J
Juarez
Bahia
Benedito
Juarez Bahia nasceu em Cachoeira, Estado da Bahia, no dia
18 de novembro de 1930. Não tinha completado ainda 6
anos quando migrou para Santos, litoral de São Paulo.
Ainda menino, aos 12 anos, voltou para a Bahia, estabelecendo-se
na cidade de Feira de Santana. Foi nesta cidade que Juarez Bahia
deu os primeiros passos para o que viria a ser sua grande paixão:
o jornalismo. Aos 13 anos, conhecido por sua boa conduta, foi
secretário de um dos grandes advogados da cidade, Arnold
Ferreira da Silva, tornando-se responsável por toda a
movimentação do escritório.
A
família do advogado era dona do jornal "Folha do
Norte". Surgia a oportunidade para Juarez Bahia iniciar
seu destino. Aos 15 anos, já era considerado um jornalista.
Mas voltou a Santos, onde foi trabalhar na estiva, como carregador
de saco no cais.
Mais
tarde, como tipógrafo, ingressou no "Diário
de Santos". Começou a escrever no jornal "A
Tribuna", onde fez carreira brilhante: tornou-se repórter
competente e respeitado, transformando-se em jornalista premiado.
Juarez Bahia sempre se caracterizou pela modéstia. Mas
cultivou um projeto ambicioso: tornar-se um profissional de
imprensa reconhecido pela sua corporação profissional.
Não hesitou em matricular-se no "Curso de Jornalismo,
criado no início dos anos 50, pela instituição
acadêmica santista que se converteria depois na Universidade
Católica de Santos. Jornalista tarimbado pela vivência
na editoria de jornais e revistas, cedo granjeou admiração
dos seus colegas de classe. Ao concluir o curso, foi escolhido
como orador da primeira turma de bacharéis em jornalismo
de Santos. Imediatamente, tornou-se professor da faculdade onde
realizaria a sua formação acadêmica. Depois,
lecionou na Faculdade de Jornalismo "Casper Líbero",
de São Paulo.
Quando
foi criada a Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo, ele foi convidado a lecionar
no Curso de Jornalismo. Ali editou, com seus alunos, a primeira
revista-laboratório do país - K-Comunicação
- um arrojado projeto gráfico-editorial, supervisionado
em parceria com o professor de diagramação Hélcio
Deslandes. Na época, não havia no Brasil muitos
teóricos na área. Bahia preocupou-se em transformar
suas aulas em textos didáticos. Produziu vários
livros, escrevendo sobre história e técnica da
profissão, discorrendo sobre assessoria de imprensa,
relações públicas e publicidade.
Sua
obra inicial como teórico do jornalismo é constituída
por: "Três fases da imprensa brasileira" (Santos,
Ed. Presença, 1960); "Jornal, História e
Técnica" (Rio de Janeiro, Ministério da Educação,
1964) e "Jornalismo, Informação e Comunicação"
(SP, Martins, 1971). Posteriormente, ele ampliou e consolidou
todo o conhecimento sistematizado sobre jornalismo, produzindo
um manual com o mesmo titulo do seu livro anterior: "Jornal,
História e Técnica" (SP, Ed. Ática,
1990).
O
primeiro volume é dedicado à "História
da Imprensa Brasileira" e o segundo enfoca especificamente
"As técnicas do Jornalismo". Trata-se de obra
didática que, sendo reeditada até hoje, serve
de apoio aos estudantes dos cursos de jornalismo de todo o país.
Seu último livro intitulou-se "Introdução
à Comunicação Empresarial" (Rio de
Janeiro, Mauad, 1995).
No
período da ditadura militar, além do trabalho
no jornal "A Tribuna", de Santos, litoral do Estado
de São Paulo, Juarez Bahia passou a ser chefe do gabinete
do prefeito da cidade, José Gomes. Ali estreitou sua
relação com o advogado Francisco Prado de Oliveira
Ribeiro, reitor da Universidade Católica de Santos e
Secretário da Habitação do Governo do Estado
de São Paulo. Francisco foi nomeado, em 1963, Secretário
de Justiça de Santos. Com ele, Juarez Bahia viveu os
problemas "pré-revolucionários" e tornaram-se
amigos.
Em
março de 1964, Juarez Bahia acompanhou o amigo Francisco
Prado a Brasília, onde ele receberia informações
sobre o cargo que iria assumir como interventor em uma companhia
estatal, nomeado por Darci Ribeiro, chefe da Casa Civil do presidente
da República João Goulart. Tomando o avião
em São Paulo, estranharam o pouso em Belo Horizonte,
Estado de Minas Gerais. O aeroporto estava cercado por policiais.
Ninguém
sabia que o golpe militar estava se desencadeando. O vôo
prosseguiu até Brasília. O Palácio do Planalto
estava vazio. Darci Ribeiro, que esperava os dois, aconselhou-os
a voltar imediatamente, pois um grande problema ganhava força.
Colocou um carro da Universidade de Brasília à
disposição para o regresso a Santos.Pelo aeroporto,
já não conseguiriam sair.
Depois
de alguns quilômetros, aparentemente em direção
à Goiânia, avistaram dezenas de carros oficiais
e barreira na estrada. Sem saber o que fazer, Bahia propôs
que retornassem para o Congresso. Lá encontraram Athiê
Jorge Curi, deputado federal e que fora presidente do "Santos
Futebol Clube". Ele abrigou Francisco Prado e Juarez Bahia
em sua casa, pedindo que não saíssem em hipótese
alguma, pois se o Prado fosse identificado como interventor
do governo do PTB, os dois seriam presos.
Assim
permaneceram por quinze dias. No regresso a Santos, tomaram
conhecimento da perseguição ao governo de José
Gomes. Bahia foi intimado a prestar depoimento e Prado o acompanhou
como seu advogado.Após o depoimento na Capitania dos
Portos, o comandante avisou Bahia de que estava detido. A prisão
foi no navio Raul Soares. O advogado continuou acompanhando
o amigo jornalista sem restrições, pois o capitão
era um colega da Faculdade de Direito. Bahia, homem de muita
esperança, sentia que o momento era passageiro. Foram
nove dias de prisão no navio.
Em
Santos, todos os jornalistas conheciam Juarez Bahia. Ele foi
um grande mestre do jornalismo, em dois sentidos: pelo conhecimento
que tinha sobre Comunicação e pela capacidade
de transmitir o que sabia em sala de aula. Lecionava no curso
de Jornalismo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
da Sociedade Visconde de São Leopoldo, atual Universidade
Católica de Santos. Entre aqueles que admiravam Bahia,
como mestre na profissão de ensinar e fazer Jornalismo,
estava Carlos Conde, vice-presidente da Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo.
Conde
trabalhava no "Diário de Santos", quando teve
a sorte de conhecer Bahia. Mas a amizade surgiu quando, por
indicação do mestre, foi para o jornal "A
Tribuna" de Santos, veículo com circulação
bem maior do que aquele onde trabalhava e que lhe daria melhores
oportunidades para crescimento na carreira profissional.
A
ligação entre os dois se fortaleceu a partir de
1966, quando a empresa "Folha de S.Paulo" inaugurou
o jornal "Cidade de Santos", o primeiro com o sistema
off-set colorido do Brasil. Giufredo e Roberto Mário
Santini, proprietários do jornal "A Tribuna",
chamaram Bahia, o melhor jornalista da região, para fazer
uma revolução no jornal. Ele, então, assumiu
a responsabilidade, convidando dois jornalistas para assessorá-lo
diretamente: Carlos Conde e Oswaldo Martins. Bahia, como secretário
de redação, organizou a redação
em editoriais. Assim, Martins ficou com a responsabilidade das
editorias locais, e Conde, com as editorias Nacional e Internacional.
Na
carreira de Juarez Bahia, constam passagens pelos "Jornal
do Brasil" e "Fundação Padre Anchieta",
mantenedora da TV Cultura, Canal 2, a televisão pública
do Estado de São Paulo. Juarez Bahia conquistou o título
de Bacharel em Jornalismo pela Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Santos. E também o de Bacharel em Direito
pela Faculdade de Direito da Universidade Católica de
Santos. Na Escola de Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo ministrou cursos de "Jornalismo Especializado".
Juarez
Bahia foi, ainda, correspondente internacional, e fixou residência
em Portugal. Daquele país europeu, o mestre trabalhou
na Espanha, China, Estados Unidos e outros países, escrevendo
para órgãos de muita importância, tais como
os jornais "Folha de S.Paulo" e "O Estado de
S.Paulo", além da revista "Visão".
Fez também algumas incursões pelo campo da literatura.
Como ensaísta, publicou "Um Homem de Trinta Anos"
(Santos, SP, Ensaio, 1964). Como ficcionista, escreveu o romance
"Setembro na Feira" (Rio de Janeiro, RJ, 1986), ambientado
em sua terra, Feira de Santana. Estado da Bahia.
Do
mesmo gênero, o jornalista e escritor lançou em
1994 "Ensina-me a ler", que trata das greves do porto
de Santos e da perseguição política após
o golpe militar ocorrido no país em 1964. O cenário
descrito neste livro é familiar ao autor, que viveu esse
período de repressão no clima de medo e vigilância
constante sobre seu trabalho. Sua morte ocorreu na cidade do
Rio de Janeiro, RJ, em janeiro de 1998, quando contava apenas
67 anos de idade. Juarez Bahia foi vítima de uma embolia
pulmonar.
Crédito:
Osmar Mendes Júnior
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