Nº 10 - Jul. 2008
Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ANO V
 

Expediente

Uma publicação
vinculada
à Universidade
de São Paulo

 
Ombudsman: opine sobre a revista
 

 

 


 

 

 

 

 

 



DOSSIÊ
- Mídia Digital
 

Jornal do Terra
Sensacionalismo e fait divers na Internet

Por Carlos Golembiewski
e Diórgenes Pandini*

Reprodução

RESUMO

O modelo jornalístico que vem dominando a Internet é baseado na popularidade. Os “lideres” de audiência são os que, além de não explorar novos recursos disponíveis na Mídia Internet - como a Interatividade - mostram as situações mais absurdas, violentas e trágicas que acontecem diariamente em nosso planeta.

PALAVRAS-CHAVE: Noticiabilidade / Sensacionalismo / Jornalismo Online

1. Introdução

Nos últimos dez anos, estamos assistindo uma verdadeira revolução tecnológica na área das telecomunicações. A rede mundial de computadores, mais conhecida como Internet, vem alterando profundamente o modo como nos relacionamos com as pessoas, estudamos, trabalhamos e nos divertimos (Levy, 1999).

No Brasil, a Internet foi regulamentada em maio de 1995 através da portaria interministerial 147, assinada pelos Ministérios de Comunicações e da Ciência e Tecnologia. Essa portaria dispõe sobre a qualidade e a eficiência dos serviços prestados aos usuários, bem como a justa e livre competição entre os provedores (Pinho, 2003).

De acordo com Pinho (Cf. 2003, p. 113), a Internet (web) é “uma síntese de todas as mídias, com as vantagens visuais da TV, a mobilidade do rádio, a capacidade de detalhamento e análise do jornal e da revista e a interatividade da multimídia”. A definição de Pinho (2003) é pertinente, entretanto, na prática, a Comunicação através da net vai acontecendo aos poucos, sobretudo, se adaptando as necessidades do internauta.

É neste contexto de mudanças na forma de consumir o conteúdo das Mídias, que surgiu o Terra TV, uma emissora de TV pensada para ser assistida na Internet, mais especificamente no portal Terra. Em função disso, o canal trabalha com alguns conceitos existentes na Rede Mundial de Computadores: Imagem, Som, Informação Atualizada e Interatividade.

Sua programação em geral, é voltada principalmente, para o esporte e o entretenimento dos internautas, com entrevistas, trailers de filmes, programas esportivos, entre outros, produzidos exclusivamente para o meio on-line. Com um formato bastante dinâmico, o canal Terra TV pode ser acessado por qualquer um, assinante ou não do portal Terra.

Além de ter uma programação própria, o canal conta com opções para quem deseja acompanhar a programação da TV Senado, TV Câmara e da NBR –Notícias do Brasil, todas públicas. Na Terra TV, parte da programação é desenvolvida pela própria equipe do Terra, composta de editores, repórteres, cinegrafistas, jornalistas e apresentadores. O restante é comprado de agências de notícias como a Reuters e emissoras de TV como a CNN, a Band News, entre outras.

Por causa da grande quantidade de conteúdo disponível e da complexidade dessa nova forma de fazer Televisão, ficaremos restritos nesta pesquisa ao Jornal do Terra (JT), um telejornal produzido diariamente pelo portal Terra. O programa vai ao ar diariamente em dois horários, às 15 e às 17 horas. Atualmente, o telejornal é ancorado pela jornalista Maria Lins. Este noticiário é o objeto de estudo desse trabalho. Para estudá-lo, gravamos três edições do telejornal nos dias 20, 21 e 22 de junho de 2007 e elaboramos a seguinte questão-problema: Quais são as formas de apresentação das notícias e quais os critérios de noticiabilidade do Jornal do Terra?

2. TV na Internet é TV?

Desde o início da pesquisa, uma dúvida nos acompanhou. Será que este tipo de TV na Internet, pode ser chamado de Televisão? Por enquanto, ainda não temos uma resposta definitiva, entretanto, os números da Internet no país já podem nos dar uma idéia do potencial que essa nova Mídia representa. Os últimos dados divulgados pelo IBGE (2005) apontam a existência de 32 milhões de internautas no Brasil. Revelam que eles têm em média de 28 anos de idade, estudaram mais de 10 anos e possuem uma renda mensal em torno de R$ 1.000,00. A pesquisa apontou também que metade dessas pessoas acessa a Internet de casa e que o restante faz o acesso através de computadores que estão no trabalho, na escola, em locais públicos ou privados.

Para se ter uma idéia do que esses números representam, a tiragem total dos jornais impressos brasileiros não chega a marca de 8 milhões de exemplares dia, segundo dados publicados pela ANJ (2007). Portanto, mesmo sendo uma Mídia nova, a Internet já ocupa um importante lugar entre os meios de Comunicação do país. Os números de receita publicitária divulgados em 2007 pela ANER demonstram isso. Em 2007, a Internet arrecadou R$ 173 milhões de reais, o que representa quase 20% do que contabilizou o meio Jornal no mesmo período. Em relação ao ano anterior, o crescimento foi de 39,14%. Esses valores indicam que a confiança das agências publicitárias e dos anunciantes aumentou significativamente.

Pinho (2003) observa que a Internet é uma Mídia bem diferente do MCM tradicionais porque utiliza alguns elementos que não estão presentes nessas outras mídias. O autor aponta a não-linearidade, a fisiologia, a instantaneidade, a dirigibilidade, a interatividade, pessoalidade, entre outras, como características fundamentais desse novo meio de Informação. Observando o Jornal do Terra, percebemos num primeiro momento, que o telejornal ainda está sendo feito como se fosse exibido na Televisão. Ou seja, não leva em conta as possibilidades dessa nova Mídia. É apenas um telejornal tradicional que está sendo colocado na Internet.

A simples colocação do telejornal na rede acaba inviabilizando alguns elementos fundamentais existentes na net. Por exemplo, o jornal vai ao ar pronto, nunca ocorre a participação dos internautas, embora a âncora anuncie que as pessoas podem participar através do chat. Portanto, a chamada Interatividade fica prejudicada e o programa acaba sendo uma via de mão única. Pinho (Cf. 2003, p. 53) faz uma observação a esse respeito: “o conteúdo on-line que não ofereça um padrão mínimo de interação tem pouco valor para o usuário e inibe a compreensão da mensagem”.

Sem a possibilidade de interagir, esse formato do JT coloca o telespectador como um receptor passivo, algo que contraria os princípios básicos da Internet. Essa via de mão única também não permite a chamada “não-linearidade”, ou seja, não oferece a possibilidade do internauta “viajar” pelo programa, oferecendo “links” para o que está sendo mostrado. Pinho (2003) diz que a web é uma Mídia “pull”, onde a pessoa deve puxar as informações do seu interesse. Como se percebe, um telejornal semelhante ao da Televisão não consegue oferecer isso.

3. Suporte teórico

Para responder aos desafios da pergunta da nossa pesquisa, utilizamos dois autores clássicos do Jornalismo brasileiro. Pedro Maciel (1995) com o seu livro Jornalismo de Televisão nos dará suporte para verificar as formas de apresentação da notícia presentes do JT. Além de Maciel, tivemos que recorrer à Ferraretto (2000), pois durante a gravação do telejornal, percebemos que o mesmo se utiliza do Boletim e da Entrevista por telefone, formatos amplamente consolidados no radiojornalismo. Já para apurar os critérios de noticiabilidade, nos valemos dos estudos de Mário Erbolatto (1991) presentes no livro Técnica de Codificação em Jornalismo.

De acordo com Maciel (1995), os principais telejornais brasileiros utilizam basicamente quatro formas para apresentar as notícias na Televisão. A Nota ao Vivo – onde o apresentador em quadro lê a notícia sem mostrar imagens a respeito. A Nota Coberta – é uma Nota ao Vivo com imagens, composta de cabeça e OFF (que serão explicados abaixo). A Nota coberta traz uma notícia de forma resumida com o apoio de Imagens. Além desses dois formatos, há o Boletim, no qual o repórter apresenta as informações no local do acontecimento. O Boletim assinala o autor, tanto pode ser ao vivo quanto gravado.

Por último, existe a Reportagem, na visão de Maciel, o formato mais completo de se apresentar uma notícia. A reportagem, segundo o autor, é composta de cinco elementos: Cabeça – texto lido pelo apresentador no estúdio que serve para apresentar a matéria ao telespectador. Traz em duas frases o lead da notícia; Off – texto do repórter que narra as Imagens da Notícia; Boletim- já explicado acima, na reportagem poder ser de abertura, passagem ou encerramento; Sonora- é a entrevista curta feitas pelo repórter para completar a matéria; Nota – é um nota ao vivo que vem depois da exibição da matéria. Serve para complementar as informações recém apresentadas no telejornal. Contudo, Maciel ressalta que nem sempre numa Reportagem precisam estar presentes todos os elementos citados.

Ainda em relação às formas de apresentação da notícia, observamos a utilização no Jornal do Terra de dois formatos presentes no rádio. A Entrevista e o Boletim ao vivo através do telefone. Ferraretto (2000) define a Entrevista como o contato direto entre a fonte e o público, mediado pela intervenção de um jornalista. Já o Boletim, o autor considera a expressão máxima do trabalho de um repórter de rádio. “É a informação que, depois de apurada, será transmitida pelo próprio jornalista que fez a coleta de dados, sempre que possível no momento em que o fato ocorre e direto do chamado palco de ação” (Cf. Ferraretto, 2000, p. 265).

No que se refere aos Critérios de Noticiabilidade, ou seja, os motivos que levam o editor de uma publicação a divulgar uma notícia, utilizamos os critérios presentes nos estudos de Erbolato (p. 60-65). Em função da quantidade de critérios, optamos por colocar apenas os que apareceram durante o andamento desta pesquisa. Por causa do espaço, colocamos abaixo um resumo de cada critério:

a) Aventura e Conflito – são as notícias de assassinatos, rixas e também as que revelam a audácia de indivíduos que planejam, como autênticos aventureiros, os golpes mais fantásticos, visando ao enriquecimento ilícito.

b) Conseqüências – Uma epidemia que está ocorrendo fora do Brasil pode nem ser publicada no país. Mas, se houver possibilidade de chegar aqui, poderá ser notícia.

c) Impacto- é um abalo moral, causado nas pessoas por acontecimentos chocantes ou impressionantes.

d) Importância – está no critério do editor avaliar. O início ou o fim de uma guerra são assuntos importantes.

e) Interesse Humano – as notícias frias com muitos números, dados. É importante enfocar os dramas vividos pelos seres humanos.

f) Interesse pessoal – as notícias são dirigidas à determinadas pessoas. Por exemplo, quando termina o prazo para entrega do IR, quando são as provas do supletivo etc.

g) Política Editorial do jornal – cada órgão tem as suas diretrizes: dar mais destaque ao crime, ou ao esporte, ou à política, ou à agricultura.

h) Proeminência – tudo o que se refere às pessoas importantes (proeminentes) encontra interessados.

i) Originalidade – Estas notícias podem se confundir com as classificadas de raridade. Por exemplo, dois gêmeos sofrem acidentes na mesma parte do corpo.

j) Raridade – o que foge a rotina é interessante.

l) Rivalidade – os campeonatos esportivos envolvem rivalidades. Conflitos étnicos também.

i) Utilidade – informações que prestam serviço ao leitor. Farmácias abertas. Horário do cinema etc.

4. Opções metodológicas

A Sociologia Compreensiva, de Maffesoli, método escolhido para desenvolver este artigo, baseia-se em cinco pressupostos explicados no livro O Conhecimento Comum, escrito em 1985, e publicado no Brasil três anos depois. São eles: 1 – crítica do Dualismo Esquemático; 2 – a “Forma”; 3 – uma Sensibilidade Relativista; 4 – uma Pesquisa Estilística; e 5 – o Pensamento Libertário. Maffesoli (1985, p. 25) considera que a Sociologia Compreensiva é uma espécie de sociologia romântica: “Uma atitude que pensa em termos de globalidade, que recusa a discriminação, a avaliação do que seria importante, e do que não o fosse”. Segundo o autor, a Sociologia Compreensiva “descreve o vivido naquilo que é, contentando-se, assim, em discernir as visadas dos diferentes atores envolvidos”.

Maffesoli (1998) concentra seus estudos na vida cotidiana. Ele observa que a Comunicação, a Imagem e o Estilo são elementos marcantes de uma nova Cultura que está nascendo. Cultura essa, segundo o autor, que está revolucionando o “estar-junto” Pós-Moderno. Por causa disso, destaca que a “vida cotidiana” pode ser considerada uma obra de arte:

Em função, certamente, da massificação da Cultura, mas também porque todas as situações e práticas minúsculas constituem a Terra fértil sobre as quais crescem Cultura e civilização. Sem querer se aprofundar aqui pode-se dizer que o interesse culinário, o jogo das aparências, os pequenos momentos festivos, as perambulações diárias e o lazer não podem ser mais vistos como elementos sem importância ou frívolos da vida social (Cf. Maffesoli, 2005, p. 12).

O sociólogo salienta que a vida cotidiana como obra arte exerce o mesmo papel que a “arte” desempenhou nas civilizações antigas. Para ele (Cf. 2005, p. 8), vivemos uma ética da estética, isto é: “Um ethos constituído a partir de emoções partilhadas em comum”. Ele cita como exemplo, os espetáculos de variedades, as práticas desportivas, as campanhas eleitorais na televisão, os fait divers mais ou menos espetaculares. Tudo isso faz parte de um jogo social, onde a emoção é compartilhada:

Pratica-se a comunhão de emoções ou de sensações que, sem isso, perderiam a graça. Essa partilha de emoções ou de sensações – difundida nas ações mais comuns ou cristalizada nos grandes eventos pontuais ou comemorativos (aniversários, revoluções, movimentos de massa, greves, manifestações, etc.) – é, stricto sensu, o que funda a vida social ou lembra a sua fundação (Cf. Maffesoli, 2005, p. 54-55).

Em 2006, Maffesoli explicou durante um Seminário, realizado em Porto Alegre, qual é a tarefa da Sociologia Compreensiva. Segundo ele, o seu papel é compreender tudo aquilo que foi separado na Modernidade. Ressaltou que, em Latim, a palavra “compreender” vem de com/preendere que significa “pegar tudo junto”. Ele explicou que durante a Modernidade (século XIX), época em que houve a invenção do Indivíduo, prevaleceu a idéia de que era preciso “separar” para explicar o mundo. De acordo com pensador francês, uma das conseqüências dessa maneira pensar é a destruição da natureza. O homem acreditava que podia tudo, que era soberano, que nada podia lhe acontecer. Hoje, início do século XXI vive-se uma luta global para preservar o que ainda resta do planeta Terra.

O sociólogo (1985) esclarece ainda o papel do pensador nessa maneira de enxergar o mundo: “Aquele que diz o mundo, não se deve abstrair; é que ele faz parte daquilo que descreve e, situado no plano interno, é capaz de manifestar certa visão de dentro, uma in-tuição”. Ao permitir que o pesquisador use a sua “intuição”, a Sociologia Compreensiva rejeita o dualismo esquemático presente no positivismo, onde A+B é igual a C. E coloca o pesquisador dentro da pesquisa, admitindo que exista uma “subjetividade” em toda interpretação. E, de certa forma, “liberta” o pesquisador da culpa de estar presente na sua pesquisa.

No Seminário Porto Alegre (2006), Maffesoli disse que a função do intelectual é cristalizar aquilo que está na sua cabeça, destacando o que já existe. Ele reforçou a idéia de que primeiro vem a Existência e depois a sua formatação. Este último aspecto é o que ele denomina de Formismo: “o termo pouco importa, pretendia indicar por ele a prevalência da aparência, a necessidade de levar a sério tudo aquilo que os espíritos sérios consideram frívolo. Numa palavra, integrar à análise da vida social uma constatação bem trivial: o que é, é” (Cf. 1998, p. 82).

Portanto, o segundo pressuposto é a “Forma” – pois, conforme o autor, o mais importante é o “modo de dizer” as coisas. Neste aspecto, é preciso integrar e promover o equilíbrio entre o “lógico e o não lógico”. Uma das maneiras de se fazer isso é valer-se de categorias irreais para apreender o “real”. Maffesoli (Cf. 1985, p. 30) adotou este procedimento quando estudou a burocracia, a violência e o cotidiano.

Empregou categorias, como Poder, Potência, Rito, Teatralidade, entre outras. Para o autor, essas categorias são modulações da Forma: “É que, enquanto tais, elas não existem; são irreais e não são a não ser metodologicamente, muito úteis para ilustrar, propor imagens de todos estes pequenos nadas significantes ou de todas estas estruturas macroscópicas, que constituem nossas sociedades”.

Em relação à Forma, Maffesoli (2006) explica que usa categorias ou noções por que é preciso dar a “realidade social” uma visão mais ampla. O autor salienta que o “conceito” é algo fechado, finito, um produto acabado, uma coisa que não tem nada a ver com a vida. Ele prefere usar a palavra “noção” ou as palavras menos erradas possíveis, já que não é mais a “verdade” que está em jogo. Sobre isto, ainda esclarece que a “noção” pode acompanhar a realidade e não criá-la. Neste artigo, trabalhamos com duas grandes noções: Formas de Apresentação da Notícia de Pedro Maciel (1995) e Critérios de Noticiabilidade de Mário Erbolato (1991). Além disso, como não há uma única verdade, relacionamos as noções com outros autores.

O terceiro pressuposto é a “Sensibilidade Relativista”, uma vez que “não há uma realidade única, mas maneiras diferentes de concebê-la”. Maffesoli (Cf. 1985, p. 31) não condena o positivismo e o marxismo, mas considera conceitos importantes no momento histórico em que surgiram. Hoje, não conseguem dar conta da realidade que se vive:

Assim, não se trata de invalidá-los pelo que são, mas de mostrar que provêm e explicam um dado período. Elaborados num tempo marcado pela homogeneização de civilizações em expansão, não são mais (como o foram) adequados para descrever o processo de heterogeneização consecutivo à decadência de uma civilização.

Neste sentido, Maffesoli (1985) busca evitar uma visão redutora da realidade social. É preciso ter prudência e fugir do que chama de “terrorismo da coerência”. Cita, por exemplo, o conceito de homo economicus que não se explica somente pelas leis econômicas, mas por um conjunto mais amplo de situações pelas quais passa a Comunicação e o desenvolvimento tecnológico. Esse raciocínio também vale para a pesquisa científica, que não pode ser algo pronto, acabado, definitivo. O sociólogo recorre a Max Weber, para explicar o seu pensamento:

Toda obra científica “acabada” não possui outro sentido que o de suscitar novas indagações: ela clama por sua própria “superação” e se condena ao envelhecimento. Aquele que deseja servir à ciência deve resignar-se a esta sorte (Cf. Maffesoli, 1985, p. 33).

O pensador francês (2006) lembra que a Modernidade defendia valores universais como os direitos humanos, a soberania, a ordem, o progresso. Mas que, ao longo do tempo, esses valores perderam força para se compreender o mundo contemporâneo. O autor destaca que a Sensibilidade Relativista leva em conta o “policulturalismo, a polissemia, o politeísmo de valores”. E adverte: “só existo, através e sob o olhar do outro”.

O quarto pressuposto da Sociologia Compreensiva é a Pesquisa Estilística. De acordo com Maffesoli (Cf. 1985, p. 36), cada época tem o seu próprio “gênero particular de literatura” – que serve de pretexto para tudo dizer. Ele exemplifica que a “história” foi a marca do século XIX e a “filosofia” a do século XVIII. “Há um estilo cotidiano, feito de gestos, de palavras, de teatralidade, de obras em caracteres maiúsculos e minúsculos, do qual é preciso que se dê conta”. Mais adiante, o autor (Cf. 1985, p. 37) esclarece: “A existência de uma especificidade linguageira é particularmente evidente. As palavras, do mesmo modo, fazem parte de nossa instrumentação – a qual de resto inclui “pequenos truques” e habilidades de “saber fazer” (ou saber dizer)”.

O Pensamento Libertário compõe o quinto pressuposto da Sociologia Compreensiva. Neste item, articulam-se os fundamentos desta maneira de se produzir conhecimento: a universalidade de parâmetros e a subjetividade de interpretação. Maffesoli escreve (Cf. 1985, p. 41 e 43) que é preciso “trabalhar pela liberdade do olhar” e admitir que existe certa interação entre o pesquisador e o objeto pesquisado: “Há conivência, às vezes, cumplicidade, diríamos que se trata de Empatia. É isto mesmo que talvez constitua a especificidade de nossa disciplina. A compreensão envolve a generosidade de espírito, a proximidade, a correspondência”. Por último, ele esclarece a necessidade de se contentar em “dizer o que é” – sabendo de diversas maneiras que “somos elemento deste real”.

O método escolhido para elaborar este estudo é a Sociologia Compreensiva de Maffesoli (1985). A técnica será a Análise de Conteúdo e a pesquisa terá uma abordagem Qualitativa e Estilística. De acordo com Chizzotti (Cf. 1991, p. 79), a pesquisa Qualitativa: “parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito”. Segundo o autor (CF. 1991, p. 80), o pesquisador é “um ativo descobridor do significado das ações e das relações que se ocultam nas estruturas sociais”. Portanto, este estudo, não trará uma verdade pronta, mas reflexão, diálogo e compreensão acerca dos jornais televisivos em nossa sociedade.

5. Decupando o telejornal

Nesta parte do artigo, apresentamos a verdadeira decupagem que fizemos das três edições do Jornal do Terra (JT) ao longo da pesquisa. Para facilitar a produção de resultados e a compreensão do leitor, agrupamos em cada quadro os elementos que dão resposta a nossa pergunta de pesquisa. Portanto, nos quadros temos os seguintes itens: Formas de Apresentação da Notícia, Critérios de Noticiabilidade e as suas respectivas justificativas de uso. Além disso, automaticamente, acabamos colocando cada notícia em uma Editoria. O resultado deste trabalho segue abaixo: 

Jornal do Terra – Dia 20 jun. 2007

Apresentação da notícia e critérios de noticiabilidade

Matéria 1 – Emagrecedor

Cabeça – Os efeitos colaterais de um novo emagrecedor levam os EUA a proibir a venda do remédio Acomplia; já a união européia está estudando a licença do medicamento. Aqui no Brasil, a pílula anti-barriga como está sendo chamada, já é prescrita por alguns médicos. O remédio chega ao país em agosto.

Editoria

 Saúde

Forma de Apresentação

 Reportagem

Critérios de Noticiabilidade:

 JUSTIFICATIVA

a) Impacto:

Remédio proibido nos EUA está sendo vendido no Brasil.

b) Interesse Pessoal:

A notícia interessa a diversas pessoas. Quem não quer entrar em forma?

c) Conseqüências:

O remédio pode trazer danos à saúde dos brasileiros.

Matéria 2 – Latrocínio

Cabeça -
Dois Homens são presos acusados de roubar e matar um taxista em SP. O crime aconteceu na semana passada Os bandidos usaram armas de brinquedo pra render a vítima.

Editoria

Polícia

Forma de Apresentação

Reportagem

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Impacto:

Prisão de homens acusados de roubar e matar um taxista em São Paulo.

b) Aventura/Conflito:

Notícia de um assassinato.

c) Interesse humano:

A morte de um trabalhador. A perda de uma vida.

Matéria 3 – Assalto à loja

Cabeça – Flagrante de assalto em uma cidade no interior de Minas Gerais. Um rapaz entra numa loja de fotografias e ameaça os funcionários com um revólver.

Editoria

Polícia

Forma de Apresentação

Boletim

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Impacto:

Um assalto a uma loja é algo que chama a atenção. Quebra a rotina de uma cidade.

b) Aventura/Conflito:

O conflito. O crime. Um atitude fora do que é considerado certo pela sociedade.

c) Interesse humano:

Vidas humanas correram risco.

Matéria 04 – Assalto a banco

Cabeça – O FBI procura uma assaltante de bancos pra lá de misteriosa. Ao olhar o perfil da jovem, ninguém diria que ela é perigosa.

Editoria

Polícia

Forma de Apresentação

Nota Coberta

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Raridade:

Uma mulher que assalta bancos. Ninguém desconfia.

b) Aventura/Conflito:

Golpe fantástico.

c) Impacto:

Até as mulheres estão assaltando.

Matéria 5 – Entrevista com o deputado Gabeira

Cabeça
– Quanto mais o senador Renan Calheiros tenta provar que tinha recursos próprios para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, mais a situação dele se complica. Aliados não medem esforços para salva-lo, mas a pressão pela renúncia só aumenta e o presidente do senado não se cansa de repetir que fica no cargo. Vamos conversar com o deputado Fernando Gabeira, do PV do Rio de Janeiro, que propôs a campanha fora Renan caso o conselho de ética enterre o processo contra ele.

Editoria

Política

Forma de Apresentação

Entrevista ao vivo por telefone

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a)  Proeminência:

O caso do senador Renan Calheiros ganhou destaque na mídia.

 b) Impacto:

O senador está sendo acusado de corrupção. Ele ocupa a presidência do Senado.

c) Aventura/Conflito:

O senador pagava a pensão alimentícia de sua ex-amante com dinheiro de uma empreiteira.

Matéria 6 – Boletim Médico

Cabeça – Depois de informações sobre piora do quadro, nenhum boletim novo sobre o estado de saúde de ACM foi divulgado.

Editoria

Política

Forma de Apresentação

Boletim de repórter via telefone

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a)  Proeminência:

O boletim trazia informações sobre o senador e ex-ministro Antonio Carlos Magalhães.

 b) Impacto:

O estado de saúde havia piorado.

c) Interesse humano

Era uma vida que estava em jogo. Foi notícia por ser de uma pessoa pública.

Matéria 7 – Peritos do INSS

Cabeça – Peritos estão com medo de trabalhar nos postos do INSS no Rio Grande do Sul e o conselho regional de medicina ameaça pedir o fechamento da unidade de São Leopoldo por causa das agressões aos médicos.

Editoria

Saúde / Polícia

Forma de Apresentação

Reportagem

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Raridade:

Pacientes agridem médicos.

 b) Impacto:

Abalo moral, falta de respeito com os médicos.

c) Interesse pessoal:

Todos que trabalham no Brasil fazem parte do INSS. Portanto, interessa a todos nós.

Matéria 8 – Assalto a banco (repetição)

Cabeça
– O FBI procura uma assaltante de bancos pra lá de misteriosa. Ao olhar o perfil da jovem, ninguém diria que ela é perigosa.

Editoria

Polícia

Forma de Apresentação

Nota Coberta

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Raridade:

Uma mulher que assalta bancos. Ninguém desconfia.

 b) Aventura/Conflito:

Golpe fantástico.

c) Impacto:

Até as mulheres estão assaltando.

Jornal do Terra Dia 21 jun. 2007

Apresentação da notícia e critérios de noticiabilidade

Matéria 1 – Polícia apreende fogos

Cabeça – Polícia da Bahia apreende 500 kg de fogos no interior do estado. Fábricas credenciadas são usadas para comprar explosivos ilegais de pequenos produtores.

Editoria

Polícia

Forma de Apresentação

Reportagem

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Política Editorial:

A matéria se enquadra no perfil editorial do TJ, ou seja, divulgar fatos do noticiário policial.

 b) Impacto:

A carga apreendida pela polícia impressiona. Meia tonelada de fogos de artifício.

c) Conseqüências:

Fogos vendidos livremente podem causar morte de pessoas despreparadas para usá-los.

Matéria 2 – Polícia Federal descobre “esquema” para liberação de cargas

Cabeça – Escutas telefônicas feitas pela polícia federal revelam um esquema de cobrança de propina para a liberação de cargas nas estradas federais no Ceará. Para driblar a fiscalização motorista, empresários e policiais federais combinavam o pagamento. Oito pessoas foram presas, seis são policiais.

Editoria

Polícia

Forma de Apresentação

Nota Coberta

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Política Editorial:

Notícias policiais, a preferência do telejornal.

b) Aventura e Conflito:

Esquema de corrupção visando o ganho fácil de dinheiro.

c) Impacto:

Policiais são pagos para proteger o cidadão e não para se associar aos bandidos.

Matéria 3 – Tentativa de Seqüestro

Cabeça - Tentativa de seqüestro a criança termina em grave acidente. A policia precisou quebrar o vidro do carro para prender o suposto bandido.

Editoria

Polícia

Forma de Apresentação

Nota Coberta

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Política Editorial:

Noticia policial compõe o perfil do noticiário.

b) Impacto:

Seqüestro de uma criança: o crime não poupa ninguém.

c) Aventura e Conflito:

Vale tudo para ganhar algum dinheiro, inclusive planejar o seqüestro de uma criança.

Matéria 4 – Americano cria jacaré em casa

Cabeça –
Americano foi pego criando um jacaré dentro de casa. Não só perdeu o bicho como terá que se explicar à polícia.

Editoria

Geral

Forma de Apresentação

Nota Coberta

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Raridade:

O fato é raro. Jacarés vivem na floresta e não em casa.

b) Política Editorial:

O fato virou caso de polícia. Por ser uma notícia policial, interessa ao Jornal do Terra.

c) Impacto:

Criar jacaré em casa beira o absurdo. O animal pode fugir e matar uma pessoa.

Matéria 5 – Militares punidos por crimes de Guerra

Cabeça –
Três homens são condenados por guerra em Serra Leoa. Ex-militares foram julgados por crimes contra a humanidade durante o conflito civil no país africano que começou 1998 e terminou em 2002.

Editoria

Polícia

Forma de Apresentação

Nota Coberta

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Política Editorial:

Uma situação que envolve o julgamento de um crime pelo poder judiciário. Um assunto de polícia, área que compõe o perfil editorial do telejornal.

b) Impacto:

Nas guerras se cometem atrocidades contra o ser humano.

c) Importância:

A notícia é importante, pois mostra que é preciso respeitar os seres humanos.

Matéria 6 – Lula promete Luz para todos em inauguração

Cabeça –
O presidente Lula participa de inauguração de avenida em Belo Horizonte e no discurso diz que o Brasil terá luz para todos até 2010.

Editoria

Geral

Forma de Apresentação

Sonora

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Proeminência:

As ações e falas das autoridades são sempre notícias. Nesse caso, Lula promete energia elétrica para todos os brasileiros.

b) Interesse pessoal:

A garantia de que não haverá apagões no Brasil interessa a todos os brasileiros.

c) Importância:

Energia elétrica é fundamental. Sem luz, é difícil viver.

Matéria 7 – Entrevista com Senador

Cabeça–
O conselho de ética procura um novo relator para o caso de Renan. Depois de Cafeteira ter se afastado por problema de saúde. Sibá assumiu a transição até Salgado que renunciou depois da votação do processo ter sido adiada. Agora o Senador Ralf diz que está disposto a assumir a relatoria, mas somente em último caso.

Editoria

Política

Forma de Apresentação

Entrevista ao vivo / telefone

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Expectativa ou suspense:

O país esperava por uma solução sobre o caso Renan Calheiros. O senador é acusado corrupção.

b) Importância:

O assunto era importante, pois no centro das atenções estava o então presidente do Senado.

c) Proeminência:

O senador Renan Calheiros era uma autoridade importante. Exercia a presidência do Senado Federal.

Matéria 8 – Americano cria Jacaré em casa

Cabeça –
Americano foi pego criando um jacaré dentro de casa. Não só perdeu o bicho como terá que se explicar à polícia.

Editoria

Geral

Forma de Apresentação

Nota Coberta

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Raridade:

O fato é raro. Jacarés vivem na floresta e não em casa.

b) Política Editorial:

O fato virou caso de polícia. Por ser uma notícia policial, interessa ao Jornal do Terra.

c) Impacto:

Criar jacaré em casa beira o absurdo. O animal pode fugir e matar uma pessoa.

Jornal do Terra Dia 22 jun. 2008

Apresentação da notícia e critérios de noticiabilidade

Matéria 1 – Polícia Federal prende 7 pessoas

Cabeça –
Polícia Federal prende sete pessoas numa operação contra frigoríficos. A fraude atinge cifras milionárias.

Editoria

Polícia

Forma de Apresentação

Nota Coberta

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Política Editorial:

Assuntos policiais são os preferidos do editor do telejornal.

b) Aventura em Conflito:

A notícia divulga a fraude nos frigoríficos. Mostra a ação dos golpistas.

c) Importância:

O assunto em si era importante. Uma ação policial contra possíveis criminosos.

Matéria 2 – Policial agride aposentado

Cabeça –
Aposentado é agredido a socos dentro de um supermercado em Salvador depois de reclamar que um policial furou a fila do caixa eletrônico. Ele sofreu traumatismo craniano e está internado.

Editoria

Polícia

Forma de Apresentação

Reportagem

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Política Editorial:

Notícia policial. Tema de preferência do telejornal.

b) Impacto:

Policial agride cidadão. Como? O policial não serve para proteger o cidadão?

c) Interesse humano:

Uma pessoa foi agredida na rua.

Matéria 3 – Judeu é preso com uma bomba durante uma festa gay

Cabeça – Um Judeu Ortodoxo foi preso com uma bomba durante uma parada do orgulho gay em Jerusalém. Milhares de policiais tentaram evitar o confronto entre radicais de direita e participantes.

Editoria

Polícia

Forma de Apresentação

Nota Coberta

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Política Editorial:

Apesar de ser uma notícia internacional, o assunto envolve uma ação policial. Editoria preferida do telejornal.

b) Impacto:

A notícia choca. Um homem vai a uma festa com uma bomba.

c) Rivalidade:

Em Israel, existem conflitos religiosos e disputas de territórios entre árabes e judeus.

Matéria 4 – Lago desaparece na China

Cabeça – Cientistas tentam descobrir por que um lago desapareceu no Chile. De repente, a área do tamanho de 10 campos de futebol, ficou sem uma gota de água.

Editoria

Geral

Forma de Apresentação

Nota Coberta

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Raridade:

Não é todos os dias que um lago some de um lugar.

b) Originalidade:

O fato é original, raro de acontecer.

c) Política Editorial:

O telejornal dá destaque ao chamado fait divers, notícias raras que chamam a atenção.

Matéria 5 – Estudantes desocupam reitoria

Cabeça – Estudantes decidiram desocupar nesta sexta feira a reitoria da USP invadida há 51 dias. O repórter Fabiano Falsi está lá e tem mais informações.

Editoria

Geral

Forma de Apresentação

Boletim Vivo / Telefone

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Expectativa e suspense:

O assunto vinha se arrastando a tempo. Estava na cabeça da população que torcia por uma solução.

b) Importância:

A notícia era factual e teve uma solução naquele dia. Portanto, a sua divulgação era iminente.

c) Interesse pessoal:

Uma quantidade enorme de pessoas está envolvida no problema. Se uma Universidade pára, isso afeta milhares de pessoas entre alunos, professores e funcionários.

Matéria 6 – São Paulo quer diminuir a poluição

Cabeça – No primeiro dia do inverno São Paulo fez uma operação para tentar diminuir a poluição. A multa para os veículos movidos a diesel que emitem fumaça preta acima do permitido pode chegar à R$ 6.800,00.

Editoria

Geral

Forma de Apresentação

Reportagem

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Importância:

A poluição interessa a todos nós. Afinal é o ar que respiramos.

b) Conseqüências:

O ar poluído pode causar danos à saúde.

c) Interesse pessoal:

Melhorar a qualidade do ar diz respeito a todas as pessoas.

Matéria 7 – Médico fala sobre doenças respiratórias

Cabeça – Todo ano a história se repete. Doenças e alergias respiratórias se agravam no inverno, ainda mais em cidades grandes e poluídas como muitas capitais Brasileiras. Vamos conversar com Agricio Crespo, professor de otorrinolaringologia da Unicamp.

Editoria

Geral

Forma de Apresentação

Entrevista Vivo / Telefone

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Importância:

A entrevista é importante pois amplia aos internautas os cuidados com as doenças respiratórias de inverno.

b) Utilidade:

Dar orientações sobre as doenças de inverno é útil a toda população.

c) Interesse pessoal:

Doenças de inverno interessam a todos.

Matéria 8 – Policial agride aposentado

Cabeça –
Aposentado é agredido a socos dentro de um supermercado em Salvador depois de reclamar que um policial furou a fila do caixa eletrônico. Ele sofreu traumatismo craniano e está internado.

Editoria

Polícia

Forma de Apresentação

Reportagem

Critérios de Noticiabilidade:

JUSTIFICATIVA

a) Política Editorial:

Notícia policial. Tema de preferência do telejornal.

b) Impacto:

Policial agride cidadão. Como? O policial não serve para proteger o cidadão?

c) Interesse humano:

Uma pessoa foi agredida na rua.

A) Resumo das tabelas / Formas de apresentação da Notícia

Dia 20 jun. 2007 - Formas de Apresentação da Notícia

- Reportagem – 05;
- Nota Coberta – 01;
- Boletim Vivo/Telefone – 01;
- Entrevista ao Vivo/Telefone – 01.

Dia 21 jun. 2007 – Formas de Apresentação da Notícia


- Nota Coberta – 05;
- Reportagem – 01;
- Sonora – 01;
- Entrevista ao Vivo/Telefone – 01.

Dia 22 jun. 2007 – Formas de Apresentação da Notícia

- Reportagem – 03;
- Nota Coberta – 03;
- Boletim Vivo/Telefone – 01;
- Entrevista ao Vivo/Telefone – 01.

Resumo - Formas de Apresentação – Dias 20, 21 e 22 jun. 2007


- Reportagem – 9;
- Nota Coberta – 9;
- Entrevista ao Vivo/Telefone – 3;
- Boletim Vivo/Telefone – 2;
- Sonora – 01.

Interpretação dos dados

a. Os formatos reportagem e nota coberta predominaram nas três edições analisadas do Jornal do Terra. O que indica que, em relação à forma de apresentar a notícia, o Terra está seguindo as formas tradicionais da Televisão aberta. Ou seja, a linguagem de TV está apenas sendo transferida para a Internet. Em relação às formas de apresentação da notícia cabe destacar que grande parte das reportagens exibidas era da TV Bandeirantes, portanto, material comprado ou cedido em acordo. Tal fato demonstra que o JT não tem equipe própria para fazer uma cobertura em nível nacional. O número de Notas Cobertas foi grande porque são notícias compradas de agências internacionais. O editor traduz o texto e aproveita as Imagens.

b. No dia 20/06, cinco das oito notícias foram dadas no formato reportagem, o que dá um índice de 60%;

c. No dia 21/06, cinco das oito notícias foram dadas no formato nota coberta, o que dá um índice de 60%;

d. No último dia analisado, 22/06, houve um equilíbrio entre os formatos mais utilizados: três reportagens e três notas cobertas; o que significa 80% do telejornal;

e. Outra situação percebida é o uso de entrevista e boletins ao vivo por telefone. Um formato comum no rádio, também transportado para o Jornal do Terra, que é exibido na Internet. Esse formato foi utilizado nas três edições analisadas. No dia 20.06.07, por exemplo, o repórter fez um boletim ao vivo do hospital onde estava internado o ex-senador Antonio Carlos Magalhães. O Boletim foi feito no melhor estilo daquilo que acontece no rádio, o repórter atualizou as informações sobre o estado de saúde do então senador, agora já falecido. Esse boletim foi ao encontro do que afirma Pinho (2003) sobre a Internet. Para o autor, a web é uma “síntese de todas as mídias”. No momento da fala do repórter era como se estivéssemos “ouvindo rádio”. As entrevistas também caminharam nesse sentido. A âncora se comportou como se estivesse num estúdio de rádio. Tiveram um tempo que variou entre 5 e 6 minutos. Um tempo grande para Televisão e adequado para o meio rádio.

f. Sobre uma possível adaptação a Internet, notamos duas diferenças em relação aos telejornais convencionais:

    1. Antes de cada matéria usa-se o Selo, como forma de identificar o assunto que será apresentado a seguir. Ex. Saúde, Segurança, etc. É uma forma de facilitar a vida do internauta, caso ele tenha perdido a leitura da cabeça da matéria;

    2. Também como forma de situar o internauta, antes e depois de cada notícia, o apresentador faz a leitura da seguinte frase:

Antes – Este é o Jornal do Terra; Depois – Você está no Jornal do Terra

B) Resumo por Editoria nos três dias analisados:

Polícia – 13;
Geral – 06;
Política – 3;
Saúde – 2.

Interpretação dos Dados:

a) De acordo com Mello (1985), é através da seleção das notícias que se percebe a linha editorial de um veículo de Comunicação. No caso do Jornal do Terra, exibido no site Terra, ficou claro a preferência por divulgar notícias policiais. Das 24 divulgadas nos três dias analisados, 13 pertencem à Editoria de Polícia. Ou seja, mais de 50% do total de notícias estavam relacionadas a crimes, assaltos, agressões etc.

b) há uma preferência por notícias de caráter sensacionalista. Segundo Sommer (2003, p. 49), o Sensacionalismo é “uma das formas de tratamento da informação, com vistas a chamar um grande público”. De acordo com a autora, esta forma de fazer Jornalismo ganhou impulso nos anos 90 na Televisão brasileira. Um dos principais programas daquela época era o “Aqui e Agora” – exibido pelo SBT;

c) quando observamos os quadros acima, notamos que em cada edição do telejornal, existe pelo menos uma notícia que pode ser chamada de fait divers, ou seja, aquela informação chama a atenção mais pelo seu conteúdo fantástico do que pela informação em si. Para Morin (Cf. 1997, p. 100), os fatos variados não são acontecimentos para informar o mundo, mas atos gratuitos que servem para “afirmar a presença da paixão, da morte e do destino”, situações muitas vezes sufocadas pelos indivíduos.

Ranking - Critérios de noticiabilidade

Dias 20, 21 e 22 jun. 2007

No que se refere aos Critérios de Noticiabilidade, sabemos de antemão, que nem tudo o que acontece no dia-a-dia da nossa cidade, do nosso estado, do nosso país, se transforma em Notícia. Para que um acontecimento seja publicado, ele precisa “atender” as necessidades do veículo de Comunicação. Por exemplo, se sou editor de uma revista que se destina ao público feminino/adolescente, não faz o menor sentido publicar uma reportagem sobre “vestidos de noiva”. Em princípio, entende-se que nesta fase da vida, a menina mal começou a namorar e dificilmente a sua preocupação será o casamento. Portanto, em toda publicação, precisamos saber sempre qual o público que queremos atingir.

No caso específico do Jornal do Terra, um telejornal produzido especificamente para o portal de internet Terra, verificamos que os editores querem atingir o público tradicional que assiste aos telejornais em TV aberta. Ou seja, um público jovem, adulto, com faixa etária entre os 25 e 45 anos. Depois de aplicar os Critérios de Noticiabilidade construídos por Erbolato (1991), elaboramos para as três edições analisadas, o seguinte ranking:

  1.  Impacto – 18;
  2.  Política Editorial – 10;
  3.  Aventura e Conflito – 8;
  4.  Importância – 7;
  5.  Raridade – 6;
  6.  Interesse Pessoal – 6;
  7.  Interesse Humano – 5;
  8.  Proeminência – 4;
  9.  Conseqüências – 3;
  10.  Expectativa e Suspense – 2;
  11.  Rivalidade – 1;
  12.  Originalidade – 1;
  13.  Utilidade – 1;

Os critérios de noticiabilidade que mais vezes apareceram no noticiário (Impacto, Política Editorial e Aventura e Conflito) traduzem a essência daquilo que se constitui o Jornal do Terra. Isto é, o telejornal optou por um caminho Sensacionalista, quer chamar atenção da audiência com aquilo de mais perverso que existe na sociedade: os crimes, os fatos inacreditáveis.

Em relação aos critérios, chama atenção a escolha dos editores por notícias que causem Impacto nas pessoas. Como já observamos acima, mais da metade das notícias divulgadas nas edições analisadas pertencia à Editoria de Polícia. Portanto, uma clara preferência por assuntos que envolvem crimes, mortes, acidentes, assaltos, a essência  dos temas policiais. Tanto que na hora de repetir uma notícia do programa, a preferência foi por aquela que se constituía no fait divers do dia. Na edição do dia 20.06.07 – a matéria que repetiu tinha a seguinte manchete: FBI procura jovem e loira que assalta bancos. No dia 21 jun. 2007 – não foi diferente, a matéria que entrou duas vezes na mesma edição tinha o seguinte título: Americano será processado por criar jacaré em casa.

Na última edição analisada, dia 22.06.07, a notícia era nacional: Policial espanca aposentado na Bahia. O interessante nisso tudo é que “as cabeças” das matérias do telejornal até são escritas no estilo tradicional de fazer Telejornalismo, mas quando se observa “as notícias”, a opção pelo sensacional surge com força como forma de atrair a audiência.

6. Considerações finais

No momento de concluirmos este artigo, lembro das palavras de Maffesoli a respeito do papel do pesquisador: “ele deve colocar em relevo aquilo que já existe, não deve inventar nada”. Acreditamos ter alcançado este objetivo nesta pesquisa sobre o Jornal do Terra.  Em relação às formas de apresentação da notícia, concluímos que o telejornal optou pelos formatos tradicionais existentes na Televisão, onde prevaleceram a veiculação de Reportagens e Notas cobertas. O que chamou a atenção é que a maior parte das reportagens exibidas era de outro canal de TV aberta. Portanto, isso indica que o telejornal não possui uma grande estrutura de produção para produzir o seu próprio material.

Ao analisarmos o material pesquisado, ficou claro que o JT não explorou todo o potencial disponível na Mídia Internet. No programa, a Interatividade é praticamente nula, em nenhuma das edições analisadas apareceu a posição do internauta. O telejornal se constitui numa via de mão única, no sentido clássico do que é feito na Televisão. Em termos de linguagem, o programa também não propõe avanços, não há, por exemplo, a indicação de que a matéria exibida pode ser vista outro lugar, etc. Ou seja, a existência de “links” para que possa ocorrer uma leitura “não-linear” do programa, outra característica da web.

Em relação aos Critérios de Noticiabilidade, ficou claro que o JT fez uma opção por notícias policiais e colocou pelo menos um fait divers em cada edição do telejornal como forma de conquistar a audiência. Essa posição apareceu com clareza no ranking dos critérios mais utilizados pelos editores do programa. Em primeiro lugar ficou o critério “Impacto”, em segundo, “Política Editorial” e em terceiro, “Aventura e Conflito”, isto é, o telejornal optou por fornecer notícias que tinham o viés do “sensacional” e do “extraordinário”, que pudessem chocar as pessoas.

O Jornal do Terra se ancorou num modelo que vem dominando a Internet na avaliação do jornalista norte-americano Lee Siegel (2008): “O principal critério de sucesso na Internet é a popularidade”. Siegel parece não estar errado, pois quando observamos os vídeos mais acessados pelos internautas na Terra TV, constatamos que os “lideres” são os que mostram as situações mais absurdas, violentas e trágicas que acontecem diariamente em nosso planeta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ERBOLATO, M. Técnica de Codificação em Jornalismo. São Paulo: Ática, 1991.

FERRARETO, L. A. Rádio. O veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Zagra-Luzzatto, 2000.

MACIEL, P. Jornalismo de Televisão. Porto Alegre: Zagra-Luzzatto, 1995.

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___________. A contemplação do mundo. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1995.

___________. Elogio da razão sensível. Petrópolis: Vozes, 1998.

___________. No fundo das aparências. Petrópolis: Vozes, 1999. 2ª ed.

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___________. “A Comunicação sem fim (teoria Pós-Moderna da comunicação)”.Revista FAMECOS, Porto Alegre/RS, abr. 2003, n° 20, p. 13-19.

___________. O mistério da conjunção. Ensaios sobre Comunicação, Corpo, Sociabilidade. Porto Alegre: Sulina, 2005.

___________. “Sociologia Compreensiva”. Curso promovido pelo PPGCOM da PUC do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS, maio 2006.

MARQUES DE MELO, J. M. A Opinião do Jornalismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1985.

MORIN, E. Cultura de Massas no século XX. Volume 1: Neurose. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. 9ª ed.

PINHO, J. B. Jornalismo na Internet. Planejamento e Produção da Informação on-line. São Paulo: Summus Editorial, 2003.

SOMMER, V. L. “Diarinho do Litoral: um estudo de caso”. Dissertação de mestrado, PUCRS, Porto Alegre/RS, 2003.

Sites consultados:

Associação Nacional dos Jornais. Disponível em: www.anj.org.br. Acesso em: 12 mar. 2007.

Associação dos Editores de Revistas (ANER). Disponível em: www.aner.org.br. Acesso em: 20 fev. 2007.

Jornal do Terra. Disponível em: www.terra.com.br. Acesso em: 20 jul. 2007.

*Carlos Golembiewski é jornalista e professor de telejornalismo na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Itajaí/SC. Diórgenes Pandini é graduando em jornalismo na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Itajaí/SC.


Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro [ISSN 1806-2776]