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Conselho
de Jornalismo
enfrenta fogo cruzado
Por Luiz Martins*
Você
é a favor da criação do Conselho Federal
de Jornalismo? Sim.
Conselhos
de Comunicação (Media Council) e de Imprensa (Press
Council) existem em todo o mundo, com associações
internacionais e até cisão doutrinária
quanto ao grau de participação do Estado; e há
conselhos organizados pela própria mídia, o que
favorece soluções consensuais, para as empresas
melhor negócio que indenizar na Justiça.
No
Brasil, o único conselho de magnitude, previsto na Constituição
Federal, saiu do papel com mais de 12 anos de atraso, não
tem poder deliberativo e não serve amplamente à
sociedade brasileira, pois é tão só um
órgão auxiliar do Poder Legislativo.
Conselhos
configuram apenas um dos Meios de Assegurar a Responsabilidade
Social (MARS). Quando se trata de imprensa, no entanto, tais
mecanismos são encarados entre nós com antipatia.
Nos Estados Unidos, os media watches (cães-de-guarda)
são vistos como salvaguardas democráticas. O Human
Rights é um dos mais antigos.
Na
Inglaterra, a Comissão de Queixas contra a Imprensa (Press
Comission Complaints) não enfrenta qualquer estranhamento.
Ninguém
gosta de controles, mas a mídia brasileira tem trauma
de qualquer um. Quando a publicidade de cigarros sofreu restrições,
a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio
e Televisão (Abert) reagiu, em nome da liberdade de expressão.
E essa tem sido uma escora retórica fácil e preferencial,
pois funciona de imediato e turva o debate com a eficácia
de areia nos olhos.
A
proposta do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ), não
é nova, mas teve a infelicidade de reaparecer em meio
a um fogo cruzado. Levou chumbo de todas as direções,
até da Associação Brasileira de Imprensa
(ABI), que se apressou em fazer coro com o PFL, com o grande
patronato da mídia e com o alto clero do jornalismo,
essa espécie de casta clerical de punhos de renda que
desdenha os chamados sindicatos da categoria.
O
tom esbravejante dos arautos da liberdade de imprensa nesse
caso do CFJ não foi condizente com a esperada sobriedade
profissional. O desacordo beirou o chulo: ''atentado à
inteligência''; ''lixo autoritário''; ''peleguismo'',
''stalinismo'' etc. Em geral, jornalista bem sucedido abstrai
de si os conceitos de classe, consciência de classe, luta
de classes e abomina qualquer causa trabalhista em seu nome.
Fura
greve e rejeita entidades de classe. De modo abrangente, jornalistas
não se sentem profissionais liberais. São missionários
e sustentam esse carisma mesmo quando demitidos ou demissionários.
Quanto à liberdade de expressão, todo mundo sabe
que ela pertence muito mais ao empregador do que ao empregado.
Vale
revisitar Cortázar: Por quem bate seu coração?
*Luiz
Martins é Jornalista e professor do Departamento de Jornalismo
da UnB.
Fonte:
Correio Braziliense (15/8/2004)
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