Opiniões
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OPERAÇÃO
GUTENBERG
O jornalismo Hiroshima
Por
Cláudio Julio Tognolli*
Pela
terceira vez, em um mês e meio, a revista Veja
disparou em sua seção Radar notícias sobre
a chamada Operação Gutenberg. A operação,
nos bastidores do reportariado, é um sucesso: volta e
meia têm corrido por aí listas e listas com os
nomes de jornalistas supostamente investigados pela Polícia
Federal.
Nunca, é óbvio, surge o objeto direto, tão
vindicado dos beletristas da profissão: afinal, o que
estariam fazendo de errado estes jornalistas investigados? Onde
teriam incorrido em crime? Este observador teve de bulir com
tais questões quando, na semana passada, foi informado
de que a PF armava contra ele um bote "sob acusação
de fazer parte da banda podre da polícia".
No
processo de esquadrinhamento da informação, chegou-se
ao ponto: um assessor da Polícia Federal é quem
anda telefonando para redações para plantar os
nomes. Não precisam estar necessariamente sendo investigados.
Os
desafetos da atual direção da PF, sobretudo os
que cobrem o sindicalismo federal (que este ano parou a instituição),
são imediatamente colocados na "caixinha" da
banda podre num processo muito parecido àquele
que Ludwig Wittgenstein emprega nos seus proêmios, com
a figura de maçãs, fazendo uso das "caixinhas"
da linguagem há tanto apontadas por Santo Agostinho.
Alguém,
na semana passada, já descrevia assim o comportamento
de assessores do governo quanto à chamada Operação
Gutenberg: "Imagine que um criminoso não gosta de
40 pessoas que moram em Hiroshima. Ele sabe que em três
horas vai cair uma bomba sobre a cidade. Atira então
na cabeça das 40 pessoas, porque sabe que os homicídios
serão espetados na conta da bomba".
Dados,
dados, dados
Querendo
lavar a alma em cima da Operação Gutenberg, ou
melhor, querendo sujar a concorrente num procedimento que ninguém
ainda sabe qual seja seu ethos, a revista Veja,
nessas três notinhas, não reluta em escrever "A
operação Gutenberg, isto é, a investigação...".
Na semana retrasada, por exemplo, o vocábulo "isto
é" aparece duas vezes numa notinha se sete linhas
no Radar da Veja.
Nem
precisa ser dito que sacrossantíssimos ódios de
mercado, atávicos sentimentos de vingança, enfim,
o rebotalho da essência autoproclamadamente "iluminista"
do jornalismo estão sendo postos em prática na
zona de sombras morais que corre junto aos bastidores da Operação
Gutenberg.
O
caso deste observador foi levado primeiramente ao assessor do
presidente Lula, Ricardo Kotscho, e depois ao senador Romeu
Tuma. O retorno dos dois foi imediato. Uma das assessoras do
ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, retornou
ligação ao repórter, acionada pela presteza
de Kotscho. A reclamação: um dos assessores do
diretor da PF, delegado Paulo Lacerda, anda disparando telefonemas
para redações para "plantar" os nomes
de jornalistas que "fazem parte da banda podre". O
pior: o assessor não é delegado. É também
um jornalista.
Na
revista Caros Amigos ora nas bancas, Ricardo Kotscho
revela que o estilo de atender à imprensa optado pelo
presidente Lula é muito mais, digamos, olímpico
do que o de FHC. Vejamos:
E
por que o Lula presidente nunca deu uma entrevista coletiva?
R.K.
Fiz o levantamento de todas as entrevistas exclusivas
e coletivas que o Lula deu desde a posse. Foram mais de oitenta.
O que não houve ainda e estou insistindo para
que seja feita é uma entrevista coletiva geral
no Palácio do Planalto. Quando se diz "ah, o Fernando
Henrique dava muitas entrevistas...", não é
verdade. Ele deu três coletivas em oito anos de mandato,
sendo uma delas junto com o Clinton, e os repórteres
só perguntaram da Monica Lewinski.
Se
dependesse só de mim, obviamente o presidente falaria
mais, mas não precisa falar a toda hora, com todo mundo.
O cargo exige uma responsabilidade maior do que no tempo em
que ele era líder sindical, líder partidário.
Mas o problema não está na forma da entrevista.
O
que acontece é que, desde 1º de janeiro de 2003,
o Brasil tem um presidente que não é mais um presidente,
é outro tipo de comportamento, de origem, de partido.
No início tive muita dificuldade de me adaptar à
função e os jornalistas de se adaptar a uma nova
situação também. Eles estavam acostumados
com oito anos de Fernando Henrique, que tinha os seus métodos,
falava por telefone com jornalista. O Lula nunca teve isso,
não tem, não faz parte.
Você
atribui a que isso? Ele não gosta?
R.K.
Não, é que ele acha que não pode
banalizar isso. Está certo, não pode dar entrevista
todo dia e toda hora. Na semana passada, ele deu a entrevista
de capa da revista Época. Dia 14 agora, jornal Estado
de S.Paulo; dia 23, uma coletiva para as rádios.
Então são várias formas de você atender.
Tem
jornalista que já foi perguntar à esposa o número
da carteira de identidade dos avós maternos no caso de
tais dados serem exigidos nas coberturas palacianas. Isso decorrente
da leitura do que se segue, em comunicado distribuído
pelo Palácio do Planalto:
"Credenciamento
de Imprensa
Presidência
da República
Secretaria
de Imprensa e Divulgação
Viagem
presidencial à cidade de São Paulo SP
No
dia 20 de outubro, o presidente da República, Luiz
Inácio Lula da Silva, estará na cidade de São
Paulo-SP. A programação será fornecida
posteriormente.
Será
necessário informar os seguintes dados: nome completo,
função, número do registro profissional,
livro, folha, DRT, número da carteira de identidade,
órgão expedidor, telefone, fax e e-mail da empresa
para contato."
*Cláudio
Julio Tognolli é jornalista.
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