Nº 11 - Fev. 2009
Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ANO VI
 

 

Expediente
Ombudsman: opine sobre a revista Ombudsman: opine sobre a revista

Vinculada
à Universidade
de São Paulo

 
 

 

 


 

 

 

 

 

 



DOSSIÊ
- Mídia Digital II - Cenários
 

Os desafios do jornalismo digital
Notas para uma sistematização

Por Cleyton Carlos Torres*

RESUMO

Reprodução

Este texto procura expor os desafios do jornalismo para com o modo digital e os novos paradigmas que o mesmo enfrenta, com o objetivo de demonstrar uma base sólida de articulação desse modelo informacional.

PALAVRAS-CHAVE: Digitalização / Internet / Comunicação

Antes de qualquer coisa, é de suma importância colocar, primeiramente, as conceitualizações do que vem a ser jornalismo eletrônico, jornalismo digital, ciberjornalismo, jornalismo on-line, jornalismo digital e webjornalismo.

Para Luciana Mielniczuk, Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas, no artigo Sistematizando alguns conhecimentos sobre jornalismo na web, jornalismo eletrônico é o mais abrangente de todos, como coloca:

O âmbito eletrônico seria o mais abrangente de todos, visto que a aparelhagem tecnológica que se utiliza no jornalismo é, em sua maioria, de natureza eletrônica, seja ela analógica ou digital. Assim, ao utilizar aparelhagem eletrônica seja para a captura de informações, seja para a disseminação das mesmas, estaria-se exercendo o jornalismo eletrônico (Cf. Mielniczuk, 2004, p. 2). [1]

Dessas perspectivas, Mielniczuk evidencia dois autores para expor o que é o ciberjornalismo. Ciber, do prefixo que remete à palavra cibernética é, segundo Gómes y Méndez (Mielniczuk apud Gómes y Méndez, 2004. p. 2):

Ciencia o disciplina que estudia los mecanismos automáticos de comunicación y de control o técnica de funcionamiento de las conexiones de los seres vivos y de las máquinas autogobernadas, acepción femenina procedente del griego kybernetike (arte de pilotar o gobernar) y del francés cybernétique, acuñada por Norbet Wiener tras postular, en 1948, a la cibernética como una nueva disciplina científica tras sus investigaciones basadas sobre el cálculo de probabilidades, el análisis y la teoría de la información (Mielniczuk apud Gómes y Méndez, 2004, p. 2).

Mielniczuk explica que os mesmos autores definiram ciberespaço “como sendo um espaço hipotético ou imaginário no qual se encontram imersos aqueles que pertencem ao mundo da eletrônica, da informática”.

Esse termo (ciberespaço) foi cunhado por William Gibson na obra de ficção denominada Neuromancer. [2] O jornalista e professor Mestre em Cultura Midiática e grupos sociais, Marco Bonito, frisa sua importância ao citar que:

A importância dessa obra reside no fato de que ela marca a passagem do modelo de ciborg híbrido, ainda dividido entre o orgânico e o maquínico, para o ciborg como simulação digital, numa gradação que vai do simples usuário plugado no ciberespaço, tendo em vista a entrada e saída dos fluxos de informação, até o limite dos avatares, cibercorpos inteiramente digitais que emprestam suas vidas simuladas para o transporte identificatório de usuários para dentro dos mundos paralelos do ciberespaço (Bonito apud Santaella, 2007, p. 33).

Para o professor André Lemos, o ciberespaço é entendido a partir de dois pontos:

Como o lugar onde estamos quando entramos num ambiente virtual (realidade virtual), e como o conjunto de redes de computadores, interligadas ou não, em todo o planeta (BBS, videotextos, Internet...). Estamos caminhando para uma interligação total dessas duas concepções do ciberespaço, pois as redes vão se interligar entre si e, ao mesmo tempo, permitir a interação por mundos virtuais em três dimensões. O ciberespaço é assim uma entidade real, parte vital da cibercultura planetária que está crescendo sob os nossos olhos (Mielniczuk apud Lemos, 2004, p. 3).

Ainda, segundo a autora, jornalismo on-line se trata de:

O termo on-line reporta à idéia de conexão em tempo real, ou seja, fluxo de informação contínuo e quase instantâneo. As possibilidades de acesso e transferência de dados online utilizam-se, na maioria dos casos, de tecnologia digital. Porém, nem tudo o que é digital é online (Cf. Mielniczuk, 2004, p. 4).

 Tecnologia digital esta que, para a autora, refere-se ao jornalismo digital ou jornalismo multimídia:

O jornalismo digital também é denominado de jornalismo multimídia, pois implica na possibilidade da manipulação conjunta de dados digitalizados de diferentes naturezas: texto, som e imagem (Cf. Mielniczuk, 2004, p. 3).

Por fim, para Luciana Mielniczuk, diferentemente de jornalismo eletrônico, que engloba um âmbito muito maior, o webjornalismo remete a uma parte específica da Internet:

Webjornalismo, por sua vez, refere-se a uma parte específica da Internet, que disponibiliza interfaces gráficas de uma forma bastante amigável. A Internet envolve recursos e processos que são mais amplos do que a web, embora esta seja, para o público leigo, sinônimo de Internet. Conforme Canavilhas (2001), a nomenclatura encontra-se relacionada com o suporte técnico: para designar o jornalismo desenvolvido para a televisão, utilizamos telejornalismo; o jornalismo desenvolvido para o rádio, chamamos de  radiojornalismo;  e chamamos de jornalismo impresso àquele que é feito para os jornais impressos em papel (Cf. Mielniczuk, 2004, p. 4).

Segue, abaixo, um quadro com as definições das nomenclaturas analisadas:

Nomenclatura

Definição

Jornalismo eletrônico

utiliza de equipamentos e recursos eletrônicos

Jornalismo digital ou Jornalismo multimídia

emprega tecnologia digital, todo e qualquer procedimento que implica no tratamento de dados em forma de bits

Ciberjornalismo

envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço

Jornalismo online

é desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e em tempo real

Webjornalismo

diz respeito à utilização de uma parte específica da Internet, que é a web

Tab. 1. Resumo das definições sobre práticas de produção e disseminação do jornalismo contemporâneo (Cf. Mielniczuk, 2004, p. 4).

Para entender melhor o âmbito geral que o jornalismo eletrônico engloba, o cenário especifico que o webjornalismo se desenvolve e, ainda, as ações que caracterizam o jornalismo digital, vejamos abaixo as delimitações desses conceitos de maneira “física”: 


Fig. 1. Esferas que ilustram a delimitação das terminologias (Cf. Mielniczuk, 2004, p. 5).

A autora exemplifica da seguinte maneira o trabalho do jornalista atual em relação a essas esferas:

(...) o profissional poderá assistir a uma reportagem gravada em fita VHS (jornalismo eletrônico); usar o recurso do e-mail para comunicar-se com uma fonte ou mesmo com seu editor (jornalismo online); consultar a edição anual condensada – editada em CD-ROM – de um jornal (jornalismo digital); verificar dados armazenados no seu computador pessoal (ciberjornalismo); ler em sites noticiosos disponibilizados na web material que outros veículos já produziram sobre o assunto (webjornalismo) (Cf. Mielniczuk, 2004, p. 5).

Fica claro, deste modo, os modelos, as conceitualizações e o cenário com o qual elas interagem.

Entretanto, tão importante quanto analisar a significação das terminologias, é analisar os três principais estágios de desenvolvimento dos sites de jornais, conforme coloca Mielniczuk ao citar Silva (Mielniczuk apud Silva, 2004, p. 7):

  • O transpositivo, como modelo eminentemente presente nos primeiros jornais online onde a formatação e organização seguia diretamente o modelo do impresso. Trata-se de um uso mais hermético e fiel da idéia da metáfora, seguindo muito de perto o referente pré-existente como forma de manancial simbólico disponível.

  • O perceptivo. Num segundo nível de desenvolvimento, há uma maior agregação de recursos possibilitados pelas tecnologias da rede em relação ao jornalismo online. Nesse estágio, permanece o caráter transpositivo, posto que, por rotinas de automação da produção interna do conteúdo do jornal, há uma potencialização em relação aos textos produzidos para o impresso. Gerando o reaproveitamento para a versão online. No entanto há a percepção por parte desses veículos, de elementos pertinentes à uma organização da notícia na rede.

  • O hipermidiático. Mais recentemente, podemos constatar que há demonstrações de uso hipermidiático por alguns veículos online, ou seja: o uso de recursos mais intensificado hipertextuais, a convergência entre suportes diferentes (multimodalidade) e a disseminação de um mesmo produto em várias plataformas e/ou serviços informativos (Mielniczuk apud Silva, 2004, p. 7).

Com isto, após analisar os conceitos, seus âmbitos e os principais estágios, podemos retornar ao pensamento sobre os desafios do jornalismo digital como um paradigma.

Paradigma, nas palavras de um dos patriarcas das políticas de ciência
e tecnologia e da evolução cíclica da história econômica, Christopher Freeman é:

Um paradigma econômico e tecnológico é um agrupamento de inovações técnicas, organizacionais e administrativas inter-relacionadas cujas vantagens devem ser descobertas não apenas em uma nova gama de produtos e sistemas, mas também e sobretudo na dinâmica da estrutura dos cursos relativos de todos os possíveis insumos para a produção. Em cada novo paradigma, um insumo especifico ou conjunto de insumos pode ser descrito como o “fator-chave” desse paradigma caracterizado pela queda dos custos relativos e pela disponibilidade universal. A mudança contemporânea de paradigma pode ser vista como uma transferência de uma tecnologia baseada principalmente em insumos baratos de energia para uma outra que se baseia predominantemente em insumos baratos de informação derivados do avanço da tecnologia em microeletrônica e telecomunicações (Castells apud Freeman, 2006, p. 107).

Como podemos ver, um paradigma não é apenas o aperfeiçoamento da definição do modo de incluir os processo sociais além da economia (Cf. Castells, 2006, p. 107), mas um conjunto de aspectos com o intuito de facilitar o entendimento da base da sociedade da informação.

Já os desafios do jornalismo digital, segundo Pollyana Ferrari, jornalista e professora de Jornalismo Digital da PUC, é explicado como:

Os desafios do jornalismo digital estão sem dúvida relacionados à necessidade de preparar as redações, como um todo, e aos jornalistas em particular, para conhecer e lidar com essas transformações. Além da necessidade de trabalhar com vários tipos de mídia, é preciso desenvolver uma visão multidisciplinar, com noções comerciais e de marketing (Cf. Ferrari, 2003, p. 39).

Definição esta que se assemelha ao profissional que trabalha com a comunicação na empresa, como estudado no primeiro capítulo deste projeto acadêmico, que tem de maximizar seus horizontes de conhecimento além da sua área de atuação comunicacional, trabalhando também com conceitos de marketing, economia e negócios.

Ferrari coloca, sobre o profissional, o seguinte:

Sairá vitorioso quem compreender e souber gerir esse processo de mudança, quem for mais inteligente na disseminação de conteúdos informativos e na busca de parcerias para a criação de novas tecnologias e novos produtos. A mídia é nova e está em mutação, por isso o papel do jornalista na Internet é fundamental (Cf. Ferrari, 2003, p. 22).
(...)

A capacidade de adaptação será uma característica muito valorizada no profissional on-line. Profissionais que trabalham com a transposição das mídias, traduzindo as notícias da linguagem impressa para a web, em sites de jornais e revistas, são classificados como jornalistas on-line. É esse formato que precisa ser dominado por quem almeja ser um editor web, profissional que enfrenta o desafio e conceber e manter na rede produtos jornalísticos capazes de gerar receita (Cf. Ferrari, 2003, p. 40).
(...)

Quem é capaz de mexer em várias mídias ao mesmo tempo e, além disso, escreve corretamente e em português culto, tem grandes chances de tornar-se um ciberjornalista. (...) É preciso ter background cultural para conseguir contextualizar a informação e empacota-la de um jeito diferente a cada necessidade editorial (Cf. Ferrari, 2003, p. 42).

O profissional da nova mídia tem também de ser “globalizado”. Pois o seu local de trabalho, mesmo sendo físico e único (redação) é, como define Ferrari:


Um jornal virtual é a expressão máxima da realidade. Paradoxal, mas verdadeiro. Não se encerra, está sempre em movimento, é a cores, tem imagens, é global e instantâneo. É a vida real. Não tem horas fixas, matérias pré-destinadas, páginas fechadas (Cf. Ferrari, 2003, p. 21).         

A partir dessas características, Elias Machado aponta:

A disponibilização de informações fica restrita à possibilidade de ocupar um espaço, sem explorá-lo enquanto um suporte que apresenta características específicas (Cassiolato apud Machado, 2005, p. 30).

Entretanto, mesmo com o conhecimento de que o jornalista do digital tem de possuir um leque muito mais de ciência e de que o suporte do qual o jornal agora é posto é diferente de tudo que foi visto até agora, um dos grandes desafios do jornalismo digital, apontado pelo Mestre em Comunicação Social Ricardo Cassiolato, é sobre o físico e a leitura:

A primeira dificuldade é que o internauta tem que se adequar ao suporte e não o contrário, como acontece com um jornal, quando podemos afastar ou aproximar o papel dos olhos a partir de nossas deficiências visuais. No caso do computador, quem tem que se afastar ou se aproximar é o leitor.

Outro problema é a resolução da tela. As telas dos computadores têm uma resolução entre 72 e 96 dpi (dots per Inch) ou pontos por polegada. [3] Se comparado ao jornal é cerca de dois terços menor. Qualquer impresso tem 300 dpi, ou ponto por polegada. Este é o caso das impressoras comuns jato de tinta. As revistas têm resolução ainda maior devido ao tipo de papel utilizado para a impressão (Cf. Cassiolato, 2005, p. 38).

Como podemos ver, em um primeiro momento, as entraves principais que cercam o jornalismo digital seriam estritamente de ordem física (suporte e leitura).

Entretanto, Ferrari coloca uma posição diferente no que se refere à “leitura virtual”:

Um estudo do instituto norte-americano Poynter mostrou que 75% dos artigos on-line são lidos na íntegra, percentual muito superior aos dos veículos impressos, em que não mais de 25% dos textos são lidos inteiros. Isso ocorre porque o leitor impresso não realiza nenhuma tarefa para chegar até o final da reportagem, enquanto o leitor on-line precisa clicar e escolher o que quer ler (Cf. Ferrari, 2003, p. 51).

Com isso, se por um lado o jornal virtual perde no âmbito físico, ele ganha no quesito de leitura íntegra, uma vez que também vale lembrar que o jornal impresso vem caindo consideravelmente, devido a fatores como: ausência de conteúdos destinados aos mais jovens, lacuna de temas cotidianos e a utilização excessiva de grandes agências de notícias internacionais fazendo com que se tornem cada vez mais parecidos.

Ademais, Ferrari menciona que o leitor on-line clica no que quer ler, então podemos entender que essa ação é baseada em palavras-chave, exposta quando Cassiolado cita Chartier, professor e diretor do Centro de Pesquisas Históricas na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) na França:

O que se torna mais difícil, contudo, é a percepção da obra como obra. A leitura diante da tela é geralmente descontínua, e busca, a partir de palavras-chave ou rubricas temáticas, o fragmento textual do qual quer apoderar-se (...), sem que necessariamente sejam percebidas a identidade e a coerência da totalidade textual que contém esse elemento (Cassiolato apud Chartier, 2005, p. 40).

E novamente reforçada, agora por um dos maiores especialistas na área e um dos diretores da Nielsen Norman Group (empresa especializada em consultoria e treinamento em usabilidade), Jakob Nielsen:

(...) uma categoria ‘plantão de notícias’ com o texto, ‘saiba os últimos acontecimentos clicando aqui’, é menos interessante que um quadro com quatro títulos de notícias e com um link para a categoria ou para a notícia em si (Cassiolato apud Nielsen, 2005, p. 43).

Mesmo com a praxe de utilização de palavras-conceito para “atrair” a leitura, um dos pontos que o jornalismo digital enfrenta é potencialmente fértil. Cassiolato afirma que:

Estudos recentes mostram que as novas gerações têm uma tolerância bem maior à leitura nas telas do computador e conhecimento menor dos suportes tradicionais (cartas, livros e revistas). Ademais, o sistema de banda larga vem vivenciando um avanço significativo mesmo no Brasil e inegavelmente contribui para uma mudança de comportamento do leitor (Cassiolato, 2005, p. 40).

Afirmação reforçada pela visão de Ferrari, em que ela diz:

A Internet chegou para ficar. Não é uma moda passageira e não haverá retrocesso. Jamais os usuários de e-mail voltarão a escrever cartas e deslocar-se até o correio para postá-las (Cf. Ferrari, 2003, p. 21).

Porém, da Internet e, logicamente, com o jornalismo digital, Marcos Palácios (Mielniczuk apud Palácios, 2004, p. 2), [4] jornalista, professor Titular de Jornalismo na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia e Ph.D. em Sociologia pela Universidade de Liverpool, afirma que nem tudo nessa nova mídia é realmente novidade. Afirma que “muitos aspectos já existiam”, e que sua utilização “não passa de uma continuidade no novo suporte”. Palácios exemplifica que:

A Multimidialidade do Jornalismo na Web é certamente uma Continuidade, se considerarmos que na TV já ocorre uma conjugação de formatos midiáticos (imagem, som e texto). No entanto, é igualmente evidente que a Web, pela facilidade de conjugação dos diferentes formatos, potencializa essa característica. O mesmo pode ser dito da Hipertextualidade, que pode ser encontrada não apenas em suportes digitais anteriores, como o CD-ROM, mas igualmente, e avant-la-lettre, num objeto impresso tão antigo quanto uma enciclopédia. A personalização é altamente potencializada na Web, mas já está presente em suportes anteriores, através da segmentação de audiência (públicos-alvo). No jornalismo impresso isso ocorre, por exemplo, através da produção de cadernos e suplementos especiais (cultural, infantil, feminino, rural, automobilístico, turístico etc.); no rádio e na TV a personalização tem lugar através da diversificação e especialização das grades de programação e até mesmo das emissoras (Mielniczuk apud Palácios, 2004, p. 2).

Essas continuidades no novo suporte, como citadas acima, entretanto, podem ser confundidas com as rupturas, como mostra Cassiolato ao citar Machado:

Esse é um momento na História do Jornalismo em que a disseminação das aplicações digitais e a generalização da comunicação medida por computador produzem potencializações de uma tal ordem de grandeza que até mesmo as continuidades mais se assemelham às rupturas (Cassiolato apud Machado, 2005, p. 54).

Nisso, a “generalização da comunicação medida por computador” tomou conta das redações de hoje. Nesse âmbito, Cassiolato coloca que:

Um dos aspectos mais importantes deste desenvolvimento é a dependência total da tecnologia, a necessidade de se libertar das amarras do modelo tradicional e a migração para o ciberespaço em relação a localização das fontes, criação de modelos, gráficos e pesquisas, ferramentas para a apuração e local para disponibilização dos conteúdos (Cf. Cassiolato, 2005, p. 54).

Contudo, ter “como expor” mas não ter “o que expor” ou não saber a “maneira de expor” é um dos grandes desafios do jornalismo digital. Machado (Cassiolato apud Machado, 2005, p. 54) afirma que:

(...) não desenvolvendo conhecimentos próprios (para o meio), corre o risco de ficar para trás na capacidade de comandar os sistemas que produzem informação no ciberespaço (Cassiolato apud Machado, 2005, p. 54).

Luciana Mielniczuk reforça a mesma linha de pensamento ao mencionar Alves:

Na hora de reinventar o jornal na Internet, nossa maior preocupação precisa ser dar o passo adiante no sentido de encontrar a linguagem própria do novo meio, utilizando suas características e seu potencial. Nesta fase de reinventar o jornal na Internet, devemos sempre partir da pergunta central: o que podemos fazer na Web para melhor servir o leitor, que não é possível fazer no jornal impresso? Para começar, é preciso entender a Internet como um meio de comunicação convergente, que tem a capacidade de absorver características de outros meios, ao permitir a utilização de textos, bases de dados, fotos, áudio, vídeo etc. (...) Estamos apenas na infância da comunicação mediada por computadores. É como se estivéssemos na fase do rádio de galena, aquele rudimentar aparelho baseado no cristal de galena, que só podia ser escutado por uma pessoa de cada vez. E como se estivéssemos no início do cinema, com sua câmera grande e fixa, sua imagem muda e embaçada em preto-e-branco (Mielniczuk apud Alvez, 2004, p. 4).

Infância esta que, mesmo engatinhando, não pode romper totalmente com as posições dos meios antecessores, como coloca Cassiolato:

(...) o jornalismo digital não deve ser totalmente diferente do jornalismo convencional. O compromisso com a verdade, com os fatos, e a busca da objetividade deve ser mantida. Se as fontes forem circunscritas apenas aos limites do ciberespaço, como será possível chegar os fatos e equilibrar as fontes? (Cf. Cassiolato, 2005, p. 55).

Contudo, procurar uma adaptação mais abrangente para com a nova mídia, criar uma linguagem própria para o suporte digital mas sem romper radicalmente com os modos de ação dos meios que o antecederam, e ainda estudar o novo tipo de leitor que nasce a partir da digitalização da informação e da Era do Conhecimento – os chamados seres informívoros, ávidos pelo consumo frenético de informações – tornam-se lugares comum quando analisamos os desafios do jornalismo digital.

NOTAS

[1] Disponível em: http://www.ufrgs.br/gtjornalismocompos/doc2003/mielniczuk2003.doc, Acesso em: 31 out. 2007.

[2] Cf. GIBSON, William. Neuromancer. São Paulo: Aleph, 1991. (Cf. Mielniczuk, 2004, p. 3).

[3] Os pontos no meio impresso e o pixel são as menores unidades gráficas. Quando usamos uma lupa podemos ver em uma foto de jornal os pontos impressos. Do mesmo modo, quando aumentamos mil por cento uma imagem no monitor podemos ver quadrados de cor que são os pixels. Quando a resolução é alta, estes quadrados são tão minúsculos quanto os pontos do jornal, quando é baixa podemos ver os contornos dos pixels o que nos dá uma imagem comumente chamada de “serrilhada”. (Cf. Cassiolato, 2005, p. 38).

[4] Disponível em: http://reposcom.portcom.intercom.org.br/bitstream/1904/17332/1/R0816-1.pdf, Acesso em: 31 out. 2007.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONITO, M. A. “Os Informívoros do webjornalismo esportivo”. Dissertação de mestrado em Comunicação, Universidade Paulista, São José dos Campos, 2007.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2006.

CASSIOLATO, R. “Jornalismo digital: a forma e a produção da notícia”. Dissertação de mestrado em Comunicação, Universidade de Marília, Marília, 2005.

FERRARI, P. Jornalismo digital. Editora contexto. 2003.

*Cleyton Carlos Torres é jornalista.

   

Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro [ISSN 1806-2776]