de enunciado, apesar de não expressarem uma afirmação necessária e de maneira evidente, deixam significações nas entrelinhas do não-dito, em lacunas das frases. Em algumas colocações, Bial atribui o sentido de mentira (a verdade consta no relatório parcial da CPI e a mentira na idéia de folclorização do "mensalão" - a mesada oriunda de estatais paga a parlamentares da base aliada em troca de apoio ao PT -, atribuída ao presidente), assim como o de desonestidade (admitido assim o pressuposto de que o que não parece, não pode ser honesto) à fala de Lula:

Falando em verdade e mentira, o senhor já afirmou, nas seguintes palavras, que essa história do mensalão parece folclore do Congresso. Aí temos o relatório do deputado Ibrahim Abi-Ackel, que diz "houve recebimento de vantagens financeiras...". O senhor me permita ler, porque está entre aspas: "Houve recebimento de vantagens financeiras indevidas por parlamentares e dirigentes partidários, com periodicidade variável, porém, constante, de 2003 e 2004". E ele chegou a dizer "chame-se semanão, quinzenão ou mensalão". O senhor ainda acredita que não passa de folclore? [...].

Mas, o senhor concorda que o governo, assim como as mulheres dos césares, além de ser honesto, tem que parecer honesto? O senhor há de convir que as aparências não estão ajudando. [...].

Mas, não é uma dedução lógica de que são empréstimos de fachada? [...].

A sensação não é de acusação ao senhor, mas, de estar muito intrigado. Como é que o presidente não sabia? Essa pergunta continua sendo feita, presidente. O senhor sabia ou não sabia? [...].

Mas, o Delúbio era tão próximo do senhor.

É este conjunto de pressupostos, de sentidos implícitos, de operadores argumentativos e de demais artifícios retóricos, presentes no discurso de Bial durante a entrevista, que irá compor o interior da fala, movido por uma determinada intenção, a busca da verdade, do qual se elabora um contexto de inquisição. Todos estes exemplos de retórica nos conduzem à própria natureza da argumentação do jornalista durante a entrevista: o poder de, discursivamente, defender uma tese ou contrariá-la.

Na posição de orador, Bial renuncia consciente e estrategicamente ao que Perelman, (Apud: Serra, 1996), chama de "petição de princípio", ou seja, admitir uma tese que se desejaria fazer admitir pelo auditório. Na entrevista com Lula, o jornalista objetiva a adesão intelectual do público ao seu poder argumentativo. Configura, pura e simplesmente, uma interpelação de um sentido ao telespectador e exerce, assim, uma ação de persuasão e convicção mediante o discurso, cria ainda um cenário de desfiguração, em que a figuração alheia, da fala presidencial, termine rejeitada, empobrecida de sentido.

O enfoque na culpa X a conduta ética do jornalista

"O repórter Pedro Bial perguntou ao presidente Lula tudo o que o Brasil quer saber". A convidativa chamada do Fantástico para a entrevista soa, a princípio, perfeitamente legítima para atrair a atenção do público. Os brasileiros, especialmente naquele momento, tinham inúmeras perguntas a fazer ao presidente a respeito da onda de denúncias que o seu governo se viu envolvido. Por outro lado, reside nela também a primeira pista para identificar o enfoque retórico de Bial.

De antemão, prometem-se presumidas as possibilidades de esclarecimento, diálogo e interesse de todos. O trabalho do profissional deve servir ao interesse público e, ainda, ao compromisso com a verdade dos fatos e com a precisão da apuração dos acontecimentos como sugere o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.

Porém, o jornalista realiza uma censura específica e muito própria dos tribunais. Ao invés de promover uma abertura de sentido, suas colocações fecham a possibilidade de entender um quadro contextual da crise político-partidária e ética do governo. O que o Brasil inteiro quer saber, de repente, reduz-se à inquisição e a busca do culpado.

De acordo com o Código Deontológico dos Jornalistas, o profissional "deve salvaguardar a presunção de inocência dos argüidos até a sentença transitar em julgado". Não é o que se percebe quando Bial insinua:

Presidente, antes e depois da sua eleição, o senhor repetiu várias vezes, com pertinência, que muitos poderiam errar no seu lugar, mas, que com a sua biografia e com os preconceitos que enfrentava, o senhor não poderia errar. Agora, diante de tantos escândalos que o seu governo vem enfrentando, poderia me responder onde é que o senhor errou?

A pergunta de Bial, a primeira da entrevista, também poderia ser a última. O tom de inquisição do começo a, pelo menos, metade da entrevista oscila apenas em sua forma retórica, em sua proposição verbal, em sua estética acusatória, ainda que todo o episódio se passe dentro das regras de polidez - Lula e Bial trocam um recíproco "obrigado" ao fim dos trinta e quatro minutos. O discurso, a linguagem, os procedimentos retóricos são frutos de escolhas que envolvem condicionantes éticas na conduta profissional.

Segundo o filósofo Aristóteles, a ética não tem um propósito teórico, mas sim prático. Não é algo essencial e imutável ao homem, mas nasce por ações repetidas, disposições adquiridas ou de hábitos que constituem virtudes ou vícios. Segundo ele, enquanto a virtude dianoética (a sabedoria, a inteligência e a ciência) se gera e acresce por via do ensinamento e tem por si a necessidade de experiência e de tempo; a virtude ética (a liberalidade e a temperança) provém do hábito (ethos).

A concepção de uma ética concretizada em ações comunicativas é, afinal, consoante à idéia pragmática de linguagem, para a qual os sentidos são intencionais e o discurso é performativo, além de ser coerente com o próprio sentido original de retórica, enquanto arte de persuasão da palavra.

Para Max Weber, a ética de responsabilidade ou profissional é bem diferente da ética absoluta. Enquanto a ética absoluta obriga a dizer toda a verdade, a ética da responsabilidade preocupa-se com as conseqüências.

Finalmente, a obrigação de dizer a verdade, que a ética absoluta nos impõe sem condições. Daqui se tirou a conclusão de que devem ser publicados todos os documentos, sobretudo aqueles que culpam o próprio país, e, com base nesta publicação unilateral, incondicional, das próprias culpas, sem pensar nas conseqüências. O público dar-se-á conta de que, agindo assim, não se ajuda a verdade, mas que, pelo contrário, ela será obscurecida pelo abuso e desencadeamento das paixões: Verá que apenas uma investigação total e bem planejada, levada a cabo por pessoas imparciais, pode render frutos, e que qualquer outro procedimento pode ter, para a nação que o siga, conseqüências que não poderão ser eliminadas em dezenas de anos. A ética absoluta, no entanto, nem sequer se interroga acerca das conseqüências (Weber, Apud: Fidalgo, 1997:7).

O sociólogo problematizou, a partir da ética política, os critérios e escolhas que conduzem à verdade, e chegou à ponderação como uma qualidade do homem político virtuoso. Essa mesma noção de virtude, em Aristóteles, é atribuída ao equilíbrio entre os extremos.

A retórica inflamada do jornalista Pedro Bial na entrevista concretiza uma ética mais afeita ao vício e ao desequilíbrio do que à virtude. Demonstra ser ainda apropriada para uma mediação jornalística que reforce o apelo ao senso comum, às paixões e cores ideológicas, ao exagero dramático, à culpa. Na medida em que o discurso de Bial é fundamentado na cobrança de satisfações extrajudiciais, interrogações e insinuações, baseia-se em definições prévias e rigorosas de valores, de sentidos e de verdades. A busca por uma verdade poderá resultar, assim, em uma verdade incompleta, parcial.

É a sutil espetacularização, constituída numa hierarquia discursiva fechada, fixa, cristalizada ao longo da conversa, com pouca ou quase nenhuma possibilidade de evolução, nas perguntas de Bial, para um contexto mais sóbrio e racional da crise política. O tom de denúncia e de apuração intransigente das verdades que o povo quer saber ganha as cores de um atrativo interrogatório. O sensacionalismo aparece como punição de qualquer ambivalência ou evasão de Lula e como transgressão do princípio da presunção da inocência.

Pedroso (1983) define o sensacional como o modo de produção discursivo da informação de atualidade, processado por critérios de intensificação e exagero gráfico, temático, lingüístico e semântico, contendo em si valores e elementos desproporcionais, destacados, acrescentados ou subtraídos no contexto de representação ou reprodução de real social.

O ponto central do sensacional na entrevista está na apologia à culpabilidade e punição como fundamentos para se chegar à verdade - algo insinuado na fala de Bial tantas vezes que ressoa na fala de Lula tantas outras. A apresentação parcial da verdade por provas que culpabilizam e jamais tendem a inocentar impede o telespectador de apreender uma realidade mais contextual.

Outra forma de perceber o sensacionalismo na entrevista é identificar como os fatos e argumentos destacados por Bial para compor as perguntas têm um forte apelo emocional, insinuam, comunicam uma estrutura de valores prévia, ideológica, com um peso que pode ludibriar e fazer cair em controvérsia.

O senhor disse também "agora, é a gente não permitir que o processo eleitoral do ano que vem venha exigir que governantes tomem medidas irresponsáveis e populistas". Presidente, essa declaração, na voz de um governante, soa como uma ameaça.

Lula, em várias colocações, apenas realiza atos de fala para subverter a máxima da justiça e verdade a todo custo, sôfrega e insistente na fala de Bial. No conjunto da fala de Lula durante o princípio e meio da entrevista, há uma idéia mais elementar e com amparo na própria constituição: o princípio da presunção de inocência.

Tudo que eu desejo na vida é que a CPI apure corretamente o que tem que apurar, faça todas as acareações que tiver que fazer, apresente o seu relatório final. [...].

Eu não posso fazer julgamento de relatório da CPI. Não posso. [...].

Estou esperando o relatório conclusivo da CPI, pois o que conta, na verdade, é quando tiver um relatório consagrado. [...] Quando estiver pronto, tenho um documento final para poder fazer juízo de valores desse documento.

[...] Os culpados serão punidos da forma mais severa possível. [...].

Vai ser punido quem cometeu o erro. [...] Você não tem uma varinha de condão para falar "apareçam os corruptos ou os malfeitores da pátria, que nós vamos punir". Não.

[...] Na hora em que tiver a investigação feita corretamente e o veredicto, aí você fala: "bom, esse cidadão cometeu uma heresia, por isso, tem que ser punido". [...].

Depois desse processo todo é que todos nós - você, eu e quem está nos assistindo - vamos poder dizer "é verdade ou não era verdade". E acho que é errado fazer qualquer julgamento precipitado da pessoa. [...].

Todas as pessoas, enquanto não forem julgadas, são inocentes. Vamos aguardar o processo. Da parte do presidente da República, nesse momento, seja com os meus companheiros ou com os meus adversários, tem que ter sempre a postura de um estadista, que não faz julgamento a priori, que não faz julgamento precipitado, que não condena e nem absolve ninguém antes do tempo.

O duelo discursivo entre a máxima da justiça a todo custo e a da presunção de inocência traz poucos fatos novos à tona. Em contrapartida, rende um belo espetáculo. É, pois, na imediaticidade da percepção de culpa, da forma ao conteúdo, do fenômeno à essência (Bial chega a sugerir que não basta ser, é preciso parecer honesto), do singular ao geral (episódios específicos aventados dentro de quadros gerais); na singularidade extrema, que reforça as categorias do senso comum e de uma ideologia criminalista apriorística, na violência simbólica pela reprodução do arquétipo de culpa em torno da figura presidencial, pela repetição de um significado sem uma interpretação que atenue o papel do discurso na produção da verdade; é por esses caminhos que chegamos a um patamar de sensacionalismo.

O Código Deontológico dos Jornalistas é enfático: "o jornalista deve combater a censura e o sensacionalismo e considerar a acusação sem provas e o plágio como graves faltas profissionais". Bial alegou ter provas suficientes para interrogar o presidente, mas pecou no excesso de tom sensacional. Lula, embora estivesse no seu gabinete no Palácio do Planalto, estava, na verdade, dentro de um reality show, onde a intenção do discurso do jornalista ditou o contexto de diálogo.

O distanciamento e a objetividade como virtudes da ética jornalística

Ao exercer o seu papel de sujeito-comunicador, o jornalista deve manter o distanciamento crítico do assunto e dos personagens da notícia. Para Fidalgo, o espírito da inquirição e de investigação que caracteriza a profissão de jornalista nasce de uma atitude de distância, relativamente ao homem e às coisas.

Também na informação, manter a distância relativamente ao presente é uma qualidade do jornalista na medida em que o significado de um fato noticiado é ditado pelo contexto em que se insere. O homem comum pode apelar à proximidade da vivência como garantia da objetividade do que relata, dizer que o que diz é o que viu, com os olhos que a terra há de comer. Mas o jornalista deve temperar o que vê e ouve com o que, não vendo e não ouvindo, sabe que condiciona o que vê e ouve. A percepção do presente situa-se entre a memória do passado e a previsão do futuro (Cf. Fidalgo, 1997:04).

O tom de denúncia e de apuração no discurso de Bial, diante de uma grave crise política e ética do governo Lula e no momento em que toda a nação exigia explicações e justificativas do presidente, de certa forma permite ao profissional duvidar, examinar eventuais contradições nas versões e questionar o seu próprio envolvimento e preconceitos em relação ao assunto. O jornalista apresenta provas auxiliares e fatos suplementares que fundamentem o essencial da notícia e utiliza citações de outros entre aspas, como sugere Tuchman (Apud: Correia, 1997) na busca pela objetividade jornalística.

Falando em verdade e mentira, o senhor já afirmou, nas seguintes palavras, que "essa história do mensalão parece folclore do Congresso". Aí temos o relatório do deputado Ibrahim Abi-Ackel, que diz "houve recebimento de vantagens financeiras...". O senhor me permita ler, porque está entre aspas.

Mas, por outro lado, Bial peca ao informar e interrogar com emoções e de modo apaixonado e a nem sempre selecionar palavras neutras para descrever o contexto, como recomenda Bentele (Apud: Kunczik, 2001). O jornalista também expressa a sua opinião mesmo que de forma indireta.

No episódio da compra do apartamento e do empréstimo para a mulher do José Dirceu, houve claros indícios de tráfico de influência.[...] Mas, o senhor concorda que o governo, assim como as mulheres dos césares, além de ser honesto, tem que parecer honesto? O senhor há de convir que as aparências não estão ajudando. [...] O meio do ano não é tarde demais para começar uma campanha? [...] Colher em ano eleitoral é ótimo, não é? [...] Mas, ainda há a sensação no senso comum de que a economia brasileira é um cavalo doido para galopar e com as rédeas de uma legislação trabalhista ultrapassada, de um sistema tributário punitivo. Quero dizer, a crise em 2005 emperrou as reformas.

Porém, Abramo (1988) critica a postura de exigir uma neutralidade, ao dizer que "o jornalista não pode ser despido de opinião política. A posição que considera o jornalista um ser separado da humanidade é uma bobagem". Karam (1997) complementa que o relato jornalístico é encadeado segundo valores. "Na reconstrução diária simbólica da realidade, o profissional escolhe, mesmo que inconscientemente, valores. Estes podem ser reflexos da educação, do conhecimento ou da experiência histórica da humanidade".

Assim, a objetividade não pode ser entendida apenas como o contrário de subjetividade, mas como a busca e aproximação da realidade. Pesquisar, investigar, levantar informações, procurar derrubar as teses tidas até o momento como certas por meio de novos enfoques, buscar fontes que ainda não foram ouvidas e perspectivas que ainda não foram consideradas são condutas essenciais do profissional.

Porém, o direito à informação jamais deve violar a presunção de inocência e, ainda, não pode pressupor preponderância sobre outros direitos do cidadão. Dessa forma, torna-se plausível pensar em uma ética jornalística que determine não apenas o quê, quando e por quê algo é veiculado, mas também como isso acontece.

Comunicar quer dizer gerir diferenças, pôr em comum pontos de vista, construindo um tempo e um espaço lógicos de troca, suportados, é certo, pelos tempos e espaços empíricos de cada interlocutor, mas de nível operatório mais complexo. Comunicar, nesse espaço e tempo lógicos, passa por um trabalho de bi-codificação e bi-contextualização que permita justamente pôr em comum alguma coisa: referenciar e investir de sentido, co-referenciar e co-significar (Cf. Marcos, 1998:02).

A imprensa não pode se ver desvinculada da sociedade em que se insere, do ponto de vista ideológico e até judicial. Não pode se colocar como a verdade, acima das leis. Ela deve zelar pelo direito à voz de todos os cidadãos e fundar suas decisões na imparcialidade e no pluralismo, ambos podem contribuir para se alcançar a realidade.

O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros diz no artigo 14: "O jornalista deve ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, todas as pessoas objeto de acusações não comprovadas, feitas por terceiros e não suficientemente demonstradas ou verificadas".

A exigência de distanciamento, objetividade, imparcialidade e pluralismo responde à necessidade de que o jornalismo seja o espaço em que diferentes segmentos sociais com posturas variadas e até mesmo contraditórias se encontrem para discutir os problemas que afetam a sociedade.

Considerações finais

Desde que assumiu o poder, em 2002, o governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva não havia se sentido tão acuado e pressionado pela imprensa e por toda a nação quanto em 2005, um ano marcado por inúmeras denúncias de irregularidades e corrupção na política. Foram poucas as vezes que Lula deu espaço para a imprensa o questionar sobre os escândalos que afligiam a população brasileira.

No primeiro dia do ano de 2006, o Fantástico da Rede Globo anunciou o triunfo: o presidente finalmente resolveu falar de forma mais aberta e responder tudo o que o Brasil queria saber. Durante os 34 minutos de gravação, não se sabe se o presidente afinal esteve diante de uma entrevista ou de um tribunal. Pedro Bial surgiu na televisão como o jornalista-inquisidor ao construir a sua discursividade amparada na apologia à culpabilidade e punição como fundamentos para se chegar à verdade. A estratégia de Bial foi a de pressionar e provocar Lula com sua tese pré-elaborada por meio do seu poder argumentativo.

Quanto à conduta do presidente, se o objetivo era promover uma abertura de diálogo com a imprensa e com a nação, porque conceder uma entrevista exclusiva ao programa Fantástico da Rede Globo? Na verdade, Lula já havia falado da crise política, no programa Roda Viva, da TV Cultura, em 07 de novembro de 2005, na ocasião, disse que o "mensalão" não existia, que a prática de caixa dois era inaceitável e que o PT conseguiria reconstruir sua reputação. Apesar da entrevista, gravada no Palácio do Planalto, ter durado 1h45min, a repercussão foi amena e teve pouco impacto.

A Globo, então, investe em uma entrevista exclusiva, longa, detalhada sobre os escândalos na política nacional para um dos programas de maior audiência da televisão brasileira. E quanto à performance de Lula? Apesar de pressionado, o presidente mostrou-se preparado para a inquisição. A sua estratégia foi a de criar uma postura de inocente, de traído e de não compactuar com os escândalos: "Se eu tivesse condições de saber, não teria acontecido", enfatizou. De culpado, no início da entrevista, Lula consegue construir a imagem de vítima no desenrolar do diálogo:

Acho que o conjunto dos acontecimentos, para mim, soou como se fosse uma facada nas costas de alguém, que junto com outros milhões de brasileiros, dedicou parte da sua vida para construir um instrumento político, que pudesse ser diferente de tudo o que estava aí.

No ano de 2006, Lula conseguiu recuperar a credibilidade da sua imagem e ganhar novamente as eleições para presidente. Os fatos levantam inúmeras perguntas: se o jornalista não tivesse tido a audácia e o espírito inquisidor, teria ele conseguido, por alguns momentos, pressionar o presidente, na tentativa de buscar uma verdade? Se por um lado, houve exagero ou agressividade na construção da mensagem, por outro, o telespectador que vivia um momento de indignação estaria satisfeito com um tom de entrevista mais brando ou amistoso? Se precisão, interesse, verificação, veracidade e neutralidade são qualidades obrigatórias do sujeito-comunicador, qual seria então a melhor conduta?

Mesmo provocando uma série de questionamentos, o jornalista não conseguiu trazer fatos novos à entrevista que prometia esclarecimento e diálogo. Ao invés de promover uma abertura de sentido, as colocações e os enfoques de Bial fecharam a possibilidade de entender um quadro contextual da crise.

O jornalista insinuou, acusou (respaldado em relatórios da CPI) e denunciou, mas, não conseguiu progredir na investigação. Teria valido mais a pena se o profissional tivesse salvaguardado a presunção de inocência dos argüidos até a sentença transitar em julgado, como sugere o Código Deontológico? Ou ouvido todas as pessoas objeto de acusações ainda não totalmente comprovadas como indica o Código de Ética dos Jornalistas?

O compromisso jornalístico de dizer e buscar a verdade não determina a publicação unilateral, sobretudo, aquela que culpa o próprio governo da nação, sem pensar nas conseqüências para o país. Dessa forma, ao invés da verdade, a apuração jornalística será obscurecida pelo abuso e desencadeamento das paixões. O profissional deve buscar uma investigação total e bem planejada, com pluralidade de fontes.

Este é um conflito constante da profissão. A cada momento em que se investiga um fato e se divulga uma declaração, está presente a decisão humana com base em critérios jornalísticos, que devem levar em conta a responsabilidade social, a exatidão, a pluralidade de fontes e versões, a reflexão e não o julgamento precipitado.

A imprensa deve sempre fundar suas decisões na imparcialidade e no pluralismo, ambos podem contribuir para se alcançar a realidade. Ao exercer o seu papel de sujeito-comunicador, o jornalista deve manter o distanciamento crítico do assunto e dos personagens da notícia e possibilitar que os cidadãos possam, por meio dos mais diversos olhares do campo jornalístico, perceber, entender e intervir sobre o mundo que os cerca.

Nota

[1] Entrevista com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Disponível em: <http://fantastico.Globo.com/Jornalismo/Fantastico/0,,AA1099392-4005,00.html>. S/d.

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*Célio Mamoru Nozaki Yano, Erike Luiz Vieira Feitosa e Ivan Luiz Sebben Filho são graduandos de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR). E-mails: celiomny@gmail.com, erikfeitosa@gmail.com, ivanzorde@yahoo.com.br. Patricia Thomaz é docente do departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre em Comunicação pela Universidade de Marília (UNIMAR), especialista em Administração de Marketing e Propaganda e jornalista pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). E-mail: patriciathomaz@hotmail.com.

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®Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro [ISSN 1806-2776]